A figura encapuzada revela sua face, ninguém mais ninguém menos do que Kirigakure Aya, tanto a lâmina de sua espada quando seus belos cabelos prateados eram iluminados pelo brilho do luar da noite que já havia chegado. A mesma agora estava armada apropriadamente, com uma lâmina de verdade. Ryuu estava distraído e assim, sequer notou a presença da garota novamente. Lentamente Aya erguia a katana, empunhando-a com ambas as mãos enquanto caminhava em direção a Ryuu com passos calmos e suaves, preparada para dar um golpe final no rapaz. Ambos encontravam-se em uma espécie de parque deserto, que era onde ia dar a saída do metro e onde também era ponto de ônibus. Naquele local não havia ninguém além de ambos, Ryuugamine e Aya.

Aya estava preparada para executar Ryuu com um golpe letal desferido pelas costas, porém a bela garota não contava com uma coisa, Souen, que possuía instintos tão afiados quanto os dela ou até mais e não mediu esforços em avisar Ryuu do iminente perigo quando percebeu.

– Garoto, cuidado! Alguém vai atacá-lo por trás! – Alarmava Souen, imediatamente saindo da forma de um bracelete no pulso do garoto e retornando a sua forma de esfera luminosa.

– A-Ahn? Um ataque?! – Dizia Ryuu espantado, rapidamente movendo-se na direção esquerda, virando-se de frente para a pessoa em suas costas logo após, deparando-se novamente com a imagem da garota de cabelos prateados, preparada para eliminar Ryuu e teria conseguido se não fosse pelo rápido aviso de Souen.

– Tsc... Então o seu guardião ancestral também já despertou? – Dizia a garota, baixando a espada após ter sua tentativa de um ataque furtivo frustrada. Ela então sorriu com uma expressão convencida, em torno de seu pescoço havia um laço cinza, que tomou a forma de uma esfera luminosa, tal como Souen havia feito e então planou para cima da cabeça de Aya, onde tomou a forma de um homem com cabelos e olhos prateados como o brilho do luar, o mesmo aparentava ter cerca de vinte ou vinte e um, a expressão em sua face era serena, como se estivesse totalmente em paz.

– Finalmente nos encontramos novamente, Kasagima Souen... Já fazem muitos anos desde o nosso último combate. – Dizia o espírito do homem, enquanto observava Souen na forma de uma esfera luminosa. – Revele sua verdadeira forma!

– Hunf... Então era você que havia atacado o garoto mais cedo? – Dizia Souen, tomando novamente a sua forma de espírito, um homem de cabelos ruivos e compridos com olhos de uma besta selvagem. – Kirigakure Haizaki! Eu irei derrotá-lo novamente!

– E-Ei... Espera aí, então se vocês dois vão se enfrentar eu não preciso ficar... Certo?! Só me deixem ir embora, por favor. – Dizia Ryuu, tentando evitar um conflito, não queria morrer tão cedo.

– Não seja tolo, Kasagima Ryuugamine. – Dizia a garota apontando a lâmina de sua espada em direção ao rapaz, empunhando-a agora apenas com a mão direita. – Fora de seus planos eles não podem mais tocar nada, nem mesmo ferir um ao outro. Para poderem enfrentar-se, eles irão utilizar nossos corpos como se fossem deles.

– O-O que?! Utilizar nossos corpos para enfrentarem-se entre si? Eu to fora! Eu absolutamente estou fora! – Dizia o garoto, dando alguns passos para trás. Novamente Ryuugamine estava soando frio de nervosismo, era uma situação tensa após a outra.

– Huh, que belo covarde é o seu descendente, Souen. Assim como você já foi um covarde um dia. – Dizia Haizaki, desviando o seu olhar para Aya. – Aya, dê a permissão.

– Sim, Haizaki-sama. – Dizia Aya, erguendo a lâmina de sua espada para o alto. – Eu permito ao meu espírito ancestral, Kirigakure Haizaki, utilizar meu corpo como um instrumento para concretizar o seu objetivo!

E foi naquele momento, após as palavras de Aya que Haizaki transformou-se em um rastro de luz indo em alta velocidade em direção ao peito da garota, adentrando-o. A aura de Aya mudou totalmente, parecia muito maior e apesar do tamanho enorme, ela parecia totalmente serena, assim como a expressão em sua face. A consciência de Aya já não mais pertencia a ela.

– Ei, ei! Garoto... Digo, Ryuugamine, certo? Por favor, me dê a permissão, caso contrário você está em apuros! – Dizia Souen para o rapaz, na tentativa de persuadi-lo. – Vamos lá!

– De jeito nenhum, eu me recuso a lutar! – Dizia Ryuu, não querendo de forma alguma ter de envolver-se naquele combate. – Eu não quero morrer!

– No final... Ele é realmente um covarde, tal como você, Souen. – Repetia novamente Haizaki, agora utilizando o corpo de Aya para falar. – O tempo de vocês acabou, irei eliminar o último membro puro dos Kasagima e por um fim nisto tudo! – E assim, com sua lâmina erguida para o alto, deixou sua aura fluir. Um ciclone parecia formar-se ao redor do corpo de Kirigakure Aya, aquela era a energia de seu ancestral manifestando-se. – É o fim para você, Kasagima Ryuugamine. Kirigakure no ryu! Tatsumaki Setsudan! – E então, desferiu um corte de cima para baixo com a lâmina, lançando um tornado de vento a alta velocidade em direção de Ryuugamine. – No momento em que atingir você, seu corpo será reduzido a pedaços.

– D-Droga... Droga... EU NÃO QUERO MORRER! SOUEN, EU NÃO QUERO MORRER! FAÇA O QUE TEM DE FAZER! – Dizia o garoto, com seu corpo imobilizado pelo medo, estava realmente em pânico naquele momento. Ryuu não sabia como reagir a toda aquela pressão.

– Finalmente, seu idiota. – Dizia Souen, sorrindo. E assim o mesmo transformou-se em um rastro de luz que foi em alta velocidade em direção ao peito de Ryuu.

No mesmo momento em que Souen adentrou o peito do rapaz, o tornado lançado contra Ryuu parecia ter o atingido. Uma poderosa explosão surgiu naquele momento, fazendo com que a poeira da terra do parque prejudicasse a visão de Haizaki por um breve momento. Porém, algo pareceu cortar a poeira ao meio, dissipando-a. E quando a nuvem de poeira se desfez... Surgiu a imagem de um rapaz com cabelos ruivos e compridos e aqueles mesmos olhos de besta. A parte superior de seu uniforme já não mais existia, sua aparência havia mudado totalmente, aquele era o efeito do poder de Souen fluindo pelo corpo de Ryuugamine.

– Agora, Kirigakure Haizaki, poderemos enfrentarmos um ao outro de igual para igual. – Dizia Souen, agora utilizando o corpo de Ryuu. Apontou o seu braço esquerdo na direção de Haizaki, alinhando a sua mão como se fosse uma lâmina. – Para que esta batalha seja justa, usarei minha mão como espada.

– Tsc... Kasagima Souen! Você está me subestimando?! Ótimo... Irei arrancar o seu braço neste caso! Kirigakure no Ryu! – Erguia mais uma vez sua lâmina para o alto, enquanto os ventos circulavam ao redor da mesma, uma aura prateada emanava intensa do corpo de Aya. – Shinku Setsudan! – E novamente desferia um golpe de cima para baixo. Da lâmina da espada um projétil de forma lâmina partiu em direção a Ryuu em alta velocidade, cortando tudo o que encontrava em seu caminho, algumas árvores e pedras era simplesmente partidas ao meio, em poucos instantes a aparência do parque já havia mudado totalmente, árvores destruídas, bancos estraçalhados, aquele era o real poder daqueles espíritos.

– Eu lembrarei a você mais uma vez o porquê de o Reiken-ryu ter provado ser o estilo absoluto, Haizaki! – Uma aura intensa era liberada pelo corpo de Ryuu, parecia-se mais com chamas escarlates, era uma aura intensa e feroz, tal qual como os olhos de besta daquele homem. Ele então desferiu um único movimento com o seu braços esquerdo em sentido horizontal da esquerda para a direita. – Reiken-ryu! Sotsuki Sakugen! – E novamente movia o seu braço agora em sentido vertical, de baixo para cima, dois projéteis de forma laminada uniam-se formando um “X” e indo em direção ao ataque de Haizaki em uma velocidade incrível.

Ambos os ataques se chocaram e novamente o impacto gerou uma grande nuvem de poeira. Rapidamente a mesma foi cortada pelo impacto de dois novos golpes, a mão esquerda utilizada por Souen não sofreu dano algum ao chocar-se diretamente contra a afiada lâmina da espada empunhada pelo corpo de Aya, possuído por Haizaki. Uma intensa troca de golpes iniciou-se ali, em grande velocidade, Souen utilizava realmente sua mão como se fosse uma lâmina, sem sequer por um momento sofrer um único arranhão na mesma. As faíscas dos impactos da espada saltavam a cada golpe, cada colisão dos ataques gerava um estrondo, eram ataques velozes, precisos e ferozes.

Haizaki desferiu uma estocada com sua lâmina porém Souen foi mais ágil e desviou, contra atacando com um golpe que atingiu em cheio o ombro direito de Aya, naquele momento Souen sorriu.

– O Reiken-ryu é o estilo absoluto, por que a lâmina não só torna-se uma extensão do seu corpo, como também ela não causa nenhum dano no corpo do oponente, apenas causa danos diretos em seu espírito... Como você está no corpo da garota, suprimindo o espírito dela, você recebe todos os danos diretamente em você. – Souen estava com um sorriso confiante em sua face, olhando nos olhos de Haizaki. – Como é sentir dor após tanto tempo, Haizaki?!

– Akh... Souen... Seu desgraçado! – Dizia Haizaki em um tom furioso, levando a mão esquerda até seu ombro.

– E pelo que posso me recordar, você não tem destreza alguma com seu braço esquerdo... E agora que o ataque do meu Reiken-ryu inutilizou o direito, como você pretende me enfrentar? – Dizia Souen, baixando o braço. – Apenas desista, você sabe que se continuar me enfrentar neste estado será derrotado, eu nem mesmo empunhei uma espada de verdade ainda.

– Tsc... Por hora você venceu, Kasagima! Mas eu irei me recuperar e irei tornar-me ainda mais forte e você irá sucumbir ao meu poder! – Dizia Haizaki, logo em seguida fazendo um movimento com seu braço esquerdo e assim, desaparecendo em um vendaval.

– Sempre aparentam ser tão calmos... Mas facilmente perdem a sua paz, membros do clã Kirigakure sempre foram assim. – Dizia Souen, sorrindo logo após. Aquela batalha causou um sentimento de nostalgia ao espírito.

Lentamente os cabelos de Ryuu começavam a diminuir, até retornarem a sua forma original. Os olhos de besta também desapareciam aos poucos, voltando para os olhos azuis do rapaz. Souen saia do corpo de Ryuugamine, enquanto o jovem Ryuugamine caia exausto no chão, aparentemente abrigar Souen em seu corpo havia exigido bastante dele.

– Ara... Acho que vai ser um tanto complicado levar você para casa, eu não posso tocar em nada afinal. – Dizia Souen um tanto preocupado... Deveria pensar em algo para fazer a respeito do rapaz.