As Crônicas do Poente escrita por The ringer elf


Capítulo 3
Willyn




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Ouvi sussurros horríveis sobre um Mal há muito esquecido. - falou sinistramente Sir Cedrick,desmontando de seu garrano castanho. - Poderes antigos levantam-se de novo,dizem,e uma Sombra de medo espalha-se no Norte,em Snowvalle.

Um arrepio percorreu a espinha de Willyn.Uma Sombra de medo.Seu Mestre da Erudição certa vez falara sobre a época em que a Magia predominava no Mundo e eram realizadas muitas maravilhas...e assombros,assombros também.

– Tolice e bobagem. - declarou a esmirrada Senhora Athena,sua nova Mestre na Erudição. - Se,em algum momento imemorial, a Magia existiu neste Mundo,há muito ela foi-se.

Falou de modo decidido,como alguém absolutamente resoluto e o era,de fato.Absolutamente resoluta e severa.Trajava sempre cinza e prendia seus cabelos prateados em um coque apertado,atrás da cabeça;apesar de pequena e aparentemente indefesa,podia ser rígida e dura como um cavaleiro.Geralmente obrigava Willyn a decorar textos inteiros a respeito da Era da Aurora e da Era Maxiniana e,muitas vezes,o garoto clamava pela voz doce e baixa do Senhor Hengist,seu antigo Mestre da Erudição.

Não que não gostasse da Senhora Athena;tentava gostar de todos,mas,por vezes ela parecia muito cruel.No entanto,havia algo de gentil nela também,ocasionalmente, e Willyn sabia que ela só desejava o seu bem.Conhecimento é poder,dizia-lhe sempre,poder do tipo que jamais será-lhe arrancado.

Porém,não tinha tanta fé assim no que a Senhora Athena dizia agora.Também ouvira histórias sobre um mal antigo,o mais poderoso trevruxo que já caminhou sobre a terra,que retornava ao Mundo Moderno,para afundá-lo novamente em trevas.E,além do mais,tudo que Sir Cedrick dizia,de um modo ou de outro,acabava mostrando-se verdadeiro no fim.Que os deuses façam dele errado desta vez,orou.

– Não iremos discutí-lo,my lady. - rebateu,retirando as luvas de coro negro das mãos e caminhando na direção de Willyn. - My lord,preciso levá-lo à frente do comboio.Aproximamo-nos de Floresta Rubra e a noite cai.

A última parte Willyn tinha certeza ser verdade:as primeiras estrelas surgiam em um céu cor-de-rosa.

– É certo,Willyn. - concordou sua Mestre na Erudição,ajeitando o coque. - Lembra-se do que estudamos sobre a Floresta Rubra?

Ele lembrava-se:

– Floresta Rubra é assim chamada por suas várias árvores de folhas vermelhas como sangue,que tornam-se cobre à luz do crepúsculo. - começou,recordando-se. - O Clã que tem domínio sobre a região é o Tregory e seu atual Lord é Dwyne,O Vigoroso.São vassalos de meu Clã,apesar de tão ao Norte.

Sorriu,orgulhoso por lembrar-se de tudo.Senhora Athena e Sir Cedrick sorriram-lhe de volta.

– Vamos,meu pequeno lord. - disse o alto Sir Cedrick,estendendo o braço para Willyn. - Levo-o na garupa de meu cavalo.

Willyn olhou para o rosto comprido de Athena e ela assentiu com um leve balançar de cabeça.

– Leve seu manto;o frio cai junto à noite. - ordenou,entregando o mesmo a Willyn.

– Obrigado. - falou Willyn,cortesmente e vestiu o manto rapidamente,cobrindo o rosto com um capuz verde de lã.

– Vamos? - Sir Cedick já estava montado.

– Sim. - disse Willyn,animado.Amava montar.

Cavalgaram velozmente,ultrapassando o imenso grupo que servia a Willyn.O sol já estava quase totalmente oculto nas montanhas ocidentais e Willyn pôde sentir o fresco ar vespertino acariciar-lhe o rosto,descobrindo-o.

Parece a última carícia de mamãe.

Sentiu o calor do choro subir-lhe e apertou,instintivamente,os braços em volta da cintura de Sir Cedrick.Ela não está morta,disse para si mesmo,vou

revê-la viva e ela me abraçará.

Em uma manhã cinzenta,há exatamente 10 dias no passado,Willyn foi acordado bruscamente por uma mulher encapuzada,que revelou ser sua mãe,Lady Catyrinna,esposa do Lord de Lago Cristal.Parecia assustada e falava baixo,como se temesse ser ouvida por alguém além de Willyn:

– Meu docinho,precisa acordar. - dissera,passando a mão pelos cabelos bagunçados do filho. - Terá de partir,agora.

Willyn lembrava-se perfeitamente do som de homens e cavalos no pátio exterior,preparando-se para uma jornada.

– Por que,mamãe? - perguntara,espantando o sono dos olhos com as mãos. - Vou cavalgar com Joseph hoje.Combinamos na tarde passada...

– Não há tempo,criança - a mãe interrompera,não sem gentileza. - Tudo será explicado futuramente.Agora,siga-me.

Passaram por um túnel secreto,úmido e escuro.Mamãe segurava com força sua mão.

Saíram para a luz cinza da manhã,na ala leste exterior do castelo,às margens do Lago Cristal.Senhora Athena,Sir Cedrick,Sir Ronyld e o castelão Valiant esperavam-nos,junto à uma grande parte do pessoal do castelo.

Havia cavalos para si,seus protetores,Valiant e até para Senhora Athena.mas,não havia nenhum para Lady Catyrinna.

– E a senhora,mamãe? - lembrava-se de ter perguntado,com lágrimas escorrendo pelas bochechas vermelhas.

Sua mãe ajoelhara-se e entregara-lhe o broche prateado que antes pertencera ao seu pai:um pequeno cisne,com minúsculos olhos escuros e pescoço longo.Fechara-o em sua mão esquerda com força e levara-a a seu próprio peito.

– Terá de ser forte como seu pai,Willyn. - falou,com voz embargada. - Veremo-nos em breve,tenho fé.

Foram necessários cinco dos cavaleiros do grupo e o robusto castelão Valiant para separá-lo de sua mãe.Willyn mordeu,esperneou e gritou até perder a voz.

Sua mãe,branca e alta,permaneceu parada e solene à boca do túnel pelo qual saíram.Sempre fora uma mulher forte e,por vezes,dura.Mas,Willyn percebeu que cerrava um dos punhos com força.

Por fim,exausto e chorando,foi colocado sobre seu pequeno cavalo branco,presente de seu pai e nele cavalgara monótona e friamente,em silêncio e amargura.

Papai se foi,afogado no Lago que tanto amara e ,agora,perdi minha mãe também.

De algum modo não acreditava que veria Lady Catyrinna novamente.

Tudo será explicado,dissera ela,mas ninguém respondera às suas perguntas

acerca do motivo pelo qual fugiram de Lago Cristal e Senhora Athena tanto ignorara-o nesse sentido,que Willyn decidiu jamais voltar a perguntar.

O toque da trompa de Sir Cedrick trouxe-o de volta ao presente e Willyn afastou as lágrimas com uma das pálidas mãos.

– Chegamos,meu pequeno lord, - disse ele,parando o cavalo no topo de uma pequena colina. - à Floresta Rubra de Lord Dwyne Tregory.

Desmontou graciosamente e Willyn fez o mesmo,puxando o capuz do manto para frente novamente.O cavaleiro chegou primeiro à beirada da colina e olhou para baixo,para onde encontrava-se a região de Floresta Rubra ... e levou a mão à boca,assustado.

Willyn correu para ver também aquilo que surpreendera-o e o que viu fez seu coração parar por alguns segundos: Os portões de madeira de Floresta Rubra estavam escancarados e arruínados,várias das árvores enegrecidas e caídas,as casas das pequenas aldeias destruídas e engrecidas,o Castelo Vermelho dos Tregory,ainda que distante,mostrava-se claramente arrombado e saqueado.

Havia também corpos,muitos corpos.

Corpos femininos e masculinos,infantis e velhos,corpos decapitados e desmembrados,corpos estripados e carbonizados,alguns pendurados em árvores,com o sangue a gotejar...

– Que os deuses tenham misericórdia! - exclamou Willyn,apavorado. - Que aconteceu aqui?

Sir Cedick olhou para o grande símbolo pintado em um dos portões de madeira escura da cidade,negro e grotesco.

– Feitiçaria,foi o que aconteceu. - declarou em tom sombrio.


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