Integra não estranhou a sombra negra desprender-se da parede de seu escritório. Estava demorando... Alucard aproximou-se da escrivaninha, não pode evitar passar os olhos curiosos sobre os diversos papéis que ali esperavam por sua leitora. A mulher observava-o por rabo de olho enquanto terminava de fumar seu charuto na varanda. O vampiro alargou seu sorriso tocando a mesa de mogno com a ponta do indicador e do médio. Esperou a mestra tragar antes de sua oratória.

“Não tem nada para mim essa noite, Mestra?” Ele esperava que ela não fosse se virar para encará-lo.

“Por hora não é necessário” Respondeu fria como de seu costume.

“Quer dizer que tenho a noite de folga?” Indagou o óbvio ao encostar-se na mesa.

“Estou ocupada, procure outro para incomodar!” respondeu deduzindo o que ele queria.

“Oh não! Tenho um compromisso essa noite!” Cruzou os braços e abaixou um pouco a cabeça tendo os olhos vermelhos escondidos pela rebelde franja negra. Finalmente Integra decidiu encara-lo.

“Compromisso?” Repetiu irônica olhando-o sobre os ombros “Não lembro de ter mandado o veterinário buscar-te” Apagou o charuto.

Ele riu com comentário irônico da outra.

“O que quer, Alucard?” perguntou séria interrompendo-o.

“Saber se tenho a noite de folga” Respondeu sucinto.

“Digamos que tenha a ‘noite de folga’, o que fará com ela?” Sua paciência parecia vacilar.

“Conhece bem a cidade onde vive, Sir Hellsing?”

“Não fuja de minhas perguntas” Ela sentou-se na cadeira.

“Vou sair” Respondeu obrigado.

“Não lhe dei permissão para caçar, Alucard” o repreendeu enquanto procurava sua caneta.

“Não pretendo sair em busca de sangue, minha senhora” Ele sentou-se na cadeira paralela a de Integra com a mesa entre os dois.

Ela levantou uma sobrancelha perante a resposta.

“Uma nobre como minha mestra sabe o que faz a classe proletária londrina depois de seu trabalho?” Ele acomodou-se melhor na cadeira e apoiou os pés na mesa, deliciando-se com a carranca de repreensão da mulher.

Integra não se deu ao trabalho de responder e sua careta foi o suficiente para que o vampiro tirasse os pés da mesa. Como a mulher não abria a boca, Alucard continuou o discurso.

“Vou aproveitar e sair para me divertir um pouco com alguns amigos” Ele se levantou com o intuito de desaparecer por uma das paredes, porém foi interrompido por uma forte risada vinda dos lábios de sua mestra.

“Amigos?” perguntou divertida.

“Sim” respondeu sereno

“Não vai sair para se engraçar com prostitutas baratas” agora estava séria e voltou sua atenção para os papéis a sua frente.

“Não quer que eu saia?”

“O que?” Foi obrigada a olhar para ele.

“Minha Senhora não quer que eu saia, pois tem medo que eu me encontrar com outra mulher, em outras palavras...” Ele sorriu vitorioso com a cara de espanto da mulher diante de si “Está com ciúmes de mim!?”soou mais como uma afirmação do que como pergunta.

“Não seja ridículo” estava encabulada, principalmente porque ele sorria vitorioso e satisfeito.

“Estou errado, minha mestra?” Chegou mais perto da mesa.

“Sim, está errado, servo!” Respondeu com pressa “Não me importo nem um pouco com o que faz ou o que deixa de fazer, desde que suas funções sejam cumpridas” finalizou empinando o nariz.

“Já que minha senhora não se incomoda, vou indo” Aproximou-se da parede mais uma vez.

“Não disse que você podia ir” Ela se apressou em dizer.

“Também não disse o contrário” ainda estava de costas para ela, aproveitou para sorrir malicioso.

“Não seja por isso!” tomou um papel em mãos e voltou os olhos para ele “Está proibido de sair” finalizou.

Alucard riu alto indo na direção da mulher.

“Sir Hellsing está com ciúmes!? Oh, não é coisa que se vê com facilidade” Em poucos passos já estava bem próximo a mesa.

“Já disse que não estou com ciúmes!” Levantou a voz.

“Então por que não me deixa sair?” Desafiou confiante o que esgotou a paciência da mulher.

“Porque é uma ordem!” Levantou ainda mais a voz ele ia falar algo, mas ela interrompeu “Você é MEU servo, EU sou a mestra, você segue MINHAS ordens, e eu ordeno que fique na mansão” Levantou-se rapidamente batendo as mãos na mesa com toda a força que tinha.

“Como desejar, minha senhora” Ele sorriu satisfeito sem Integra entender o porquê. Ia se retirar, mas rapidamente voltou alguns passos encarando os orbes azuis bem de perto “Ah! E mais uma coisa...”

“O quê, Alucard?” vociferou sentindo a respiração gelada dele em seu rosto. Como podiam estar tão perto um do outro mesmo com uma mesa entre ambos?

O Vampiro aproveitou-se do vacilo da mulher para tocar-lhe os lábios com os seus. Com uma das mãos puxou o queijo da loira quando ela tentou se desvencilhar. O contado durou poucos segundos antes de Alucard quebrar o contato.

“Sempre vai ser minha favorita” Sussurrou sarcástico e vitorioso.

E em resposta, teve uma Integra rangendo os dentes:

“Vá se foder, antes que eu me esqueça!”