– Por que você quer que eu te ajude a ganhar? Estou apostando 100 dólares contra você, esqueceu? – perguntou Bryan como se eu acabasse de lhe pedir uma coisa tão absurda quanto suplicar para que ele virasse hétero.

– Ah, vamos Bryan, vai ser divertido! Se não der certo teremos, pelo menos, boas histórias para contar! – falei com meu melhor olhar pidão.

Ele estava assim só porque eu havia pedido para ele me ajudar a conquistar o Logan. Imagine a reação dele se eu sugerisse que ele me auxiliasse com minhas vestimentas da noite? Provavelmente teria mais uma cova no cemitério com meu nome escrito na lápide. A única coisa que Bryan odiava mais do que a Olívia – uma menina da sala dele que o perturbava todo dia – era perder dinheiro. Isso sim o deixava furioso e com a cara emburrada durante vários dias.

– Não confia em si mesma, querida? – perguntou jocoso.

– Claro que sim, meu amor. Só queria um auxílio masculino, mas pode deixar. Vou procurar a ajuda de um homem. – brinquei levantando-me de minha cama.

Nossa aula do dia havia terminado há quase uma hora e eu arrastei Bryan para meu quarto. Os monitores já estavam tão acostumados com ele ali que nem se importavam ao vê-lo seja qual horário fosse. Olhei para meu amigo antes de girar a maçaneta da porta, um sorriso brincava em seus lábios e seus olhos fitavam-me com descrença.

– Dolores Maxwell se você sair por essa porta pagará o maior mico da sua vida! Irei colocá-la para dormir no pátio e de manhã irá acordar com todos rindo da sua cara! – ameaçou.

Imaginei a cena e devo admitir que a ideia de virar chacota de toda a universidade não me atraía nem um pouco. Larguei a maçaneta e sentei-me novamente na cama sorrindo de modo afável para ele.

– Então você vai me ajudar? – perguntei esperançosa.

– Sim. – afirmou – Que dia é o temático da boate?

– Será a semana que vem toda, o tema do mês é profissões. – respondi pensativa – Estou querendo começar com uma fantasia de enfermeira ou algo do tipo. Fantasia sexual clássica dos homens, me renderá muitos dólares!

– Você tem razão, mas primeiro eu vou sondar qual é o fetiche do Logan. – falou como se fosse algo normal.

Quase engasguei com minha própria saliva. Arregalei os olhos divertindo-me ao ver a expressão de Bryan ao traçar um plano infalível.

– Que bicha má! – exclamei rindo de modo espalhafatoso.

– Estou falando sério, então rebole bem hoje para arrancar muita grana daqueles desesperados. Amanhã iremos às compras! – exclamou batendo palmas.

Por sorte hoje era sexta-feira, ou seja, o melhor dia da semana em termos de quantidade de frequentadores para mim, já que nos finais de semana eu não trabalhava. Conhecendo meu amigo, sei que ele não se contentaria de apenar comprar uma roupa, me arrastaria também para várias sapatarias, lojas de peruca, de maquiagem e tudo que estiver pela frente. Resumindo: eu realmente teria que rebolar muito hoje.

~ ♥ ~

A noite estava fria e, já dentro do táxi, rezava para que dentro da Desire estivesse quente como sempre. Não sei se conseguiria ficar dançando com roupas mínimas durante várias horas sem que meus dedos congelassem na temperatura de dez graus célsius de New York. Assim que cheguei a tão conhecida rua, paguei o taxista e entrei rapidamente na boate pela porta dos fundos que dava direto para o camarim.

Assim que entrei agradeci pelo ar estar abafado. Pelo menos eu não congelaria, já era um bom começo. Antes de entrar no camarim, abri um pequeno espelho e ajeitei a peruca vermelha que tinha sido bagunçada pelo vento forte. Destranquei a porta com minha chave e adentrei no pequeno quarto. Havia duas mulheres lá, uma loira e outra de cabelo platinado e ambas estavam se maquiando. Pareciam ser novatas, já que eu nunca as vira ali. Entrei rapidamente em um provador e retirei minha grossa calça de lá, minha blusa de gola alta branca e meu sobretudo vermelho. Vesti rapidamente um mini – bem mini mesmo – short de latéx preto, um top prata brilhante e uma bota que ia até a metade de minhas coxas cujo salto era transparente e possuía mais de quinze centímetros.

Guardei minha bolsa no guarda volumes e saí do provador sentando-me em um dos puffs para passar uma maquiagem forte e batom vermelho. Faltava apenas dois minutos para as dez da noite e então seria a minha vez de dançar.

– Como você aguenta ficar com esse salto dançando a noite toda? – perguntou a loira – Estou quase morrendo com os meus de sete centímetros!

– Acostumei-me – respondi dando de ombros – Vocês são novatas?

– Sim, meu nome é Helo e o da minha amiga é Thiffy – falou animada apontando para a mulher de cabelo platinado.

Antes que eu pudesse dizer meu nome, Evelyn, a gora que acabava seu turno antes de mim, entrou no camarim abanando-se e dando um enorme sorriso com um bolo de notas nas mãos.

– Hoje a casa está lotada, agora é sua vez de ganhar dinheiro, Lira – falou dando uma piscadela para mim.

– Meu nome é Lira, prazer. Tenho que ir agora, até mais tarde. – despedi-me delas com um pequeno sorriso.

Quando Evelyn disse que a casa estava lotada, ela realmente não estava exagerando. A cada minuto mais homens de terno e roupas sociais entravam pela porta analisando o ambiente e, principalmente, as mulheres que estavam dançando e servindo as bebidas. Meus olhos se fixaram em Logan, que acabava de se sentar na única cadeira vaga no palco central em que eu iria me apresentar.

Antes de eu entrar, o ambiente se escureceu e uma única luz apontou para onde eu estava. Já sabia de cor qual era a música e por isso estava de costas para a plateia com a mão na cintura e a cabeça abaixada. Dei um sorriso animado. Era minha hora de dançar. Comecei a mexer os quadris no ritmo da música Timber da Kesha com o Pitbull e ouvi gritos e exclamações de incentivo. A iluminação ficou com tom avermelhado e havia um pouco de gelo seco nos meus pés. Senti meu coração se acelerar a medida que o sangue era bombeado mais rapidamente pelas minhas veias e um calor bem vindo começou a se alastrar por meus membros. Com um sorriso alegre, sentia como se eu estivesse liberando todas as minhas emoções e ficava contente ao ver os homens abrirem as carteiras e estenderem dinheiro em minha direção. Eles queriam colocar as notas em minhas roupas. Abaixei-me permitindo que eles fizessem isso e dei uma piscadela para eles. Meus gestos eram sensuais e envolventes, apesar de estar somente começando, já havia conseguido muitos dólares.

A noite passou de modo rápido e, antes que eu percebesse, faltava somente vinte minutos para meu turno acabar. Estava tão envolvida com minha coreografia no pole dance que demorei a perceber Logan estendendo uma nota em minha direção com um sorriso malicioso nos lábios. Seu cabelo castanho escuro estava bagunçado e os olhos se fixaram em meu corpo quando, sensualmente, fui em sua direção, permitindo que ele colocasse o dinheiro no meu short. Retribuí seu sorriso e voltei a dançar até meu turno acabar.

Assim que saí do palco fui imediatamente até o camarim, eu odiava ficar jogando conversa fora no bar. Não gostava de ter que conversar com ninguém àquela hora da madrugada, até porque a maioria dos homens que falavam comigo só queriam que eu dormisse com eles. Depois da quarta vez, perdi completamente a paciência com esse tipo de diálogo.

Entrei no camarim, porém não encontrei as meninas de anteriormente, nem mesmo Lauren estava terminando os últimos detalhes, como sempre fazia. Franzi o cenho preocupada, ela nunca havia faltado um dia sequer desde que eu começara a trabalhar ali. Aquilo era definitivamente estranho. Troquei de roupa rapidamente e saí da boate pela porta dos fundos. Como de praxe, Igor, um senhor de idade motorista de taxi, estava a minha espera. Eu o chamava tantas vezes que ele já havia até se acostumado com meu horário de saída e sempre que podia ele me levava ao campus. Havíamos desenvolvido uma certa amizade.

O ar nova-iorquino estava ainda mais gélido do que quando eu entrei na Desire, talvez por ser de madrugada. Quando cheguei ao meu destino paguei Igor e fui à passos rápidos até meu dormitório. Assim que entrei, joguei-me na cama retirando a peruca e os grampos que a seguravam de modo impaciente. Eu estava morta de cansaço. Era sempre assim, todo o cansaço da semana recaía em meu corpo nas sextas-feiras, impossibilitando-me de sequer pensar em sair para me divertir. A única boate que eu ia depois de meu turno era a El Dredon.

Infelizmente, eu teria que pegar minha bolsinha de dinheiro e contar quantos dólares eu havia obtido. Esperava que a quantidade fosse suficiente para aplacar o consumismo de Bryan, mas sabia que nem se ele ganhasse na loteria três vezes conseguiria comprar tudo o que tinha vontade. Ele era pior do que muitas mulheres no quesito compras!

Sorri satisfeita ao ver que eu tinha conseguido pouco mais de trezentos dólares. Porém, antes de guardar novamente a grana, notei que havia algo escrito em uma das notas de cinquenta dólares. Não acreditei quando vi o nome do Logan junto com seu telefone no pedaço de papel. Ele estava facilitando ainda mais meu trabalho!

~ ♥ ~

– Vamos às compras! – falou Bryan assim que estacionou seu porshe preto na frente do número 236 da Elizabeth St.

Estávamos diante de uma loja de sex shop. A fachada era discreta e o nome Coco de Mer estava escrito em letras douradas em um fundo preto. Se eu não tivesse visto na internet que aquela loja possuía produtos eróticos, nunca saberia o que ela vendia. Apesar de tudo conspirar contra, aquele lugar estava bem movimentado, algumas mulheres e até homens saíam de lá com sacolas simples, mas ao mesmo tempo refinadas.

– E então, qual é a fantasia sexual do Logan? – perguntei desinteressada.

Eu tinha quase cem por cento de certeza que ele não havia descoberto o que eu questionei, afinal, acho que garotos não saem por aí espalhando aos quatro ventos essas coisas.

– Ele gosta de uma mulher com roupa de professora sexy. – ele riu – Fala sério, isso é tão ensino fundamental!

É, parece que eu tinha me enganado. Mas, se eu fosse um homem, com certeza eu não sairia falando para todo mundo que eu tinha atração sexual por professoras gostosas. Francamente.

– Como você... Esqueça, não estou nem um pouco interessada em saber. – disse sorrindo e entrando na loja.

Imediatamente o ar condicionado refrescou-me do calor absurdo que estava fazendo nas ruas movimentadas de New York. As paredes do estabelecimento eram vermelhas, o piso era de madeira envernizada e havia mesas pretas de plástico com vidro que continham várias roupas íntimas e fantasias de todos os tipos e dos menores tamanhos possíveis. A iluminação provinha de um lustre grande pendurado no teto. Como a maioria das lojas de sex shop daquele lado de New York, o ambiente era extremamente chique e requintado. Eu estava até com medo de não ter grana suficiente nem para uma roupa íntima. Uma atendente morena nos observava com expressão entediada enquanto uma funcionária baixinha e loura conversava com duas jovens animadas.

– O que o casal deseja? – perguntou a morena.

Aquela mulher, como toda atendente de loja, simplesmente parecia ‘‘brotar’’ do chão bem ao nosso lado, com seu melhor sorriso e uma expressão ansiosa.

– Casal? Não – antes que eu terminasse, a mão de Bryan estava tampando minha boca.

– Queremos uma fantasia de professora sexy porque gostosa a minha garota aqui já é. – pediu meu amigo dando uma piscadela em minha direção.

Sério, ele era completamente maluco e, aparentemente, sua função era me fazer passar vergonha. Fui arrastada pelos dois até um balcão de vidro e a vendedora logo me estendeu uma blusa social branca, óculos sem grau e uma saia de bandagens preta.

– Por que tivemos que vir aqui se podemos encontrar essas peças em uma loja normal? – sussurrei.

– Porque teríamos que ir a várias lojas para achar e eu duvido que seu humor permitiria que fizéssemos isso. – explicou colocando as roupas em minhas mãos e empurrando-me para o provador.

Vesti o traje fazendo várias caretas no espelho. A blusa tinha três botões a menos, permitindo que fosse possível ver meu sutiã bege nada sexy, a saia ficava apenas quatro dedos abaixo de minha bunda e o óculos me deixava com uma cara inocente, se não fosse aquelas vestimentas vulgares. Vejo alguém entrando no pequeno espaço sem formalidade alguma e fitei Bryan enquanto eu abaixava a armação da lente e mordia o lábio inferior.

– Se eu fosse hétero te agarrava agora mesmo. Você está muito gostosa, apesar do sutiã broxante. – falou rindo – Já resolverei seu problema.

Dizendo isso, ele saiu do provador e voltou minutos depois com um soutien vermelho de renda e com uma espécie de espuma que servia para levantar os seios a fim de ressaltá-los no decote. Assim que Bryan fechou a cortina, coloquei-o e fiquei admirando o resultado. Eu estava muito bem, acho que nem na boate ganhei cem pratas tão fácil quanto ganharia naquela aposta.

Meu trabalho seria muito fácil.