Simplesmente não podia acreditar nisso.

Minha menina, minha princesa, minha garota, minha melhor amiga, minha maior inimiga, minha idiota, minha garotinha, minha princesa, minha skatista encubada, minha jogadora de tênis favorita, minha futura namorada e a garota que eu sou apaixonado desde não sei quando está namorando um idiota.

Simplesmente esperava algo mais da Gardner do que um relacionamento sério com um filho de Apolo com pouca ideia na cabeça e sérios problemas mentais.

Não sei exatamente o que ela está pensando nesse relacionamento, porque eu sou um cara muito melhor que ele. Eu sei tudo o que ela gosta, como irritar ela com apenas poucas coisas, como ela gosta de ser beijada e mais algumas coisinha de importância fundamental.

E, bem, ela conheceu ele há quanto tempo mesmo? Uma semana? Que merda essa estúpido pode saber dela? E por que ela escolheu ele, ao invés de mim, uma pessoa que realmente gosta dela e faria de tudo para dá-la o melhor “felizes para sempre” do mundo?

Tudo bem que eu não tenho demonstrado muito interesse nesses últimos tempos, mas você realmente acha que eu me disporia à colocar chocolates no teto de qualquer uma?! Tudo o que eu faço, ou fiz, foi por puro interesse, e uma pequena dose de vontade de fazer com que ela realmente ficasse brava.

Cara, só eu sei como ela fica gata quando está nervosa.

Olhei para o lado e vi ela andando de mãos dadas com ele, bem no meio do Acampamento, como se Eros estivesse querendo me matar, ou mesmo me fazer virar um criminoso e torcer aquele pescoço fino de galinha daquele filho de Apolo.

— Perdeu, playboy. Ela já tem conteúdo melhor.

Já disse o tanto que a minha irmã é insuportável? Com os seus cabelos cor areia, suas pele pálida, olhos mel e a baixa estatura, mal dá pra imaginar que, no fundo, aquilo é uma praga rogada contra mim pelo o meu próprio pai.

Virei o meu corpo para o seu lado e a encontrei sentada em uma pedra alta, fazendo com que suas pernas ficassem no nível dos meus ombros, lendo algum livro de poemas com outro de crônicas na mão. Quem vê até pensa que é nerd, e não a menina mais zueira que eu tive o desprazer de conhecer.

— Vai encher o saco de outro, Kayt.

— Você vai mesmo deixar aquele perdedor te superar? Cara, eu achei que você fosse mais... machão. Vai lá e defende o que é seu, estúpido.

E assim, deixando apenas uma frase filosófica, foi embora. Idiota, narcisista, retardada, filha de Hera, mas, pelo jeito, minha irmãzinha de treze anos sabe muito bem como dar bons conselhos.

Mas como eu, Travis Stoll, o maior zoeiro de todo o acampamento ia mostrar para Katie que eu realmente valia a pena?

Fui para o meu quarto com isso na cabeça. Obviamente eu era mais bonito do que Michael Yew, mas é bem óbvio o ódio intendo de Katie Gardner por mim, um cara que merecia todo o amor mundial por causa da sua beleza inigualável.

E agora, como eu vou demonstrar que eu sou bem melhor do que ele pra ela?

— Ela é especial, né?

Tudo bem, hoje é o dia de todos os infelizes do acampamento saírem do fundo do Mundo Inferior só pra me encher o saco, né? Prlo amor de santo Zeus! O que Hades Will Solace, o irmão do meu maior inimigo nesse momento, está fazendo puxando assunto comigo.

— A Gardner? Olha, eu não quero falar com você nesse momento, porque eu não estou com humor nenhum pra iniciar um diálogo com vocês, filhos de Apolo infelizes que adoram desgraçar com a minha vida.

— Calma, cara. Sua irmã me contou. Ela é legal. Talvez não seja a melhor oportunidade pra isso agora, mas eu acho que tenho uma queda por ela.

— Legal. Mas você acertou quando disse que não era a melhor hora, porque isso não é nem de longe. Seu irmão roubou a única menina, fora a minha mãe, que eu já amei na vida, e agora você quer roubar a minha outra garotinha?! Vai a merda, Solace.

— Não tem como roubar uma coisa pregada no chão e fazer com que ela continue tendo o mesmo valor.

— O que?

— Desculpa, cara. Falei até demais.

E assim ele se foi, me deixando mais confuso do que quando saiu.

Pelo o que eu entendi, a filha de Hera da Kaitlin, vulgo Kayt, mandou-o falar isso pra mim, apenas com a intenção de me encher o saco e me deixar mais nervoso do que estava antes, se é que isso é possível.

Idiota, idiota. Eu odeio a filha de Hera da minha irmã!

Corri para o chalé de Apolo, onde encontrei novamente o menino loiro, com os seus olhos claros focados em um alvo, onde o mesmo acertou com uma precisão inigualável.

— O que eu tenho que fazer?

— Sabe, eu não concordo com esse relacionamento do meu irmão com a Katie. Todos sabemos o que realmente está acontecendo. Queria poder te falar do que ela ia gostar, mas acho que você sabe isso mais que ninguém. — deu uma piscadela e foi embora.

Eu entendi! Quer dizer, não que eu seja uma toupeira humana, mas é bem gratificante entender algo desse nível, como um enigma ou algo do tipo, sabe? Essas coisas de nerds que adoram complicar a sua vida.

É isso, eu tenho que provar pra minha garota, minha princesa e toda aquela baboseira que eu pensei, que eu sou a pessoa que mais conhece ela no mundo! Incrível e lindamente. Como eu não pensei nisso antes?! Cara, eu não acredito que essa ideia genial veio daquela toupeira humana com codinome Will Solace.

Precisava urgentemente mostrar para Kitty tudo o que eu sabia sobre ela, nem que isso fosse me custar toda a minha sanidade e paciência.

Eu a amo demais e posso aguentar um pouquinho de pressão por causa do pouco tempo, não é? Ela vale todo o esforço, não é?

Peguei suas flores favoritas, peguei alguns dos seus chocolates favoritos e os coloquei em uma caixa, peguei a minha blusa de frio que as vezes ela usava, quando as suas roupas ainda não tinham sido lavadas e fui para os Campos de Morango.

E foi aí que eu tive a pior decisão da minha vida.

Eu esqueci que, não importa o que eu faça, ela ainda não é minha. Não. Ela é de Will Solace, um cara bem mais gentil do que eu. Um cara mais sensível do que eu. O príncipe encantado pra minha princesa dos contos de fada.

E eles se beijavam como se ambos fossem um. Ela parecia estar feliz e aproveitando, coisa que ela não faria se fosse eu, por mais que eu fosse tentar dar o meu melhor. Não importa o quanto as meninas falem que eu beijo bem, nada é comparado ao que deve ser o beijo da Katie.

Mas foi só quando ela abriu os olhos e me viu que eu saí correndo. Não notei que chorava, mas isso parece não ter atrapalhado na minha volta, pois havia decidido largar as coisas por lá mesmo, para ela saber que eu a amo, pelo menos. Ela merece saber disso.

Entrei pro meu quarto e chorei.

Apenas chorei, sozinho, como se não houvesse amanhã.

Meu corpo dava fortes espasmos, e eu provavelmente gritava. Ninguém me ouvia, por causa que os chalés tem proteção sonora, então eu não me importei de gritar, chorar e soluçar.

Não chorava assim desde que quebrei as costelas, uma por uma. No entanto essa dor não tinha nem comparação. Era mais intensa e cortante, como se algo perfurasse cada poro do meu corpo.

E foi assim que eu dormi, com as lágrimas encharcando toda a minha roupa, e minha boca com um gosto salgado.

***

Acordei e senti algo se movimentando na cama.

Aposto que começou a chover e as minhas irmãs mais novas resolveram dormir junto comigo, como é típico entre nós, filhos de Hermes.

Por mais que a minha depressão ainda fosse intensa, não podia negar isso pra uma menininha de sete anos. Não sou tão mal assim, de fato.

Quando enlacei meus braços na sua cintura e ajeitei o meu pescoço, pude sentir o meu próprio cheiro misturado com uma fragrância feminina que eu já tinha me acostumado.

Não pode ser verdade.

Olhei para baixo e vi a cena mais linda da minha vida.

Deitada junto comigo estava Katie Gardner, com meu moletom azul, enrolada junto comigo nas minhas cobertas e com os cabelos lindamente bagunçados, de forma com que nem uma cabelereira do Oscar conseguiria deixar melhor.

— Kitty? — sussurrei.

Não esperava que ela abrisse os olhos, mas ela o fez. De repente o medo me invadiu. Vai que ela era sonambula ou sei lá, e veio pra cá dormindo? Ela podia estar com o Will antes de vir!

Mas de repente todo o meu medo se esvaeceu, quando os lábios finos da minha princesa tocaram os meus em um gesto terno, no qual eu vinha sonhando por muito tempo.

— Hey, Trav. Bom dia.

— São... — olhei no meu despertador do lado da cama. — cinco da tarde. Boa tarde pra você também, Kit-Kat. O que está...

— Desculpa de verdade, Trav! É que eu vi você lá e pensei que você gostasse de mim, mas eu entendo se tiver entendido errado. É que eu meio que estou afim de você, e me declaro solteira desde que terminei agorinha com o Will... — corou.

— Sabe, você estava errada. Eu te amo, mas como amigo, sabe. Quando a gente namora, não pode brincar na frente do outro pra ser taxado de infantil. E, bem, eu não quero que você me ache infantil. Então, por isso, eu acho melhor continuarmos amigos.

— Okay, eu não entendi nada, mas entendo... — falou olhando pro chão.

— Vamos fazer uma brincadeirinha, Kitty?

Ela arqueou as sobrancelhas e me olhou como se eu fosse um completo louco.

— Brincar? De que?

— É assim... —deitei-a novamente na cama e sussurrei em seu ouvido. — eu e você acabamos de ter um dia muito conturbado. — beijei seu ombro. — Éramos namorados... — beijei a curva do seu pescoço — e resolvemos ficar o dia inteiro na cama. — beijei seus lábios com urgência.

— É, acho que não me importo de brincar um pouco com você, Trav.