– D-Droga... Droga... EU NÃO QUERO MORRER! SOUEN, EU NÃO QUERO MORRER! FAÇA O QUE TEM DE FAZER!

Após estas palavras desesperadas a mente de Ryuugamine foi tomada por um clarão luminoso, ele não viu mais nada. Era como se ele estivesse dormindo durante todo aquele tempo em que Souen usou o corpo do rapaz para enfrentar Haizaki. Quando Ryuugamine finalmente despertou, podia sentir seu corpo cheio de intensas dores, principalmente o seu braço esquerdo, externamente parecia sem qualquer dano, porém internamente, deveria estar bem danificado após o combate de Souen. Ryuu ajeitou-se na cama, ficando sentado na mesma. Ele então, olhou ao seu redor, o local em que estava era seu quarto aparentemente.

Repentinamente Ryuu sentiu uma forte dor de cabeça, levando ambas as mãos até a mesma e deitando-se novamente, com uma expressão agonizante. Clarões vinham a sua mente novamente, seguido deles, várias imagens. Um homem de olhos azuis com seu rosto manchado em sangue. Esqueletos com armaduras tradicionais de samurais, semelhantes as que viu na casa fantasma, espalhados pelo chão. Haizaki, tendo o peito perfurado por uma espada. Um homem com olhos de besta e uma face totalmente encharcada em sangue. Novamente a mente de Ryuu apagou.

– Oe, garoto! – Era o som que Ryuu ouvia após recobrar parte dos seus sentidos. Uma voz grave, masculina. – Oe, Ryuu! – Novamente a mesma voz o chamava e então, Ryuu aos poucos abria os olhos, deparando-se com a imagem do espírito de Souen.

– S-Souen... ? – O garoto ainda sentia-se lerdo, novamente levantou-se da cama, agora, saindo da mesma e ficando em pé. Notou ao olhar para baixo que tudo que vestia naquele momento, era uma cueca samba canção com estampa de patinhos. Naquele momento Ryuu ficou com sue rosto vermelho como um tomate ao notar que estava vestindo apenas aquilo e então, rapidamente tratou de vestir seu uniforme de escola. – Droga, podia ter me avisado que eu não estava vestindo nada, Souen!

– Áh, desculpa. Eu achei engraçado esse tipo de roupa, na minha época vestíamos coisas diferentes, era bem mais másculo. – Naquele momento, Souen recordou-se dos “fraldões” que costumavam usar. Ryuu acabou deixando uma risada de deboche escapar ao mentalizar aquilo o que deixou Souen claramente aborrecido. – O-Oe! Respeite os mais velhos, seu pirralho mal educado!

– Hahaha! Foi mal, foi mal, é que imaginar algo assim, me fez perceber que minhas cuecas são até aceitáveis. – Dizia Ryuu, logo recompondo-se e então, sentando-se em uma cadeira preta semelhantes as utilizadas em escritórios. Era a que utilizava para usa o computador, tanto é que esta ficava em frente a mesa de seu computador. O rapaz então girou-se na cadeira até ficar cara a cara com Souen. A expressão de Ryuugamine ficava séria e ele olhava Souen olho no olho... Uma reação que foi diferente de como Ryuu costumava agir, geralmente, após ver o que viu, ele deveria estar em pânico. - Precisamos ter uma conversa séria agora... – Dizia o garoto, deixando sua seriedade clara em seu tom de voz também.

O olhar de Souen também ficou sério. Ele então fechou os olhos e suspirou, abrindo-os novamente e então cruzando os braços. – Então, aconteceu mesmo. Uma vez que você me da a permissão e que nós utilizamos a possessão, suas memórias passam a ser compartilhadas comigo e vice-versa. Provavelmente você deve ter visto várias coisas horríveis, não é? – Indagou Souen a Ryuu, olhando fixamente nos olhos.

– Sim... Mas ao invés de sentir raiva ou medo de você... Eu senti um pouco de pena, todas as coisas horríveis que você teve de ver. Mesmo assim, eu não vi tudo, muito menos consegui entender todas aquelas coisas... Foram poucas imagens, ainda tem coisas que estão confusas, quero que você me conte sobre a sua história, sobre o seu passado. – Dizia Ryuu enquanto mantinha seu olhar fixo aos olhos de Souen. Parecia determinado e disposto a descobrir mais sobre o passado de Souen.

– Pena é...? – Souen esboçou um sorriso de canto naquele momento e então sentou-se no ar, ficando a flutuar, era um espírito afinal. Ainda com seus braços cruzados, Souen fechou seus olhos e então começou a recordar daquelas memórias em um passado distante. – Acho que tudo começou quando eu ainda era uma criança, eu deveria ter apenas dez anos de idade. Eu era filho do líder do clã Kasagima, meu pai foi assassinado pelo líder do nosso principal rival, o clã Kusanagi. Na época, ambos os lideres dos dois clãs haviam estabelecido um tratado de paz, mas o líder dos Kusanagi rompeu isto ao assassinar meu pai e então o conflito entre ambos os clãs começou. Apenas com dez anos de idade, eu tive de me tornar um homem e carregar o peso de todo o meu clã em minhas costas agora que meu pai não estava mais lá... Era um grande fardo para alguém tão pequeno, mas eu não hesitei em aceitar essa enorme responsabilidade, pois assim deveria ser. Foi então que... Ah, Ryuugamine! Olhe as horas, você está atrasado para a escola! – De uma hora para a outra, o momento sério e de tensão estabelecido por ambos, assim como toda a seriedade na face dos mesmos... Simplesmente sumiam.

– Eh? M-Mas... E o seu passado!? Sua história?! Áh, droga! Eu tenho que me apressar, mas quando eu voltar você não te escapatória, Souen! Vai ter que me contar tudo! – Resmungava Ryuu, apressado. Rapidamente levantou-se e pegou sua mochila largada no chão, correndo em direção a porta do quarto e abrindo a mesma, saindo em disparada para fora de casa. Novamente deveria correr o mais rápido possível para chegar a escola antes do sinal bater.

– Ei, ei, espere por mim! – Dizia Souen, transformando-se em uma esfera luminosa e voando até o pulso de Ryuu, onde tornou-se novamente a pulseira vermelha.

Passado algum tempo, Ryuu conseguiu chegar a escola antes que o sinal batesse, ainda haviam alguns alunos do lado de fora jogando conversa fora. O mesmo então suspirou, aliviado. Soltou a mochila no chão por um momento e sentou-se ali mesmo, descansando. Uma gota de suor escorria pela testa de Ryuu, ainda não havia se acostumado a ter de correr tantos quarteirões assim. A calma de Ryuu no entanto durou pouco, quando ouviu um som de algo atingindo a chão próximo a si, o rapaz levou um sustou saltando do chão e ficando em pé no mesmo instante. Quando na direção do que ou de quem provocou aquilo, viu uma shinai cravada no concreto e uma bela garota de cabelos prateados segurando a mesma.

– Kasagima Ryuugamine... Você irá pagar por ontem. – Dizia Aya, parecendo realmente braba com o rapaz. O laço cinza ao redor do pescoço de Aya estava com uma pequena mancha negra em seu centro, Ryuu recordou-se por um breve momento que aquela mancha não estava lá.

– V-Você! A garota de ontem! – Dizia Ryuu assustado, dando alguns passos para trás, enquanto colocava os braços a frente do corpo, em uma tentativa claramente inútil de proteger-se, porém o rapaz ainda tinha certa esperança de que aquilo servisse para algo.

No momento em que aquela cena ocorreu, os estudantes que ainda estavam ali passaram a encarar os dois e então, começaram a fazer comentários entre si, do tipo: “- Eh... Essa garota é apaixonada por ele?”, “ – Eu acho que ela imita uma daquelas personagens de anime, como é o nome... Tsundere?”, “ Ho... Eu não sabia que a capitã do clube de kenjutsu era otaku e fazia cosplay!”. Naquele momento, uma veia saltou na testa de Aya, que então deu um chute em Ryuugamine, fazendo-o cair no chão e logo após gritou em alto e bom tom: - EU NÃO SOU OTAKU! – Logo após a mesma simplesmente sumiu do local, como um vulto.

Ryuu levantou-se do chão, levando a mão até o peito onde foi atingido pelo chute da garota... Um chute bem forte. – Caramba... Essa garota realmente se abala fácil. É pedir demais não ser perturbado por ela toda vez que vou ou volto da escola? – Resmungava Ryuu, quando algo que se iluminou em sua mente. – E-Espera... Alguém disse, Capitã do clube de Kenjutsu?! – Logo, Ryuu olhou para sua pulseira e então, falou com a mesma, baixinho, tentando ser discreto. – Ei, Souen. Isso significa que ela pode acabar comigo até... Até sem fazer aquela coisa, certo?!

– Com certeza, ela bateria tão forte em você que você começaria a chorar como uma menininha. – Disse Souen, sem dó nem piedade. Naquele momento, Ryuu sentiu uma facada em sua pouca auto-estima. – É por isso que eu acho que você deveria entrar para o clube de Kenjutsu, seria bom aprender.

– Eeeeeeeeh?! Entrar para o clube de Kenjutsu?! Impossível. Ela estaria lá e iria me fatiar! – Falava o garoto, sem conseguir parecer discreto. Já começara a atrair alguns olhares indiferentes para si, porém, Ryuu não havia notado-os ainda.

– Que nada, ela não faria nada com você na frente das outras pessoas, por mais que ela queira, ela ainda tem de manter as aparências assim como você, que não deveria estar conversando com sua pulseira em público, seu idiota! – Dizia Souen, um tanto aborrecido naquele momento. – Pare de falar comigo e vá logo para a sala de aula!

– T-Tá legal, tá legal! – Dizia Ryuu, pegando sua mochila do chão e assim prosseguindo para a sala de aula, no exato momento o sinal bateu. Algumas horas se passaram e após isto, Ryuugamine decidiu pegar um táxi para voltar para casa, queria evitar quaisquer problemas adicionais naquele dia.

Após desembarcar em frente a sua casa sem mais problemas, Ryuu foi para seu quarto, finalmente era chegado o momento de cobrar respostas de Souen, o momento em que iria descobrir sobre o passado de seu ancestral e sobre a história de seu clã!