문신 - Munsin

(Tatuagem)

Correu os dedos delicadamente na pele recém-marcada pela tinta preta, que mostrava perfeitamente o desenho de um fino, porém, destemido, dragão em seu ombro. Sorriu, não por estar feliz, mas por ter sido iludido e por acreditar que aquele pequeno dragão pudesse lhe abrir pesadas portas para seu amor. Um sorriso totalmente derrotado e decepcionado.

Quando começou com aquilo, em nenhum momento, pensou que estaria sendo enganado. Caramba! Cinco anos que estavam naquele enrosco deveriam significar algo, não? Seu inconsciente gritava que estava sendo enganado, mas seu consciente repelia qualquer tipo de comentário. Acreditava, com toda a essência de seu corpo, que aquilo era amor e não permitiria que ninguém o fizesse acreditar no oposto, afinal, eram cinco anos juntos.

Há quanto tempo se conheciam mesmo? Oito anos? Nove? Por aí... Só lembrava que, quando se viram pela primeira vez, recusou qualquer tipo de cumprimento vindo do ser brilhante que parecia um girassol. Enquanto era fechado e tímido, o aluno transferido parecia irradiar uma luz aconchegante. Viera do exterior, dizendo que seus pais tinham se mudado por conta do trabalho.

E aos poucos se viu envolvido por ele. Aos poucos desejou ser notado da mesma forma que o notara. Por isso quis fazer aquela tatuagem, como um símbolo do que passaram. Como uma forma de expressar em arte o que enfrentaram. Mas nem tudo parecia girar como ele acreditava desde a sua infância, pois fora tirado de sua zona de conforto, provocado, irritado, blefado. Tudo. Absolutamente sofreu de tudo nas mãos daquele jovem tão radiante, não que ele o fizesse por maldade.

Estavam apenas passando o tempo.

E o tempo passou tão rápido quanto se podiam contar os dedos das mãos. Rápido, calmo e de lembranças fervorosas. Mas não era isso de todo modo que o fazia ter uma expressão tão triste, era por ter aceitado aquela proposta que marcaria sua epiderme tão profundamente. Uma prova do seu amor e de sua fidelidade para com ele.

Parando para repensar em toda a conversa, sabia que estava sendo iludido. Percebeu o jeito como o mais velho remexia suas mãos nervosamente, e, também, como em momento algum pode ver suas íris azuladas. Não estava sendo levado a sério.

E, teve certeza absoluta disso, quando chegou no horário marcado e estava totalmente sozinho na sala de espera daquele lugar estranho e caótico. Uma forma triste e perturbadora de se levar um fora, mas a conta já havia sido paga, o horário já havia passado, sua parte do corpo já estava exposta para ser tatuada.

- Gostou? – Olhou com certo medo para a expectativa estampada no rosto do tatuador. Não soube dizer se agradeceu corretamente, ou se disse o quão fabuloso havia ficado aquele contorno negro em torno da pele vermelha do dragão, ou se até o elogiara por tal trabalho magnífico. Quando deu por si, já estava em seu apartamento. Olhando atentamente cada traço feito por sua epiderme, cada detalhe. E se encantou por aquele pequeno animal que representava um enorme poder de força.

- Tão lindo. – Murmurou dando foco para as pedras brutas azuladas no lugar dos olhos. E teve vontade de sair correndo para mostra-la a quem pertencia, mas lembrou-se que o mesmo não estava mais no mesmo lugar. Que a casa não pertencia mais ao loiro.

Parecia que vivenciara um amor de primavera.

E parecia tão sufocador o fato de que não poderia mais vê-lo, tão intimador o fato de que havia sido enganado por aquela mesma boca que atiçara seus desejos. Desabou em sua cama segurando firme nas beiradas do lençol. Não acreditava na ideia de que estava sofrendo, apesar de que demonstrasse isso, pois sabia que não fora de todo modo abandonado.

O que pensar naquele momento? Segurou firme para que não chorasse. Sempre havia dito que uma tatuagem era contra seus princípios, que macular a própria pele, por conta de uma pigmentação que daria o reconhecimento de uma imagem, não era um de seus objetivos na vida. Mas mesmo assim machucava.

Anos de convivência. E quando soube de que teria que por em prova o seu amor através de uma tatuagem, teve a certeza de que seu amor não era correspondido. Em sua crença, a pessoa que o amasse não o faria por a prova o fato de amar ou não amar, e muito menos o obrigaria a fazer algo que fosse contra sua vontade, mas estava cego. O amor o cegara. O sol radiante que acordava ao seu lado cada manhã, o fizera cego.

Precisava acreditar que o outro acreditava.

Não sabia dizer exatamente em qual ponto mudaram, apenas que estavam separados. Em busca de algum quê que ficou perdido no meio de toda aquela desconfiança. Uma tatuagem era a prova de que o loiro precisava, um sorriso era tudo o que o moreno necessitava. Coisas totalmente diferentes, mas cada uma com sua devida importância.

Uma prova.

E quer prova maior do que enfrentar sua política, sua crença, por alguém que se ama? Não, não há. Na verdade existem muitas formas de se pensar sobre esse assunto: Muitos diriam que é baboseira ter que sacrificar o que se acredita pela outra pessoa; muitos afirmariam e diriam até mais do que isso; outros dariam todo o seu mundo como prova de amor. Cada qual com sua experiência, com sua aprendizagem, com sua idealização.

Mas nenhum com o pensamento de Sasuke Uchiha, muito menos com a dúvida de Naruto Uzumaki. Eles precisavam de algo para provar um ao outro o tamanho de seu amor.

O moreno virou-se em direção a escrivaninha ao lado da cama. Pegou o celular em mãos, tentando decidir se o próximo passo era uma boa opção. Inspirou profundamente, como se esperasse alguma resposta, e por fim cedeu a sua vontade. Ativou a câmera e capturou a imagem daquele sagrado dragão, e suspirou de alivio.

Havia conseguido.

Provara para o loiro que seu amor ia muito além das barreiras do certo e errado, e que mesmo sendo tão rigoroso com certos assuntos, ainda poderia ser flexível. Era esse o problema o tempo todo? O seu jeito de fazer as coisas?!

Segurou o objeto em mãos, salvando a imagem para que pudesse envia-la ao destinatário correto. Congelou um pouco na hora de enviar tal, mas sabia que deveria fazê-lo, que deveria comprova-lo. A pior parte já passara, e a tatuagem já estava gravada para sempre em sua pele.

Precisava apenas provar.

Assim o fez, tomou coragem e enviou. Talvez querendo marcar o inicio de uma nova vida, ou como algo para recompor o que restava de humano em si. Queria resgatar sua ânsia pelo amor, ao invés de deixa-lo se apagar com o primeiro tropeço.

E se muitos perguntassem, ainda assim responderia: Não, não há remorso e nem arrependimento. Por que ele fez uma escolha, eu fiz a minha. Se os ideais dele o fizeram mudar de rumo, não será isso que mudará o meu. Essa tatuagem é a personificação do que passamos juntos. Se eu não represento nada para ele, não me importo. A única coisa que realmente interessa é o quanto ele significou em minha vida. Naruto Uzumaki, o único homem que me fez quebrar as regras.

E eu espero que isso tenha provado o que ele precisava saber.