Newdreams escrita por Skydreamer


Capítulo 6
O alerta do dragão Drarey.


Notas iniciais do capítulo

Uma viagem, que originalmente já seria bem atribulada, sofre uma ameaça muito maior dessa vez.



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A plataforma já estava desaparecendo no meio da escuridão e Alex, sentado ao lado da janela, não mais conseguia vê-la, tampouco à Alastor. Havia sido fácil para os três encontrarem uma cabine parcialmente vazia, esta se localizava ao lado da porta por onde entraram. O apito do trem tocava de vez em quando, do lado de dentro podia-se ouvi-lo abafado e o tremor causado pelo movimento sob os trilhos era suavemente normal. Yuri observou com atenção e curiosidade o que dava para ver das outras cabines e também quem ocasionalmente transitava pelo corredor – sentiu-se incrivelmente fascinado ao ver uma criatura grande, robusta, verde, com presas que saltavam para fora de sua boca, trajes deteriorados, tais como uma calça de pano bege, uma camisa que deveria ser branca e uma bem feita espada embainhada em suas costas, constatou se tratar de um orc como os que havia visto em jogos de RPG. Elizabeth, por sua vez, estava com os dedos das mãos entrelaçados sobre o colo, observando a janela e incrivelmente no mundo da lua.

–Parece que vai chover a qualquer instante. Esses relâmpagos não cessam. – comentou ela.

–O tiozinho disse que esse trem só para quando chega ao seu destino. E que passa por lugares perigosos.

–Consegui ver dois sujeitos que talvez sejam magos no final desse vagão. – disse Alex, desviando o olhar da janela só para isso.

A chuva começou a cair e não demorou muito para que fosse necessário ao garoto ficar esfregando o vidro da janela para desembaçar. O apito do trem tocou novamente e um solavanco fez vários traseiros deixarem os assentos por centésimos de segundos, incluindo os três reis.

–O que foi isso? – indagou Yuri com os olhos de surpresa.

–Acho que acabamos de entrar em um terreno irregular. Sinta, o tremor aumentou consideravelmente. – retrucou Elizabeth.

E isso era verdade, parecia que o trem estava passando por cima de uma série de buracos, sem falar que a frequência dos apitos aumentou um pouco. Quando esfregou a mão contra o vidro mais uma vez, Alex arregalou os olhos e deu um salto para trás na cadeira.

–Não acredito nisso!

–Qual foi, Alex? O que você... – Yuri se aproximou da janela e arregalou os olhos no mesmo instante, falando mais alto – Cara! Tá brincando comigo? Nós estamos... Mesmo... Nós...

–Nem preciso olhar. – sorriu Elizabeth, fitando os garotos com seus penetrantes olhos verdes – Se não me engano, estamos subindo uma montanha vulcânica.

–Tá exibida só porque já viajou nesse trem antes, né? Deixa a gente ser feliz, poxa vida! – indignou-se Yuri e a mulher revirou os olhos.

O trem estava subindo transversalmente a montanha que tinha no topo uma notável quantidade de fumaça pouco abalada pela chuva e um clarão, com certeza da lava que havia no interior da cratera. Os vagões balançavam bastante quando as ondulações nos trilhos se tornavam mais violentas e o apito soava de trinta em trinta segundos. A luz que iluminava o interior da locomotiva não parecia ter uma exata origem, era como se estivesse dia ali dentro e talvez por essa razão sequer fosse afetada com os movimentos bruscos do trajeto.

–Vamos, preguiçosos! Andem logo! Vamos! Não temos a noite inteira, afinal. – resmungava o orc com uma voz grossa e selvagem, aquele que Yuri havia visto e agora todos reparavam, para dois homens sorridentes que usavam túnicas, um de cor roxa e o outro em um belo azul celeste, sem falar nos cajados.

As três figuras passaram pelo corredor e se dirigiram até a porta, parando ali.

–Muito bem, seus inúteis! Fiquem dentro das cabines. Não precisamos de ninguém para atrapalhar. – outra vez o Orc, dessa vez olhando na direção das cabines.

Yuri estava fascinado demais para se sentir ofendido e o amigo, dominado pela curiosidade, porém Elizabeth cerrou o olhar para a criatura verde e crispou os lábios, não estava nada satisfeita com os modos daquele sujeito. O orc, por sua vez, não dava a mínima para qualquer reação negativa e numa boa, virou-se na direção da porta, desembainhou sua interessante espada e vociferou:

–Abram a porta!

Os homens bateram juntos os cajados contra o chão e no segundo seguinte a porta se abriu, deixando entrar um forte vendo devido ao movimento constante da locomotiva que ganhava mais altitude e estava para chegar ao topo da montanha.

–Vem, bichinho! Vem brincar com o papai! – o orc gargalhou em seguida, debochado e olhando para fora como se esperasse algo ansiosamente.

Alex grudou a cara no vidro da janela, olhando em todas as direções a procura de algo ou alguém, aquilo que o orc estava aguardando, como se quisesse ser o primeiro a ver. O rei de Ares, por outro lado, apenas olhava a criatura verde e tentava entender como ele conseguia comer com aquelas presas de fora da boca, será que não atrapalha? Indagou-se em pensamento.

O apito do trem tocou e no mesmo instante o sorriso do orc aumentou em seus estranhos lábios grossos, revelando dentes amarelados e alguns espaços que deixava claro a perda de alguns deles na boca do mesmo. Subitamente surgiu diante da porta uma gigantesca cabeça escura e escamosa, com olhos reptilianos e amarelados, estava vindo debaixo e Alex ficou boquiaberto ao ver do que se tratava.

–Yuri! – exclamou alto – Olha isso!

O garoto foi até a janela onde o amigo insistentemente apontava e ao ver do que se tratava, sentiu a adrenalina subir absurdamente. Agora, ambos estavam boquiabertos e sem conseguir falar muito, mas havia alguém na cabine que não partilhava dessa emoção toda. Elizabeth os observava indiferente, suas mãos agora pousadas aos lados de suas pernas, de vez em quando alisavam o quimono preto em um ato distraído.

–Um dragão! Não acredito nisso! Minha vida faz sentido agora. Que demais! – empolgou-se Yuri – Cara, saca só esses olhos. E o que são aquelas asas? Fala sério, eu nunca pensei que viveria para ver um bicho desses.

As asas do dragão batiam insistentemente e de forma majestosa. Seus olhos grandes fitavam apenas o orc e este, por sua vez, não deixava por menos, gargalhando. A criatura era realmente gigantesca, certamente não media menos que dezenove metros de comprimento.

–Dessa vez eu não pretendo ataca-los, Erdhon. – uma voz ecoante que cortou até mesmo o barulho da chuva, alta, claramente vinda da criatura que piscava os olhos e continuava a bater asas para acompanhar, por sinal com facilidade, o movimento do trem.

–E o que pretende então? Você não aparece por nada, Drarey! E lá atrás eu vi você cuspindo fogo nos trilhos. – exclamou o orc Erdhon, desafiador.

–Venho avisar-lhes que atrás dessa montanha vocês encontrarão um destino terrível. Depois que cruzarem o rio Esmeralda, irão se deparar com o exército da descendente de Hades.

Os olhos do orc se arregalaram ao máximo, assim como os dos homens de túnicas que estavam pertos a ele. Elizabeth levou a mão até o peito esquerdo e apertou, incrédula, beirando a desespero. Os garotos a olharam e depois se entreolharam, mas talvez fossem os únicos naquele trem que não sentiram medo ao ouvir as palavras do dragão Drarey, era o que parecia até o momento.

–Parem o trem, Erdhon. – advertiu o dragão, sua voz se arrastando ameaçadoramente – Não há nada além de morte vos aguardando após essa montanha.

–Não seja cretino! – vociferou o orc – Esse trem nunca para antes do destino, até você sabe disso! Aquele maquinista misterioso, ninguém conhece o seu rosto ou sabe quem ele é. E ninguém nunca se atreveu a entrar naquela cabine de comando, é um grave crime contra as leis de toda Newdreams. Não sei dizer o que é pior, ser um criminoso de tamanho nível ou enfrentar o exército da morte. – concluiu, meio aflito.

–Eu vos avisei. Sigam adiante por suas contas em risco. – após outra arrastada de voz, o dragão bateu mais forte as asas e se afastou da locomotiva, ganhando altitude e desaparecendo no escuro céu da noite chuvosa.

Erdhon parecia incrédulo e sua expressão deixava exposta um certo temor, mas os dois magos perto da porta estavam bastante atormentados e os demais passageiros, em sua maioria, entraram em uma onda de desespero silencioso. O clima da viagem com certeza havia mudado, Elizabeth sentia seu coração batendo aceleradamente e suas mãos estavam praticamente congelando.

–Ei, tia, qual foi? – indagou Yuri com uma voz baixa e até um tanto preocupada.

Ela não o olhou ao responder, suas mãos agora apertavam o quimono sobre as pernas, como se quisesse furar o tecido com as pontas dos dedos e sua voz saiu baixa, repleta de aflição:

–O exército da morte. Ninguém poderia imaginar que eles estariam no caminho desse trem, ainda mais nesta noite. Será? Será que sabem sobre nós?

Yuri sentou ao lado dela e passando o braço pelos seus ombros. Alex já não se interessava pelo que havia fora do trem e sim pela cena que estava presenciando na cabine. Desde que conheceu o amigo, nunca o tinha visto consolando ninguém, não daquela maneira pelo menos e isso significava muito. Com certeza, pensou Alex, ele a vê como uma amiga de verdade. Esta, por sua vez, apenas olhou o garoto loiro enquanto o escutava:

–Se for o exército da Lilith, nós vamos passar por cima dele. Que se dane, não temos que pensar nisso como algo impossível.

–Você diz isso porque nunca os viu. – retrucou ela.

–Tem razão, eu nunca os vi. Não sei de nada desse mundo. Mas aprendi algo com um grande idiota, não devemos fugir, mas sim, de uma maneira ou de outra, enfrentar o que vier pela frente. – ele olhou para Alex e esse assentiu com a cabeça, sorrindo labialmente.

Ela olhou de um para o outro e finalmente conseguiu sorrir. Passou as mãos pelos seus cabelos brancos, levando na mão um elástico e prendendo-os em um rabo-de-cavalo, depois chamou Alex com a mão e quando este se sentou do outro lado, ela os abraçou.

–Tá meloso, tia. Ainda acho que você é pedófila. – reclamou Yuri, fazendo uma careta de quem está desconfiado.

–Quieto! – repreendeu Elizabeth e Alex começou a dar risada – Quieto você também, rei de Hermes. – a risada aumentou e contagiou os outros dois.

–Rei de Hermes? – interrompeu Erdhon, parado na porta da cabine deles.

Os três olharam para o orc, que permanecia com a espada desembainhada e olhava fixamente para Alex, parecia estar ainda mais incrédulo, porém vestígios de um sorriso maroto brotaram em seus lábios secos e escuramente verdes.

–Sim, rei de Hermes. – respondeu o garoto, se levantando e pondo-se diante de Erdhon – Alex de Hermes, recém-nomeado rei da Capital dos Doze Reis.

–E por que você está aqui? Imagino que tenha ouvido sobre o exército da descendente de Hades. Deveria estar agindo, eu suponho.

O garoto sentiu sua voz travar na garganta e as pernas tremerem razoavelmente, não dando para perceber por conta do quimono que as cobria. Estava branco, não sabia o que responder naquela situação, onde claramente tinha o dever de agir, mas sequer sabia por onde começar. Tudo era novo, logo trata-lo como um veterano de Newdreams era algo realmente incômodo e inesperado.

–Mas o tiozinho disse que os magos desse trem são aqueles que o protegem. Isso em troca de uma viagem gratuita. – intrometeu-se Yuri, sério, ficando de pé ao lado do amigo e desafiadoramente encarando o orc que o olhou com desprezo.

–E você é?

–Não está vendo o meu quimono? Ah, foi mal, nossos mantos dourados estão dentro das nossas malas. – debochou Yuri e Erdhon o fuzilou com o olhar – Rei de Ares, Yuri. Talvez o mais belo e sexy que você e qualquer outro já viram em suas vidas.

–E o rei do poderoso trono de Ares está ciente de que magos não são páreo para o exército da morte, presumo...

–Eles são recém-nomeados reis. – dessa vez Elizabeth, mas ao contrário dos outros dois, ela estava serena e nem sequer levantou-se de seu assento.

Erdhon olhou para a mulher e parecia estar diante de uma grande piada, dado o seu sorriso cínico e o olhar de reprovação. O trem começava a ficar plano e a claridade alaranjada, quase rubra, deixava claro que estavam passando por cima do vulcão, mas naquele clima, ninguém, nem mesmo os garotos, deram bola para isso. Do lado de fora, os trilhos se mostravam resistentes, como uma ponte sobre aquela imensa cratera vulcânica, mas só haviam eles, feitos de madeira e ferro, nada além.

–Reis que não podem defender um trem do exército da morte. Lamento pelos súditos do reino dos doze grandes, estão realmente passando por tempos difíceis.

–Eu também fui recém-nomeada, talvez deva saber, apesar de não ter perguntado. – cuspiu as palavras com total sarcasmo e seu olhar parecia querer atravessar a cabeça do orc – Elizabeth, rainha de Atena. Ao contrário desses garotos, que nem ao menos são culpados pela situação em que estão, nasci e cresci em Newdreams. Sou mais velha, lógico, e você não faça nenhuma piadinha, Yuri – fuzilou o garoto que estava para abrir a boca, porém se calou, sorrindo maliciosamente – Como ia dizendo, estou aqui há mais tempo. E mesmo tendo assumido o trono recentemente, modestamente falando, sou a melhor estrategista a bordo. Se quiser fazer algo, chame para o grande vagão vazio todos os passageiros. Mas não perca tempo os discriminando, afinal, tempo é o que menos temos agora.

–Como quiser... Rainha. – respondeu o orc, completamente desgostoso e em seguida seguiu gritando de cabine em cabine para que todos fossem ao grande vagão vazio.

Yuri e Alex olharam abismados para Elizabeth e esta deu um sorrisinho de satisfação, olhando-os.

–Cara, mandou bem! Tia, nunca imaginei que fosse gostar tanto de você falando.

–Obrigado por nos defender, Elizabeth. Sinto muito por sermos inúteis.

–Inúteis? – indignou-se Yuri – Uma ova! Me dá uma espada pra ver se eu não faço picadinho desses soldados aí.

–Muito bem, meninos, vamos ao vagão vazio. Precisamos nos organizar para a batalha que está por vir.

Os três seguiram pelo corredor, atravessando vagão por vagão, até chegarem a um consideravelmente maior do que os demais e não fosse pela quantidade de passageiros que ali estava, poderia mesmo ser chamado de grande vagão vazio, pois não havia nada além, exceto as janelas, todas fechadas, ainda assim permitindo visibilidade dentro dos limites daquela intensa chuva enquanto desciam a montanha. Aqui e ali, solavancos aconteciam, desestabilizando boa parte dos que estavam presentes. Elizabeth colocou-se a frente de todos, os garotos cada um de um lado seu, e encarou os demais com total tranquilidade – realmente estava como sempre, Alex constatou olhando-a de relance.

–Pessoal, meu nome é Elizabeth e sou a recém-nomeada rainha do trono de Atena. Todos devem ter ouvido de Drarey que o exército da descendente de Hades está nos aguardando após o rio Esmeralda, certo? – um “sim” em uníssono sucedeu a pergunta dela e com um sorriso pôde continuar – Pois bem. Quero saber quantos magos temos aqui. Todos os magos, por favor, levantem as mãos.

Rapidamente, algumas mãos para o alto começaram a surgir e com facilidade Elizabeth conseguiu contar, somente olhando, todas elas.

–Temos oito magos. Perfeito. Desses oito, quatro cuidarão da defensiva e os outros quatro atacarão com todas as forças os inimigos que estiverem bloqueando a passagem. Agora, quantos espadachins têm aqui? As mãos para o alto.

Uma quantidade maior de mãos, inclusive a de Erdhon, ergueram-se para o alto e levando um segundo a mais para contar, Elizabeth continuou:

–Trinta espadachins. Quero três em cada vagão, inclusive neste. Temos dez vagões livres mais o do maquinista, porém todos sabem que não devemos considera-lo. Preocupem-se em defender os demais vagões. Cortem todo e qualquer inimigo que tentar invadir esse trem. – os sorrisos dos espadachins eram notáveis, pareciam sentir-se empolgados quando o assunto era cortar – Os demais, druidas, sacerdotes e paladinos, fiquem agrupados juntamente com os que não podem lutar, incluindo as crianças, aqui no vagão vazio. Vocês devem aguardar até que seja necessário chama-los, são a nossa força de elite e precisamos que a segurança dos mais frágeis seja inteiramente garantida até onde for possível. Tem algum arqueiro aqui?

Todos abriram espaço para alguém, que estava mais ao fundo, passar e ficar diante da rainha de Atena. Suas orelhas eram longas e pontudas, tinha a mesma altura de Alex, a pele púrpura e completamente lisa, muito bem cuidada, com um busto avantajado, uma cintura fina, as pernas grossas quase que completamente reveladas até onde as vestes vermelhas com desenhos de flores brancas – o conjunto lembrava uma saída de praia – permitiam, um rosto incrivelmente belo e os cabelos azul-marinho, lisos, caindo bem abaixo de seus ombros. Seus olhos brilhavam como uma estrela longínqua, mas ainda sim dava para diferenciar a íris da esclerótica. Os homens estavam um tanto bobos com a presença daquela que era uma belíssima elfa, porém, acima de todos eles, o mais afetado com isso foi Yuri, que caiu de joelhos, cabisbaixo.

–É o paraíso! – disse, lentamente erguendo sua cabeça para a elfa; Alex e Elizabeth levaram juntos as mãos nas testas, sabiam o que viria a seguir – Você é a mais bela de todas. Gata, como ousa demorar tanto para aparecer na minha vida? Estou tão feliz que não sei se condeno essa demora ou se reverencio sua beleza.

A elfa o olhava, confusa, e com o que pareciam ser botas revestidas com o mesmo tecido de suas demais peças de roupa, caminhou até ficar perto do garoto ajoelhado e assim como ele, abaixou-se, segurando no queixo de Yuri que sentia seu coração bater na garganta.

–Por que me chamou de gata? Eu não sou uma druida. Está tão quente, talvez esteja com febre e delirando. – a voz dela era sedutoramente doce e serena. Ele sequer conseguiu dizer alguma outra palavra, apenas olhava para ela – Assim que passarmos pelo exército, cuidarei de você.

Subitamente Yuri se levantou, - assustando a elfa que pulou, instintivamente estendeu a mão para o lado e através de um contorno de luz, surgiu um arco, enquanto com a outra mão ela tocava uma das flechas dentro da aljava - erguendo os punhos para o alto e com uma feroz expressão de determinação, sem falar em sua alta voz:

–Beleza! Vamos massacrar esse exército para que depois eu fique doente e seja cuidado pela... – ficou confuso e então olhou a elfa com total gentileza – Qual é mesmo o seu nome, bela dama?

–Iris. – ela respondeu, tentando se decidir se considerava Yuri uma ameaça ou alguém realmente confuso.

–Muito bem, já chega! – interrompeu Elizabeth, dando um cascudo na cabeça loira do garoto que ficou gemendo e esfregando por cima – Iris, posso contar com você para patrulhar todos os vagões?

–Sim, vossa majestade. – respondeu incrivelmente doce, porém determinada.

–Você os pegará de surpresa, usando as janelas dos vagões para ataca-los à distância. Espera, você pertence à Raymoon?

–Sim, vossa majestade. Estou indo exatamente para lá.

–Estes dois são os recém-nomeados reis da Capital. Alex de Hermes e Yuri de Ares. – fez questão de indicar com a mão os garotos.

–Mil perdões, vossa majestade, rei de Ares. – a elfa reverenciou Yuri, que por sua vez ficou perplexo de início, mas logo sorriu maliciosamente.

–Vou perdoá-la se prometer me fazer uma boa massagem depois da batalha.

Elizabeth cerrou os dentes e deu mais dois cascudos na cabeça dele, que já estava obtendo ondulações doloridas, para a alegria de Alex que gargalhava com a cena até também receber um cascudo.

–Quietos! – vociferou ela e depois voltou-se para a elfa e os demais que assistiam a cena perplexos, dando um sorriso bem sereno nesse momento – Bom, acho que todos já estão devidamente prontos para o confronto. – um solavanco e em seguida uma queda de velocidade, o trem estava trafegando sobre os trilhos rasamente submersos pelas águas do rio Esmeralda, dava pra notar através das janelas e todos começaram a falar mais baixo. Naquele momento, o apito não tocou, parecia que o maquinista estava fazendo de propósito para não chamar a atenção dos soldados mais do que o barulho das válvulas da locomotiva chamariam – Todos aos seus postos imediatamente!

A chuva havia parado e mesmo com as nuvens no céu, a lua se mostrava, sua imagem estava embaçada, mas a claridade ainda poderia ajudar um pouco menos da metade do que ajudaria na visibilidade. Com o trem lento e as águas do rio se movimentando devagar, o clima de tensão aumentou bastante. Elizabeth segurou nas mãos nos garotos e os carregou para o último vagão, o mais escuro da locomotiva, onde já estavam lá dois espadachins, um deles era Erdhon, o orc, que não deu importância para suas chegadas.

–Fiquem aqui. – murmurou a mulher – Se Lilith ou um dos seus comandantes souberem que há reis da Capital nesse trem, a situação vai piorar bastante.

–Mas você também é uma rainha da Capital. – retrucou Alex.

–Entre nós três. Quem são os que mais precisam de treino?

–Sem essa, eu quero lutar! – murmurou um Yuri revoltado.

–Mal sabem as técnicas básicas do manuseio de uma espada. Menos ainda a manipulação dos seus poderes. Nem ao menos despertaram as habilidades sanguíneas que carregam. Fiquem quietos aqui, droga! – repreendeu a mulher e mesmo a contragosto, os garotos assentiram e ficaram no vagão enquanto ela saía dali rumo aos primeiros vagões.

O trem já havia cruzado mais da metade do rio Esmeralda e em terra firme, numa área plana com o solo rochoso e pouquíssima vegetação, vários soldados aguardavam a postos. O grupo da frente era composto pelos menores, desde gnomos até humanos, elfos, orcs – como Erdhon – e minotauros, com armaduras desleixadas, sequer lhes cobriam o corpo inteiro. Atrás, estava um grupo de gigantes, que mediam de cinco a oito metros de altura, tão mal cobertos pelas desleixadas partes das armaduras quanto o grupo da frente. Havia algo em comum entre todos eles... Eram zumbis. Suas carnes apodrecidas, muitas vezes não eram suficientes para cobrir completamente seus ossos e aquele grupo de gigantes, por sua vez, eram esqueletos totalmente ausentes de pele, com os buracos dos olhos emitindo uma luz avermelhada, como se fossem os próprios olhos. À frente de todos naquela tropa, estava o zumbi mais bem conservado e com a melhor armadura, cobrindo-o quase completamente, exceto a cabeça de touro. Era um minotauro, que segurava a espada de um lado e o escudo do outro, possuindo uma braçadeira no braço direito, de cor dourada e com o escrito “3º comandante” em vermelho.

–Rainha de Atena, já podemos vê-los. – avisou um dos magos que cuidava da defensiva.

–Preparem-se! – ordenou ela com calma, mas sentindo seu coração disparar e o peso enorme da responsabilidade que tinha em seus ombros naquele momento.

Quando o trem estava a duzentos metros de chegar em terra firme, o comandante da tropa zumbi ergueu sua espada para o alto e com uma voz que possuía ecos, como se viesse de um lugar profundo além da sua garganta, capaz de causar arrepios em alguém desavisado que o escutasse, gritou:

–Atacaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaar!


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Notas finais do capítulo

Comentem, pessoal. Isso ajuda bastante.



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