Nascidos da Noite - Livro Rigor Mortis escrita por Léo Silva


Capítulo 1
Capítulo 1 - O começo do fim




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Flórida, Estados Unidos

Ele acordou com os olhos lacrimejando, e então os cobriu com uma das mãos porque a luz do sol era forte e cegava. Nem se lembrava de quando vira o sol pela última vez – não poderia, e até mesmo as gravações o assustavam. Desde então vinha sonhando com ele, um arco dourado subindo docemente do horizonte.

Mais tarde se deliciaria vendo o por do sol – se aquilo não fosse um sonho, claro. Se fosse um sonho era bem diferente de todos o que teve até então. Era quente e aconchegante – como estar vivo, imaginou.

Ele era um homem de vinte e oito anos, tinha a pela branca e os cabelos negros. Os lábios avermelhados pareciam sangrar, e os olhos azuis contrastavam perigosamente com todo o resto. Os músculos afloravam da pele pálida, formando montanhas rígidas, e veias pulsavam por debaixo da pele (veias vazias).

Não parecia um sonho.

E não era.

A garota se chamava Betegelse, e olhou para ele com obstinação – ele não a tinha visto até aquele momento. Trajava uma capa longa o suficiente para cobrir os pés, luvas, botas pretas e óculos de sol. Fora os óculos, nada mais parecia adequado para o clima daquele lugar – fosse qual fosse o lugar onde estava.

— Onde estamos? – perguntou ele.

— Flórida, meu senhor. Ilha particular da Família Monte Branco.

Ela sorriu, e revelou dentes brancos como sal.

— O senhor dorme feito um anjo – disse ela. – E luta como um demônio.

Luta? Ele sentiu uma pontada na cabeça, e tentou recordar dos acontecimentos da noite anterior. Lembrava-se de ter se encontrado com Isaac, seu braço direito, mas não sabia sobre o que conversaram. Doía só de pensar nisso.

— Do que está falando? – perguntou ele, se levantando.

— Não se lembra? – Ela pareceu não acreditar. Parecia um manequim de lojas de departamento decorado para o inverno. – De nada?

Ele negou com a cabeça.

Ela cruzou os braços, caminhou até a janela e fechou-a de uma única vez, com um estrondo. Puxou as cortinas, e o quarto ficou escuro.

— Então, talvez deva dar uma palavrinha com o Isaac lá no banheiro – disse ela.

Ele saiu da cama, cambaleante, e uma pontada irrompeu por todo o seu tórax. Era difícil caminhar.

Quando chegou ao banheiro estava tão escuro que teve de acender luz. Então se afastou horrorizado com o que viu.

A cabeça de Isaac parecia vigiar a porta. Sem o corpo.


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