Histórias De Monstros E Homens escrita por Larissa Megurine


Capítulo 2
O Rei e Coração de Leão - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Eu tava (ainda to) demorando muito pra terminar esse capítulo, então resolvi postar logo uma parte e quando eu terminar posto a continuação. Espero que gostem.



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Nina olhava pensativa pela janela. Abaixo dela, a cidade possuía apenas umas poucas casas que ainda estavam iluminadas, portanto a maior parte da iluminação vinha da luz azulada dos postes nas ruas. Ela bufou. "Como eles podem dormir tranquilamente, sabendo o que está acontecendo?", ela pensava. Todos já sabiam que sua entrada na guerra significava que em breve, muito em breve, seriam atacados.

– Eles deveriam se mostrar mais preocupados... - Ela disse para o rapaz sentado na cama. - Todos sabem que elas planejam tomar a cidade, mas ninguém perde seu sono por isso. Será que ninguém dá a mínima para o futuro do reino.

– Não há nada que eles possam fazer a respeito. - Ele respondeu calmo e, em seguida, soltou um suspiro. - Nem nós, por sinal. Já mandamos quase todos soldados para a batalha. Está feita a nossa contribuição.

– Exatamente! - Ele respondeu, exaltando-se e caminhando mais para perto dele. - Não estamos preparados para um ataque delas, nem temos uma defesa que garanta a sua segurança.

Ele desviou os olhos e, quando falou, não havia ânimo algum em sua voz.

– O que está sugerindo, Coração-de-Leão? - Ele fixou nela os olhos azuis. - Nós não vamos fugir, se é o que está pensando. Não vamos fugir.

– Não vamos fugir... - Ela concordou, mas, por sua expressão, não parecia convencida. - Apenas temo por sua segurança...

– Não posso abandonar meu povo! Darei um jeito de contornar esta situação. Pela manhã, posso pedir que convoquem mais funcionários e soldados...

"Eu já devia esperar... Ele sempre escolherá a ação mais nobre possível, a não ser que realmente não haja outra opção." Mas ela também havia feito uma promessa ao pai do amigo que o protegeria. Isso fora um ano atrás, logo antes de o rei morrer... Mais tarde, quando a crise começou e a rainha teve que ir a um outro reino, Nina fez a mesma promessa a ela. A viúva provavelmente estava bem mais segura lá do que todos eles, então seria tolice preocupar-se com ela.

De qualquer modo, deixar a coroa para um rapaz que mal completara dezoito anos, durante uma crise que acabou por virar uma guerra entre espécies... Não foi exatamente a melhor das ideias.

Nina nunca contara ao rapaz a promessa que fizera a seus pais, mas sentia que ele sabia de tudo, inconscientemente.

Ela voltou a olhar pela janela e notou que a neve começara a cair, mostrando a todos que ainda não o sabiam que o inverno chegara. Isso quase a fez sorrir. O inverno na Landísia era realmente lindo e não tão severo quanto parecia. Mas uma agitação no pátio, lá embaixo, se fez perceber. Um enorme dirigível encontrava-se no centro e uma dúzia de pessoas corriam em direção a ele. Eles pareciam querer ser discretos, mas isso praticamente impossível, visto que corriam em direção àquela nave, no meio da noite. Nina conseguiu identificar, à frente do grupo, o ministro de guerra, que era um homem bastante corpulento e cuja barba nunca estava completamente feita, e o conselheiro real, com seus cabelos compridos e escuros presos num rabo de cavalo.

A garota gritou seus nomes e abanou os braços, mas não houve resposta da parte deles. Pelo contrário, ao vê-la, eles se apressaram em entrar logo no dirigível. O ministro acenava para as pessoas que o seguiam, indicando para irem mais rápido e todos ignoravam a moça que os olhava da janela, apesar de a terem visto.

– ... Estão nos traindo. - Ela disse, de repente, e virou-se para o rapaz, com um sorriso sarcástico no rosto. - Parece-me que Vossa Majestade é o único aqui que ainda tem intenções nobres.

Ele se levantou com um sobressalto e correu para a janela onde ela estava, tomando sua frente e olhando para as pessoas no pátio.

– Senhores! - Ele gritou com toda a força de seus pulmões. - Não entrem nesse dirigível! Eu, o rei, os proíbo de fazerem isso!

Nina nunca o tinha visto dessa forma. As palavras estavam repletas de raiva, mas isso era uma mera fachada. Ela podia ver o medo tomando conta de sua expressão. Medo por seu povo. Medo de ser deixado ali, sozinho e impotente. Ele continuava a gritar ordens, dizendo a eles que, se fugissem agora, nunca mais seriam aceitos de volta no reino.

– Vocês serão para sempre traidores de Landísia! A próxima vez que pisarem aqui, receberão prisão perpétua ou coisa pior! - O jovem rei gritava, tentando não parecer apavorado, mas sua voz já começava a falhar.

A seu lado, Nina via que os esforços dele não tinham nenhum resultado e que o dirigível já levantava vôo, fazendo muito barulho e tornando impossível que qualquer um que não ela escutasse as palavras do rapaz. Ele também percebeu isso, mas continuou a fazer sinais com as mãos para que os que dirigiam a nave pousassem. Novamente, sem sucesso. O pânico por fim tomou conta da expressão dele. O garoto se encostou na parede e deixou seu corpo deslizar até o chão. Nina se sentou ao seu lado e pôs a mão no ombro dele.

– Will... - Ela falou, conseguindo a atenção dele, ao chamá-lo pelo nome. Não é como se ela nunca tivesse feito isso, já que se conheciam desde que eram crianças, mas... Isso a fazia soar mais como uma amiga e menos como alguém que apenas o servia. - Eles não vão voltar... - "Palavras erradas...", pensou. Mas não havia um jeito gentil de falar isso... - Precisamos fazer alguma coisa... Sozinhos.

– Como eles puderam fazer isso, Coração-de-Leão? - Ele a olhou. Ela via que os olhos dele começavam a marejar e sabia que ele certamente não se orgulhava disso... - Todos eles... Por que nos deixaram logo agora? - Ele abraçou as pernas e seus olhos azuis estavam vidrados, olhando para a frente. Isso poderia fazê-lo parecer infantil, mas ela também podia sentir o desespero. O que eles podiam fazer agora? Certamente não podiam apenas sentar ali e lamentar... Mas como salvariam o reino de todo o exército de Zalejandra? - Será que ninguém liga mais para o que vai acontecer? Ninguém acredita que possamos vencer...

Ele levantou o olhar para ela de novo, mas Nina havia se levantado novamente e voltara a olhar através da janela.

– Veja! - Ela apontava para as montanhas nos limites da cidade. O rapaz se levantou e olhou na direção que ela indicava. Havia algo parecido com uma nuvem escura, quase rente ao solo, que se aproximava deles. - São elas...

Ele concordou e seus olhos se deviaram para o dirigível que já ia longe no céu. Antes que ele pudesse notar, Nina saiu apressada do quarto. Ela precisava continuar parecendo forte para ele... Mas, antes de tudo, precisava protegê-lo.

Nina irrompeu no quarto no fim do corredor. Em uma das camas, estava uma garota, que escrevia algo, distraída, em uma folha de carta. Ela era bastante parecida com Nina, porém era um pouco mais nova, sua pele era mais clara e seus cabelos eram compridos. Até quem não as conhecesse saberia que eram irmãs. Ela levantou o olhar para Nina, curiosa, enquanto esta ia em direção ao guarda-roupa e o abria.

– Olhe pela janela. - Nina disse à garota. - Elas vieram esta noite. Estamos sem defesas e sem plano algum...

A mais nova largou o que fazia e, após constatar que a outra estava certa, correu para ajudá-la. Enquanto entregava punha em duas bolsas grandes as roupas que Nina lhe entregava, ela perguntou:

– Então, o que pretende fazer? Digo, você sabe que ele não deixará o povo...

– ... A menos que seja você pedindo. - Elas se olharam. Nina estava certa. William nunca negaria um pedido feito por ela. - Não se preocupe, as pessoas vão ficar seguras em seus porões... E a essa altura, uma mensagem já deve ter sido mandada pedindo ajuda às espécies aliadas...

– Como pode saber? - A mais nova tornou a falar. - E se ninguém mais além de você estivesse observando a janela para saber do ataque?

Nina suspirou. Ela temia exatamente a mesma coisa.

– Nós não temos escolha. Em primeiro lugar, temos que protegê-lo!

– Nina, você não pode deixar que tudo se resuma aos seus sentimentos! - Nina congelou, ao ouvir essas palavras. - Isso não é só sobre o rei da Landísia, por mais que você insista nisso... Temos que fazer o que é melhor por todos eles, minha irmã.

Enquanto falava, ela estendeu o braço, indicando a cidade, o que atraiu o olhar da mais velha. Esta fechou os olhos, forçando-se a voltar a se concentrar no que fazia.

– A cidade será destruída. - Ela disse, por fim, como se relatasse algo que já era um fato. - Todos teremos que pedir refúgio em outro reino... Mas, esta noite, não teremos como garantir a segurança de ninguém. Já pensou no que acontecerá se o capturarem? Ficaremos impotentes! Mesmo que o exército volte a tempo, se elas o tiverem, não poderemos fazer nada.

– Malditos insetos... - A mais nova murmurou.

– ... Ou vai dizer que não quer viver o bastante para reencontrar Aaron e nosso irmão?

Ela se virou para encarar a irmã. "Ela sabe que estou certa, que não estamos em uma posição com muitas escolhas", Nina pensou, deixando a outra com uma expressão de quem foi vencida. Ela suspirou e pegou uma das bolsas, que à essa altura já estavam prontas.

Nina saiu na frente, voltando ao quarto do rei. Ela parou à porta e em poucos instantes a irmã se juntou a ela. William estava observando sua própria coroa, que estava em cima de um pedestal próximo à cama. Ao ouví-las se aproximando, ele se virou para as moças, fixando seu olhar na mais nova.

– ... Jolene... O quê... - Ele começou a perguntar, olhando para ela e, como já acontecera muitas vezes, fazendo Nina se sentir dispensável na cena.

– Não há tempo para conversas, Majestade. - A moça de cabelos longos respondeu, o interrompendo. - Temos que partir imediatamente. Não há nada mais que possamos fazer.

Ele pareceu decepcionado por um momento. Decerto não esperava que ela também concordasse que deveriam deixar o reino. Mas como ele poderia...

– Majestade, - Jolene voltou a falar - por favor...

"... Dizer não a ela?" Ele concordou com a cabeça e virou-se para pegar seus pertences mais importantes. Continuou com o anel real, que fora do pai, no dedo, mas era a única coisa que levava que remetia à sua posição. Ele correu os olhos uma última vez pelo quarto, numa despedida muda, demorando-se um pouco na coroa. Então foi ao encontro das irmãs, que o esperavam na entrada do quarto. Jolene sorriu para ele, e ele retribuiu. Nina também sorriu, mas seu sorriso era diferente... Tinha tristeza nele...

"Ora, Nina, não seja tola!", ela pensou consigo mesma. "Eu consegui o que queria, não é? Consegui manter minha palavra, pelo menos, até agora. Eu não vou deixá-lo. Vou defendê-lo com minha vida se for preciso, mesmo que ele não faça nada em troca. Afinal, ele é o rei. Eu sou apenas sua Coração-de-Leão."

Nina andava rápido, à frente dos outros dois. Eles desceram dois lances de escadas e seguiram por uma sequência de corredores que conheciam, mas que nunca teriam pensado em usar com este propósito. “Não é como se nunca tivéssemos fugido do palácio... Acho que fizemos isso umas duas ou três vezes, mas éramos crianças! E sempre voltávamos ao pôr-do-sol, mesmo quando não nos encontravam para chamar-nos de volta...”.

O corredor agora se abria para um dos lados, além de continuar para frente. Um guarda vigiava o local e ela sorriu ao reconhecê-lo. Ela foi ao encontro do homem, sabendo que ele era um dos mais antigos, e eficientes, do palácio.

– Capitão! – Nina cumprimentou-o, fazendo uma apressada reverência com a cabeça.

– Sim, senhorita?

– Temos problemas. – Ela respondeu, indo direto ao ponto. – O exército de Zalejandra está próximo. Provavelmente, agora já chegaram à entrada da cidade...

– De fato, chegaram. – Ele concordou em reposta. – Pudemos vê-las assim que passaram para o lado de cá das montanhas. Já providenciamos para que as espécies aliadas sejam informadas o mais rápido possível.

Nina sorriu.

– Sabia que podia contar com você, Kristian. – Ela tirou de um bolso na camisa uma bolsinha, que ela estendia para ele. O homem a pegou, um pouco receoso. – Infelizmente, não temos tempo suficiente para esperar respostas, e preciso garantir a segurança de sua majestade.

– Eu entendo... – O guarda murmurou, mas sua expressão mostrava que ele ainda não compreendia o objetivo da ruiva.

– Nós estamos partindo. A partir de agora, você está no comando.

Ele arregalou os olhos, surpreso. Então abriu a bolsa que Nina lhe entregara, encontrando-a lotada com moedas de ouro. Nem se ele fosse promovido a coronel receberia tanto dinheiro... Ele voltou a olhar para a ruiva, lisonjeado.

– Estamos muito agradecidos por seus serviços à família real e sabemos que fará todo o possível para defender a cidade. – Nina falou. – Ah, e, por gentileza, informe apenas quem realmente precisar a respeito da saída do rei.

Kristian levou alguns segundos para absorver tudo o que ela lhe dissera. Parecendo despertar, ele assentiu.

– Certamente, senhorita. – Ele respondeu, com uma continência, saindo, em seguida, na direção por onde eles tinham vindo. Nina se permitiu um sorriso. Isso lhe tirara pelo menos um dos pesos das costas.

William e Jolene já tinham passado por ela e chegado ao final do corredor, onde havia uma grande porta de madeira que dava para os fundos do palácio. Eles a esperavam e, assim que ela chegou lá, os três atravessaram para o lado de fora, encontrando-se ao lado do estábulo.

Nina logo começou a pôr os arreios em um cavalo negro, seu favorito, enquanto William e Jolene faziam o mesmo em um marrom claro e em um malhado. Os três se entreolharam e, com o jovem rei à frente, partiram. A moça mais velha podia ver, e ouvir, quando algumas pessoas que os viam reconheciam o soberano, confusas, e tentava simplesmente ignorar todos ou dizer-lhes que voltassem para suas casas. Alguns obedeciam. A maioria não.

Em poucos minutos, chegaram à fronteira da cidade. William olhou para trás e vacilou.

– ... E se os outros não vierem em auxílio? – Ele perguntou, como que para si mesmo.

– Vossa Majestade sabe que não podíamos fazer nada por eles. – Nina respondeu, chegando ao lado dele. - É a sua vida que está em jogo agora! Não pense que Zalejandra poderia lhe poupar. Ela nos poria em uma situação ainda pior se o pegassem.

Ele balançou a cabeça.

– Não vejo como posso ajudar, de qualquer modo.

– Seu tolo! – Agora era Jolene quem falava com ele. – Ainda há tempo de avisar sua mãe se formos agora. Além de podermos, nós mesmos, falar com os outros animais.

“Como ela consegue sempre achar as palavras certas?”, Nina pensou, sorrindo para a irmã mais nova. Depois disso, William reassumiu a dianteira e não olhou mais para trás.

Nenhum dos três soube quanto tempo se passou enquanto eles cavalgavam floresta adentro, até que os cavalos mostrassem que precisavam descansar. Poderiam ter sido só algumas horas, como devem ter sido, já que ainda era noite, mas pareceu muito mais que isso. As irmãs passaram a infância ouvindo histórias a respeito da floresta sem saber que, por mais fantásticas que fossem, eram verdadeiras. É claro que agora todos sabiam dos animais falantes, que escondiam-se dos olhares humanos, mas havia mais... “Se ao menos eu pudesse lembrar...”.

Eles pararam em uma pequena clareira e deitaram-se para dormir. Ali, no meio das matas, era bem frio, mas isso não era exatamente uma surpresa quando se passou a vida em um castelo quentinho. Nina adormeceu, ainda tentando se lembrar das histórias que ouvira quando criança, enquanto William olhava, apenas olhava Jolene, que já fechara os olhos.

Nina foi acordada por uma voz falando baixinho.

– Mas onde estão? Como posso encontra-los se mal enxergo? – Era a voz de Jolene. – Hã? Qual é o problema, por que não respondem?

A garota estava de pé, olhando aparentemente para nada. Mas, de qualquer forma, estava escuro demais para que se pudesse ver alguma coisa. Ela se virou e encontrou a irmã observando-a.

– Com quem está falando, Jo?

– Shhhhiii!!! Fique quieta. – Ela se virou novamente para a escuridão. – É só minha irmã, a Coração-de-Leão... Não precisam se preocupar.

Nina esperou alguma resposta. Não aconteceu nada, então perguntou:

– O que é isso? Está falando sozinha?

Jolene a olhou com uma expressão confusa. Nina se aproximou e viu que a irmã não olhava mais para ela. De novo. Ela concordou com a cabeça e então disse à mais velha:

– Disseram que não pode ouví-los... Mas isso é tolice, certo? – Ela revirou os olhos e sorriu. – As vozes deles são tão bonitas, você não acha?

– Jolene... – Nina a olhou, agora com a expressão séria. – Do que você está falando?

O rosto da irmã empalideceu e ela cobriu a boca com as mãos, abafando um gritinho de surpresa.

– Então é verdade? – Ela disse, com a voz triste.

Nina não sabia mais se a irmão falava com ela ou com.... O que quer que fosse que ela estava falando. Depois de alguns instantes em que a mais velha mantinha a expressão confusa no rosto e a outra pareceu escutar de novo as vozes, esta continuou:

– ... Eles dizem que só eu posso ouví-los, e por isso só eu devo ir...

Nina enfureceu-se. “Será que dá para ela parar de falar em enigmas?”.

– Jolene! Quem?

– As vozes! – Ela gritou também. – As vozes da floresta! Elas estão por toda parte e não me deixaram dormir. Não se lembra das histórias? Nina, é tudo verdade! E estão pedindo ajuda!

– Se não se lembra, somos nós que precisamos de ajuda!

– Mas é importante! Ouça, você e Will devem pegar um navio e tentar chegar à mãe dele. Avisem-na que o reino foi atacado e que, se enviarem ajuda, poderão salvar ainda quase toda a população.

Nina olhou para o rapaz, que ainda dormia. Ele tinha sorte de não ter o sono leve... Mas rapidamente se virou para a mais nova.

– Espere! Só nós dois? E você?

Jolene parecia sentir-se culpada, mas logo respondeu, decidida:

– Eu vou ajudar a parar a guerra definitivamente. – Nina a olhou, pensando que ela enlouquecera. – Eu sei, eu sei, parece loucura, mas acredite, ficarei bem. Elas dizem que encontrarei quem possa me ajudar e que serei fundamental... Não sei o que querem dizer... É como se tudo o que falassem fosse em forma de poesia, é um pouco difícil de entender...

– Você não pode sair andando sozinha na floresta! – Nina gritou. – Eu não vou deixar!

– Eu não sou mais criança! – A outra falou, alterando-se também, mas de alguma forma, conseguindo não elevar tanto o volume da voz. – Não pode me prender aqui.

– Mas isso é uma completa... Insanidade! Entenda, estamos no meio de uma guerra. E você quer ir em direção ao nada?! – Nina apontou para a escuridão atrás dela. – É muito perigoso.

– Preciso fazer isso! – Jolene respondeu, seus olhos repletos d uma seriedade nunca antes vista. – Não pode me impedir.

A mais velha ouviu as palavras com um choque. Nunca esperou que Jolene pudesse fazer isso com ela... Lágrimas começaram a chegar aos seus olhos, mas ela tentou ignorá-las.

– Você vai nos deixar? – Perguntou. – Digo... De verdade? O... O que vamos fazer? E o Will? Sabe como você é importante para ele. Vai mesmo deixá-lo assim?

Jolene olhou-a, triste, e então fechou os olhos, respirou fundo e lembrou:

– Eu já disse o que devem fazer. Precisa ser assim.

– Você é minha irmã! Como pode fazer isso? Nem sei se ainda verei Arnold outra vez e agora também tenho que perder você?

A mais nova não disse nada. Não havia nada para ser dito. Nina limpou as lágrimas, mas, quando sua voz saiu, ainda estava cheia de dor.

– William não aceitará continuar o caminho comigo, sabendo que você desapareceu. Ele... Ele vai me deixar também. Ou vai voltar para o reino e ser morto...

– Isso não vai acontecer! – Jolene exclamou, segurando a mão de Nina. – Ele vai ficar com você e tudo dará certo. – Ela inclinou a cabeça, provavelmente para ouvir melhor o que as vozes lhe diziam. Ela sorriu. – Você fala dos sentimentos dele, mas não os compreende por completo... Assim como ele ainda também não os compreende.

Ela ficou na ponta dos pés e beijou a cabeça da irmã mais velha.

– Eu sempre pensarei em você. Você é minha melhor amiga, irmã querida. – Ela a abraçou.

Por mais que não quisessem admitir, aquele seria o último abraço das duas. Seus últimos minutos, depois de uma vida inteira juntas. Nina sentia o coração se partir e forçava-se a acreditar que as tais vozes diziam mesmo a verdade. Tudo ficaria bem. Ela deixou uma lágrima escorrer.

– Não conte ao Will que me viu partir. – Jolene falou quando elas se afastaram do abraço. – Ele dirá que você deveria ter me impedido... E que eu deveria ter falado com ele... – As duas olharam para o corpo adormecido do rapaz. - ... Mas isso apenas tornaria tudo mais difícil.

– Eu... Entendo.

– Boa noite, Coração-de-Leão. – Ela disse, com um sorriso triste. – Nos encontraremos de novo...

Nina sorriu.

– É claro. Boa noite, minha irmã.

Com isso, Jolene virou-se e entrou na escuridão. Nina não a viu mais, nem tampouco escutou qualquer ruído das vozes da floresta que tiraram dela sua irmã. Lentamente, a ruiva voltou para o lugar onde antes se deitara e tentou voltar a dormir.


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