Nascidos da Noite - Livro Rigor Mortis escrita por Léo Silva


Capítulo 19
Capítulo 19 - Primeiros erros




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— Tire-o de cima de mim! – gritou Clarissa.

Os papéis haviam se invertido. Agora Clarissa – de volta ao seu corpo – estava no chão, e Isaac estava sobre ela. Naquele instante o vampiro provavelmente retornava ao corpo onde sua cabeça estava costurada. Clarissa ainda não tinha voltado completamente. Sentia sua alma se esticando dentro do corpo, suas terminações nervosas sendo restabelecidas. Era como acordar de um coma profundo, e ter que se acostumar novamente com seu próprio corpo.

Douglas correu e puxou Isaac, tirando-o de cima da amiga. Ajudou Clarissa a se levantar, e os dois se encaminharam para o quarto. Entraram e trancaram a porta. Instantes depois, Isaac se jogou contra a porta do apartamento. O barulho assustou Clarissa e Douglas.

— Como ousam fazer uma festa do pijama sem mim? – gritava o vampiro. – Abram!

Enquanto Isaac tentava derrubar a porta, diversos policiais invadiram o corredor. Apontaram as armas para o vampiro.

— Mãos ao alto – gritou um deles.

Isaac encarou os policiais. Sabia que era seu fim. A breve vida proporcionada por Kassius era apenas uma distração para sua fuga. Servira-o bem em vida e em morte, e agora tudo o que tinha era a danação eterna. Mas isso já não importava mais, se é que um dia importou.

Pensando nisso, Isaac correu na direção dos policiais, que o alvejaram com balas de água-benta.

E o vampiro que se chamava Isaac morreu pela segunda vez.

***

Clarissa deixou-se cair sobre o sofá, atônita. Douglas estava sentado sobre o tapete, bem perto dela.

De olhos fechados, ela começou a contar tudo o que aconteceu. A experiência de deixar o próprio corpo, a sensação indescritível de liberdade ao voar. Sentiu-se como o vento, foi parte dele enquanto sobrevoava os mares. Então, o encontro com Kassius. E em como se sentiu ameaçada por ele, mesmo estando apenas em espírito. Depois, a confusão que se seguiu quando Isaac roubou seu corpo, e ela foi obrigada a procurar por outro.

— Você ouviu minha conversa com Isaac no corredor... Toda ela? – perguntou Douglas, encarando a parede.

— Não. Eu saí antes para procurar uma forma de ajudá-lo – disse Clarissa. – Perdi alguma coisa importante?

Você praticamente a atirou nos braços de Kassius!

— Clarissa... Naquela noite em que você conheceu Kassius... O que aconteceu exatamente?

Clarissa mantinha os olhos fechados. O que aconteceu, Douglas? Eu vi você beijando a Juliette e saí correndo. Foi só isso. Eu amava você, e este é um segredo que preciso manter, já que você nunca terá olhos parra mim. É suficiente? Naquela noite eu me sentia triste e vulnerável, então Kassius se aproximou de mim. Ele pareceu entender exatamente o que acontecia comigo, como se ele também estivesse perdido e precisasse de uma direção. E esse foi meu primeiro erro.

— Naquela noite eu saí para me distrair um pouco e conheci Kassius na praça de alimentação... Acho que já contei isso para você.

— Sim, já contou.

— Então, o que há de novo?

Douglas se levantou e caminhou até a janela. Não valia a pena colocar mais uma colher de sentimentos naquela sopa que eles pareciam fazer. Via Clarissa como a uma irmã menor que precisava proteger, nada mais do que isso. Não conseguia, também, explicar como esse sentimento se estabeleceu. Talvez... Talvez se remexesse no fundo dos sentimentos, encontrasse um pouco do amor que ela merecia – mas que ele também já não sabia se ela queria. Entre o passado e o presente havia Kassius.

— Nada, não se preocupe – disse ele, por fim. – O que faremos agora? Não podemos mais ficar aqui.

— Vou falar com Dominic. Ele saberá o que fazer.

Dominic estava no Brasil e comandava a ONG Luz do Sol. Com recursos de doações de simpatizantes pró-vampiros ele conseguia bancar todos os gastos de Clarissa e seus amigos. Ainda que, nos últimos anos, a causa tenha enfraquecido um pouco por conta dos movimentos anti-vampiros, os fundos da Luz do Sol estavam longe de acabar.

Clarissa discou o número que já sabia de cor. Do outro lado, Dominic atendeu ao primeiro toque.

— Alô?

— Dominic, sou eu, Clarissa.

— Clarissa, vocês estão bem?

Estavam feridos mas, mais importante do que isso, estavam vivos. E tinham de continuar, ou todo o mal que havia no mundo cairia sobre a humanidade.

— Estamos. Agora estamos – disse ela, olhando para Douglas que, naquele momento, mantinha uma bolsa de gelo contra a têmpora. – Eu te conto tudo depois, prometo. Preciso que você me ajude. Fomos atacados por Kassius, precisamos deixar este hotel.

— Entendo. Deixe comigo, eu acerto tudo com o Sundance. Acredito que o melhor a fazer seja se instalar em um motel barato, onde poucas perguntas são feitas aos hóspedes.

— Deveríamos ter feito isso desde o começo...

O silêncio que se prosseguiu foi preenchido apenas pela respiração de Clarissa.

— Kassius está a bordo do Gigante dos Mares— disse ela. – Está voltando para o Brasil. Ele sabe que a próxima Pedra Primeira fica na Amazônia, mas nós temos o mapa com a localização exata.

— Há outras formas que encontrar a Pedra, Clarissa. Kassius sabe disso.

— Eu sei. E é o que mais me assusta.

— Escute... Vou acertar tudo com o hotel e alugar um carro para vocês. Procurem por um motel longe daí, depois voltamos a conversar...

Dominic passou outras orientações a Clarissa. Quando ela estava para desligar, ele perguntou:

— E quanto a Evan e Juliette?

— Eu não sei o que aconteceu com eles, Dominic, sinto muito.

— Entendo – disse Dominic. – Agora vocês precisam sair daí. Comprarei passagens para vocês voltarem ao Brasil.

— Obrigada, Dominic.

Clarissa desligou e olhou para Douglas. Ele segurava o pedaço de mapa diante dos olhos. Sabiam qual era o próximo passo.

Só não tinham como calcular o quão difícil ele seria.


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