You see, but you do not observe escrita por AdrewLDDD


Capítulo 1
Elementar


Notas iniciais do capítulo

Essa é minha primeira vez. E eu acho que realmente fantasiei e dramatizei demais nisso, mas ok. E eu ainda não tenho um editor e sou péssimo nisso, então, qualquer erro, por favor, pode corrigir-me~ E quanto aos "gêneros", eu não tenho a menor ideia do que coloquei ou devia colocar lá, desculpem. Boa leitura~



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E mais uma vez: O que seria de sua vida sem John?

Quem iria sempre lembrá-lo de como era um exibicionista excêntrico? Quem iria pedir para que parasse de tocar o violino consecutivamente, por dias e mais dias? Reclamar dos buracos nas paredes (além da Sra. Hudson) quando estivesse entediado? Quem lhe tiraria o tédio?

Na verdade, se Sherlock resolvesse perder seu tempo e parar para refletir sobre “sentimentos”, descobriria que sua vida seria vazia sem John.

“Não”, ele se corrigiria: “A vida sem John seria correr sozinho, novamente. Por todas as ruas de Londres, em todas as estações do ano. Uma poltrona vazia, uma xícara a menos”.

Mas Sherlock não perderia seu tempo. Tinha coisas mais importantes a resolver. E “sentimentos” eram um defeito no lado perdedor. Não eram? Por que se tornaria sentimental agora?

John estava cochilando em sua poltrona, novamente. O notebook sobre o colo, o rosto apoiado em uma das mãos. A noite havia sido longa.

Se Sherlock resolvesse perder seu tempo notaria que aquela cena era graciosa demais. Uma cena que mereceria afeto de sua parte. Uma cena que merecia fazer com que se importasse um pouco mais. Porque os dias sem o doutor Watson não seriam, jamais, os mesmos, se este estivesse ausente. Mas, claro, “Importar-se não é uma vantagem”. Mycroft era mais solitário que si, então, como poderia ter certeza? Por que não esquecer essas palavras e “tentar”?

Porque Sherlock não arriscaria. Mas o detetive consultor nunca hesitou. Apenas uma vez. E não havia sido a qual contará para o colega de apartamento. Se fosse sincero consigo mesmo, notaria que não havia sido uma simples vez: Hesitara, sim. Todas as vezes. Todas as vezes que John corria risco. Por que tanto queria protegê-lo? Por que sua segurança em primeiro lugar, por mais que se negasse a admitir em voz alta? Então, por que hesitar em relação à “sentimentos”?

Porque Sherlock Holmes não sentia.

E, se Sherlock parasse para pensar sobre sentimentos e afins, a verdade seria fato e o que todos diziam seria uma conjuntura irrevogável: Sherlock e John eram um casal. Porque, se o nome “Sherlock Holmes” é pronunciado, imediatamente se pensa nele. Imediatamente se completa com “John Watson”. Quando se é dito “Sherlock Holmes”, instintivamente, como complemento vem: “e John Watson”.

Sherlock via, mas não observava.

Porque, se por mais meio segundo, parado em meio ao caos de sua sala, tivesse observado John Watson, se, por mais meio segundo, tivesse observado seus traços sutis, o jeito como os ombros, seu peito, o tórax, como tudo se movimentava quando respirava fundo, se, por mais meio segundo, observasse o homem comum a sua frente, o típico, mortal “homem de todo dia” e mais um de seus suéteres (mais um da grande coleção dos suéteres que adoraria queimar, no tempo livre, apenas para matar o tédio), se o tivesse observado por mais meio segundo apenas, Sherlock teria percebido. Sherlock teria observado. Sherlock sorriria irônico. “Elementar”, Sherlock resmungaria. John seguia sendo seu eterno condutor de luz.

Então aproximar-se-ia do médico, tomaria seu pulso com ternura, uma ternura que existia em si, mas não descoberta. Observá-lo-ia de perto assim, respirando em seu rosto, sentindo também sua respiração quente. John acordaria, ainda sonolento e confuso, soltando uma exclamação de um típico “homem de todo dia”, uma típica exclamação de John Watson e perguntaria que droga o detetive estava fazendo no momento. Então Sherlock tocaria os lábios do outro com os seus próprios, talvez logo aprofundando ambos em um beijo mais intenso (e Sherlock sabia beijar?), pois sabia que seus sentimentos seriam recíprocos. John negava. Mas John sabia. Ele via, mas não observava. Assim como o próprio e único Sherlock Holmes.

Então o telefone teria tocado. Uma troca de olhares. Mais um caso. John se levantaria tão entusiasmado quanto ele e desceriam as escadas de dois em dois degraus, iniciando mais uma corrida pelas ruas de Londres, desta vez, sem reclamar do fato de Sherlock sequer ter colocado roupas decentes, deixando o vento frio da nova estação soprar por seu roupão azul. Desta vez, de mãos dadas. O tédio havia morrido. E nunca correria pelas ruas de Londres sozinho novamente.

Mas Sherlock não fez. Sherlock não refletiu. Não perdeu seu tempo. Não arriscou. Sherlock não parou para pensar sobre sentimentos e afins. Sherlock viu, Sherlock não observou. Sherlock não parou, por mais meio segundo, e observou John adormecido. Não foi desta vez que ele, depois de meio segundo, exclamou “Elementar!”.

Mas o telefone realmente tocou. Havia um novo caso. Aceitou-o sem animo, eternamente entediado. Antes de qualquer outra coisa, subiu e colocou algumas roupas decentes.

– John. – Chamou. O médico se remexeu no sofá, emburrado por ser arrastado de volta ao mundo real, de mal-humor por ter sido tirado do reino dos sonhos. Com o que sonhava?

– ... O que?

– Temos um caso. – E, com as mãos nos bolsos, sem mais detalhes, saiu do apartamento. John veio logo atrás de si, copiando seu gesto. Passaram pelas ruas de Londres desapressados, em silencio.

E Sherlock não sabia, mas admitiu a si mesmo que, fosse como fosse, estava feliz por não ter que percorrer as ruas de Londres sozinho novamente.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ter lido até aqui :3 Tem mais "Sherlock" do que qualquer outra palavra no texto. Quem tiver contado quantos (sem usar o Ctrl F~) vai ganhar um biscoito lol



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