Era culpa dela. Tudo era culpa dela.

Aquela criança. É quase como se ele tivesse nascido para matar.

Ele tinha sete anos na primeira vez que ela ouviu aquilo. Ela tinha ido ao hospital para visitar uma amiga no dia que seu filho tinha retornado da primeira missão dele.

Você deveria ter visto. Nós estávamos todos rodeados, e eu sabia que iríamos morrer, quando de repente o garoto só fez alguns selos de mão e rapidamente jogou uma kunai no pescoço do inimigo. Seus parceiros ficaram tão surpresos em ver que era um garotinho que nem perceberam o shuriken direcionado a eles. Dois deles caíram derrotados. Eu juro, se ele não tivesse lá, nós provavelmente estaríamos mortos. Mortos, ouviu? Aquele Uchiha Itachi sem dúvida é um prodígio.

Ela derrubou as flores, que estava trazendo, quando ouviu o nome do seu filho mencionado. Ela afundou-se no chão, enquanto aquelas palavras ecoavam na sua mente, sua criança, sua amada criança, nasceu para matar.

Mês após mês, anos após anos, era a mesma coisa depois de cada missão. Mais e mais shinobis estavam pasmados pelas habilidades de matar do seu filho. Primeiramente, era apenas os companheiros dele de missão que falavam entre eles, depois, eram suas esposas e mães que a paravam na rua para dar suas gratidões pelo seu filho ter salvado os seus amados. Ela não podia negar que o seu filho; aquele quem já teve medo da sua própria sombra, a criança que se agarrava a ela quando tinha pesadelos, a criança que corria de borboletas, era agora um assassino sangue-frio. Assassino que mata em nome da sua vila e para proteger seus companheiros, mas um assassino de qualquer jeito.

Era culpa dela. Ela estava no seu apogeu quando grávida do seu primeiro filho. Raramente aceitava missões depois de ter se casado com o chefe do Clã Uchiha, mas ela estava fisicamente ótima para isso. Ela treinava com seu marido duas vezes por dia e gastava seu intervalo ensinando taijutsu na academia. Ela continuou treinando durante a gravidez, mas amor de mãe sensibilizou-a. Em vez de treinar, ela enfocou-se no seu marido e filho. Quando ela engravidou pela segunda vez, ela já não era mais aquela shinobi forte e cheia de energia. Ela raramente tinha energia para cuidar do seu filho e passou a maioria do tempo dormindo ou doente. Ela passou as ultimas seis semanas na cama antes de dar à luz ao seu segundo filho.

Ao contrario do irmão, Sasuke era uma criança bem demandante. Ele raramente dormia e geralmente chorava sem nenhum motivo. Sempre que ela achava tempo pra ficar com Itachi, ela era logo levada pelos choros de Sasuke. Ela sentia-se culpada e aliviada cada vez que seu filho dizia, “Tudo bem mãe, eu sei que ele é pequeno e não pode fazer tudo sozinho. Eu sou um garoto grande. Eu posso me cuidar.” Se ao menos ela tivesse sido forte o suficiente para criar e proteger ambos os filhos ao mesmo tempo.

Quanto mais tempo ela passava com Sasuke, mais tempo seu marido passava com Itachi. Ele logo notou aquelas coisas que ela esperava manter escondidas por mais tempo. A criança tinha uma mira excepcional, as bolas que ele jogava para derrubar latinhas foram logo substituídas por kunais e shurikens. Sua capacidade de pensar e habilidade de perseguição, por exemplo, não se limitavam mais em brincadeiras de esconce-esconde e caçadas, mas expandiu-se em perseguir e caçar o inimigo. Sua habilidade de imitar as ações dela e a dos outros ao redor dele, foram usadas para desenvolver o Sharingan escondido atrás dos seus inocentes e infantis olhos. A cada dia, ela notou que aquela luz dentro dele diminuía, enquanto mais da sua infância era tirada dele. Ele não corria mais para agarrar-se nela ou, ao menos, correr até ela quando ele se feria. Agora, ele corria até seu pai.

Era raro, mas, algumas vezes, sua posição defensiva desaparecia e ele permitia a sua verdadeira idade transparecer. Como quando ele sentou assombrado com os fogos de artifícios do festival, ou quando ele pulou com o som do trovão ou quando ele checava pra ver se nenhum monstro estava na água antes tomar seu banho. Na maioria das vezes era quando ele brincava com Sasuke. Ele gostava de fingir que era tudo pelo seu irmão, mas ela sabia que ele gostava de brinquedos que faziam barulho e acendiam, assim como seu filho pequeno. Ela fingia não perceber quando ele pegava alguns brinquedos pro seu quarto e apenas culpava Sasuke quando seu marido os achava. Ela tinha até mesmo escondido alguns deles no quarto de Itachi, enquanto este estava em missão, para que ele os achasse quando retornasse. Ele nunca disse nada sobre as ações dela.

Quando ele tinha 11 anos, eles tiveram uma conversa que ela nunca vai esquecer. Seu marido estava numa missão e Sasuke estava dormindo. Eram apenas os dois na varanda apreciando a brisa noturna, quando uma estrela cadente caiu. Ela fechou os olhos e, quando ela os abriu, ele estava olhando pra ela. “Você fez um pedido?”

Ela acenou positivamente “Eu gostaria de ser mais forte. Eu quero ser sempre forte pra proteger você e Sasuke e me certificar que vocês dois estão felizes. Eu quero ser forte o suficiente para preservar o que restou da sua infância e proteger a de Sasuke. Eu gostaria de ter sido forte o suficiente para manter você ao meu lado por mais tempo. Eu sei que você tem que crescer, e eu não quero parar você, mas você já viu tanta ira e violência. Eu quero que você saiba que nem todos são desse jeito. O mundo não é todo assim. Você pode fazer o que quiser. Você não precisa ser um shinobi, você pode ser um cientista, um doutor, qualquer coisa. Você não precisa se limitar ao que os outros querem que você seja. Você não precisa gastar sua vida terminando a vida de outros. Eu gostaria de ser mais forte para que você perceba isso, para que toda essa vila percebesse isso.”

“Eu sei. Provavelmente, eu não serei um shinobi pra sempre; não sei o que eu quero fazer, mas, até lá, não tem problema se eu continuar assim para fazer todo mundo feliz.”

Quando acordou, na manhã seguinte, ela ainda estava na varanda. Os dois tinham conversado até ficarem adormecidos. Durante a noite, Sasuke tinha se juntado a eles. Isso era estranho, os três ali agarradinhos no assoalho de madeira da varanda, cada um dos seus preciosos bebês ao seu lado.

Já era dois anos depois, quando Itachi decidiu o que gostaria de fazer no futuro. Até lá, ele já tinha se oficializado como um forte candidato para ser o próximo Hokage, e as pessoas também já estavam pondo expectativas no seu irmão menor. A decisão dele de seguir outro rumo encontrou resistência e nunca ninguém fora da casa principal dos Uchihas soube. Ela ficou quieta, enquanto seu marido falava da sua desaprovação ao seu primeiro filho, dizendo-lhe para fazer o que quiser, pois Itachi não era seu único filho.

Mesmo agora, deitada na poça de sangue, ela não pode culpá-lo. Ela só pode se desculpar por ter falhado em protegê-lo. Ela havia se acostumado com a frase de que seu filho nasceu para matar. As palavras já não a surpreendiam, mas a dor ainda estava crua como a primeira vez que ela ouviu aquilo.

“Pare Sasuke. Não venha aqui!”

Sua vida tinha quase terminado quando a realidade de repente fez-lhe retomar um pouco os sentidos.

“Não venha aqui!”

Itachi não nasceu para matar.

“Eu te disse para não vir aqui!”

Ele nasceu para proteger. Ele achou uma maneira de fazer algo que ela foi incapaz de fazer. Ele tinha protegido o futuro de Sasuke das futuras exigências do Clã Uchiha. Ela tinha visto sem poder ajudar, como eles tinham tirado a sua infância e roubado o seu futuro e ela também viu, silenciosamente, como eles faziam planos de fazer o mesmo com o seu irmão.

“Odeie-me. Odeie-me com tudo que você tiver. Viva- ...”

Ela morreu com a visão de Itachi abraçando a sua barriga grávida. “Não se preocupe, mamãe. Eu vou protegê-lo, assim, ninguém poderá chateá-lo ou forçá-lo a fazer algo que ele não queira, como comer doces ou brincar na lama. Eu serei um bom irmão mais velho...  ”