Crônicas de Um Meio-sangue ao Resgate escrita por arashi


Capítulo 5
Descubro quem é meu pai




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Num primeiro momento, achei que Snowb havia ficado furioso pelo fato de eu agarrar sua crina tão fortemente, mas acho que isso era comum entre as pessoas que montavam nele.

Quando ele desceu do alto das nuvens em direção aos estábulos, senti como se eu estivesse agarrado na cabeça de um jatinho. O ar em direção à minha face parecia não deixar minha boca e olhos se fecharem, eu pude ver toda a cena de aproximação do solo.

Snowball havia chegou o mais alto que pode, e de fato, eu achei que estávamos muito próximos das nuvens. Por um momento, pensei no que aconteceria se saíssemos da atmosfera e fôssemos para o vácuo do espaço.

Jake estava conversando com Chris até o momento em que pousamos. Então, nós três fomos ao grande refeitório e recebemos alguns sanduíches de alface e pepino.

Voltei ao dormitório de Hermes, deveria ser cerca de 25:30 da tarde, e teríamos de nos reunir no anfiteatro às 19:00.

Jenny estava conversando com três crianças que seguravam espadas de madeira.

“E é só vocês desempenharem bem seu papel, ok?”, instruía ela.

“Certo!” disseram as 3 em coro, animadas. Então, saíram da cabine travando uma luta de espadinhas.

“Você, Jake, andou treinando bastante?”

“Eu, é, andei um pouco num pégaso, e dei uma corridinha por aí, quedo dizer...”

“Ninguém pega mole com novatos”, ela sorriu, “mas eu vou te dar uma cobertura por hoje, ok?”; então, voltou a mexer em algumas de suas coisas. “Quer ir comigo, err, falar um pouco com Miranda? Sabe, o chalé de Ares é o melhor na caça, e nós não estamos com muita vantagem, entende?”.

Não achei uma boa idéia, mas a segui.

Miranda estava ajeitando algumas coisas nas gavetas ao lado de sua cama, o que vimos devido à porta estar aberta.

“Miranda, preciso falar com você”.

Ela se virou, e pareceu encarar-nos surpresa. Foi em direção à porta, onde estávamos.

“Sim?”; percebi seu olhar malicioso em minha direção, como sempre. Eu não sabia quando Ares iria fazer o “joguinho para novatos” comigo, mas esperava que não atrapalhasse o apoio que receberíamos deles.

“É o seguinte, nós gostaríamos de fazer um acordo com vocês. Ares ajuda Hermes, e oferecemos nossos melhores horários de atividades para vocês durante um mês todo”.

“Rs, de fato admite que somos os melhores caçadores?”.

“São, e por isso queremos sua ajuda”. Ela pareceu irritada ao dizer isso.

Miranda sorriu ironicamente, e olhou para mim.

“Rickzinho, qual você acha que será minha resposta?”.

“Err... Sim?”.

“Não! Desculpe, Jenny, querida, mas nessa competição, cada um por si”.

Sem delongas, ela saiu bufando de lá, e eu a segui. Fomos de volta ao chalé.

“Durma um pouco, Rick, você vai precisar”.

Senti que ela estava muito irritada, e iria querer descontar sua raiva nessa noite. Mas sem o que fazer, dormi.

 

Novamente, estava numa caverna, mas dessa vez, com uma grama estranha sob os pés. O lugar era colossal, e havia milhões de pessoas estranhas andando por lá, de um lado ao outro. Um pouco a frente, havia um enorme palácio negro cercado por muros de aço. Ouvi a vós de Michaella ecoando de lá.

“Pai, deixe-me voltar, eu lhe peço”, disse ela com sua voz suave e calma.

“Minha filha, você realmente não tem idéia, mas um perigo iminente está para despertar-se lá em cima. Receio que aqui seja o lugar mais seguro para você”.

A fala saia grossa, porém igualmente calma. Entretanto, senti calafrios terríveis ao ouvi-la.

“Mesmo assim, nem que eu tenha que lutar, eu irei lutar, e tenho meus amigos para rever. Tenho Rick...”. E a última palavra ecoou como um suspiro, quando a imagem se desfazia em meu sonho, e eu levantava-me do colchonete.

 

O sol já estava se pondo, presumi pelo reflexo laranja que batia na janela. Me troquei rapidamente, e saí da cabine. Ninguém pareceu estar descansando, dormindo, ou mesmo dentro de seus respectivos chalés. Havia uma aglomeração no campo, enquanto outros estavam no anfiteatro ou refeitório.

Encontrei Jenny junto a algumas pessoas que reconheci como de Hermes, e os segui. Fomos até o refeitório, e as mesas que deveriam conter pratos e copos estavam lotadas de armas, armaduras e outras coisas estranhas que eu não reconheci direito. Fomos instruídos – conjuntamente aos outros – a pegarmos os objetos de nossa preferência.

“E é isso, a única regra é não matar nem mutilar”, Quíron anunciava. “A criatura que vocês devem procurar é um cão bicéfalo, descendente de Ortros”.

Tomei um conjunto de arco e flecha (talvez a sorte de principiante me ajudasse de novo), um capacete e um peitoral que tinha lugar para punhal na lateral. Depois de todos terem escolhido, eu e os outros membros do chalé de Hermes nos reunimos eu um círculo já na entrada da floresta, e Jenny começou a passar-nos as instruções.

 

“Precisamos de vários grupos espalhados pela floresta para que possamos ter alguma chance, pelo menos – percebi que olhou de relance para a rodinha de Miranda – de vencermos. Vocês dois – apontou para um garoto e uma garota com aproximadamente a mesma idade, olhos azuis e cabelos castanhos – fiquem aqui de escolta, caso o cão aparecer, ou qualquer outra coisa acontecer. O resto vai se dividir em dois grupos: um que vai vir comigo adentrar na floresta, e o outro que rondará as bordas dela. Se virem o animal, dêem um jeito de destruí-lo”.

“Espera” – eu novamente parecia ser o único burro da equipe – “não era para levarmos ele vivo até a Casa Grade?”.

“Se você consegui-lo fazer ser seu amiguinho, pode ser, mas o jeito mais fácil, até o momento, é matá-lo e entregar a recompensa honorária a Quiron. Seja lá qual for”.

Fiz um gesto de concordância, apesar de não ter entendido nada. Só esperava não ficar encurralado com o monstro e a vitória do meu time depender da minha inteligência. Quer dizer, eu já era dislexo e tinha déficit de atenção, mas entrar em uma perseguição dentro de uma floresta é outra coisa.

Fiquei no grupo de caça no interior da floresta com Jenny e mais algumas pessoas mais habilidosas do chalé.

Logo ao entrarmos, ouvimos o barulho de passos em todas as direções, o de flechas sendo disparadas, e de árvores balançando. Passamos por um canteiro onde alguns guerreiros de Hefesto e Ares lutavam entre si, e isso chamava atenção principalmente pelas armas mais variadas que o primeiro chalé tinha, e pela capacidade de fazer plantas brotarem do segundo. Talvez eles estivessem brigando por conseqüência da missão, embora eu achasse isso ilógico e apostasse de que foram motivados pelo conflito entre seus pais.

Andamos mais um pouco, e um vulto negro ascendente atravessou o caminho entre as árvores.

“Ele!”, berrou Jenny, e todos, menos eu, correram na direção da sombra”.

Digo, até tentei correr junto com eles nos primeiros segundos, mas desisti da idéia após Jenny ter me dito para ir na direção contrária para o caso dele retornar. Andei bufando por alguns metros, quando ouvi uma voz familiar.

“Sigam ele, deve ter ido naquela direção!”, dizia Jake à distância. Umas três pessoas passaram correndo por mim, e então, eu fui na direção da sua voz.

Ele estava deitado no chão com sangramentos no tornozelo.

“Jake, o que aconteceu?”, perguntei.

“Estávamos cercando-o, até que ele correu na minha direção e mordeu meu tornozelo, digo, uma de suas cabeças mordeu. Não foi muito grave, acho que só deve ter quebrado ou...”; ele parou de falar para contorcer a face em dor e por a mão no ferimento. Agachei-me ao seu lado, e tirei do bolso um curativo que eu me lembro de ter guardado desde o passeio ao Central Park. “Bem, acho que isso deve parar o sangramento, pelo menos por agora”.

Colei a película fortemente contra sua pele, e ele me olhou assustado.

“Como você... Você...”.

“AAAAH!”.

Ambos olhamos para a direção, era o grito de Miranda.

“Rick, faça o que tiver que fazer para ajudá-la, vá!”, disse ele em desespero.

“E você, não posso...”.

“Eu realmente ficarei bem, vá!”.

Corri em direção a ela, e então, deparei-me com a cena. Miranda sentada no chão com os braços em frente do rosto, e o cão a um ou dois metros, rugindo para ela. Eu ainda estava muito, muito longe deles, e achei que não tivesse mais tempo para me aproximar. Puxei o arco das costas, preparei uma flecha, rezando para todos os deuses de que ela me beneficiasse. Receei por alguns segundos de que a vida de Miranda fosse se esvair por minha culpa, mas então aconteceu.

Disparei a flecha, e a ponte de bronze celestial da mesma começou a reluzir enquanto cortava o vento, deixando uma onda de calor por onde passava, e iluminando a trajetória. Quando cravou-se no pescoço do cão, a luz que emanava da mesma misturou-se com a explosão de poeira proveniente do mesmo, enquanto o gemido de dor do animal que há pouco havia sido destruído ecoava.

Corri na direção dela. Em sua frente, uma pulseira feita de ossos em formato de presas.

“Você... Você está bem?”, disse pra ela, abaixando-me em sua frente. Entreguei uma das mãos a ela, e a ajudei a se levantar.

“Você... Matou-o. Você matou-o”.

Miranda recolheu o artefato e me entregou-o; ela sorria para mim. Não por ter perdido, é claro, mas provavelmente, por ter sua vida salva. Por mim.

“Acho que sua iniciação vai ser adiada, Rick”, e deu um soco em meu peito.

Corremos em direção a Jake, e apoiamos seus braços em nossos pescoços. Como sempre, a proximidade devia ter deixado Mirando constrangida. Ou sua face indicava isso.

“Sabe o que isso significa, digo, você ter me ajudado com o ferimento, e você ter disparado aquela flecha? Quero dizer, eu vi tudo, e, bem... Certo, é apenas uma suposição”, dizia Jake, entusiasmado.

Carregamo-lo em silêncio até a Casa Grande, pois tanto ele quanto ela pareciam estar pensando em alguma coisa importante.

“Richael, conseguiu domar a caça, e o chalé de Hermes...”, anunciava Quíron, interrompido então por Jake.

“Espere, Quíron, você deveria ter visto, a flecha dele reluziu, e matou Ortros a metros de distância. Meu ferimento, veja – apontou para seu tornozelo que havia parado de sangrar, eu estaria morto, mas Rick me curou de alguma forma. Não acha que ele...”.

De repente, todos calaram-se e olharam para cima de minha cabeça. Algo brilhante reluzia lá, algo brilhante e quente.

Após os segundos de choque, olhei na mesma direção, e pude ver a imagem de uma lira dourada desaparecendo.

“E está confirmado: Richael Disoilet, filho de Apolo, deus do Sol, da arte e da profecia”. Todos os presentes aplaudiram. Eu somente olhei-os confuso.

Então, um dos garotos do chalé de Hermes que eu sempre via lutando com outros usando sua típica espada de madeira gritou.

“Espere, quem ganhou foi Hermes ou Apolo?”.

Após isso, uma série de vozes berrou dos filhos de ambos os deuses.

Eu seria motivo de discussão entre os chalés do deus dos ladrões e do deus do sol.


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