Quando pousei no castelo nem tive tempo para me acalmar.

Elsa tinha sumido da cama, comecei a olhar ao redor, o castelo dela não era tão grande assim, não faria o menor sentido ela ter sumido assim! Comecei a andar rápido, a geada saindo dos meus pés, meus olhos arregalados de preocupação.

Quando passei pela porta do quarto uma rajada me atingiu no ombro e vacilei pra trás, me segurando no corrimão da escada. Olhei pra baixo.

Era ela.

A respiração dela estava rápida e descompassada, os lábios avermelhados entreabertos e os olhos assustados. Sorri pulando da escada e caindo suavemente no térreo do palácio.

– Elsa, você está...

Ela atirou no meu pé, prendendo-o ao chão.

– Elsa?

Os olhos dela estavam cheios de lágrimas enquanto ela me olhava e passava pela porta, quando as grandes portas se abriram vi uma nevasca torrencial se formando do lado de fora.

Forcei meus pés para fora do gelo, sentindo cortes se abrindo e corri para a porta. Abri-a com tudo rachando um pouco o gelo que a construía e encontrei Elsa descendo as escadas.

– Não se aproxime de mim! - Ela gritou parando no meio da mesma, o vento frio começou a nos rodear, carregando neve com ele.

– Elsa...

– Não se aproxime! - Ela gritou de novo o vento ficando mais forte e fazendo-a vacilar, a escada onde estávamos tremeu.

Engoli em seco dando passos lentos em sua direção, seus olhos me olhavam com puro terror como se eu fosse o demônio em pessoa. Ela deu um grito e o vento quase me jogou pra fora da escada, nunca a vi com tanto medo assim, muito menos com toda essa força.

Será que...

– Elsa, sou eu, Jack...

Ela ergueu a mão na direção do meu coração.

– Jack, não se aproxime de mim. - Murmurou, o vento forte fazendo seus cabelos esvoaçarem.

Fiquei estático por um momento, aquele medo todo, aquele terror nos olhos dela, era realmente de mim. Por um momento achei que não conseguiria respirar, o vento frio e forte quase me jogava pra fora da escada, e se me jogasse, eu não faria muita coisa para parar.

Elsa me olhou mais uma vez e se virou.

Quando seu pé descalço iria pisar no outro degrau o vento ficou mais forte que antes e ela escorregou, caindo da escada ficando pendurada no precipício, sua mão conseguiu agarrar a borda da escada de último aviso, mas era liso demais pra ela.

A mão dela soltou a escada e no segundo seguinte me vi segurando-a, sua mão estava suando frio, seu braço coberto pelo moletom azul que ela usava, o vento ficou mais forte junto com o olhar de puro medo no rosto dela.

Grunhi.

– Elsa, se acalme, acalme o coração, e acalme o vento... - pedi segurando-a com força, seu braço escorregando de minhas mãos, eu não conseguia controlar a ventania dela, não conseguia sentir uma única corrente de vento para usar e tirá-la dali.

– Pra quê?! Pra você me atingir com o seu gelo de novo e fazer questão que me matou mesmo? - Gritou em meio a nevasca. - Ou pra trair minha confiança e me levar pro Pitch?!

O vento ficou mais forte com a declaração de raiva dela, se continuasse assim, nós dois iríamos cair, segurei a borda da escada sentindo o vento entrar pelo meu moletom.

– Fala Jack! Fala que você vai fazer aquilo de novo! - Gritou.

Ela estava se fazendo de muito difícil, eu estava tentando salvar a vida dela, porra! Não podia colaborar...

Foi quando percebi que ela estava falando a verdade completa. Não era porque Pitch tinha o controle do meu coração que ele poderia me controlar, eu podia ter deixado ele ter acabado com a minha segunda chance de vida, em vez de ter ido atrás de Elsa, mas eu fui. Eu traí a confiança dela.

Balancei a cabeça, sentindo-a escorregar cada vez mais de minhas mãos.

– Se eu quisesse te matar eu teria te pegado agora?! Se eu quisesse te matar eu teria vindo atrás de você nessa missão?! - Falei olhando-a nos olhos. - Se eu quisesse te matar, eu teria te abandonado, me apagado da sua memória, e teria te deixado tentar viver uma vida mais normal sem mim?!

Os olhos dela agora não estavam mais tão assustados e raivosos como antes, estavam pensativos enquanto ela me olhava.

– O mais importante Elsa... - falei. - Se eu quisesse te matar, eu teria voltado por você? - Murmurei. - Elsa de Arendelle, quero que saiba de uma coisa, Eu te amo! - falei alto. - E nada, nem mesmo o Pitch arrancando meu coração, ou o fato de eu não saber se realmente tenho um vai mudar isso. Eu. Te. Amo. Elsa!

A ventania parou de repente, e ela me olhou, deixou-me puxá-la para cima da escada novamente e fechou os olhos.

– Repete... - pediu.

Segurei seus ombros.

– Elsa, eu te amo.

Seus lábios vieram aos meus de repente e eu devolvi, a sensação em meu peito ficando mais forte. As mãos dela seguraram minha nuca e senti algo dentro de mim explodir.

Uma luz branca envolveu nós dois, nos obrigando a olhar para nossos corpos.

A luz invadiu meu peito e me arqueei, vendo várias coisas em meus olhos, pessoas ao redor do mundo, em todos os continentes, pessoas que nunca vi na vida, todas elas tinham aquele poder, aquele gelo, o inverno o fio ao seu lado.

Apoiei-me em Elsa e a luz sumiu dentro de mim, olhei pra mim mesmo, o moletom e a calça pretos haviam sumido, estava usando uma camisa de pano branca, calças brancas e uma capa pequena azul, meu cajado estava em minhas mãos.

Olhei Elsa.

– Um ato de amor verdadeiro descongelará o coração congelado. – Uma voz grossa e estrondosa falou atrás de nós.

Nos viramos dando de cara com Norte, havia um sorriso acolhedor em seus lábios.

– Acho que vocês são Guardiões de mais do que o Gelo. - Falou sorrindo. - E acho que devemos conversar.