Elsa quase morrera naquela noite.

Eu quase a deixei morrer, aquele pensamento, de vê-la morta em minha frente, me fazia apertar meus braços ao seu redor. Suspirei próximo de seu ouvido.

– Jack? - Sua voz rouca me chamou, murmurei um hum? a ela. - Obrigada...

Eu sorri, e acariciei suas costas cobertas pelo meu moletom. Sua respiração estava calma agora, mas eu lembrava, como tive que congelar aquela lança até quebrá-la, para soltá-la dela, naquele momento ela respirava de um jeito diferente, mas agora sua respiração voltara ao normal.

– Jack, já acabou aí? - Uma voz grossa soou ao redor.

Elsa ergueu a cabeça assustada e olhei em seus olhos.

– Tá tudo bem... - respondi. - Quero que conheça um amigo.

Saí do lago, e ajudei a sair. Ela tremeu quando foi pega pelo vento, e se encolheu.

Eu não tinha percebido na hora em que coloquei meu moletom nela, mas acabara de perceber, eu precisara tirar a roupa que ela usava, aquela camisola fina e azul, e colocar meu moletom nela.

Que era o que ela vestia agora. Meu moletom.

E mais nada.

Respirei fundo e estendi a mão, ela segurou-a, e saímos daquela área.

~X~

Norte era um homem ocupado.

A fábrica estava uma bagunça só, os Yetis corriam de um lado pro outro, levando e trazendo brinquedos, trazendo baldes cheios de comida, levando sacos de carvão.

Elsa olhou para aquilo tudo.

– Estou onde acho que estou? - Perguntou, mais pra si do que pra mim.

– A fábrica do Papai Noel? - Uma voz estrondosa falou atrás de mim.

Viramo-nos ao mesmo tempo.

– Norte! - Gritei e abri um sorriso.

Ele soltou aquela risada paternal, eu não me lembrava muito bem do meu pai, então acabava tratando Norte como se fosse um. Eu teria corrido para fazer alguma gracinha, mas Elsa segurou minha mão com força. Seu corpo tremia.

Olhei pra ela, as bochechas dela estavam vermelhas.

– Vamos, vamos! - Ele falava rápido. - Vamos temos que conversar muitas coisas Jack...

– Norte... - chamei-o.

– A propósito, será que poderia me ajudar com algumas coisas por aqui? A fábrica anda uma loucura, as rampas do trenó estão escorregadias...

– Norte. - Chamei-o de novo.

– Sem contar que os duendes... Ah, os duendes! Você sabe como eles são, será que podia...

– Norte! - Gritei e bati o cajado no chão, a geada explodiu cobrindo até algumas mesas de trabalho, quase passando para o segundo andar.

Norte parou de falar e me olhou, passei um braço pela cintura de Elsa e senti-a esquentar ainda mais.

Ela estava com vergonha.

– Vou arrumar algumas coisas aqui pra Elsa... - Avisei. - Pode me esperar?

– Mas qual é o problema? - Ele perguntou, e então olhou pra Elsa, usando meu moletom molhado. - Ah! Claro, claro! - Ele desviou o olhar. - Vou estar no escritório, depois você vai lá...

Concordei com a cabeça, e me virei, puxando Elsa comigo.

– Minhas coisas ainda estão...

– Sim, claro, claro. Eu não mexi.

– Então já voltamos.

Comecei a levar Elsa para meu quarto, abraçando-a contra meu corpo.

~X~

Eu esperava Elsa sair do banheiro sentado em minha "cama". Ela entrara lá a quase dez minutos e eu já começava a me perguntar o que ela estava fazendo pra demorar tanto assim.

Até que a porta se abriu.

Ela ainda usava meu moletom, só que dessa vez era um seco e limpo, o estranho era que ela não usava a calça que eu dera a ela, ela usava um short, curto, branco e leve. Prendera o cabelo em uma trança, como o qual eu vira quando a conheci.

O vermelidão ainda não saíra de suas bochechas, e eu ri.

– Sua cara de vergonha é tão fofa. - Falei sem pensar.

Ela me olhou.

No segundo seguinte, haviam bolas de neve no tamanho de bolas de basquete vindo em minha direção.

– Ok, ok! - Gritei, a neve colidindo contra minha pele, e minhas roupas ainda molhadas. - Parei, parei!

Ela parou, e sorriu vitoriosa, se virou e saiu até a porta.

Eu ri, e segui.

~X~

– Gostaria de alguma coisa? - Norte perguntou pra Elsa. - Leite? Biscoitos?

– Não, obrigada. - Falou com aquela educação que me dava nos nervos, mas que eu também achava fofa.

– Certeza. - Ela concordou com a cabeça.

– Eu aceito. - Falei. Norte me olhou feio, e deixou a bandeja com as guloseimas em cima de sua mesa. Depois se sentou, e olhou para Elsa, sentada na cadeira em sua frente. - E então, digam-me, o que me dá a honra de tê-los aqui?

– O que? - Elsa perguntou.

Eu não contara a história direito a ela.

– Pitch... - Falei logo. O sorriso nos lábios de Norte desapareceu, e ele me olhou com os olhos atentos.

– Ele voltou?

Concordei com a cabeça.

Da última vez que tivemos problemas com Pitch, Sandman quase morrera, a páscoa quase acabou, e a Fada quase deixou de existir. Norte sabia que Pitch era um sinônimo de altos problemas.

– Alguma ideia do que ele quer dessa vez? - Perguntou.

Olhei pra Elsa, seu olhar parecia concentrado em algo, algo do lado de fora, me apoiei em meu cajado, e olhei pra Norte.

– Nenhuma...

– Congelado por temor. É belo e ameaçador. Tenha cuidado então. Com o gélido coração! - Elsa murmurou.

Olhei-a com a testa franzida.

– Ele quer um coração congelado. - Falou.