Amor de Maroto escrita por Helena Prett


Capítulo 14
Turbulências


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que demorei muito para postar, mas em compensação o cap esta bem grandinho até hahaha

boa leitura



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Capítulo 14 - Turbulências



Seus olhos ainda estavam inchados. Ela notou isso quando se olhou no espelho ao se levantar na manhã de domingo que insistia em ser ensolarada, apesar de nada estar muito feliz. Ela queria voltar a dormir, mas não conseguia. Ela queria dormir para esquecer de tudo o que acontecera. Mas nem seus sonhos a deixavam em paz…

——

“Onde Carol está?” Remo se perguntava, procurando sua namorada no meio de todos. Já eram oito e meia e ainda não a tinha encontrado. Será que elas estavam mais atrasadas do que pensava que estariam? Não, elas não demorariam todo aquele tempo e mais meia hora para ficarem prontas. Talvez cinco ou dez minutos a mais, mas trinta era exagero.

O maroto procurava Carol, mas no meio da multidão ainda não tinha encontrado a loira. Ele só passava perto de morenas. Por falar em morena, tinha uma que parecia ser Anna de longe, com os cabelos cacheados e castanhos escuros, vestindo um vestido branco com vários brilhos, quase o tornando prata. Sua máscara estava cheia de enfeites parecidos com pérolas, um pouco de purpurina branca e alguns brilhos pratas. Ele se aproximou dela para perguntar do paradeiro de sua namorada.

— Você viu a Carol? - Remo perguntou, feliz ao encontrar ao menos uma das meninas.

— Não vi, Remo. Ela foi atrás de você - Lily respondeu, ao reconhecer sua voz. Ele estava com uma máscara preta que cobria até metade do nariz e vestia um smoking da mesma cor.

— Lily? - ele perguntou, ao ouvir sua voz. Definitivamente Anna não tinha essa voz.

— Que foi? - ela indagou, sem entender o espanto do amigo.

— Você está morena?

— Ah, tinha me esquecido desse detalhe - disse ao se recordar da confusão do shampoo. - Usei o produto de cabelo errado - explicou para o amigo. - Vamos atrás dela, eu te ajudo. Aliás, você viu Tiago por aí?

— Ele estava te procurando - respondeu, entrando com a melhor amiga no meio da multidão.

Eles pararam abruptamente. Lily estava olhando para um, aparentemente, casal. Eles estavam prestes a se beijar. Remo não entendia por que ela parara para olhá-los. O maroto forçou a vista e pareceu-lhe que ela estava encarando Sirius e Anna, que estavam bem próximos um do outro. A garota usava um vestido preto com alguns brilhos escuros na cintura e no bustos, quase imperceptíveis. Sua máscara era preta com lantejoulas multi-coloridas e algumas penas pretas. Sirius depositou uma mão na cintura dela e outra quase na bunda, o que Remo achou um pouco precipitado.

— Ah não, de novo não… - Lily lamentou ao ver Sirius se aproximar mais de morena.

— Como assim de novo não, Lily? - Remo pergunta, sem entender. Ela estaria se referindo ao beijo que eles deram em público e não teve um final muito bom?

De repente, a morena se separa bruscamente de Sirius antes que suas bocas se tocassem. Ela diz alguma coisa parecendo espantada. Ele fica com a mesma cara de susto, e começa a falar. A morena fala mais algo e os dois somem no meio do Salão.

——

“Onde Anna se meteu?” Sirius se perguntou, sem sucesso em achar a namorada. Ele precisava encontrá-la. Quem tinha dado a ideia de se encontrar no baile, ao invés de esperá-las na Sala Comunal? Seria bem mais simples e evitaria todo esse tempo procurando.

Depois do que lhe pareceram horas, ele avistou uma menina trajada de preto. Seus cabelos morenos e cacheados lhe caiam na altura do busto. Ela tinha as unhas pintadas com uma cor ocre claro. Sirius não teve dúvida quanto a quem era, e a puxou para si, depositando uma das mãos em sua cintura e logo outra quase em sua bunda, inclinando o rosto para que suas bocas se encaixassem. Seus cabelos morenos cheiravam a verbena por conta de seu shampoo favorito. Os dois fecharam os olhos e o maroto abriu um pouco os lábios, procurando pelos dela, mas nesse exato momento ela o afastou, quase o empurrando. A atitude da morena assustou Sirius.

— Que foi, Anna? - ele pergunta pegando sua mão.

— Anna? - Carol pergunta, olhando melhor. Ela encarava Sirius. — Eu já achei esquisito seu hálito, Remo não gosta de canela. E ele não põe a mão onde você colocou - ela pausa. Ainda estava incrédula. - Quer dizer, não de imediato - se corrige. Para a sorte da suposta morena o Salão estava escuro, o que impediu Sirius de vê-la enrubescer.

— Carol? - ele perguntou espantado. - Carol, desculpe. Me desculpe. Eu jurava que você fosse a Anna - ele olha para suas mãos. - Você pintou suas unhas de ocre? - ele perguntou.

— Não, Anna queria pintá-las ontem, mas eu não encontrei meus esmaltes na hora, então ela usou o dela. Depois esmaltei as delas com um de meus esmaltes - ela explicou.

— Você está morena - ele notou. - E cheirando a verbena.

— Problemas com shampoo - fala, se desvencilhando dele. Os dois entram no meio das pessoas procurando seus respectivos namorados.

——

Lily e Remo ainda procuram Tiago e Carol, que parecem ter sumido do mapa. Os dois andam por, ao menos, dez minutos, até que Lily para abruptamente de novo. Novamente na frente de um, aparentemente, casal. Mas dessa vez ela não parece lamentar nada, ela parece incrédula, paralisada, sem se manifestar ao ver o casal se beijar. O garoto envolve a menina, que usava uma máscara preta com brilhos azuis, fortemente em seus braços, a beijando urgentemente. Lily então sai correndo sem querer mais ver aquilo, deixando um confuso Remo sozinho, contemplando a cena.

——

Anna avista uma pulseira no chão. Pensa em ignorar, mas vê que é um acessório familiar. Uma pulseira delicada com uma libélula e um olho grego. A pulseira de Lily. A real morena agacha e põe o acessório no pulso para não perdê-lo novamente. Ela então continua seu caminho à procura de Sirius, que tem que estar em algum lugar do Salão. Anna é puxada de surpresa por alguém, que logo sela os lábios nos dela. A suposta morena vê de relance um menino com os cabelos negros antes de fechar os olhos. Com essa urgência toda só poderia ser Sirius. Típico.

Porém, o beijo não começa calmo. Pelo contrário, ele já está acelerado quando seus lábio se encontram. Sirius sabia que ela gostava de beijos calmos e depois mais rápidos. Ela põe a mão em seus cabelos, percebendo que falta um pouco. “Será que ele cortou o cabelo?” ela se questiona.

Então ela se lembra daquele beijo. Ela tinha dado alguns iguais muito tempo atrás. Anna o afasta brutalmente.

— Onde estão seus óculos? - Anna pergunta encarando os olhos verdes cintilantes de Tiago.

O maroto não tem tempo para responder, pois uma figura feminina que estava encarando a cena de longe sai de perto, correndo para longe. Anna a reconheceu imediatamente por conta de suas vestes brancas e pratas e de sua máscara com enfeites que imitavam pérolas.

— Lily! - ela a chama, sem sucesso, pois a real ruiva saiu correndo. Tiago, ao raciocinar o que tinha acontecido, vai atrás da namorada sem tempo de dizer nada e desaparece no Salão.

Anna procura por alguém conhecido perto dela e reconhece Remo. Ela ruma até ele para perguntar do paradeiro de Sirius, mas a pergunta não é mais necessária quando seu olhar se cruza com olhos cinzas.

— Sirius! - ela o chama, indo a seu encontro. Ele, porém, se vira e sai andando rápido o suficiente para que ela não o veja mais em questão de segundos. Ela procura com os olhos, mas não o encontra. “Ele viu” ela pensa, certeiramente. De repente, sente uma dor no peito, pois sabe que vai ser difícil de ser perdoada depois do que aconteceu. Ela traiu sua confiança. O traiu, primeiro de tudo. Mesmo que tivesse sido sem intenção.

——

Lágrimas lavavam sua face. Ela tentava ir para a Torre da Grifinória, mas seus olhos a enganavam, a fazendo virar nos corredores errados vez ou outra. Ouviu passos ecoando no corredor, que se aceleravam na medida que se aproximavam. Tentou correr, mas uma mão forte a segurou pelo braço, a impedindo de sair do lugar. Ela já sabia quem era. Limpou as lágrimas com o braço vago e o encarou com desgosto, esperando que ele a soltasse.

— Lily, eu posso explicar… - Tiago começou a falar, mas logo foi interrompido.

— Ah, você pode? - ela indaga ironicamente. - Você estava beijando ela. E não era um simples beijo; era um beijo de língua - Tiago faz a menção reabrir a boca para falar, mas Lily o corta. - E não, você não pode explicar. Eu vi, Tiago. Não tem o que explicar. Simplesmente não tem. Eu pensei que você me amasse, mas posso ver que nem isso eu mereço - ela o olhava com desprezo.

— O cabelo dela estava quase ruivo, cheirando mirtilo! - ele suplica. - Estava usando a sua pulseira e é quase da mesma altura que você com salto! Como você acha que eu não ia me confundir?

— Eu acho que você não ia se confundir, porque você é meu namorado, e não dela. Só por isso - Lily se desvencilha da mão dele e ruma para a Sala Comunal da Grifinória, onde sobe as escadas e fecha a porta de seu dormitório atrás de si. Ela se senta ao lado da porta e permite que lágrimas rolem pelo seu rosto.

Minutos depois uma Anna com cara de choro entra no dormitório e encontra Lily ainda de vestido sentada ao pé da cama abraçando uma peça de roupa. “Uma camisa de Tiago” Anna supõe, se aproximando da amiga.

— Lily, eu… - Anna começa a falar, mas a real ruiva a interrompe.

— Eu odeio ele - diz entre soluços e lágrimas. - Mas eu não consigo não amá-lo. Toda vez que eu me entrego totalmente ele faz alguma coisa que me magoa.

— Eu sinto muito, Lil. Muito mesmo - diz com remorso, se referindo ao beijo que deu por engano em Tiago.

— A culpa é dele, Anna. Ele estava beijando quem não devia. Ele beijou-a porque quis.

A suposta morena tenta interrompê-la, mas Lily insiste em jogar a culpa em Tiago toda hora que ela fala algo. Anna nota algo estranho nas falas de Lily. A amiga nunca se refere à menina que ficou com Tiago pelo nome dela - que era Anna - e sim com o pronome “ela”.

— Ele beijou-a e disse que me amava hoje de manhã. Qual é o sentido nisso?

— Lil, eu acho que…

— Não Anna, não tente defendê-lo. Eu sei que ele é seu melhor amigo, mas não tem como justificar o que ele fez. Simplesmente não tem.

— Lily, quem…

— Eu não sei o que eu vou fazer. Como que eu vou poder encará-lo nas aulas? Como que eu poderei algum dia voltar a olhar na cara dele depois de hoje?

— Lílian! - ela chama sua atenção. - Quem estava beijando Tiago era eu - fala firmemente.

O coração de Lily se despedaça por completo. Até agora estava apenas rachado. A rachadura já era ruim, mas isso era demais para ela.

— Foi um engano - Anna declarou, já que não teve resposta da amiga. - Pensei que ele fosse Sirius e ele deve ter pensado que eu fosse você por conta do cabelo e… - ela pausa, tirando de um doas pulsos uma pulseira delicada com uma libélula e um olho grego, colocando-a na palma de Lily. - Eu a encontrei no chão e coloquei no pulso para te devolver sem perdê-la. Ele com certeza a viu.

A ruiva verdadeira não falou nada, apenas começou a raciocinar. Se Anna tinha se confundido, era evidente que Tiago tinha também, o que tornava o beijo não proposital. O que inocentava ele.

— Ah meu Merlin! - Lily exclama. - Ele deve achar que eu odeio ele! O que eu faço? - ela pede ajuda para a amiga.

— Você não tem que fazer nada. É só falar pra ele o que eu acabei de falar e o que você achou que viu quando se deparou com a cena que tudo se resolve. O que vai ser um problema real é o Sirius. Ele não vai querer acreditar tão facilmente - ela começa a chorar novamente. - Ele vai achar que que eu fiz propositadamente.

Carol entra bem nesse momento no dormitório se deparando com Lily com o rosto borrado tentando consolar Anna que estava começando a ficar com rosto borrado.

— Vamos dizer que nunca mais podemos acidentalmente usar o shampoo errado. Nunca mais - a verdadeira loira reforça a ideia, lhes contando do que quase acontecera entre ela e Sirius. - Mas o que aconteceu com vocês?

— Tiago me beijou pensando que eu era Lily e eu pensando que ele era Sirius. Lily e Sirius viram - Anna encurtou a história. - Mas eu não consegui falar com Sirius. E Lily gritou com Tiago.

— Bem, acho que temos um problema - Carol diz.

— Eu tenho certeza disso - Anna diz, se irritando mais ainda. - Ele nunca vai me perdoar. Nunca - ela coloca o rosto entre as mãos.

— É óbvio que ele vai, Anna. Não foi proposital, você e nós sabemos disso.

— Não é isso… Ele não vai me perdoar depois do que aconteceu ontem à noite. Ele vai achar que eu estava todo esse tempo brincando com ele - ela fecha os olhos tentando afastar tudo aquilo dela, sem obter sucesso. - Eu fiquei com o melhor amigo dele depois do que aconteceu ontem. Eu sou muito idiota para poder confundi-los…

— O que aconteceu ontem, Anna? - Lily pergunta. Ela nota alguns arranhões no braço da morena, mas não comenta nada.

— Eu preciso falar com ele - Anna declara e se levanta, saindo do dormitório em seguida.

Ela corre até a ala masculina e bate três vezes antes de entrar no dormitório dos meninos, onde encontra Remo e Pedrinho.

— O Sirius está aí? - ela pergunta desesperada.

— Anna? - Remo pergunta. - Por que você está usando esse vestido, sendo que você estava de preto com brilhos escuros ao invés de azuis?

— Como assim, Remo? Eu usei esse vestido a noite inteira - disse, olhando para suas vestes pretas quase completamente cobertas por brilhos azuis.

— Eu te vi falando com Sirius no Baile, mas o seu vestido era preto com poucos brilhos escuros, e não azuis.

— Você me viu com Sirius? Quando? - ela lhe perguntou. Não tinha se encontrado com Sirius propriamente. Apenas o chamara, mas isso não pode ser considerada uma conversa.

— Vocês estavam quase se beijando, então pararam e saíram andando. Eu achei estranho, mas eu precisava achar a Carol, então nem me importei muito - o maroto deu de ombros. - Você também usou o produto de cabelo errado?

— Como você sabe?

— Eu encontrei Lily e ela estava morena. Então me disse que usara o produto errado. Agora que eu vi que você está quase ruiva, me parece que aconteceu o mesmo com você.

Anna parou pra pensar. Uma das coisas que Carol disse ao chegar no dormitório foi que ela e Sirius quase se beijaram. Carol estava morena e com cabelo cacheado no Baile. Logo Anna pôde entender a confusão que Remo fizera, pensando que Carol fosse Anna. Porém ela resolveu não falar nada, era melhor que os dois se entendessem sozinhos.

— De qualquer jeito, você viu o Sirius? - perguntou novamente.

— Não o vi desde que subi. Ele parecia um tanto avoado quando o vi pela última vez no Salão. Eu subi logo depois que Lily sumiu e encontrei Rabicho aqui, então resolvi ficar. Nem Almofadinhas e nem Pontas apareceram ainda.

— Você sabe de algum lugar provável para ele estar? - indagou, esperançosa.

— Talvez no campo de quadribol, talvez nos jardins, talvez vagando pelos corredores, não sei ao certo.

— Vocês brigaram? - Pedrinho se manifestou pela primeira vez na noite, curioso.

— Ainda não - Anna respondeu. - Já vou indo, obrigada - ela saiu correndo para fora do dormitório e parou assim que desceu as escadas.

A Sala Comunal estava deserta, sem ruído algum a não ser pelo crepitar das chamas da lareira. Aparentemente, todos os grifinórios ainda estavam no Salão Principal curtindo a festa sem problema algum.

Ela saiu da Torre da Grifinória, passando pelo retrato da Mulher Gorda. O corredor também estava vazio. Andou por mais algum tempo, sem encontrar ninguém. Passou pelos jardins, mas lá só encontrou alguns pares se beijando, e - por sorte - Sirius não estava em nenhum deles. Ela encarou um sabugueiro que ainda tinha algumas flores em sua volta. Cravos cor de rosa, suas flores prediletas. Elas tinham nascido com magia no dia que Sirius a pedira em namoro. A morena suspira, e volta a procurá-lo. Passa pelos corredores do primeiro aos do sétimo andar e não o encontra. Quando está prestes a perder a esperança, um lampião parece acender em sua mente. “O campo de quadribol” pensa. Ele sempre ia lá para pensar. Anna se animou pela primeira vez desde que começou a procurá-lo e desceu todas as escadarias, saindo do castelo, rumando ao campo.

Ao chegar, não vê nada além do verde da grama e três aros em cada fundo. O local estava iluminado e um tanto frio por conta do vento. Para sua sorte, o vestido era longo, protegendo suas pernas. Anna caminhou um pouco pelo campo, procurando algum sinal de vida nas arquibancadas. Seu coração saltou quando viu uma figura masculina vestida com um smoking preto sentada em uma das arquibancadas. Ao se aproximar viu que a cara dele não era a das melhores.

Sirius foi o primeiro a se manifestar depois de um longo período de tempo de silêncio entre os dois.

— Você beijou o Pontas. - ele faz uma pausa. - De novo. - completa, encarando o chão, se recusando a olhá-la nos olhos. o maroto sente uma mistura de raiva, mágoa e desejo - por mais que queira beijá-la, ele não pode. É orgulhoso demais para isso. Não pode deixá-la ganhar. Não desta vez.

— Eu o confundi com você - ela explica.

— Eu confundi a Carol com você, mas nem por isso a beijei.

— Não a beijou porque ela o afastou. - contestou, ao se lembrar da história da amiga. - Se não fosse por isso, você não teria percebido.

— Por que você parou? - ele perguntou calmamente.

— Parei o quê?

— O beijo. Eu vi. Você o afastou.

— Eu parei porque não era você. - disse. - Você não beija daquele jeito. Você não tem aquele cheiro. E você tem mais cabelo - apontou. - Eu perceberia se fosse você.

— Hmm - murmurou. Ele ainda estava magoado, apesar de ter descoberto que não fora proposital. Ela tinha razão: se Carol não o tivesse parado, ele a teria beijado. Ele não teria reconhecido a amiga antes de beijá-la. Se é que conseguiria reconhecê-la pelo beijo.

— Você ainda está bravo? - Anna perguntou cautelosamente.

— Eu não sei. Não sei se significo algo para você. Não sei se algum dia já signifiquei.

— Óbvio que você significa algo para mim, Sirius. Eu amo você. Eu disse isso ontem de noite. E eu continuarei te amando - disse, se referindo ao acontecimento da noite anterior.

— Você disse isso ontem, mas hoje beija meu melhor amigo. De novo. - seu tom de voz aumenta a cada palavra.

— Você acha que o que aconteceu ontem para mim foi só por diversão? - Anna pergunta indignada. Como ele ousava duvidar de seu amor?

— E você acha que pra mim foi? - ele a olha nos olhos pela primeira vez. Os olhos deles estão vermelhos, como os de alguém que lutou contra suas lágrimas.

— Eu transei com você, Sirius, porque eu te amo. E não por qualquer outro motivo.

— Prett, eu sei o que aconteceu ontem. Mas você acha que eu fiz aquilo com você por quê? Apenas por que eu queria? Apenas para passar o tempo? Não! Eu nunca me envolvi com ninguém antes como eu fiz com você. E você vai lá e faz o que fez. Fica de novo com o meu melhor amigo.

— Pare de gritar comigo. - ela diz calmamente, finalmente o encarando novamente. Sirius consumava ver várias coisas em seus olhos: amor e curiosidade e ternura, mas agora tudo o que podia ver era raiva. - Apenas pare.

A voz calma dela faz com que a raiva dentro de Sirius se dissipe. Ele não quis gritar com ela. Ele não quis ficar bravo.

O maroto encara surpreso as lágrimas descendo o rosto branco dela. Ele não a via chorar há mais de dias. Ela soluça e respira fundo, tentando soar normal, mas não consegue.

— Você vai continuar a jogar isso na minha cara? Não acha que eu já me sinto culpada o suficiente? - pergunta, com a voz baixa, tentando não tremer.

Sirius não a responde. Não sabe o que responder. Não tem como responder. Ele a fizera chorar, de novo. Ele estragara tudo, de novo. Mesmo não tendo beijado Carol e ela ter beijado Tiago, ele a magoou sem motivo. O dia anterior tinha sido a primeira vez que ouvira Anna dizer que o amava.

— Anna, eu… Eu não devia ter gritado com você. Me desculpe. - se redimiu. - Eu estava muito irritado no momento que não percebi. Eu não prestei atenção em mim mesmo.

— Você prestou atenção quando eu disse que te amo? - perguntou. - Bem, se não, eu digo novamente: eu te amo, Sirius Black. E não é essa sua cabeça dura que vai mudar o meu sentimento por você. Não é porque você é chato comigo que eu vou mudar de ideia. Não é porque você gritou comigo que eu vou me esquecer disso. Não é porque… - Anna pretendia continuar, mas foi calada por uma boca. Uma boca macia, que a beijou lentamente por bastante tempo.

— Não ouse continuar a listar aquelas coisas - Sirius disse, quando eles se afastaram. - Nós dois erramos. É isso. Agora podemos voltar a nos beijar?

Anna não perde tempo e logo encaixa sua boca na dele, sentindo o calor de seu beijo. Sirius põe uma mão em sua nuca, afastando um pouco os cabelos quase ruivos dela. Sua outra mão está em um de seus braços a aquecendo.

Ele se afastam um pouco e antes que possam voltar ao que estavam fazendo, Sirius nota algo perto se sua mão esquerda, na pele de Anna.

— Você se machucou? - ele a pergunta, ao ver um leve arranhão em seu braço. Mas há algo de errado, pois o arranhão está borrado. Ele passa a mão por cima, tirando uma camada de maquiagem, e vê que perto daquele não tão leve arranhão, estão mais algumas marcas de unha. Sirius analisa as marcas.

— Não é nada - a morena diz, tentando tirar a mão dele e cobrindo o pescoço com seus cabelos novamente. - Foi só um arranhãozinho, não precisa se preocupar com isso.

Ele não a obedece, tirando novamente os cabelos do pescoço dela. Se alguém olhasse de relance nunca notaria as manchas escondidas com maquiagem. Ele esfregou um pouco revelando a pele de Anna. Ela estava com marcas roxas no pescoço.

— Não foi nada - ela diz, tentando fazer com que ele parasse de prestar atenção naquilo, sem sucesso.

— Me desculpe - Sirius diz. - Eu não tinha a intenção de ter feito isso.

— Não foi nada - repete.

— Anna, eu te deixei roxa. Você está com marcas de chupão pelo pescoço e vários arranhões no corpo. - ele fala. - Foi algo sim. Eu não devia ter feito isso ontem. Eu… Me desculpe.

— Estavam piores antes. As marcas no pescoço - ela o diz, olhando para o chão. Não queria que ele se sentisse culpado. - Você não me machucou, não tem porque se desculpar. - ele passa os dedos delicadamente na clavícula da namorada.

— Claro que tem! - ele exclama. - Prett, eu te marquei inteira. Foi por isso que você estava com um lenço em volta do pescoço e uma camiseta de manga comprida hoje de manhã - ele raciocinou.

— Você tenta me fazer sentir menos culpada, mas eu sei o que eu fiz. Como você escondeu as marcas do seu pescoço? Eu tenho certeza que ele deveria estar roxo em vários pontos também.

— Alice passou algum tipo de produto para esconder - ele admite.

— Viu? Não tem porque você se sentir culpado. - ela diz. - E, Sirius… Você, por um acaso, olhou suas costas? - perguntou, olhando para o chão, sem graça.

— Não, por quê?

— Bem, vamos dizer que talvez você esteja cheio de arranhões e algumas várias marcas de unha, pelo que eu me lembre…

——

Anna volta para o dormitório exausta, querendo dormir. Ao chegar, encontra Carol e Lily conversando sobre as possíveis respostas de Tiago quando Lily falar com ele.

— Você acha que ele vai gritar comigo? - a ruiva indagava.

— Óbvio que não. Ele não é louco - Carol aponta.

— Vocês se entenderam? - Lily pergunta para Anna, se referindo a Sirius. A morena assente com a cabeça.

— Quase. - responde. - Ele ainda está muito magoado, mas acho que conseguimos viver com isso. Quer dizer, eu não sei como ele vai estar depois de refletir sobre tudo, mas posso apostar que Sirius não vai estar 100% aberto na segunda. Ficará com um pé atrás por alguns dias.

Anna deixa que elas sigam com a discussão e prende os cabelos em um rabo de cavalo, abrindo o zíper de seu vestido. Ela entra no banho e ao sair do banheiro está vestindo o shorts do pijama e um top preto, segurando uma regata na mão. Ela para na frente do espelho e se lembra que suas amigas não sabem que está com várias marcas pelo corpo. Tenta rapidamente cobri-las, intentando sem sucesso soltar os cabelos e ao mesmo tempo colocar a regata, mas já é tarde demais, pois Lily a chama.

— Anna, algum bicho te arranhou? - pergunta a ruiva, analisando a amiga. Para a infelicidade da morena, seu shorts era muito curto, deixando suas coxas à mostra. Lily olha os arranhões nas coxas e nos braços de Anna.

— Tá mais pra cachorro - ela responde, se virando e mostrando suas costas para Lily. Elas estavam repletas de arranhões e marcas de unha.

— O Sirius fez isso?! - a ruiva parecia surpresa com aquela selvajaria. Carol ria da reação da amiga.

— Pode ter certeza que ele não saiu ileso - Anna comenta, se lembrando do que fizera com o maroto.

— Olha o pescoço dela, Lil - a real loira disse, ainda rindo, se divertindo com as expressões da ruiva.

Lily analisou as marcas roxas, passando seus dedos delicadamente por cima.

— Dói? - ela perguntou, tentando não pressionar o pescoço de Anna.

— Você nunca levou um chupão?! - Anna a perguntou, surpresa, pois Lily namorava Tiago. A ruiva balançou a cabeça negativamente. - Não dói muito, só fica um pouquinho dolorido depois.

— Eu não diria um pouquinho– Carol contesta. - Quer dizer, estamos falando do Sirius - ela diz, se lembrando dos chupões que o maroto lhe deu uma vez. - Os dele doem depois e ficam bem marcados - comenta. A loira olha para Anna - Os seus não são de hoje - aponta, suspeitando.

A morena abaixa a cabeça encarando o chão.

— Não - ela admite. - São de ontem.

———(flashback on)———

PDV - Anna (sexta de noite)

— Ele já foi - Sirius me diz. Ele estava com um dos ouvidos encostado na porta para poder escutar os passos de Filch e sua gata, Madame Norra, de quem nós estávamos fugindo antes de entrar nessa sala escura e apertada. Eu estava encostada em Sirius, quase sem poder me mexer de tão estreito que o local era.

— Você pode me explicar agora como essa porta se materializou na nossa frente? - peço.

— Isso é simples. Estamos no sétimo andar. - eu assenti esperando o resto da explicação. - Nesse andar se encontra a Sala Precisa. Ela aparece quando uma pessoa precisa de qualquer coisa. Seja um banheiro, um armário de vassouras, um esconderijo…

— E ela é sempre assim, desse jeito?

— Não. Ela se projeta de acordo com a vontade da pessoa.

— Hmm, Sirius…? Ela realmente precisava estar tão apertada? - eu desconfio. Ele me dá aquele sorriso malicioso que sempre me atiça. - Já que é assim… - e com isso meus lábios alcançam os dele. Nos beijamos por algum tempo até que ele tira meu cardigan da grifinória. Eu me contraio ao ouvi-lo caindo no chão, e o afasto, com os olhos ardendo. Não sei por que me sinto assim. Não me sentia assim desde o natal, quando ele tentou algo a mais em uma das noites.

— O que foi? - ele me pergunta delicadamente.

— Nada - respondo, mandando aquele sentimento embora. Ele fez a menção de dizer algo, mas a sua fala se perde no ar quando eu pressiono minha boca na dele.

Ele me beija de volta, sem questionar. Eu começo a sentir calor no decorrer dos beijos. Sirius parece ler minha mente, pois começa a tirar o nó da minha gravata, logo desabotoando os primeiros botões da camisa do meu uniforme, revelando o meu sutiã cinza com um toque de lilás, que tem renda preta dos lados. Eu desfaço o nó da gravata dele, puxando ele pela mesma para mais perto, se é que isso é possível. Ele se afasta de mim e logo se aproxima de novo, mas quando eu me inclino para beijá-lo ele volta para trás, me provocando.

Eu engancho meus dedos indicadores nos buracos da calça dele destinados para o cinto, puxando-o para mim. Ele segura meus braços. Tento beijá-lo, mas ele desvia a cabeça, depositando um beijo bem abaixo da minha orelha, mordendo-a levemente em seguida. Sua boca percorre minha mandíbula, descendo para minha clavícula. Ele beija gentilmente meus seios algumas vezes, fazendo com que uma onda de calor percorra meu corpo e depois meu pescoço, logo chegando em minha boca novamente, o que é um alívio. Nunca esperei tão ansiosamente para beijá-lo na vida. Segundos depois estou sem camisa, tirando a dele, que cai aos nossos pés já descalços. Eu tiro seu cinto e ele minha saia, fazendo a deslizar pelas minhas pernas até chegar ao chão, se juntando ao resto das peças de roupa que já tiramos. A mão dele começa na minha bochecha, e vai descendo pela lateral do meu corpo, parando um momento em minha cintura, apertando-a, e depois deslizando pela minha perna, parando na dobra de minha bunda, me fazendo ficar arrepiada. Beijo-o com vontade, passando a mão pelo seu abdômen definido, correndo os dedos pelos seus músculos. Ele me levanta, deixando a parede sustentar a maioria de meu peso e eu deixo minhas pernas ao redor de sua cintura. Sirius me beija com mais intensidade, segurando minhas coxas com força, as arranhando. Eu não sinto dor, apenas o calor de seus dedos passando por mim. Sirius se afasta, interrompendo o beijo de repente.

— Eu não tive a intenção de te pressionar - ele me diz, tentando recuperar o fôlego. - O tamanho da sala era apenas uma brincadeira e eu não tive muito tempo para pensar quando vi a gata do Filch correndo atrás de nós.

— Você realmente vai querer estragar quando eu já estou apenas de calcinha e sutiã e você a meio caminho de tirar a calça? - pergunto, quase que revoltada. Ele tinha parado os beijos em um péssimo momento.

Sirius avalia os nossos estados, me sustentando pelas coxas, minhas pernas ainda entrelaçadas em volta de sua cintura. Minhas costas estavam geladas com o contato com a parede.

— Eu não estou brincando, Prett - ele me diz, mais seriamente. Eu nunca o vi tão sério na minha vida. - Não quero te ofender de alguma maneira como fiz da última vez.

— Sirius, se estou com você dessa maneira é porque eu quero, não acha? - ele concorda relutantemente. - Agora você pode fazer-me o favor de voltar a me beijar, antes que eu mesma o faça?

Como é possível imaginar, ele me beijou, mas não do jeito que estávamos nos beijando antes, intensamente, mas, sim, calmamente, como um novo começo. Meus pés tocaram novamente o chão, me deixando mais segura. Puxei seus cabelos negros e senti os meus sendo puxados também com mais força. Sua mão vaga desceu pela lateral de meu corpo, parando na calcinha, enroscando os dedos em sua alça. Ele a puxou para baixo lentamente, depositando beijos na minha barriga, meus seios e voltando para minha boca. Me desvencilhei da calcinha com facilidade. Logo, Sirius começou a passar sua língua em meu pescoço, percorrendo minha clavícula, sugando-a. Deixei escapar um gemido, mas tratei de me calar o mais rápido possível para que ele não percebesse. Pude ver que ele ouviu, mas não disse nada, apenas esboçou um sorriso em sua boca, que ainda pressionava meu colo. Arranhei suas costas, dando o primeiro chupão em seu pescoço. Seus longos dedos passeavam por minhas costas parando em meu sutiã. O fecho logo se abriu, permitindo que a peça de roupa caísse. Sirius se aproximou mais, colando seu corpo no meu.

— Eu amo você, Anna Prett. Eu sempre amarei. - Sirius fala depois de um selinho.

Não respondi com palavras, ao invés disso, coloquei a mão gentilmente na nuca de Sirius e me aproximei para beijá-lo. Após nossos lábios se encontrarem, o maroto me puxou pela cintura, depois passando uma mão em uma de minhas coxas, mas sem deixar de me puxar para si mais e mais. Ele passa as unhas pela minha pele, me fazendo sentir arrepios pelo corpo inteiro. Sirius parou o que estava fazendo e se dirigiu para o pescoço, beijando-o. Eu conseguia sentir seus lábios quentes e sua respiração pesada. Uma vez ou outra eu deixava escapar um gemido, o que o encorajava a continuar.

— Sirius… - sussurrei - eu amo você.

Ao ouvir isso, ele parou o que estava fazendo e se afastou um pouco para poder ver meu rosto.

— Será que eu ouvi certo? - me perguntou. Ele sabia o que eu tinha dito, só queria me importunar.

Eu ri, envergonhada.

— Óbvio que você ouviu certo, seu idiota! - exclamei e o empurrei levemente.

Ele me beijou com mais vontade, e eu já sabia o que viria a seguir, então me entreguei completamente ao homem que eu amava.

——

Sentia que alguém estava me observando. Abri os olhos lentamente.

— Olá - Sirius me cumprimentou, sorrindo. - Nós cochilamos - ele me informa, pegando minha mão.

— Que hora são? - pergunto, ao ver que esqueci meu relógio no dormitório.

— Uma da manhã. - “Ainda?” penso. - Você quer voltar para a Torre da Grifinória, ou dormir aqui mesmo?

Eu olho ao redor. Antes daquilo acontecer, Sirius tinha mudado a Sala Precisa, colocando uma grande cama de casal para que nós pudéssemos… bem, você sabe.

— Não - respondo o abraçando. Eu e ele estávamos novamente de roupas íntimas, o que me permitia que minha barriga encostasse na dele, me aquecendo. - Não quero voltar para a realidade.

— Anna? - ele me chama, algum tempo depois.

— Sim.

— Quer repetir? - ele me pergunta, sorrindo maliciosamente.

— Sirius! - exclamo, sentindo meu rosto enrubescendo. Não acredito que ele tenha dito isso!

— Ok, deixa pra lá. Só perguntei por perguntar - ele diz, me beijando carinhosamente para me fazer esquecer o seu pedido.

Não consigo evitar e sorrio.

— Você não muda nunca - digo, balançando a cabeça de um lado para o outro.

— Você quer que eu mude?

— Não. - respondo. - Eu te amo do jeito que você é.

———(flashback off)———

— Vocês o quê?! - Lily perguntou, ainda atônita.

— Então era sobre isso que você se referia quando dizia que algo tinha acontecido ontem a noite… - Carol raciocinou, ligando os pontos.

— Exatamente sobre isso - Anna concluiu a ideia da amiga, se jogando em sua cama, suspirando. - Ele disse que me ama - contou para as amigas, sonhadoramente.

— Ele sempre falava isso - a ruiva contradisse.

— Não, ele sempre falava que estava apaixonado por mim. Mas amar é diferente. Totalmente diferente.

— Ele me disse isso esses dias - Carol comenta. Anna a olha esperando uma especificação. - Ele vem dizendo esses dias que te ama. Já faz um tempinho, tipo uma semana ou algo do gênero, um pouco mais que isso. É que eu tenho passado muito tempo conversando com ele esses dias e uma das coisas que ele sempre fala é o quanto ele te ama, Anna - ela olha para a morena, que parece incrédula.

— E só me disse ontem? - indagou, pasma.

— Ele não queria te assustar - Carol justificou pelo melhor amigo. - Você não é muito chegada nesse negócio amoroso e tudo mais, então ele receou que se fosse muito direto, você iria se assustar e se afastar dele.

— Eu não ia me “assustar” - Anna diz, ofendida.

— Ia, sim - Lily confirma. - Seria muita intimidade de uma vez só para um começo de namoro. Tipo a que eu tive com Tiago, e olha só no que deu… - ela abaixa a cabeça.

— Você não ia desculpá-lo? - Anna indaga. - Ele não fez nada de propósito, Lil, você sabe disso. - tentou defendê-lo.

— Eu não sei o que vou fazer. É que ele não percebeu que não era eu. Ele deveria ter, não deveria? - questiona. - Ele deveria reconhecer a própria namorada que tem…

— Já te disse mil vezes, Lil! Você não pode esperar que ele seja perfeito! Eu sei que o Tiago é seu namorado e tudo mais, mas de qualquer jeito não existe a possibilidade de ele fazer tudo que você espera, a não ser que você fale pra ele, o que não foi o caso - Carol exclama. - Ok, você ama ele, isso nós já sabemos, mas ele sabe? Você já, alguma vez na vida, disse isso pra ele?

Lily parou para pensar. Não sabia se já tinha dito diretamente que o amava, embora fosse verdade.

— Na sexta passada ele disse que me amava - ela começou - e eu respondi que a recíproca era verdadeira, mas acho que esse foi o máximo que eu já falei…

— Então, Lílian! - Anna exclamou. - Não quer dizer que se Tiago me confundiu com você que ele não te ame. Está escrito na testa dele que ele é apaixonado por você. - ela suspirou. - Não perde isso por uma bobagem dessas. Não vale a pena - aconselhou.

— Mas realmente, no que vai dar eu perdoá-lo? É capaz de amanhã eu sair da Torre da Grifinória para ir atrás dele e encontrá-lo com outra menina.

— Ok, não chega a tanto. Deu de drama. Agora vamos pensar no que você vai falar pra ele amanhã quando você encontra-lo sem nenhuma menina por perto. - sugeriu Anna, tentando melhorar o humor da amiga.

Depois de elas ensaiarem fala por fala várias vezes, resolveram ir dormir, pois já estava tarde. Lily porém ficou um pouco mais de tempo acordada pensando em suas possibilidades. Não sabia se era uma boa conversar com Tiago. Quer dizer, fazia realmente sentido falar com ele? Sem que percebesse, começou a chorar. Não queria perdê-lo, mas não sabia se a ideia de ir atrás dele era uma boa, embora fosse a melhor opção que tinha.

Lily finalmente adormeceu, entre suas lágrimas, esperançosa em relação a seu namorado.

——

Incrivelmente, Lily consegue acordar no dia seguinte, com os olhos ainda inchados, mas consegue. A manhã de domingo insistia em estar ensolarada. Ela tinha sonhado com Tiago, não se lembrava bem qual era o sonho, sua lembrança mais nítida era a do maroto sorridente.

A ruiva pensou em desistir de falar com ele, mas suas amigas insistiram tanto no dia anterior que decidiu seguir em frente. Tomou uma ducha, penteou os cabelos ainda morenos, colocou uma roupa confortável e foi atrás dele. Embora já fossem onze e meia da manhã, Anna e Carol ainda estavam adormecidas e Lily tinha certeza que Tiago estava acordado. Ele nunca acordava tão tarde assim, mesmo nos domingos. Ela saiu do dormitório e atravessou o retrato da Mulher Gorda, rumando ao Salão Principal. Tinha certeza que ele não estaria lá, mas fora o primeiro lugar que lhe veio à mente.

Ela repassou todas as falas que treinara em sua mente, procurando até em seus pensamentos ser o mais convincente possível. Não podia perdê-lo. Ela o amava mesmo que ele tenha beijado uma de suas melhores amigas. Mesmo que seu passado o condenasse. Mesmo que ele fosse um maroto.

Lily parou e percebeu que estava certa: Tiago Potter não estava no Salão Principal. Ele estava a poucos metros de distância dela.

Seu coração começou a bater mais forte e mais rápido, permitindo que ela pudesse ouvir seus próprios batimentos cardíacos. Mas estes não tinham o motivo que ela esperava.

Ela esqueceu-se de todas as falas decoradas; as mesmas não seriam mais necessárias.

Seus ombros, antes levantados por conta de sua boa postura, se curvaram, como se um grande peso tivesse sido colocado sobre eles. De fato tinha, mas não um peso físico, e, sim, emocional.

Permitiu que algumas lágrimas saíssem de seus olhos, mas logo as enxugou, não querendo parecer fraca.

Ele está encostado em um pilar, na sua frente uma menina de cabelos castanhos, que inclinava-se cada vez mais para perto de Tiago. Eles estavam rindo, aparentemente se divertindo. Seus corpos estão muito perto, perto até demais. Perto o suficiente para a qualquer momento seus rostos se juntassem. Uma das mãos de Tiago estava de um lado da cintura dela e a outra indo a caminho do lado oposto, mas parou no meio do caminho, pois ela se desvencilhou dele. Lily ainda estava olhando a cena, mexendo em suas mechas morenas. Não morenas naturalmente, mas sim acidentalmente quando confundiu seu usual shampoo de mirtilo com o de verbena de sua amiga. A acidentalmente morena suspira e faz menção de se virar, mas prefere esperar atrás de uma estátua para ver onde aquela cena ia dar. A menina, de repente, saiu correndo de lá para bem longe de Tiago, até que não fosse mais vista no corredor. Lily não se aproximou. Esperou ele virar para o outro lado para poder sair de seu esconderijo improvisado, alguns minutos depois, fingindo que não estava lá. Ele estava olhando para o chão, mas seu olhar levanta imediatamente quando vê uma sombra perto dele.

— Lily! - indagou, alto o suficiente para que ela ouvisse. Ela não queria correr dele. Não faria sentido. Estava tudo acabado. Tudo. - Lily - chamou-a de novo, embora a mesma não tenha movido um músculo para se distanciar dele. Logo, já estava cara a cara com o maroto. - Eu preciso falar com você - diz delicadamente, indo pegar sua mão. Lily se afasta um passo, não deixando que ele a tocasse.

— Eu já falei com a Anna, ela me explicou tudo. - o informa, contando sua fala. - Aparentemente você nem esperou pra falar comigo - diz friamente se referindo à menina quem Tiago estava a ponto de beijar.

Tiago abriu a boca para respondê-la, mas outra pessoa fez isso por ele. Uma menina baixa apareceu atrás dele, com o maior sorriso de quem tinha ganho na loteria, ela não era a mesma que estava com ele segundos atrás - os cabelos dessa eram muito loiros -, deveria ser uma amiga dela.

— Se eu fosse você, teria segurado ele melhor. Eu vi que ele ficou com outra menina no baile. Acho que você já o perdeu - a garota provocou Lily.

— Você tem razão, - Lily respondeu calmamente. - eu não soube escolher um namorado. - disse. - Ele é todo seu. - ofereceu, olhando com desprezo para Tiago. Ela se virou e começou a andar. Cinco passos depois uma mão forte alcançou seu braço, impedindo-a de continuar.

— Lily, eu… - Tiago começou a falar.

— Nós podemos sair daqui? - perguntou Lily. Não queria discutir com ele em um lugar tão movimentado. Ele assentiu com a cabeça. Cinco minutos depois eles estavam em uma parte deserta do jardim. - Se você tem alguma explicação, pode falar agora.

— Eu confundi a Anna com você ontem a noite. Ela estava ruiva, cheirando a mirtilo, usando a sua pulseira… - ele procurou a mesma no pulso da ruiva, mas não a encontrou.

— Já conheço essa parte da história. - rebateu.

— Então por que você está tão fria comigo? - pergunta o maroto, realmente não entendendo.

— Elas me fizeram vir atrás de você. Carol e Anna, quero dizer. Disseram que eu não deveria ter gritado com você, deveria ter te escutado ontem, mas, como você mesmo sabe e presenciou, eu não escutei, apenas gritei. Eu vim atrás de você para te dizer que eu tinha ouvido a versão da história contada pela Anna, que me fez perceber que tinha sido muito burra ao gritar com você. Estúpida ao cobrar algo de você que eu não deveria. - ela faz uma pausa. - Eu basicamente vim até aqui para falar que mesmo você tendo beijado uma das minhas melhores amigas por engano eu ainda te amo - uma lágrima escorre em sua face. - Que não importa o quantas vezes você me confunda com alguém, eu vou continuar te amando. - ele abriu um sorriso. - Mas, - o sorriso se foi. - não tenho como amá-lo se você ficar saindo por aí com outras meninas.

— Eu não estava saindo por aí com outras meninas - ele rebate.

— Eu não sou idiota, eu vi. Você estava perto o suficiente de uma menina para beijá-la agora pouco.

— Ahh, ela… - disse, como se recordasse. - Ela estava dando em cima de mim, mas quando eu disse que estava namorando você, ela saiu correndo. Achei meio estranho, mas de qualquer maneira ignorei. Eu estive pensando a noite inteira como me desculpar com você.

— Se desculpar por quê? - Lily indaga, se esquecendo.

— Eu beijei a sua amiga. A minha melhor amiga. A menina com quem eu já fiquei no passado - ele admite. - Eu sei que eu nunca te contei antes que eu já tinha ficado com a Anna, mas nós apenas ficamos algumas vezes e…

— Eu já sabia, Tiago. Ela me contou.

— Ela o quê? Quer saber, não precisa responder isso, só por favor acredita em mim - ele implorou. - Eu juro que não tive a intenção de beijar Anna.

— Eu sei que não. - disse, encarando seus lábios longe dos seus. Se ao menos essa distância pudesse se dissipar…

— Então qual é o motivo de você estar brava comigo?! - exclamou Tiago, sem entender mais nada.

— Acabei de esquecer - ela responde, o beijando em seguida.

Tiago, ao se recuperar do susto, a puxou pela cintura, fazendo com que a distância entre os dois ficasse cada vez menor, até não existir mais. Ela acariciava sua nuca, mexendo em seus fios de cabelo negros. O maroto, com muito esforço, se desvencilhou dela, a encarando.

— Eu amo você, Lílian Evans. - ofegou Tiago.

— Eu sei - ela retruca, se aproximando mais dele. - Eu também te amo, Tiago Potter - ela sussurra em seu ouvido, o abraçando.

——

— Foi fácil assim? - Remo pergunta Tiago. - Quer dizer, a Lily é teimosa demais.

— Não, não foi fácil. Mas de qualquer jeito, quem se importa? - Tiago diz, se sentando. Os dois marotos estavam sozinhos no dormitório, pois Pedro e Sirius tinham ido comer, e Lily disse que ia para a biblioteca estudar.

— Pontas, mudando um pouco de assunto, você acha estranho a Carol estar andando tanto com o Sirius? - ele perguntou. Recentemente, a loira e Sirius tinham passado muito tempo juntos, e, mesmo que fossem curtos intervalos de tempo, isso gerava um certo incômodo em Remo.

— Eles são melhores amigos, dá um tempo pra ela, Aluado - Tiago não podia revelar um acontecimento do passado que envolveu os dois. Se Sirius não tinha contado pra Remo, não era ele que ia contar.

— Pode ser - ele assentiu com a cabeça. - Bem, eu vou comer. Você vem junto?

— Ah, claro - respondeu se levantando.

Logo os dois rumaram para o Salão Principal, encontrando os dois amigos e Carol. Anna não estava, nem Lily.

Depois de jogar papo fora e de comer, Sirius e Pedro voltaram para a Torre da Grifinória. Tiago foi atrás da namorada e Remo e Carol resolveram passar algum tempo juntos.

— Ei, o que foi? - Carol lhe perguntou delicadamente.

— Ãhn?

— O que está te incomodando?

— Não tem nada me incomodando - ele retrucou rapidamente.

— Eu sei que tem, Remo. Você pode me falar.

Ele pensou em enrolar mais a namorada, mas qual seria o ponto nisso? Eles deveriam ser sempre ser honestos um com o outro, não? Quer dizer, eles namoravam já há algum tempo, essa honestidade deveria existir… certo?

— Você está passando muito tempo com Almofadinhas - Remo aponta. - Não que isso me incomode, mas…

— Se não te incomodasse, você não estaria tão desligado - ela o cortou. - Sirius é meu melhor amigo. É normal que eu passe algum tempo com ele - defendeu-se. Não era mentira.

— Você passa mais tempo com ele do que comigo! - alegou. - E não estou com ciúmes, eu só quero passar mais tempo com você, é isso. Ele é seu melhor amigo e eu sou seu namorado.

— Eu sei disso, Remo - respondeu-o delicadamente. - Eu penso nisso desde que acordo até quando vou dormir. Mas eu sou amiga dele há muito tempo. Tem uma coisa que aconteceu que nos aproximou muito e desde então somos amigos. É isso.

Remo raciocinou. Anna estava ruiva. Uma ruiva beijou Tiago. Sirius alegou que não ficou com Anna no baile, só depois do mesmo. Carol estava morena. Uma morena quase beijou Sirius. Lily disse “Ah não, de novo não…” quando viu a cena. “Uma coisa que aconteceu nos aproximou muito”. Remo fechou os olhos e suspirou. Ele abaixou a cabeça, para não olhá-la.

— Você já ficou com o Sirius, não é mesmo? - ele perguntou, já sabendo a resposta. Antes que ela pudesse responder, ele continuou. - Você mentiu para mim. Você disse que eu tinha sido o seu primeiro beijo, mas na verdade tinha sido Sirius. Por que você mentiu?

— Eu não queria que você pensasse que eu sou aquele tipo de garota que fica com os pegadores. E também porque aquilo não significou nada pra mim, foi apenas uma ficada.

— Você poderia ter me dito - Remo disse, ainda magoado.

— Foi em uma festa no final do ano retrasado. Faz muito tempo. Não é relevante.

— É relevante, sim, Carol. Você é relevante pra mim.

— Remo, aconteceu. Não tenho como voltar atrás. Se eu não tivesse conhecido Sirius naquela noite, talvez eu nunca tivesse falado com você. Eu não me arrependo, porque eu gosto do meu presente. Eu gosto de estar com você. Eu não voltaria atrás mesmo se pudesse, pois correria o risco de te perder.

— Eu preciso de um tempo. - Remo pediu. Ele ainda precisava botar seus pensamentos em ordem. Para poder processar todas essas informações.

— Ok - ela concordou, tristemente, deixando o namorado sair de perto dela, desaparecendo no final do corredor.

——

Depois de terminar seus estudos de herbologia, Lily devolveu os livros em suas respectivas prateleiras. Mesmo sendo um domingo, a biblioteca estava cheia de alunos desesperados para estudar tudo o que tinham deixado para última hora.

Rumou para a Sala Comunal, pois era provável que encontrasse suas amigas lá. Aproveitou o caminho para refletir. Ainda sentia a pressão dos lábios de Tiago sobre os dela. Ela o amava, isso era fato. Nunca amara tanto alguém como amava Tiago. Ela sabia que tinha feito a escolha certa ao beijá-lo, pois isso mostrava que ela ainda estava interessada nele e que não queria perdê-lo por uma coisa tão boba como ciúmes.

No caminho viu muitas coisas que basicamente ignorou, como pessoas conversando, alguns alunos correndo, outros fofocando… Mas de fato uma cena lhe chamou atenção: um garoto alto, forte, cabelos negros, óculos de grau estava com os lábios colados nos de uma menina baixa, com os cabelos quase brancos de tão loira e um corpo bonito. Lily cerrou os olhos e respirou fundo. Não podia ser verdade. Abriu os olhos e se virou. Não tinha estômago para ver aquilo. Simplesmente não tinha. Ao começar a andar, ouviu passos atrás dela, mas não interrompeu seus pés, que pareciam deslizar no chão de pedra. Como previsto, uma mão segurou seu braço, a impedindo de continuar.

Lily se virou, o encarando. Surpreendentemente, ela não estava chorando. Não ousou falar nenhuma palavra para ele, apenas o fitou.

— Lil, eu posso explicar - Tiago disse, já esperando que a namorada gritasse com ele, mas isso não ocorreu, então o maroto continuou. - Ela pensou que nós dois tínhamos terminado, então me beijou. Eu não correspondi, posso te jurar que não! - exclamou. Ela ainda continuava sem expressão facial. - Não fica brava, por favor. Eu sei que você deve estar querendo me matar, mas eu amo você e só você. - se declarou novamente. - Lily? - a chamou, ao perceber que até aquele momento ela não tinha dito nada, o que era bem raro.

— Mais alguma coisa a adicionar? - perguntou-lhe, secamente. - Ou eu já posso virar uma menininha, sair daqui e começar a chorar? Quer dizer, é isso que você espera, não é? Sabe o que é, Tiago, o negócio é que eu cansei. Cansei de me magoar por sua causa. Simplesmente cansei. Cansei de passar as noites em claro pensando em como resolver as situações, cansei de formular pedidos de desculpa, cansei de sofrer com a sua ausência, cansei de abraçar a sua camisa enquanto chorava… Eu cansei de ser cegada por amor. - Lily nunca foi tão franca como estava sendo naquele momento. Isso era o que ela sentia constantemente e sempre escondera. Algo que não podia evitar se queria ficar com ele. - Tiago, eu não tenho como ficar sempre à sua mercê.

— Lily, eu nunca quis… - ele começou a falar, mas foi interrompido.

— Me magoar? - indagou seriamente. - É, parece que não funcionou. - sua expressão era triste, como se tivesse acabado de se machucar. Mas, infelizmente, seu machucado não fora superficial. Pelo contrário, fora bastante fundo a ponto de atingir o coração.

— Você não me ama mais? - foi a única coisa que ele conseguiu falar, no meio de todo aquele clima de guerra.

— Eu nunca disse isso. - houve uma breve pausa. - Preciso de um tempo para pensar. Se eu tomar alguma decisão agora, talvez possa me equivocar - justificou.

— Tudo bem - o maroto concordou com uma voz quase imperceptível de tão baixa.

Lily então continuou seu caminho, dessa vez sem ser interrompida.

——

— Que cara é essa? - Anna perguntou, ao ver o desânimo da ruiva ao chegar no dormitório. Ela fora diretamente para seu malão, pegou a camisa de Tiago e se deitou na cama abraçada com a mesma. Quando se deu por si, já tinha lágrimas escorrendo pelos lados do rosto.

— Não quero falar sobre isso - Lily disse com voz baixa, fechando os olhos. - Eu quero esquecer.

— O quê? - Carol entrou na conversa. A mesma parecia ter passado o dia chorando de tão vermelhos e inchados que seus olhos estavam. Lily notou sua aparência, mas não perguntou. Não conseguiria se preocupar com mais um problema. - Foi o Tiago, não foi? Para você estar assim, só pode ter sido ele.

— Lil, você pode nos contar se quiser. Mas se você não quiser, não tem problema, nós respeitamos a sua decisão. - Anna comentou delicadamente. Não queria forçá-la a falar sobre algo assim.

— Tiago. Outra menina. Beijo. Corredor. - Lily falou palavras chaves para que elas entendessem. Não era muito difícil entender o que passou apenas com essas cinco palavras.

— Vocês terminaram? - Anna indagou cuidadosamente.

— Ainda estou pensando sobre isso - falou a ruiva. - Vou dormir, com licença - pediu, fechando o dossel da cama ao seu redor.

— Mas, Lil, ainda são cinco da… - Carol começou a contestar, mas parou quando Anna fez um sinal para que deixasse a amiga em paz. Ela precisava pensar. Mas sozinha.

——

— O que há com vocês? - Sirius perguntou ao ouvir Tiago narrar o que acontecera. - Primeiro Aluado aparece aqui irritado alegando ter brigado com a Carolzinha e depois você chega me dizendo que Lily está brava com você. Tem algum tipo de praga solta por aí?

— A minha praga é a mentira, e a sua, Pontas? - Remo pergunta ao amigo, que se encontra deitado no chão.

— Desconfiança.

— Ela realmente acha que você beijou a menina, e não o contrário? - Pedro pergunta.

— Mmm hmm - assentiu Tiago. - O que aconteceu com você, Aluado?

— Ela mentiu pra mim. Aliás, Sirius também. Mas dele eu já espero coisas assim. - admitiu Remo. - Ela escondeu uma coisa de mim e mentiu sobre isso, mas eu liguei os pontos e entendi tudo.

— Entendeu o quê? - Sirius queria socar Tiago por ter perguntado isso, mas se conteve.

— Ela já ficou com Almofadinhas. - Remo responde com indiferença.

— E isso é um problema porque…

— Porque a Carolina falou que eu tinha sido o primeiro beijo dela. Pensei que ela tinha sido sincera, mas na verdade o primeiro dela foi o Almofadinhas. - explicou, irritado.

— Bem, não parecia ser o primeiro beijo dela - Sirius se defendeu.

— E ela me conta isso depois do que aconteceu semana passada. Ela não foi nem um pouco honesta comigo em relação a isso.

— O que aconteceu semana passada? - Sirius perguntou-o, curioso.

— O que você acha que aconteceu para eu estar tão irritado com a atitude dela?

— Ah, entendi… Bem, então não é tão mau assim, não é mesmo? - o maroto tentou consertar.

— Como assim? O que aconteceu que não é tão mau assim? - Tiago perguntou, não entendendo a indireta de Remo. Este então resolveu falar com palavras explícitas, para ver se ele entendia.

— Eu e a Carol… Nós… Você sabe, Pontas - estava com vergonha de dizer, mesmo que não fosse algo que deveria ter vergonha.

Tiago continuou não entendendo. Remo suspirou e contou o que acontecera no banheiro dos monitores uma semana atrás. Explicou que ele e Carol tinham ido a um encontro e acabaram indo para o quinto andar pois já estava ficando tarde para estar fora do castelo. Lá, rolaram alguns selinhos, que se tornaram beijos curtos, logo virando beijos longos e intensos. Nisso, tudo começou a ficar mais intenso e, quando Remo se deu por si, já estavam entrando no banheiro dos monitores.

— Mas o fato é que isso aconteceu e eu pensava que ela estava sendo totalmente sincera comigo, mas, obviamente, eu estava enganado. - disse o maroto após narrar.

— Essas mulheres vão nos deixar loucos, Aluado. - Tiago falou, colocando a cabeça entre as mãos. - Lílian pediu um tempo para pensar. - lamentou. - Eu não sei se isso é ruim ou muito ruim…

— Muito ruim - Pedro opinou, mas logo foi advertido por Sirius.

— Rabicho, não está ajudando! - Sirius rosnou, o fuzilando com os olhos.

— Bem, pelo menos um de nós está sem problemas - Remo disse, se referindo a Sirius que, aparentemente não tinha nenhum problema com Anna no momento.

— Estamos até que bem. Ainda estou chateado com ela, mas eu a amo, não tenho como simplesmente ignora-la.

— Quem me dera se eu tivesse… - Remo falou para si mesmo, suspirando em seguida.

——

A segunda-feira amanheceu fria e chuvosa, fazendo com que os alunos vestissem suas vestes mais quentes. O café da manhã foi silencioso e sem ânimo; todos queriam o fim de semana de volta. Os marotos e as meninas comeram juntos pela manhã, mas nenhum dos casais demonstrou muita simpatia, nem mesmo Sirius e Anna, que não estavam brigados. Remo mal olhava Carol diretamente, e Lily evitava qualquer tipo de contato visual com Tiago, deixando o clima pesado e desagradável.

Quando os sete estavam saindo do Salão, Lily puxou Tiago para um lado, permitindo que o resto do grupo seguisse em frente. Uma vez que eles já não estavam mais à vista, a ruiva desatou a falar. Pensou em explicar a ele antes o que ia dizer, mas com certeza ele iria perceber sobre o que se tratava.

— Se nos acabamos nos separando tão facilmente, quer dizer que nossa relação não era tão forte assim, por isso não vale a pena continuar insistindo em algo que nós dois sabemos que não evolui, não tem sentido. - Lily disse, tentando ao máximo ficar calma.

— Você acha que nós dois não valemos a pena? Você acha que você não vale a pena? Eu acho o contrário, Lílian. Eu acho que você vale muito mais do que qualquer coisa, qualquer pessoa.

— Não é isso, Tiago. O fato é que…

— E tem, sim, sentido. Ou você acha que amor não tem lógica? - o maroto se controlava para não gritar, pois sabia que se o fizesse apenas pioraria as coisas, se é que a situação pudesse ficar pior.

— Eu não disse isso, você entendeu errado. O que eu estou querendo dizer é que se nós continuarmos juntos, vamos nos separar mais inúmeras vezes sem motivo, e as separações, por mais que curtas, vão gradativamente ficando mais e mais dolorosas. Eu não desejo essa dor para mim e muito menos para você. É ridículo ficarmos sofrendo um pelo outro sendo que nos amamos. O término é uma maneira de nos poupar disso.

— Por favor, Lily, é a unica coisa que eu te peço - o maroto não queria terminar o namoro por uma coisa tão idiota.

— Desculpe, mas eu não posso voltar com você. Não se for pra sempre ter várias meninas querendo o meu mal, querendo nos separar ou qualquer coisa do tipo. Eu não quero viver de indecisão, quero ter certeza de que você é 100% meu e de ninguém mais. Porém, isso me parece ser impossível.

— Eu sou todo seu, Lílian, disso você pode ter certeza absoluta - ele pegou uma de suas mãos, acariciando-a. A ruiva olhou para o gesto e fez menção de sorrir, mas logo voltou com sua expressão dolorosa.

— Sinto muito, Tiago, mas eu não consigo - Lily recolheu sua mão, lhe deu um último olhar e se afastou, indo embora. Tiago não se moveu, apenas esperou que sua imagem desaparecesse no final do corredor, levando embora toda a sua esperança e vontade de amar.


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