Já era 23horas e eu ainda estava pensando em Rick quando o celular tocou.

–Alô?

–Oi Kate. Sabe quem é?

–Se você não me disser não tenho como adivinhar. Ainda mais às 23horas. – Quem seria esse ser deprimente?

–Oh, desculpa. Sou eu, Josh. Desculpa ligar essa hora, mas eu te enviei sms a tarde e agora à noitinha, mas você não me respondeu. – Josh? Meu Deus, eu tinha esquecido que enviei mensagem para ele ontem depois de ficar com raiva do Rick. E agora?

–Oi Josh. Tudo bem. Desculpa também. Eu passei o dia todo na biblioteca. O celular estava no silencioso e eu não vi. Tudo bem com você?

–Melhor agora ouvindo sua voz. – Ai Jesus, ele era meloso.

–Ah, que bom – Sorri sem graça. – Estudando muito para as provas?

–Ah sim. Eu estava pretendendo te chamar pra uma sorveteria nova que abriu. Quem sabe pra relaxar um pouco depois dessa semana de provas. Você toparia? – Ele parecia sem jeito.

–Oh... Bem. Acho que sim. Espero que as provas não me deixem tão preocupada a ponto de recusar uma diversão. – Eu não podia o deixar tão mal. Afinal, qual o problema de tomar um sorvete com um amigo?

–Legal! Que tal no sábado de tarde? Fica bom pra você?

–Pode ser.

–Te pego as 16horas ok?

–Tá certo. Boa noite então.

–Bo... Boa noite. – Ele parecia altamente feliz.

Eu estava tão feliz com a situação nova com o Rick. Não queria decepcionar ninguém essa semana. E Josh estava nessa lista.

Pela manhã um vento frio me acordou. Senti um arrepio. Aquilo quase me tirou a vontade de ir pra aula. Mas eu não podia faltar. Era minha única porta para encontrar Rick e marcar novos estudos na biblioteca.

No café da manhã papai estava como de costume. Agarrado a um jornal enquanto tomava seus goles de café. Mas a mamãe não parecia como de costume. Ela quase não comia. Só a vi encher a caneca uma única vez. Ela normalmente tomava duas canecas de café. Alguma coisa não estava bem. E um problema que eu já havia guardado para não lembrar, resolveu reaparecer. Esperei eu entrar no carro com mamãe para então falar alguma coisa. Papai realmente poderia se atormentar caso eu tocasse no assunto.

–Mamãe, está tudo bem – Perguntei enquanto colocava o cinto.

–Oh Kate, está tudo bem meu amor e você? Eu te vi com uma carinha tão boa ontem.

–Ah mãe. – Suspirei - Foi o Rick. Nós estudamos o dia todo na biblioteca ontem. Depois comemos cupcakes e ele me trouxe até a porta do nosso apartamento. Foi um dia incrível. Senti meu amigo Rick de volta.

–Querida, acho que você e Rick não são apenas amigos não é?

–Eu queria ser mais que amiga mãe, mas eu não sei se Rick pensa o mesmo. Ele me confunde o tempo todo.

–Kate, não desanime. Querida, nunca te vi com tanto brilho no olhar. Acho que você gosta mesmo desse rapaz. Vá em frente meu amor. Sem medo. As coisas vão acontecer no caminhar do tempo.

–Mas ele é um cara legal, educado, bonito, todas as meninas o querem. Rick ainda é rico, mãe. Não sei se devo acreditar muito nisso.

–Kate! Isso não interfere em nada. Se Rick se importasse com isso ele nunca teria sido seu amigo. Nunca teria passado tantas tardes aqui em casa. Se tiver que ser meu amor, será.

–Ah mamãe, tomara que seja. Tomara que você esteja certa. Mas e você mamãe, eu comecei a conversa para saber de você. E olha como a senhora mudou o foco? Não é a toa que a senhora é uma advogada incrível.

–Ah Kate... – Ela deu uma pequena gargalhada. – E você uma menina tão inteligente, tão inteligente que minhas habilidades não funcionaram com você.

–Eu quero ser como você mãe. Quero ser advogada. – Falei sorrindo.

–Oh querida, tenho certeza que será uma das melhores de Nova York! – Ela lacrimejava.

–Mas a senhora mãezinha? Está tudo bem? De verdade?

–Está tudo bem meu amor. Hoje eu vou conversar com o réu do caso. Estava revisando o processo mentalmente durante toda a manhã. Por isso estava séria.

–Está bem então. Mas poxa, é tão sério assim? É sobre o que?

–É sério sim Kate. Mas o assunto não te compete ainda. Quem sabe depois dos 18 anos, eu te conte melhor o que aconteceu.

–Mas mamãe, eu tenho 16 quase 17. Já sou grandinha. – Eu estava injuriada.

–Vou pensar no seu caso – Ela falou rindo.

Meu Deus, eu já tinha 16 anos, quase 17. E se ela soubesse o que eu estava tentando fazer ela iria me dar mais crédito. Já havia conversado com Lanie uns meses atrás pra saber se Espo poderia me conseguir uma vaga na lanchonete que ele trabalha. Um emprego de meio período no verão iria me ajudar a concluir meu plano. Uma moto! Adeus carona dos meus pais. Dar um olá a um mundo com vento batendo em meu rosto. Ai ai, meu sonho.