Grabor escrita por wisniewski


Capítulo 1
Capítulo 01 - O inicio


Notas iniciais do capítulo

Uma boa leitura a todos e seja bem-vindo a Grabor!



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ELIF, PATAKO, VIA LÁCTEA

CORDOL, HEMISFÉRIO SUL - 36 ANOS ATRÁS

Era uma tarde amena de sol em Cordol. A parte da cidade que fica no solo começava a se desenvolver. Próximo ao centro, uma humilde casa de madeira seria sede de um acontecimento que mudaria o planeta.

No quintal da casa, duas crianças brincavam sem preocupações. A guerra entre os elfos e os elfos negros já havia começado há sete meses e apesar do fato uma das crianças era um elfo negro chamado Jorkin.

Jorkin tinha seis anos de idade. Órfão, foi adotado pela comunidade de Cordol, uma das poucas cidades onde o preconceito e a repugna entre os elfos e elfos negros ainda não existia. Vestia uma roupa normal, doada pelos moradores de Cordol que não as utilizavam mais, uma camiseta branca a qual estava suja pelas encrencas que Jorkin aprontava, e uma calça preta, na mesma situação da camiseta. Tinha olhos verdes e cabelos curtos e castanhos.

A outra criança era um elfo com sete anos de idade. Morava na casa cujo quintal brincava, junto de seus pais. Vestia uma roupa também considerada normal: uma camiseta vermelha e um calção branco. Não calçavam nada, nenhum dos dois meninos. Tinha olhos também verdes e cabelos loiros de comprimento médio. Seu nome: Grabor.

Ambas brincavam com espadas normais de guerra, porém sem fio. Bloqueavam e atacavam lentamente um ao outro, como se treinassem movimentos previamente aprendidos:

—É verdade que você vai se mudar? – Perguntou Jorkin enquanto desferia um ataque.

—Sim. Com a industrialização da cidade papai não vai ter onde trabalhar. Ele odeia indústrias – respondeu Grabor enquanto se defendia da investida.

—E vai pra onde?

—Não sei. Acho que Nafra – disse Grabor enquanto dava um passo para a direita e desferia um golpe em Jorkin.

—Puxa. Ouvi dizer que a cidade é muito pequena, menor do que Cordol – respondeu Jorkin enquanto bloqueava o golpe e afastava Grabor com um empurrão.

—Bom, só sei que vou sentir falta de vocês – retrucou Grabor. Após o empurrão investiu de baixo para cima.

—Eu também – respondeu. Bloqueou o ataque, deslizou para o lado de Grabor e tentou derrubá-lo.

Grabor, percebendo o que Jorkin tentaria fazer, soltou sua espada do bloqueio e se afastou rapidamente, dando três passos para trás com muita agilidade.

—Nunca caí e não é você que irá me derrubar – disse Grabor com um sorriso no rosto.

—Droga! Errei o movimento de novo. Te pego na próxima – e avançou na direção de Grabor com a espada por sobre a cabeça, mostrando claramente um ataque de cima para baixo.

Grabor deslizou para o lado quando a espada de Jorkin fez o ataque e, imediatamente, tentou um ataque lateral que foi bloqueado instante antes de atingir seu amigo. Ambos se afastaram rapidamente.

—Belíssimo ataque Grab – elogiou Jorkin – Consegui bloquear por pouco!

—É melhor pararmos antes que alguém se machuque. Por mais que essas espadas não possuam fio, a ponta ainda pode fazer um estrago bom – sugeriu Grabor após se assustar em quase acertar seu amigo.

—Sem essa, está com medo? Se quiser virar um bom espadachim tem que aprender a controlar sua espada – e avançou rapidamente na direção de Grabor.

A espada estava baixa enquanto Jorkin avançava. Grabor, prevendo um ataque de baixo para cima, se preparou para bloqueá-lo, mas no último instante, Jorkin mudou a posição da espada para um ataque lateral. Grabor, surpreendido pela mudança repentina, não conseguiu bloquear da melhor forma o ataque, apenas desviou seu corpo. Ao fazer isso, levantou sua espada que escapou do bloqueio e arranhou o rosto de Jorkin, indo da maçã direita do rosto até a sobrancelha direita, deixando Jorkin cego instantaneamente.

Jorkin caiu prontamente com um audível grito de dor. Grabor largou a espada e se ajoelhou ao lado dele:

—Desculpa, desculpa, você... Você mudou o golpe... Eu – tocava Jorking rápida e repetidamente, não sabia o que fazer. Acabará de deixar seu melhor amigo cego – Desculpa... Eu...

Jorkin não conseguia falar nada, somente gritava de dor. Os pais de Grabor, ouvindo os gritos, correram para o quintal.

—Grabor, o que aconteceu? Perguntou o pai de Grabor, Luk

—E... E... Eu não sei... Eu – e Grabor, em um choro frenético, entrou na casa seguido de sua mãe.

—Jorkin, é o Luk, tire a mão da frente, preciso ver o que aconteceu.

Luk pediu da melhor maneira possível. Jorkin tirou a mão, por muito pouco tempo, mas o suficiente para Luk avaliar a situação. Enquanto os gritos continuavam, a vizinhança se aproximava do quintal da casa.

—Zafir! Zafir está ai? O enfermeiro Zafir, por favor – berrava Luk enquanto um elfo baixinho abria caminho entre a multidão e se aproximava de Jorkin.

—O que aconteceu Luk? – Perguntou Zafir.

—Pelo que pude ver, ele está cego do olho direito. O que você pode fazer? – Perguntou Luk visivelmente preocupado.

—Da maneira que estou, nada! Temos que leva-lo ao hospital imediatamente!

—Vou preparar a carroça. Já volto – disse Luk enquanto saía apressado.

Zafir, na falta de algo para estancar o sangramento, rasgou uma parte de sua roupa e pressionou contra o olho de Jorkin o qual acabara de desmaiar de dor:

—Preciso da ajuda de alguém – gritou Zafir – qualquer um!

Uma elfa, então, se aproximou:

—Em que posso ajudar? Perguntou com uma voz doce.

—Fique pressionando este pano contra o olho dele, não muito forte, não queremos danificar mais do que já está. Segure firme, vou levantá-lo para o levarmos até a carroça. Pronta? Um... Dois... Três!

Levantaram Jurkin. Durante a subida o pano escapou por um segundo, mas a moça corrigiu seu erro de prontidão. A carroça já estava esperando no portão que dava acesso ao jardim:

—Podem trazê-lo. Rápido! – Exclamou Luk.

Zafir e a moça levaram Jorkin até a carroça e o deitaram suavemente na parte traseira da mesma. Zafir subiu na carroça e ficou ao lado de Jorkin, pressionando o pano contra o olho do garoto.

—Muito obrigado – disse Zafir à moça – que a Divindade lhe agradeça da melhor forma. Luk, vamos.

E assim, Luk acelerou a carroça até o hospital local, um prédio grande não muito longe de sua casa:

—O que aconteceu Luk? Perguntou Zafir.

—Não faço a menor ideia – respondeu Luk – Vamos Júnior, vamos – incentivou o Corcel que puxava a carroça – Quando voltar para casa conversarei com Grabor. Mas e o menino? Como está?

—O sangue diminuiu, mas ainda não parou. Continue, já estamos quase lá – retrucou Zafir, analisando Jorkin.

—Olha, eu não vou ter como pagar a internação. Gastei uma boa quantia comprando uma carroça maior para fazer a mudança...

—Luk, não se preocupe, eu pago. Você só terá que assinar a papelada, pois como funcionário, não posso fazer isso... Regras do hospital.

—Muito obrigado. Prometo que irei recompensá-lo outra hora – Luk parou a carroça – chegamos. Vou para casa e depois volto para assinar os papeis.

—Tudo bem – respondeu Zafir – Uma maca e um enfermeiro, rápido – gritou na direção do hospital.

Um enfermeiro se aproximou e levou Jorkin para dentro junto de Zafir. Luk voltou para casa para ter uma conversa com seu filho.

—Olá querida, onde ele está? – Perguntou Luk entrando em sua casa.

—No quarto. Olhe querido, ele não fez por mal, foi um acidente – justificou a esposa, Martha.

—Tudo bem querida, vou falar com ele – e beijando sua esposa, foi ao encontro de Grabor.

Entrou no quarto e deu um abraço em seu filho, ambos sentaram na cama e Luk quebrou o silêncio:

—Grabor, me conte como e o que aconteceu:

—Eu... Eu não entendi muito bem... Foi tudo tão rápido. Estávamos treinando os movimentos da aula de ontem. Bloqueia, esquiva e ataca. Fizemos uma pausa em um momento, pois quase que eu acertei ele no ataque anterior e então ele veio pra cima de mim com um ataque de base já feito. Eu me preparei para bloquear, mas no último momento ele mudou para um ataque lateral – Grabor começou a chorar – e então eu desviei e me desequilibrei um pouco. Com isso levantei a espada e a ponta pegou no olho dele. Não fiz por mal, juro... – e se jogou no colo do pai, em lágrimas.

—Está tudo bem. Os médicos vão cuidar dele. Olhe, vamos organizar as coisas da nossa mudança pra distrair um pouco. Ele vai ficar bem.

Luk enxugou as lágrimas de seu filho, o abraçou novamente e o ajudou a organizar suas coisas para a mudança.

—Pensei que íamos somente semana que vem – disse Grabor surpreso.

—Eu também, mas recebi uma carta de Nafra pedindo para ir o mais rápido possível. Estão precisando de trabalhadores.

—Tudo bem, papai. Faça o que for melhor.

Ficaram ali, pai e filho, organizando roupas, brinquedos e o que mais Grabor fosse levar até Nafra. Levaram algumas horas para arrumar tudo. Ao final da organização, pai e filho foram ver Jorkin no hospital.

Entraram Grabor, Luk e Zafir no quarto do elfo negro, o qual estava deitado sobre uma cama com o cobertor até o peito e o olho direito coberto por faixas. Mantinha o olho esquerdo fechado, mas não dormia. No seu braço direito havia uma agulha que injetava sangue, repondo o perdido pelo corte. Zafir foi o primeiro a falar:

—Ele já está fora de perigo. Perdeu uma quantia considerável de sangue, mas seu corpo está aceitando bem a doação.

Luk falou em seguida:

—Jorkin, é o Luk, como você está?

Jorkin com o olho esquerdo fechado, respondeu:

—Estou bem, sem dor – respondeu Jorkin com uma voz fraca.

—Luk – falou Zafir – preciso que venha comigo para assinar os papeis. Coisa rápida.

—Tudo bem. Jorkin, Grabor está aqui, conversem um pouco. Não vou demorar - Luk deu um beijo na cabeça de Grabor e saiu do quarto.

Quando Luk falou o nome de seu filho, Jorkin abriu o olho esquerdo. Grabor andava lentamente, apreensivo, em direção a ele:

—D... Des... Desculpa! E... Eu não queria... Eu... – gaguejava Grabor, mas sem chorar.

—Grabor, pare – respondeu Jorkin secamente.

—Você mudou o golpe na última hora... Eu... – continuou se desculpando Grabor

—Grabor, pare! Retrucou Jorkin mais alto.

—Eu não fiz por mal, juro. Me perdoa, por favor?

—GRABOR, PARE! Gritou Jorkin – Você não fez por mal, a culpa foi minha. Eu mudei o ataque na última hora, sim, eu queria te surpreender e te derrubar, mas parece que você foi mais rápido. – Finalizou sua fala com um leve tom de raiva.

Grabor se pôs a chorar.

—O... Obrigado!

—Quando vai embora? Perguntou Jorkin, mudando totalmente de assunto.

—Amanhã – respondeu Grabor suprimindo o choro.

—Tudo bem, sentirei sua falta – e com um sorriso no rosto, abraçou Grabor da melhor maneira que pode.

—Prometo que venho lhe visitar quando puder, nunca irei lhe esquecer.

—Também não irei. Você foi o mais legal comigo dentre todos, gosto muito de você Grab. Continue treinando duro e um dia você será um excelente espadachim.

—Você também amigo, você também.

A conversa fora interrompida com a volta de Luk.

—Jorkin – falou Luk – venho até aqui me despedir de você. Estou indo embora amanhã. Aqui no hospital já está tudo certo, até o final da semana já deve estar correndo e brincando novamente. Você é uma criança muito especial, continue sendo esse menino maravilhoso – ao final da fala, deu um beijo na testa de Jorkin, que chorava.

—Sentirei sua falta também amigo. Que a Divindade possa lhe abençoar sempre, sentirei sua falta. Sinto muito por isso, mesmo... – Grabor também chorava ao se despedir. Deu um abraço em seu amigo e esperou sua fala.

—Muito obrigado pelo que fizeram por mim, lhes serei muito grato. Que a divindade acompanhe vocês.

Dito isso, Grabor e Luk saíram do quarto e voltaram para casa. Finalizaram os preparativos para a mudança e partiram para Nafra no dia seguinte.

No quarto do hospital Jorkin chorava muito. Ele não havia perdoado totalmente Grabor. O acidente o deixara um tanto quanto traumatizado e ele não conseguia discernir bem se havia culpa ou se não! Entretanto, esse sentimento só daria resultado vinte anos depois quando Jorkin se tornou o líder da rebelião dos elfos negros.


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Notas finais do capítulo

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Até a próxima!



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