Já era de noite, a nevasca havia ficado mais forte, minhas mãos não paravam quietas. Nem Anna, nem Olaf, nem Kristoff haviam voltado pro Castelo, eu sabia que era normal de Kristoff demorar a voltar, mas ele não precisava levar minha irmã com ele.

Tudo estava quieto demais para o meu gosto. Fui até o salão de bailes, andando rápido de um lado pro outro, abracei meus braços.

– Encobrir... - murmurei. - Não sentir...

A geada começou a sair dos meus pés, minha respiração acelerando, a geada estava se espalhando para as paredes do salão, olhei ao redor. Coloquei minhas mãos na cabeça, pressionando minhas têmporas.

– Não sentir. Não sentir...

As estacas começaram a sair do chão e das paredes, caí de joelhos no chão, minha cabeça doía, gritei e rajadas de gelo saíram do meu corpo, atingindo tudo ao meu redor.

A dor diminuiu rapidamente, e tudo ficou escuro ao meu redor, eu havia acertado as luzes do salão, e aberto as longas portas, me levantei vacilante, caminhei até as portas e novamente ouvi algo atrás de mim.

Me virei atenta, e um vento forte e frio me atingiu, não era só isso, o vento parecia uma faca, eu sentia aquela lâmina cortando meus braços, pernas, rosto, era forte como nada que eu já tenha visto.

O mais estranho era sentir aquele frio, eu não sentia frio... Olhei pra baixo e vi meus pés congelando no chão, uma camada de gelo começava a me cobrir.

Entrei em pânico, tentei retardar o gelo, tentei pará-lo, nada funcionava, algo entrou no salão com tudo, o cajado que eu tinha visto no meu quarto.

Estendi a mão, sentindo o gelo em minha cintura, e o cajado começou a vir em minha direção, o gelo subia rápido, eu sentia um de meus braços ficando congelado.

Mais um pouco... mais um pouco.

O Gelo passava do meu peito, estava subindo pro meu rosto, no momento em que o cajado tocou meus dedos frios e o gelo foi lançado pra longe.

Respirei fundo, e força do cajado me atingiu novamente, minha trança se soltou e meu cabelo caiu pela costa, meu vestido foi atingido também, mangas mais grossas apareceram, como as de um moletom, senti a saia se transformar em um short e meus pés descalços tocaram o chão.

Segurei o cajado, quando outra onda me atingiu, dessa vez imagens passaram rápido pela minha cabeça.

Um menino, o cabelo branco dele, os olhos azuis, brincalhões, travessos, a pele branca, o moletom azul, o cajado dele...

O meu cajado...

Querendo me matar? A voz dele.

– Jack...

Uma figura tomou forma a minha frente, estava assustado, abismado. Ele não usava as roupas que me acostumei a vê-lo...

Preto... Moletom preto, calça preta...

– Jack?

Ele me olhou, os olhos dele, aqueles olhos azuis, estavam dourados, e frios.

– Desculpa...

Um cajado de sombras se formou em sua mão, e um gelo negro me atingiu no peito. Soltei um grunhido de dor, e coloquei a mão no coração, cai de joelhos no chão o olhando, seu olhar estava em outra direção, mas estava cheio de culpa, seu cabelo deixava de ser branco e começava a colorir para o negro.

Mas os olhos dele...

Por um minuto...

Eram Azuis...