Burgess.*

Jack não era uma pessoa leve. Não era mesmo.

E eu tinha que carregá-lo até a casa do menino, qual era o nome dele mesmo? James? Jimmy? Olhei para ele em minha frente, ele olhava ao redor como se procurasse por um dos cavalos de Pitch, segurava um graveto em uma das mãos e o patins na outra.

Jamie.

Esse era o nome dele. Jack me contara desse garoto, de acordo com ele, foi a primeira criança que acreditou nele - que mentira, eu acreditava em você desde que aprendi a falar cabeça de melão! – e o que o tornou um símbolo conhecido no mundo.

Jack tossiu, e o apoiei em mim, segurando seu peito. Sua pele parecia mais branca que o normal, e o nariz que ele não deixava de limpar sangrava.

– Por que não me contou antes? - Sussurrei.

Ele sorriu levado.

– Sou um mentiroso oras. - Falou com um sorrisinho.

Grunhi.

– Vamos! - Jamie chamou. - Minha mãe não está em casa agora, só eu e minha irmãzinha e ela já conhece o Jack. - Ele corria animado a nossa frente, para um garoto de aparência de 12 ou 13 anos ele era bem ativo. - Não vamos ter maiores problemas a não ser que...

– Jamie?

Jack me puxou com uma rapidez impressionante e caímos atrás de um monte de neve. Caí por cima de seu peito, e sua testa franziu de dor, abri a boca mas ele a selou com a mão, pedindo silêncio.

– Jamie, o que faz tão perto da floresta? Sabe que é perigoso ficar aqui, e que podia ter se machucado? - Uma voz rouca falou.

– Está tudo bem Sr.Mclean, estávamos indo patinar no lago, mas precisei voltar pra casa pra cuidar da Sophie. - Ele falou.

Jack balançou a cabeça como se estivesse desaprovando algo que Jamie falara.

– Oh... tudo bem. Quer que eu o acompanhe até em casa? - Perguntou o homem.

– Não, não! - Jamie respondeu rápido. - Está tudo bem. Bem vou indo. - Ele continuou andando assobiando alto.

Ele ria baixinho, e ficamos quietos por algum tempo.

Jack grunhiu e se sentou, junto de mim. Passou uma das mãos pelo cabelo ainda rindo leve, e me olhou.

– Eu tenho que ensinar esse menino a mentir. - falou rindo.

Sorri, até ver o sangue descendo de seu nariz, ele deixou de sorrir e levantou o braço para limpar, mas fui mais rápida, segurei seu rosto, e passei meu polegar pelo seu nariz. Seu sangue era quente e molhou meus dedos.

Seus olhos encontraram os meus, e eu olhei fundo neles.

Eu sentia como se fosse me perder em meio de uma nevasca, e de repente tudo parasse, e tudo o que eu visse fosse uma fina camada de neve caindo.

Foi exatamente o que senti quando olhei em seus olhos.

Ele sorriu de novo, e se levantou devagar, me ajudando no meio do ato.

As mãos dele eram tão quentes...

Seu sorriso sumiu e foi como se seus olhos nublassem, ele me olhou.

– Tem algo errado... - murmurou.

Sua mão apertou o cajado, e um dos cavalos apareceu do chão.

No segundo seguinte estávamos no ar, Jack segurava o cajado com força, e o vento era forte ao nosso redor. Os cavalos vieram em nossa direção e estendi a mão, atirando gelo neles, alguns deles congelaram no segundo exato em que o gelo tocou-lhes.

Outros...

Bem os outros atingiram nós dois, a Areia parecia uma faca, cortando minha pele e o pano do casaco de Jack, senti o aperto das mão de Jack ficarem mais leves, e o olhei.

Sua testa estava franzida de dor, e seu nariz sangrava, suas mãos tremiam, seu corpo, o vento parecia tremer.

Ele não ia aguentar.

Não sei o que me fez agir tão rápido, mas agarrei o cajado e senti como se uma conexão passasse por meus braço, eu olhei Jack, e Jack me olhou. Quando nossos olhares se encontraram houve uma explosão de gelo.

Meus olhos não conseguiam acompanhar tudo o que acontecia, raios, flashes, gelo. Era o que eu via.

Segurei o cajado com mais força e senti aquilo brilhando, em sintonia eu e Jack seguramos o cajado com ambas as mãos e uma explosão de gelo saiu de suas pontas, atingindo os cavalos ao nosso redor.

Que sensação era aquela?

Nunca tinha sentido uma conexão tão forte quanto aquela... Eu sentia o que Jack sentia. Sentia o vento, o ar frio, sentia o gelo como uma energia correndo pelo meu corpo.

Nos olhamos uma última vez, e senti seus braços ao redor da minha cintura.

A mesma sensação de borboletas nos estômago de tantas outras vezes.

Soltei o ar e senti seus lábios frios colarem nos meus.

E retribui o beijo.

Houve uma última explosão, e o mundo ao nosso redor pareceu parar.

Só tinha eu e ele ali.