"A vida é um processo fluente e em alguns lugares do caminho coisas desagradáveis ocorreram. Podem deixar cicatrizes, mas a vida continua a fluir. É como água fluente, que ao estagna-se, torna-se podre; não pare! Continue bravamente, porque cada experiência nos ensina uma lição."

Antes de poder olhar a expressão em seu rosto eu corri, mais rápido do que jamais havia imaginado correr em toda a minha vida, minha visão embaçou completamente, meus sentidos sumiram por um tempo e a dor desapareceu, quando dei conta do que havia acontecido eu simplesmente ouvi o som de tecido rasgando e quando menos esperava estava correndo em quatro patas.

Era pura nostalgia. E extremamente estranho e alucinante em uma hora você está correndo em duas pernas humanas e no outro, num piscar de olhos, você está em quatro patas de um animal. Tudo era diferente, a textura da pele, o sangue que fluía mais rápido e denso, o coração que batia em um ritmo diferente, tudo era mais perceptível, minha audição podia identificar vozes humanas a quilômetros de distancia, era como seu eu fizesse mais parte do mundo a minha volta.

Apesar de enxergar melhor, a visão acinzentada de lobo me deixava confusa como se tivesse algo errado e por minha falta de concentração, não consegui evitar e desviar a tempo do tronco da árvore velha, batendo meu ombro que me jogou para o lado devido ao leve impacto, mas que foi o suficiente para ferir minha pele que começou a arder no local.

Continuei correndo sem destino certo e muito menos pararei para pensar no que estava acontecendo, sem nem ao menos, me deixar pensar no que havia acontecido de fato, e até que foi fácil fazer isso, a confusão em minha mente ajudava, meus instintos estavam muito mais apurados e vez ou outra minha atenção era desviada para algum animal que encontrava pelo meu caminho incerto assustado com a minha presença, agora eu estava uma aparência mais assustadora do que muitos animais tidos como selvagens e perigosos.

Quando deixei o turbilhão de confusão ao qual minha mente estava para poder me encontrar em meio ao caminho que fazia sem saber aonde realmente ia, percebe que cheguei a uma clareira coberta por vegetação e neve, parei assustada deslizando minhas patas pela terra misturada com a grama e neve, quando percebi haver uma parede de mármore coberta de vegetação logo a minha frente.

Olhei para os escombros da construção abandonada há décadas deixada para que o tempo destruísse aos poucos o que um dia foi um castelo grandioso, eu me encontrava um pouco confusa, onde mesmo eu estava? A sim, isso é o que restou do castelo Haruno, por que demorei tanto para entender? Tudo era uma maré de confusão.

Endireitei-me e em paços cautelosos fui em direção a uma parede quebrada, e deslumbrei por um momento a sensação das minhas patas que sai da terra molhada para a neve sobre a grama felpuda, entrando no que restou do deslumbrante castelo. Assim que cheguei de frente à parede em que ficava a pintura dos reis, como um estalo, lembrei de uma das poucas coisas que eu havia ouvido sobre a transformação.

"Ao transformamos geralmente somos atraídos para o lugar em que nascemos, pois é o primeiro lugar em iniciamos nossa primeira ligação"

Atraídos... Atraídos... Atraídos...

Essa era a única palavra que se destacava e se repetia em minha mente conturbada por diversas vezes. Ai deuses, não, não podia ser... Eu não... deuses isso pode ser possível?

O pânico me dominou, parecia que me encontrava em um redemoinho, quando de repente senti a força me abandonar levemente, os sons que antes estavam tão altos agora eram apenas zumbidos. Deite-me no chão tentando me livrar daquele barulho infernal.

Fechei os olhos sentindo a forma de lobo regredir aos poucos, até poder sentir o chão e o ar gelado tocando minha pele nua, droga, eu havia rasgado minhas roupas ao mudar de forma. Fiquei deitada no chão da mesma forma que um feto fica na barriga de sua mãe, tudo o que eu queria agora era alguém para mim ajudar a entender o que estava acontecendo, ao pensar nisso lembrei de Sasuke. Será que ele continua atrás de mim? Se sim, não queria que ele me visse daquela forma.

Levantei lentamente olhando para todos os lados, ainda aterrorizada, mas agora eu estava priorizando encontrar algo para vestir, ou no mínimo me cobrir e proteger contra a nudez e o frio que fazia.

Aproximei-me da pintura, procurando algum corredor ou algo do tipo que me levasse ao local certo para encontrar um pedaço de pano qualquer, mas o que encontrei foi totalmente surpreendente e assustador.

Ao me aproximar o lobo de quartzo que eu usava no meu relicário emitiu uma luz forte a qual me chamou a atenção, por incrível que pareça somente agora percebe que ele se encaixava perfeitamente na tampa, como se fizesse parte da joia que usei por toda a minha vida, emitindo um brilho prateado.

Depois de alguns minutos brilhando a parede ao lado da pintura começou a se mover, pulei para trás achando que ela cairia a qualquer momento, mas estava enganada, na verdade a parede se abriu, revelando um corredor secreto.

Fiquei o que me pareceu horas olhando para o local analisando todos os fatos que estava acontecendo, e não sei o por quer, mas adentrei o corredor, sendo guiada pela luz que ainda vinha do lobo.