O Último Mago das Sombras escrita por QueenOfLetters


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bem, essa é a segunda vez que eu tento escrever e postar essa fic, mas agora eu prometo que está bom. Eu queria avisar que a Katherine é bem diferente da garota da foto, ela tem olhos e cabelos negros, porém eu coloquei por causa da capa que ela usa e é bem difícil encontrar alguma foto de uma garota com ela.



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A sala era grande e sem janelas. Suas paredes de pedra davam um ar misterioso e sombrio. No teto de madeira havia um lustre grande e requintado feito de bronze que iluminava o ambiente. Atrás de mim grandes portas de carvalho e bronze davam acesso ao aposento, o piso da mesma madeira rangia a cada passo meu.

Havia poucos móveis no cômodo, mas uma estátua de um homem com uma longa barba e uma capa comprida me chamou atenção. A estranha escultura de prata refletia a luz do lustre de forma anormal irritando meus olhos. Acostumada com a claridade percebi que no pedestal em que estava havia uma plaquinha com símbolos estranhos, mas nunca aprendi a ler. Na parede esquerda, uma grande lareira aquecia o salão e deixava um leve cheiro adocicado no ar.

– Desculpe, meus senhores, mas todas as ideias apresentadas são burlescas. – disse uma voz chamando minha atenção para uma grande mesa no centro da sala onde doze pessoas estavam sentadas discutindo. Estranhei, não havia percebido tal mesa naquele lugar. – Não surtiriam efeito na população. O massacre continuaria. Deveríamos criar punições, maldições, que os desencorajassem a cometer tais crimes. - Continuou a dizer o homem.

Andei lentamente em direção a voz. Grande parte das pessoas usava uma espécie capa negra, inclusive o homem que ouvira falar. Ele era alto e dava voltas na mesa enquanto falava calmamente. Seus cabelos castanhos e lisos estavam descuidadamente penteados para trás e sua capa preta batia um pouco abaixo do joelho. Tinha aparência de trinta anos e era um dos mais jovens, mas claramente era uma espécie de líder do grupo. Seus olhos eram castanho-avermelhados e misteriosos, seu nariz, avantajado e em seus lábios rosados uma pequena cicatriz chamava a atenção.

– Não acho que deveríamos fazer isso. Combater morte com feitiçaria? Não daria certo. – disse uma senhora. Seus cabelos brancos estavam presos em um penteado feito ás pressas e estavam praticamente escondidos pelo chapéu pomposo que exibia em sua cabeça. Ela usava um vestido elegante cor-de-rosa.

– Faça-me o favor! Senhores, o que tento dizer é que temos que fazer algo que os deixe amedrontados.

– Está insinuando que devamos combater morte com morte? – indagou um homem que usava uma roupa com fios de ouro e tecido fino, provavelmente alguém rico e nobre. Tinha os cabelos pretos perfeitamente penteados para trás o que deixava a mostra o inicio de sua calvície.

– Também, meu caro.

– Não acho que isto esteja certo. – disse uma jovem de pele clara e cabelos negros perfeitamente amarrados em um coque. Usava uma capa preta, como a do jovem que tentava defender sua ideia Disse aquilo cética, como se não gostasse do outro. – Isso só iria incentivar mais ainda a onda de destruições!

– Interessante seu posicionamento, Margareth. Mas se soubermos exatamente onde provocar podemos exterminar de vez com isso.

Todos concordaram, mas Margareth continuava relutante.

– O que pretende fazer então, senhor Edwin?

– Criar dez maldições incontestáveis, para os dez crimes imperdoáveis.

Acordei deitada em minha cama suando. Sempre tinha esses sonhos estranhos que pareciam lembranças, lembranças roubadas. Eles sempre possuíam o mesmo homem como “protagonista” enquanto eu assistia a tudo bem de perto, mas nunca notavam minha presença. Mas mesmo depois de tantos sonhos, nunca soube o nome dele. Às vezes tenho a sensação de ter escutado, mas quando acordo não me lembro.

– Katherine! Está atrasada, levante-se! - reclamou Mildred, a freira responsável pelas órfãs no convento.

– Já vou. Tenho mesmo que ir para a aula? Não estou me sentindo bem...

– Katherine, nem adianta tentar. Já conheço seus truques. Fui boazinha em deixar você dormir até agora. Perdeu a oração e o café da manha, mas trouxe pão e leite para você.

– Obrigada. Você é um anjo, Mildred.

– Quem me dera, querida, quem me dera.

Pulei da cama e coloquei um de meus vestidos mais simples, penteei os cabelos apressadamente, tomei o meu café da manha e corri para a aula. Todos os dias no convento eram sempre a mesma coisa: Ás cinco horas em ponto, acordávamos e íamos direto para a oração matinal e tomávamos o café. Depois, tínhamos aulas até o almoço, e então lavávamos as roupas, limpávamos o convento e nos arrumávamos para ir à igreja. Quando retornávamos, já era tarde e dormíamos.

Entrei na sala atrasada e recebi um olhar amedrontador de Beryl, freira que nos ensinava costura. Nesse momento percebi que lavaria a maior parte dos pratos. Sentei-me em uma cadeira, peguei linha e agulha e comecei a bordar. Enquanto costurava analisava cada detalhe do lugar, pois algo dentro mim sabia que em breve sairia dali.

A sala era redonda como uma cúpula e suas paredes eram de mármore branco, no teto vários anjos se destacavam junto com um simples, mas belo, lustre bem no meio. Perto da grande porta de madeira havia uma cômoda com a bíblia e um castiçal. Nas paredes quadros mostravam mais anjos e a história de Jesus, mas o que mais me chamava à atenção era um onde se podia ver um padre e uma freira. Ele era grande e possuía uma bela moldura dourada. Lembro-me que quando pequena perguntara a Mildred quem eram e ela dissera “ São os criadores do convento, Katherine. Irmã Edna e Padre Alexander”. Sorri ao me lembrar desse dia.

Uma grande fogueira aquecia a sala e à minha frente nove órfãs e Beryl tricotavam casacos para o inverno. Lindos vitrais coloridos deixavam a luz do sol de outono entrar e reluziam cenas bíblicas.

Mesmo morando em um convento eu nunca acreditei em Deus. Não conseguia pensar em algo maior, alguém que a protegeria, afinal fora abandonada e estava fadada a ter uma vida desgraçada. Eu não tinha amigos. Às vezes conversava com as freiras, mas elas só queriam saber de ensinar-me a palavra de Deus, nunca conseguia ter uma conversa agradável sem ganhar conselhos e ensinamentos "importantíssimos". Menos Mildred, conseguia conversar normalmente com ela, embora fosse muito atarefada e não tivesse muito tempo para isso.

Estava absorta em meus pensamentos, quando a voz de Beryl me desperta.

– Katherine! Está fazendo tudo errado! Vai embolar a lã e furar seus dedos. - gritou com raiva, soltando risadinhas das outras garotas e me fazendo corar.

– Desculpe, senhora. Não vai se repetir. - respondi submissa com a cabeça baixa e as bochechas coradas. Costura nunca foi meu forte.

– Assim espero. - novamente as garotas riram. - Silêncio. Não se costura com barulho.

Terminada a aula meu agasalho mais parecia uma bola de lã e meu dedo sangrava. Beryl me lançou um olhar de desprezo e saiu. A segui pelo corredor de madeira e subimos uma escada em espiral para o segundo andar, onde nos dirigimos para o refeitório. Suas paredes eram feitas de pedra e possuía um belo piso de madeira. Era um cômodo simples e sem muitos enfeites. Apenas uma cruz na parede e alguns vitrais simples nas janelas. Quatro grandes mesas estavam prontas e com grandes panelas de comida. Senti uma tristeza repentina, pois sabia que aquilo seria muito difícil de lavar.

Sentei-me perto de Caroline, uma linda menina de olhos azuis e longos cabelos loiros que sempre usava uma trança enfeitada com flores, e de Marie. Marie era o oposto de Caroline. Seus cabelos castanhos chegavam aos ombros e eram visivelmente mal cuidados, seus olhos verdes mudavam constantemente de cor e seu vestido estava sempre sujo de lama. Nunca conversei muito com elas ou qualquer outra garota daqui, apenas algumas poucas palavras trocadas.

A comida estava ótima, simples, mas deliciosa. Hoje era ensopado de carneiro com legumes. Depois de terminar a refeição fui direto para a cozinha receber minhas tarefas. O lugar cheirava fumaça e carne queimada. Uma combinação nem um pouco agradável. Peguei uma panela, dez pratos e fui para o rio que corria ao lado do convento. Desci o morro íngreme e cheguei ao rio. Sua água era límpida e gelada como acontece nos rios durante o outono, parecia carregar um prólogo da chegada do inverno. Sentei-me como de costume em uma das pedras escuras cheias de musgo e comecei a lavar os pratos calmamente...

Estava em uma pequena cabana de madeira. Já havia estado ali antes. O mesmo homem de sempre estava sentado em uma mesa tomando café. O cheiro era agradável e me deu água na boca. Analisava cada canto da cabana quando ouço baterem à porta. O homem se levante e atende.

– Senhor Edwin, gostaria de pedir minhas sinceras desculpas.

– Mas por que, senhorita Moore? Oh! Perdoe-me, Margareth. Posso chamá-la assim? – ela balançou a cabeça afirmativamente e ele continuou. – Entre, entre. Pode me chamar de.... - Do que? Como ela pode te chamar? Qual é seu nome? – Então o que te trás aos meus humildes aposentos – perguntou enquanto puxava uma cadeira para que ela se sentasse e servia uma xícara de café.

– Como disse, vim te pedir desculpas. Parece que tinha razão sobre as maldições. Surtiram o efeito esperado.

– Ainda é muito cedo para tomarmos conclusões precipitadas. – respondeu modesto, bebendo mais um pouco de seu café. – Mas espero que esteja correta. Por que não deixamos esses assuntos para o trabalho? – ela abriu um sorriso e ele percebeu que era hora de começar um assunto. - Gosta de cavalos?

Sai do devaneio me afogando no rio. Pude ver a panela e mais dois pratos boiando perto de mim. Nadei até eles e os levei para a borda. A correnteza estava forte, mas com esforço consegui chegar ao outro lado ofegante. Olhei para o meu vestido, estava transparente, colado em meu corpo e todo sujo de terra. O vento soprou em minha direção e os pelos dos meus braços e pernas se arrepiaram. Estava frio. Usei minhas últimas forças para terminar de lavar os pratos e voltei para o convento.

O vento batia em meus cabelos, mas eles continuavam grudados junto ao corpo. A água ainda não secara e meu corpo estava congelando. Provavelmente ficaria doente e teria que aturar algumas semanas com as freiras rezando o dia inteiro em volta da minha cama. Tentei parar de pensar no frio terrível que me atormentava e pensei no sonho. Isso era comum e estava acontecendo cada vez com mais frequência. Novamente não conseguira escutar o nome daquele homem. Era sempre assim.

Cheguei ao convento tossindo e Mildred veio correndo me acudir.

– O que aconteceu, querida?

– E-eu estava lavando a-a l-louça e cai no rio. - respondi batendo o queixo.

– Venha, querida. Vista roupas quentes.

– M-mas ainda t-tenho que lavar as roupas...

– Você pode fazer isso amanha. - disse dando uma de suas piscadas cúmplices.

– O-obrigada.

Corri para o quarto e peguei um vestido com mangas cumpridas e mais sofisticado, um de meus melhores para dizer a verdade, para ir à missa. Passei o resto do tempo deitada na cama e tirei um cochilo.

Estava em um vilarejo passeando pela rua. As casas eram todas feitas de madeira e pedra, bem simples, exceto por uma no fim da rua que possuía dois andares. Provavelmente pertencia a autoridade local. Andava para fora da cidade, indo para uma floresta quando vejo um camponês correndo desesperado e o sigo com os olhos. Ele para e se ajoelha os pés do homem que sempre perturba meus sonhos. Corro até eles e o escuto dizendo:

– Senhor! Precisa me ajudar! Algo terrível aconteceu! Você é minha última esperança! - o homem dizia apavorado.

– O que houve, meu caro?

– Por favor, senhor! Não tenho muito tempo.

– Entre. Conversaremos lá dentro. - eles foram até uma pequena cabana na floresta e entraram, entrei em seguida. O homem de sempre foi até um balcão e começou a fazer café. Com um sinal, o outro se sentou à mesa. - Pode começar quando sentir-se a vontade.

O homem deu um longo suspiro e disse:

– Fui amaldiçoado pela 10ª maldição. E sou casado, tenho um filho e minha esposa está grávida. - Ele então começou a chorar. - Não posso perdê-la! Não posso!

– Meu caro, entendo sua aflição, mas você cometeu o crime. Tem de aceitar a punição.

– Mas senhor! Precisa me escutar! Eu não quis matar ninguém! Apenas proteger minha família!

– Conte-me mais. - respondeu frio bebendo um gole de café.

– Estava na estalagem, sou o dono de lá. Então veio um ladrão, mascarado, tentar me roubar. Eu já fui um guerreiro, então lutei com ele. Mas por um momento de deslize meu, fui parar do outro lado do cômodo e ele prendeu minha família. - Ele parou por um momento, visivelmente perturbado, engoliu em seco e continuou - Disse que só ia soltá-la se eu lhe desse todo o dinheiro. Irado pela raiva avancei nele. E acabei o matando. Quando tirei sua mascara vi que era meu irmão. Ele passava por dificuldades e entrara no mundo do crime, mas eu nunca pensei que me assaltaria... - O homem tremia e gaguejava nas últimas palavras já em prantos.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, mas podia ver a sinceridade nos olhos do indivíduo.

– Sua história é realmente comovente. Mas como não há uma maneira de saber se está dizendo a verdade, proponho um acordo. - esperou que entendesse e continuou. - Retiro a maldição em troca da sua vida. Se ama sua esposa e seus filhos, não se importaria de morrer por eles.

Vi um misto de susto e incredibilidade surgirem em sua face, mas logo foi seguido por alívio e medo, então estufou o peito e com um semblante corajoso, disse.

– Que assim seja.

O homem de meus sonhos levantou-se e começou a preparar algo em outra bancada.

Acordei com Mildred me chamando para ir jantar e ir à missa. Não resisti e acabei perguntando sobre as tais maldições que meus sonhos tanto falavam.

– Mildred.

– Sim, querida?

– O que são as Maldições Incontestáveis?

Ela me olhou incrédula e fez o sinal da cruz.

– Onde ouviu falar disso querida?

– Ouvi umas freiras dizendo um dia desses - menti.

Ela deu um longo suspiro e respondeu:

– Criaram dez punições para dez crimes terríveis. A maioria relacionada com a morte. Não são punições comuns como ser enforcado, são muito piores. Se for amaldiçoado não tem escapatória.

– Como assim?

– Elas são de magia negra. Magia de Satanás. - dizendo isso fez novamente o sinal da cruz.

– Mas elas não deveriam ser boas? Afinal, punem crimes horríveis?

– Bata na boca, menina! Nada relacionado à magia ou a Satanás é bom.

– Sim, senhora.

Continuamos em silêncio até chegar à igreja. As maldições não saiam da minha cabeça. Pensava em tudo que ela falara. “Nada relacionado à magia ou a Satanás é bom.” Não sabia o porquê, mas aquela frase me fazia querer rir. Como se o que ela dissesse não fizesse sentido. Como se a magia existe, mas fosse boa. Não fosse algo do Capeta.

Não escutei uma palavra do que padre disse. Estava absorta em meus próprios pensamentos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, por favor deixem um comentário, eu fico tão feliz...



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