Emma desligou o chuveiro, se enrolou na toalha e caminhou até a bancada. Sorriu para o espelho como não fazia a muito tempo. Aplicou rimel, perfume, vestiu-se. Ao tocar na maçaneta da porta, teve medo de que fosse um sonho, de que acordaria em seu apartamento. Mas ao abrir a porta veio o alívio. Regina ainda estava lá, dormindo. Ela se aproximou da enorme cama de casal e sentou-se admirando sua amante. O lindo rosto branco iluminado pelo sol da manhã, os seios perfeitos descobertos devido ao calor. Emma teve vontade de tocá-los, mas não quis arriscar acordar a rainha; depois uma noite tão intensa o descanso era merecido.

Emma estava tão feliz, era difícil não pontuar cada frase com 'eu te amo'. Depois de tanto tempo a rainha estava de volta sua vida. O ar estava mais leve, seu corpo estava mais forte, era mais fácil sair da cama, e cada dia era mais tranquilo. Mas esse lugar não lhe pertencia mais. A xerife olhou através da vidraça a realidade embaçada lá fora. A bolha em que estava logo estouraria. Era apenas um último desejo da salvadora.

Depois que Hook apareceu em sua porta alguns dias atrás, ela começou a se lembrar. As mesmas lembranças que traziam um sorriso á seus lábios, logo o desfaziam, pois eram apenas isso, lembranças. Emma nunca mais veria sua rainha.

Pela dor ou pelo amor, Emma observou sua mágica despertar novamente. Por vezes ela acendeu e apagou velas, o fogão, queimou papéis... se perguntando se era melhor se agarrar as lembranças de Regina, como ela lhe ajudou a esculpir a habilidade, e muito mais... ou parar de usar a mágica e se esquecer completamente. Mas Emma teve medo de se perder novamente, de que esquecer Regina a faria esquecer de si mesma. A mágica era parte dela. E Regina era parte da mágica.

Numa das vezes em que acordou no meio da noite com as lembranças da rainha, Emma cobriu os olhos com as mãos e desejou ver sua rainha mais uma vez. Cores dançavam dentro de sua mente, e ela viu pela primeira vez o quarto de Regina no castelo. Reconheceu os cabelos negros esparramados pela cama, contrastando a pele branca do corpo nu de sua amada. E ao lado, Regina tinha um amante tatuado.

Emma não quis ver mais. A identidade do tatuado era irrelevante, não havia sentido em se torturar. Qualquer amante de Regina que não fosse Emma, machucaria do mesmo jeito. Regina estava feliz, e Emma não tinha o direito de interferir. Não era certo trocar uma miséria por outra, usar seu amor para machucar outra pessoa. Não era assim que Emma queria Regina.

Emma cobriu os olhos com mais força, e desejou ter sua rainha de volta. As cores dançaram novamente, e formaram o antigo quarto da prefeita. E sua rainha estava ali, ao seu lado, na cama. Com o sorriso mais lindo no rosto, tocando-a novamente. Aceitando seu amor.

Emma deixou-se absorver por aqueles olhos, aquele perfume... não houve espaço para lembranças tristes. Emma estava de volta à vida que tanto lhe fazia falta e aproveitaria cada segundo que pudesse.

Agora, de pé, olhando a realidade embaçada lá fora, Emma observava o mundo perfeito ao seu redor se esvaindo conforme o efeito da mágica passava. Escorrendo de volta para sua realidade.