Voltei a encarar a fábrica escura, a cápsula em minhas mãos, meu corpo tremia, minhas mãos, meu coração batia acelerado. Olhei para a cápsula.

O que fora aquilo?

Quem era aquela garota?

E quem era aquele garoto?

Olhei para o cofre, peguei outra cápsula, a cor de cobre, a imagem nela não era muito visível, parecia desfocada e suja.

Ouvi um barulho vindo de cima, e olhei. Havia algo negro se mexendo ali.

A coisa saiu de seu esconderijo, um cavalo, negro, feito de areia, os olhos dourados. Areia negra...

Ele desceu como um raio em minha direção, me joguei no chão a tempo e ele deu de cara com o cofre.

Então percebi, ele não queria a mim, queria algo do cofre!

Me levantei aos tropeços meu cabelo caindo em meu rosto. Ah! Era por isso que eu odiava usar meu cabelo solto! Segurei as cápsulas com força em minhas mãos, e de repente o cavalo me olhou, bufou e começou a andar em minha direção.

Dei um passo pra trás, e outro, e meu quadril encontrou uma mesa. Respirei fundo.

Encobrir e não sentir.

Uma de minhas mãos encontrou um canto da mesa e fechei os olhos.

– Você não está com medo... - murmurei.

Ouvi o cavalo se aproximando, bufando.

A geada começou a escapar de meus pés.

– Você não está com medo. - Repeti.

A geada avançava aos poucos.

– Você não está com medo. - Falei por fim, e abri os olhos. A geada explodiu, fazendo estacas de gelo brotarem do chão, indo em direção ao cavalo, ele bufou assustado, e sumiu em sombras, mas o gelo o alcançou antes, a coisa caiu, numa poça estranha que parecia gel.

Respirei fundo.

– Elsa? - Ouvi alguém gritando meu nome.

Olhei pra cima, Jack me olhava do segundo andar, ele pulou, segurando em uma viga e desceu até mim. Logo depois vi Norte, ele viu de longe a poça e começou a descer.

– Elsa... - Jack me chamou de novo.- tudo bem?

Meu coração ainda batia acelerado, concordei com a cabeça, e me encostei de novo na mesa, a adrenalina deixando meu corpo.

– O que aconteceu... - Norte viu as cápsulas em minhas mãos. - Onde arrumou isso? - Perguntou.

Como explicar?

– O cofre tava aberto... - falei e me surpreendi com minha voz rouca. - E-eu peguei sem querer, e quando peguei aconteceu alguma coisa. - Minhas mãos tremiam. - Não sei explicar, fui sugada pra dentro...

– Você entrou nas memórias? - Perguntou Norte.

Estendi a cápsula dourada que pegara, ainda segurando a outra. Norte pegou-a com cuidado, e olhou-a, tocou no centro, ao redor, passou as mãos.

– Ei! - Gritou Jack. - Essa é minha! - Ele pegou a cápsula das mãos de Norte, segurando-a como se fosse a coisa mais importante de sua vida.

– Como viu as memórias dela Elsa? - Perguntou Norte.

– Eu só... toquei. - Disse.

Jack olhou para Norte, os olhos cheios de dúvida, Norte deu-lhe um olhar, e Jack concordou com a cabeça. Depois os olhos dos dois pousaram na poça.

– Picth... - murmurou Jack. Ele pulou até lá e se agachou ao lado, passando o cajado por cima. - Foi você? - Perguntou me olhando.

Concordei com a cabeça. Jack se levantou e andou até mim, passou as mãos em meus braços, e depois pegou as minhas, olhou a cápsula que eu segurava e tirou-a de minhas mãos, andou de volta ao cofre e colocou-a lá dentro, fechando-o em seguida.

– É melhor manter isso longe do exterior. - Falou.

Norte estivera quieto até agora, respirou fundo, e colocou as mãos nos quadris.

– Arrumem-se, vamos sair. - Falou.

– O que?

– Só, arrumem-se. - Ele começou a subir.

~X~

Eu terminava de prender meu cabelo, passando meus dedos pelas mechas loiras, quando senti um corpo atrás do meu, olhei pelo espelho e vi Jack. Suas mãos encontraram minhas cintura, que ele começou a acariciar.

– Como fez aquilo? - Perguntou. - Só eu devia ser capaz de ver aquelas memórias.

Suas mãos em minha cintura tiravam a pouca concentração que eu tinha.

– Não sei, só, toquei. - Falei. Ele respirou fundo. Virei-me devagar e encontrei seus olhos azuis. - Jack? - Ele me olhou. - Quem é Asle?

Ele franziu a testa, e passou a vasculhar a memória.

– O nome não me é estranho, mas, eu não lembro de... - ele se calou, como se uma lâmpada tivesse se acendido em sua cabeça. - Acho que... ela era...- ele me olhou. - você.

– O que? - Perguntei.

– Ela era muito parecida com você... - ele franzia a testa, suas mãos em minha cintura me apertavam um pouco. - a aparência o jeito, tudo... - ele colocou uma das mãos na cabeça. - ela... - ele franziu a testa e se sentou.

Asle. Era o contrário de Elsa.

– Não me lembro de mais nada... - falou. - Mas acho que sei porque eu tive um sentimento de lembrança quando te vi. - Ele se levantou e agarrou meus braços. - Você é muito parecida com ela, eu só sei disso, sei que eu tinha um sentimento estranho, não sei qual, mas eu tinha...

Seus olhos encontraram os meus.

De novo aquela sensação, borboletas no estômago, ele soltou minhas mãos, e quando vi, estavam em sua nuca, as mãos dele foram para os meus quadris.

A respiração dele tocava meu rosto, o coração dele batia rápido, eu sentia.

O que você quer? Uma vozinha perguntava em minha cabeça.

O que eu quero?

Engoli em seco, segurei sua nuca com firmeza, e mordi meu lábio inferior.

O que eu quero...?

A porta se abriu de repente e me afastei de Jack com rapidez.

– Vamos logo, estamos atrasados. - Norte falou.

– Já vamos.

Ele fechou a porta de novo, e eu olhei Jack, ele passou uma das mãos no cabelo e respirou fundo, pegou o cajado, e estendeu a mão.

– Vamos?