Eterna Discórdia escrita por Weirdo


Capítulo 4
Incomunicavel




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Na sala de espera do consultório do Dr. Erick, Hermione roía descontroladamente o canto de uma unha. Balançava a perna direita numa ansiedade sem tamanho. Gina, ao seu lado, nada falava. Aguardava com a amiga a primeira consulta com o obstetra que cuidaria da gravidez de ambas.

Vendo as outras grávidas da sala, a futura “mamãe de primeira viagem” se sentia muito desconfortável. Todas as mulheres estavam acompanhadas de seus maridos que, orgulhosos, se desdobravam em atenções. Alguns ofereciam água, outros ajeitavam as almofadas em que as esposas se encostavam e entre um agrado e outro, acariciavam-lhes as barrigas.

– Gina, eu não sei se estou preparada. Não para fazer isso sem o Rony – choramingou Hermione, nervosa.

– Deixa de bobagem, Mione! É super tranqüilo, você vai ver.

– Você diz isso porque o Harry sempre esteve com você! – disparou a morena, magoada de ter que passar pela primeira consulta com o obstetra sozinha.

A ruiva ia rebater, dizendo que Harry não pôde ir a várias consultas durante a gravidez de James, mas a porta do consultório se abriu e a secretária do medibruxo chamou:

– Srª Weasley, pode entrar, por favor.

Hermione olhou apreensiva a porta entreaberta e se levantou. Gina foi atrás para dar suporte à cunhada. Sabia que aquele momento era importante, e não deixaria Hermione vivê-lo sozinha.

– Boa tarde, Srª Weasley! – exclamou o médico, um senhor já de meia-idade e olhar bondoso. – Sente-se aqui para conversamos.

A jovem sentou na cadeira macia oferecida pelo Dr. Erick e logo se sentiu mais a vontade. O olhar paterno e o tom de voz ameno dele a deixaram menos tensa e ela falou do teste de farmácia, da comprovação com um teste no St. Mungus e dos sintomas que estava sentindo.

– Ótimo, então certamente não temos um alarme falso! – disse o médico bem animado. – Venha até aqui para eu examiná-la.

Deitada na maca indicada, Hermione viu o Dr. Erick erguer um pêndulo de cristal sobre sua barriga e o objeto começar a rodar e ganhar uma luz arroxeada, que ele explicou ser a união de vermelho e azul, as duas cores das energias que indicam o sexo do bebê. Como a gravidez de Hermione tinha apenas dois meses, essa informação ainda não ficava clara.

Ele ainda examinou a circunferência da barriga, traçou um mapa do posicionamento estelar no dia da concepção, o que, segundo ele, era fundamental para planejar o parto e voltou à mesa para receitar algumas poções e vitaminas.

– Aqui está, Srª Weasley. Peça a seu marido que também tome algumas dessas vitaminas. É bom que a saúde de todos na casa esteja em perfeito estado para não comprometer a saúde da mãe e do bebê.

Constrangida com o comentário do medibruxo, Hermione pensou que talvez fosse melhor se explicar, para o caso de ter que voltar ao consultório sem Rony novamente.

– Doutor, o meu marido... bem...

– Oh, sim! – interrompeu-a o medibruxo, dando um tapinha na própria testa. – Eu sou um completo esquecido! Sabia que tinha visto o seu sobrenome em algum lugar. Que insensível da minha parte. Seu marido representando o país numa convenção internacional e eu receitando comprimidos. Ah, mas de todo modo, certifique-se de que na volta, ele tome todos os remédios.

Hermione olhou atônita do médico para Gina e então para um exemplar do Profeta Diário sobre a mesa de canto do consultório. Na capa, uma foto bem recente de Rony com a manchete: Ronald Weasley: o rosto da Inglaterra na Conferência de Aurores.

Lentamente a cor sumiu das bochechas da moça e ela sentiu a vista turvar. Quando se recuperou, estava deitada na cama do quarto de visitas da casa de Gina. A amiga entrava no aposento com uma bandeja e uma xícara de chá.

– Que bom que acordou. Harry já ia levá-la para o hospital.

– O que o médico disse, sobre o Ron...

– É, é verdade. Ele viajou ontem à noite – respondeu Gina carinhosamente.

Hermione tornou a se recostar nos travesseiros e suspirou fundo. Não era daquele jeito que ela havia imaginado que seria sua gravidez. Em seus sonhos, a vida inteira, o momento seria de festa e cumplicidade entre ela e Rony.

Agora ele não só pedira para ela abrir mão do filho, como tinha viajado sem se despedir. Magoada, ela afundou o rosto nas mãos e desatou a chorar, pedindo para que a cunhada a deixasse sozinha por alguns instantes.

Gina assentiu e desceu as escadas para a cozinha, a fim de preparar a mamadeira de James.

– Ela está bem? – perguntou Harry, que arrumava a louça do jantar, assim que a esposa entrou no aposento.

– Está é extremamente nervosa, chorando muito. Esses dias não têm sido fáceis pra ela. Se o Rony não tivesse sido tão insensível e entendido que alguém na situação dela precisa de carinho...

Harry pensou em retrucar e dizer que Rony até tentou, mas Hermione se mostrou irredutível e preferiu ficar com o emprego a ficar com ele. Que o que a amiga precisava não era de carinho e sim de férias, apesar de ter começado no novo cargo há poucos dias. Mas não faria isso. Não com Gina grávida. Ela já tinha, normalmente, o temperamento forte e intempestivo. Com os hormônios fazendo festa dentro dela, Harry preferia brigar com um rabo-córneo húngaro de mau humor.

Continuou guardando a louça e só então atentou para um detalhe:

– Gina, não me leve a mal, mas eu queria entender por que você trouxe a Mione aqui pra casa. Não que eu não goste da presença dela aqui, mas não teria sido melhor levá-la pra casa dos pais? Você pode se sobrecarregar, tem o James, o novo bebê, as coisas da casa...

– Eu só a trouxe pra cá porque nossa casa fica bem mais perto do consultório do Dr. Erick do que a casa dos pais dela – respondeu a moça em tom displicente.

– Você foi ao Dr. Erick hoje e não me avisou? Aconteceu alguma coisa? Você se sentiu mal?

– Calma, querido! Eu estou ótima e você tem a tabela de todas as minhas consultas médicas até depois do parto. Eu só fui acompanhar a Mione.

– Ah, ufa, menos mal, por um momento eu pensei... – mas ele interrompeu a própria fala quando compreendeu o que aquilo significava. – Como assim, acompanhar a Mione? Ela está grávida também?

Havia tanto espanto na expressão de Harry que Gina não conteve uma risada.

– Querido, em que planeta você vive? Será que não notou que Hermione ficou tão mudada quanto eu quando fiquei na gravidez do James?

– Notei, mas com o cargo novo eu pensei que era apenas estresse – justificou-se.

– Ah, antes fosse. Pelo menos ela e Rony não teriam brigado. Se bem que eu não sei se aceitaria ficar com uma pessoa que me pedisse para abrir mão do meu próprio filho.

– Do que você está falando? – indagou Harry estupefato.

– Oras, daquela noite em que a Hermione apareceu aqui super nervosa e chateada. Ela saiu para jantar com o Rony, achando que iam se acertar, e ele pediu que ela abrisse mão da criança para poder ficar com ele.

Aquilo não fazia o menor sentido. Ele conhecia o amigo o suficiente para saber que aquela atitude seria impensável para ele. Quando o ruivo finalmente se acertou com Hermione, no fim da guerra, vivia fazendo planos de casamento e filhos. Eles estavam casados quase que o mesmo tempo que Harry e Gina e só não tiveram um filho antes porque Rony sempre pensou que, para a esposa, a carreira fosse mais importante.

Harry estava chocado. Não com a história que a esposa havia contado, mas com o tamanho da confusão criada, indiretamente, por ele. Engoliu em seco e coçou nervosamente a cabeça.

– Amor, olha só, senta aqui do meu lado – começou sem graça, procurando o melhor jeito de explicar a real situação para a esposa e, quem sabe com a ajuda dela, conseguir consertar as coisas. – Naquela noite o Rony não pediu que a Mione abrisse mão do bebê. Ele nem sabe que ela está grávida.

Aos poucos, Harry contou todos os mal entendidos dos últimos dias e no final, ao invés de uma solução, a única coisa que ouviu da esposa não foi nada animadora:

– Harry James Potter, você pode ter sobrevivido a Voldemort não sei quantas vezes, mas se a Mione souber a confusão que você causou dando conselhos inúteis ao meu irmão, ela acaba com você, mesmo que tenha feito 7 mil horcruxes.

Harry ficou sozinho na cozinha observando a esposa subir os degraus bem devagar, levando uma mamadeira para o filho, que dormia no quarto decorado com pomos de ouro.

Ele não se sentia tão culpado assim. Rony e Hermione eram mestres em mal entendidos. A única culpa de Harry era não ter prestado atenção e associado os “sintomas” de Hermione aos mesmos de Gina. Além dos conselhos, que inegavelmente foram dados com as melhores intenções.

De todo modo, tentaria reverter o quadro e estabeleceu como meta para o dia seguinte escrever a Rony contando sobre a gravidez de Hermione e tentar fazer os dois se acertarem.

Hermione conseguiu licença do trabalho por uma semana e ficaria com seus pais, apesar da insistência da cunhada e da sogra, que agora já sabia do novo neto que estava para chegar, de que a jovem ficasse com elas.

Ela negava veementemente, pois queria distância de tudo que lhe lembrasse o marido e lhe provocasse tanta saudade e solidão.

Harry chegou cedo ao Ministério e foi conversar com seus supervisores para pegar o endereço do evento. Precisava mandar uma coruja urgente para Rony.

– Sinto muito, Potter – disse Jack Stwart, um bruxo que cuidava dos treinamentos de novos aurores. – A convenção é fechada para qualquer comunicação externa. Um meio de evitar que repórteres e espiões descubram alguma coisa.

– Então o jeito vai ser esperar que ele retorne daqui duas semanas? – indagou Harry, sem esconder a urgência na voz.

– Bem, tecnicamente seriam duas semanas. Mas o Ministério inscreveu o Weasley no Curso de Aperfeiçoamento em Interrogatórios Mágicos. Ele só volta para a Inglaterra daqui a três meses.

A boca de Harry abriu involuntariamente. Ele balançou a cabeça para tirar do pensamento o que isso representaria para Hermione e para toda a harmonia familiar.

Vendo o estado do jovem auror, Stwart perguntou:

– Desculpe a indiscrição, Potter, mas qual assunto você tem para tratar com o Weasley que é tão urgente?

– É um assunto de família. A esposa dele, você a conhece, do Departamento de Execução de Leis Mágicas, está grávida.

– Que hora para isso acontecer! – exclamou o bruxo. – Mas não há como quebrar o protocolo e comunicá-lo. Se a convenção fosse aqui, até conseguiríamos dar um jeito. Mas em Paris é tudo muito diferente. E agora ele só volta mesmo depois do curso.

Harry se jogou na cadeira desolado. Não havia nada a ser feito a não ser esperar. Três longos e difíceis meses. Pensando no quanto o início da gravidez de Gina tinha sido complicado, ele imaginou que Hermione sofreria muito naqueles meses. E com o coração apertado, jurou que jamais daria conselhos a ninguém novamente.


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