Newdreams escrita por Skydreamer


Capítulo 1
Destinos que se cruzam! A lenda tem início.




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–Goiânia, Goiás. 15 de fevereiro de 2002.

O nono ano escolar é um dos mais trabalhosos que existem, pois é nele que acontecem as organizações de formatura, incluindo arrecadações, a escolha do uniforme personalizado, a inclusão de algumas matérias novas e para os mais azarados, professores incrivelmente chatos e exigentes, sem falar nos que já haviam. Para o jovem Alex, de quinze anos, ainda havia algo a acrescentar nessa lista macabra, era o mais novo recém chegado na escola que não ficava muito longe de sua casa, ambos no mesmo bairro.

–Preciso de um lápis! – disse friamente um jovem maior, mal encarado, com o nariz que deixava a dúvida se ele já havia se metido em brigas pesadas antes, sem falar no grupo de outros três alunos tão grandes quanto, que lançavam olhares de aviso a Alex.

–Não conheço vocês. – responde, evitando encarar nos olhos qualquer um daqueles que o impedia de seguir seu caminho.

–Não precisa conhecer. Você é novato e eu só estou querendo um lápis. E você tem sorte. O último novato que entrou precisou pagar dez reais.

Alex, com uma expressão de desânimo, procurou em sua mochila por um lápis, mas com aquela quantidade de livros e o caderno de vinte matérias, ficava difícil acha-lo. Desapontado, o jovem de nariz torto deu um forte tapa no braço dele, derrubando a mochila e espalhando os materiais por toda a calçada do colégio. A confusão acontecia antes das sete horas, os portões estavam fechados e somente alunos curiosos assistiam a cena, como se fosse um espetáculo.

–Ih! O Ricardo se irritou. – murmurou um dos que assistiam, esperando pelo clímax.

–Eu não quero confusão.

–Você já tá em uma confusão. Me dá logo dez reais. Aliás, esquece! Me dá quinze.

De repente, os alunos que assistiam deram espaço para alguém passar. Um garoto loiro, pouco mais alto que Alex, vestindo uma camisa do Iron Maiden, Powerslave, ao invés do uniforme, passou pelo espaço que lhe foi aberto, colocou na mão direita um soco inglês e acertou em cheio a nuca do garoto que estava mais trás do grupo de Ricardo, fazendo-o ir ao chão em segundos. Feroz, ele acertou os outros dois que também caíram e o último que sobrou, Ricardo, ele segurou pelo colarinho e o colocou contra o muro do colégio.

–Vocês são a escória. Quando não precisam de um grupo para lidar com um novato fraco – Alex, que estava perplexo, franziu o cenho, se sentindo ofendido – precisam usar alguma arma. O pior de tudo é que se acham os melhores.

–Me solta, Yuri! A diretora vai ficar sabendo disso. – essas palavras foram seguidas por uma série de risos dos espectadores.

–Cala essa maldita boca! No ano passado vocês tocaram o terror. Mas nesse ano o buraco vai ser mais embaixo, tá entendendo? E se a sua gangue ou os seus contatos que você tanto fala forem suficientes pra vir me barrar, qualquer um sabe onde eu moro. Manda-os irem até lá. Vai ser divertido.

Com um soco de mão esquerda nua, Yuri nocauteou Ricardo que ficou caído no chão, encostado no muro. Quando o sino do colégio tocou, sorrateiramente o garoto guardou no bolso o soco inglês e de canto olhou para Alex, que o observava completamente perplexo.

–Vai ficar aí me encarando? Qual foi? Dá logo um jeito nessa bagunça.

–Valeu.

–Não me agradeça como se eu tivesse feito isso por você. Argh! – dando de ombros, Yuri vestiu o uniforme por cima da camisa preta estampada e só então entrou no colégio.

**

Alex tinha descoberto que estudaria na mesma classe que o garoto rebelde, mas ao contrário, Yuri sequer tinha reparado nele e nem na aula prestava atenção, ouvindo música com seus nada discretos headphones.

–Esse ano, estudaremos sobre a fórmula de bhaskara, para os casos de equações completas e... – pigarreou a professora de matemática, mas ao ver que não surgiu efeito, quebrou um pedaço do giz e com precisão arremessou em Yuri, que tirou os headphones e a fuzilou com o olhar – Poderia fazer a gentileza de prestar atenção, Yuri?

–É difícil quando quem está explicando tem a voz tão irritante. – retrucou, zombeteiro.

Alguns risos abafados surgiram dentre os outros alunos, porém Alex observava a cena tão perplexo como havia ficado durante a briga antes da entrada.

–Então talvez ache a voz da nova diretora mais agradável. Deixe a sala e siga para a diretoria imediatamente!

O loiro deu de ombros, recolheu os headphones e se levantou para sair da sala.

–Por que está levando isso? – questionou a professora.

–Se a voz da diretora for tão chata como a sua, eu vou sentir falta da minha música.

Mais uma onda de risinhos, enquanto a professora cerrava os dentes, fuzilando um Yuri calmo deixando o ambiente. Em seguida, Alex levantou a mão e foi só então que a mulher suspirou e com um gesto de mão, o concedeu a palavra.

–Posso ir ao banheiro?

–Claro, Alex. Mas não demore, essa explicação é muito importante.

O garoto também deixou a sala e no corredor pôde alcançar, a passos largos, o jovem loiro já de headphones colocados e parado perto ao bebedouro de água, bem desgastado por sinal. Quando ficaram frente a frente, Yuri tirou os headphones e encarou friamente o colega de classe, esperando ele falar.

–Por que não foi para a diretoria?

–Quem é você? O presidente do grêmio estudantil? O filho daquela megera da professora?

–Não, nada disso. Mas talvez fosse bom...

–Não quero saber a sua opinião! – cortou – Não sabe nada sobre mim. E deveria estar mais preocupado consigo mesmo. Sequer sabe correr quando aparece um problema, quanto menos lutar. E aqui não é lugar para pessoas tão fracas.

Alex ficou cabisbaixo por alguns segundos, fechando com força os dedos nas palmas das mãos e depois o encarou com absoluta determinação.

–Não tenho porque lutar se antes disso eu puder resolver com palavras. Eu sei que não sou forte, mas e daí? Além do mais, prefiro apanhar a ter que fugir!

Yuri mandou-lhe um olhar de zombaria e o sorriso, de canto, correspondia perfeitamente esse ar.

–Ora, temos um orgulhoso aqui. Quero ver se ficará tão orgulhoso de si mesmo quando estiver com os dentes quebrados. Acorda! Onde acha que está? Seu orgulho não vale nada aqui.

–Não significa que não possa haver mudanças! Tudo é uma questão de tentar.

–E você acha que vai conseguir mudar algo? – revoltou-se Yuri.

–Você não?

–Eu consigo mudar as coisas, mas da minha maneira. Está vendo esses punhos? É com eles que eu faço as minhas mudanças.

O som fino de solados que pareciam partir de saltos interrompeu a conversa dos garotos. Surgiu perante eles uma mulher imponente, de cabelos brancos e bem comportados, olhos verdes e desafiadores, roupas femininas bem formais, aparentando ter quarenta e cinco a cinquenta anos.

–Me acompanhem. – Yuri fez menção de abrir a boca e ela o fuzilou com o olhar no mesmo segundo, completando friamente – Agora!

Os garotos acompanharam, em silêncio, a mulher até uma sala pequena, que tinha em sua porta o escrito desgastado “Diretoria”.

–Sentem-se.

Ambos se sentaram em um pequeno sofá de couro preto para duas pessoas.

–Como se chamam?

–Alex Ribeiro de Hermes.

Yuri olhou imediatamente para Alex, que esperava por sua zombaria, mas ao invés disso ele parecia bem surpreso.

–Você também tem o nome de um deus grego!

–É, eu sei, bem estranho e... Também?

–Sim! – o loiro olhou para a diretora – Me chamo Yuri Souza de Ares.

A mulher arqueou a sobrancelha, deixando surgir algumas linhas faciais que entregavam sua idade, apesar de mesmo assim demonstrar estar bem conservada.

–Descendentes dos reis Hermes e Ares. Nunca pensei que seria tão fácil encontra-los. O oráculo acertou consideravelmente dessa vez.

Os garotos se entreolharam, completamente confusos com aquelas palavras, e desse mesmo modo voltaram a olhar a diretora, que estava extremamente natural, fitando cada um com seus penetrantes olhos verdes.

–Você é a diretora, não é?! Pode nos dizer do que está falando? – disse Alex.

–Bobinhos. É claro que não posso. Se quiserem saber realmente do que estou falando, terão de me encontrar hoje à noite.

Yuri saltou do sofá, completamente perplexo e até um pouco assustado.

–Tá brincando? Essa conversa é bem estranha. O que você quer, hein? Eu prefiro as da minha idade, falou?!

Alex o olhou e não demorou a entender do que ele estava falando. Engoliu em seco e encarou a diretora, receoso.

–Não sejam tolos! – ela disse friamente – Pervertidos! Não é nada disso. Estou falando de mostrar o mundo ao qual vocês também pertencem. Eu passaria horas aqui explicando, mas de nada adiantaria se não vissem com seus próprios olhos, principalmente você, descendente do rei Ares, Yuri.

Novamente os garotos se entreolharam, suas mentes questionando sobre o grau de loucura daquela mulher. A diretora, por sua vez, parecia entender exatamente o que estavam pensando.

–Não sou louca, se é o que acham. – ela cruzou os dedos entre as mãos e apoiou o queixo por cima, lançando neles um olhar analítico – Sete horas. Na porta do colégio. Sem nenhum atraso. Usem o resto do dia para pensarem sobre isso. Não terão outra oportunidade de obterem respostas. Sete horas... – ela abaixou o tom de voz e assinou um documento, o qual dobrou e entregou para Alex – Entregue isso a professora que está na sala de vocês. É uma liberação para que deixem o colégio por razões de saúde. Ah, e façam-me o favor de aparentar estarem doentes.

–Mas diretora... – tentou Alex.

–Vá!

Os garotos deixaram a diretoria e voltaram à sala de aula. Quando foram dispensados pela professora, que por sinal estava rancorosa com relação a Yuri, que sequer faria questão de fingir doença, não fosse por um cutucão de Alex, recolheram seus pertences e deixaram o colégio.

–Acredita nisso? – questionou Yuri, confuso, como se dependesse pela primeira vez da opinião do outro e estivesse com raiva de si mesmo por isso.

–Não custa nada tentar. Se for uma psicopata, acabamos com ela.

–Uh? Você aderindo à violência? – zombou.

–É melhor do que correr ou morrer. E, por favor, sem piadinhas sobre corridas e Hermes, já estou farto disso.

–Relaxa. Aguentei o suficiente de piadinhas por causa do meu sobrenome também. Me irrita só em pensar nisso. Bom, preciso seguir por essa rua. Às sete?

–Às sete.


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Notas finais do capítulo

Comentem! Ajuda muito.



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