Capitulo 02

Um Novo Campista, Uma Nova Profecia

_Nada. Absolutamente nada. – Sadie bufou fechando mais um livro com força. Estava a manhã toda na biblioteca e nada sobre arcos de Tot ou Apófis, nada que explicasse seu sonho bizarro. Se isso tivesse acontecido há mais de um ano atrás, ela ignoraria completamente, não acreditaria no sonho e imaginaria que tudo era só coisa da sua cabeça. Mas Sadie era uma maga de Isis. Conhecia os antigos Deuses Egípcios e por Rá até namorava um deles! Tinha passado por coisas suficientes para mandar qualquer pessoa permanentemente para um hospício, portanto, sabia que não poderia simplesmente ignorar um sonho tão real. Não quando seu ba poderia ter viajado para o encontro dos deuses e de Apófis de alguma forma. Mesmo com o encosto mágico na sua cama. Mesmo com Anúbis ao seu lado o tempo todo.

Se Carter estivesse ali, poderia ajudar.

_Hum Sadie, tenho certeza que bufar como um babuíno zangado não vai nos ajudar em nada. – Dakota murmurou fechando com cuidado outro pergaminho e o colocando de volta no lugar. Dakota tinha aparecido ali há cerca de cinco meses, ela estava sendo perseguida por um bando de zumbis de guerra ou algo do tipo. Não era maga de nenhum deus apesar de gostar muito das histórias de Anúbis sobre o submundo (o que fez com que Sadie não gostasse nada dela no inicio), mas depois que ficou claro que Dakota Black não tinha intenções nenhuma pra cima do seu namorado, ela e Sadie acabaram virando amigas.

Dakota tinha os cabelos cor ferrugem, lisos sempre presos num rabo-de-cavalo alto, os olhos negros eram bonitos e destacados por rimel (a única maquiagem que ela dizia não desprezar). A pele era clara e ela era alta e bonita, um dos motivos de ter feito Sadie ficar com ciúmes.

Mas tudo que Dakota tinha de bonita, ela também tinha de inteligência. Não é atoa que ela e Carter se dêem tão bem, os dois nerds. Mas ao contrario de Carter, a aparência e até o jeito de agir da ruiva não sugerem sua verdadeira personalidade. Quando viu a garota correndo para a Mansão deles perseguida por meia dúzia de zumbis do mal, Sadie podia jurar que ela era algum tipo de delinqüente juvenil ou algo assim. Se bem, que as pessoas costumavam pensar a mesma coisa dela.

_Talvez. Quem sabe? – Sadie respondeu mal humorada. – Não posso pedir ajuda a Doughboy já que o meu querido irmão resolveu levá-lo. Os shabtis daqui resolveram que estão com raiva de mim e nenhum desses livros ou malditos pergaminhos tem alguma referencia! – Sadie olhou para Dakota apertar os lábios com os dentes, podia jurar que a amiga estava tentando não rir. Mas vindo de Dakota, isso poderia significar qualquer outra coisa.

_De novo, por que não fala com Anúbis? Ele é um deus, pode nos ajudar.

_Não. Ele ia ficar desconfiado e fazer perguntas, e provavelmente ia contar ao Carter. – Sadie fez um bico se sentando em uma cadeira de madeira entre algumas prateleiras, Dakota olhava entre os pergaminhos ainda prestando atenção na amiga. – E nem sei se Anúbis pode mesmo nos ajudar. A conexão dele com os outros deuses foi cortada e a não ser que perguntemos sobre algum tipo de ritual de funeral da Irlanda, duvido que ele saiba de alguma coisa.

Agora Dakota riu.

_Que foi? – A ruiva deu de ombros.

_Anúbis não sabe só sobre enterros. Embora pareça. – Ela riu. – Você falando assim, faz parecer que namora um coveiro. – Um coveiro muito gato e sensual Sadie quis completar mas ficou calado e se limitou a sorrir também. – De qualquer forma, nunca ouvi falar sobre nenhum arco de Tot. Talvez estejamos nos preocupando atoa. Sabemos que não tem chances de Apófis se reerguer e mesmo que consiga, demoraria anos talvez séculos até.

Sadie não respondeu de imediato. Também pensava assim, mas o modo como a cobra falara em seu sonho, a promessa que voltaria para se vingar dela...

_É. Pode ser. – Murmurou.

... Acampamento Meio-Sangue ...

_Saiam da frente! – Annabeth empurrou dois garotos no seu caminho até conseguir passar pelo tumulto de pessoas. Todas em volta de um único corpo esticado no chão. Quíron olhou para ela e disse silenciosamente que isso era um aviso.

_Certo. Não há nada para verem aqui! É só mais um campista andem, voltem as suas atividades! – Ele gritou dispersando a multidão em volta até que só sobrasse ele Annabeth, Píper e Leo.

Píper tinha a cabeça do garoto adormecido nos braços tentando acordá-lo, ele estava ensangüentado mas sem marcas de ferida. O sangue sobre ele não era seu. As roupas presas estavam sujas de terra e rasgadas e a jaqueta preta tinha um rasgo de faca enorme das costas. Tinha a pele mortalmente pálida, embora Píper tivesse dito com total certeza de que ele estava bem; os cabelos curtos e bagunçados eram da cor do carvão e os lábios eram carnudos e bonitos mesmo rachados.

_Píper, melhor levarmos ele até a Casa Grande. – Quíron depositou a mão levemente sobre o ombro da filha de Afrodite e Píper piscou, como se tivesse saído de um transe e assentiu se levantando e com a ajuda de Leo ergueram o menino pelos braços e começaram a andar na frente rumo a Casa Grande.

Annabeth ficou um pouco mais para trás ao lado do centauro, e assim que os amigos tomaram uma distância segura ela encarou o diretor do Acampamento receosa.

_Acha que é dele que Rachel estava falando ontem? – Quíron era alto e bonito, mas tinha um olhar extremamente cansado por baixo de tanto tamanho.

_Não tenho certeza, mas só vamos descobrir quando ele acordar. Afinal, ele aparenta ter pelo menos dezoito anos. Precisamos descobrir de quem ele é filho. – Annabeth assentiu e começou a seguir os amigos.

Depois do novato estar instalado em um dos quartos Quíron pediu que Píper e Leo saíssem, já tinham ajudado o suficiente achando o garoto nas fronteiras do Acampamento. Annabeth olhou para o rosto do garoto e sentiu uma terrível sensação de vertigem.

“Com um seguidor do Deus Sol irá começar

E vindo de dois mundos a busca pela lua perdida

A sabedoria poderá salvar

Caminhando pelo campo dos mortos

Um antigo inimigo encontrar

E a decisão final daquele que não tem lar findará

Se o Sol irá destruir ou salvar”

Um seguidor do Deus Sol. Estaria referindo-se a Apolo?

Annabeth não conseguia pensar em outra resposta para o primeiro verso da profecia recitada pelo oráculo de delfos na noite anterior quando ela e Quíron foram visitar Rachel. Assim que ouviu tudo aquilo Annabeth desabou e começou a chorar sem parar, não poderia suportar outra profecia. Coisas ruins o suficiente já tinham acontecido a ela, a todos eles, não precisavam de outra ameaça maior. O pior de tudo foi ter que mentir para Percy sobre o motivo de seus olhos estarem vermelhos e inchados. Disse que tinha brigado com o pai... Grande mentira Annabeth!

Ela não gostava de mentir para Percy. Odiava não poder contar, mas Quíron dissera que era melhor até eles entenderem a profecia. Ela não se referia a nenhum filho de Poseidon, tinha mais a ver com o Sol. Filhos de Apolo. Mesmo assim, poucas eram as coisas relacionadas aos deuses que não envolviam ela ou Percy.

Se o garoto que apareceu ali misteriosamente for mesmo filho de Apolo. Então ela saberá que uma nova profecia teve inicio. Seu estomago se contraiu mais uma vez.

Ela ouviu um barulho e abriu os olhos. O garoto estava se mexendo. Annabeth queria chamar Quíron mas tinha medo de isso assustar o menino, e quando ele abriu os olhos, ela só conseguiu ficar ali parada o encarando. Olhos brilhantes cor de âmbar, tão penetrantes quando os olhos de uma cobra.

_Q-Qual é o seu nome? – Ela gaguejou se aproximando.

A expressão do garoto ficou confusa, mas logo depois ele pareceu ter entendido a pergunta.

_Cameron Rashid.

_Você é filho de quem?

_Eu sou... Sou o mago de Rá.

Continua...