Embaixo da Pele escrita por Ca_Dream


Capítulo 5
A máscara cai


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Espero que vocês gostem desse capítulo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo. Até semana que vem.



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Flattering child, you shall know me

(Criança bajuladora, você deve me conhecer)

See why in shadow I hide

(Ver porque nas sombras eu me escondo)

Look at your face in the mirror

(Olhe seu rosto no espelho)

I am there inside

(Eu estarei lá dentro)

Christine seguiu o que a voz dizia. Foi até o espelho e encontrou um homem olhando-a de volta. Sentia-se hipnotizada. Atravessou a passagem, segurando a mão encoberta pelo couro. Iria aonde quer que seu anjo a guiasse.

Foi levada pelos corredores. Suas vozes misturando-se ao silêncio. A voz dela e o espírito dele. Um dueto perfeito. Continuaram a cantar, enquanto passavam pelo lago enevoado. O poder dele estava enfeitiçando-a. O Fantasma da Ópera estava dentro se sua cabeça.

Finalmente, eles pararam.

Erik desceu do barco e Christine continuou a observá-lo. Com um movimento habilidoso, ele retirou a capa. Estava na hora de introduzi-la em seu reino de homenagem a música. Ele contou a ela tudo. Como desde que a ouvira cantar pela primeira vez, soube que deveria ser seu guia. Seu mestre. Ela se levantou, caminhando até ele.

Erik começou a cantar novamente. Ecoando pelas paredes sua música da noite. A soprano não pôde não ser seduzida por ele. Seu espírito parecia querer libertar-se. Poderia viver como ele dizia? Esquecer o que conhecia e deixar tudo para trás?

Ele a abraçou, fazendo com que sua mão tocasse o rosto dele. Sentiu a vontade imediata de entregar-se àquela escuridão. Mas quando Christine finalmente viu o manequim que tinha o seu rosto, ela desmaiou.

Ele a carregou em seus braços, deitando-a na cama de cisne.

Christine acordou momentos depois, ouvindo a caixinha de musica com o macaco persa tocar. Lembrava-se de um sonho. Um sonho com um lago, névoa, velas, um barco e um homem.

Saiu da cama indo até Erik. Ele por sua vez, estava em seu órgão, compondo. Quem era aquele homem que se escondia nas sombras? O que havia no rosto dentro da máscara? Curiosa, ela puxou o objeto do rosto dele.

A expressão dele, antes serena, transformou-se em puro ódio. Ele a atira contra o chão, urrando insultos. Seu anjo. Seu tutor. Seu mestre. Um monstro.

Erik sentiu-se desesperado. Havia ansiado tanto pelo toque dela, mas não dessa maneira. Ela o tinha visto. Conhecia a besta que ele era. Ela estava condenada. Estava condenada. Mas havia esperança, pensou. O medo poderia se transformar em amor. Christine poderia aprender a enxergar o homem por trás do monstro.

Christine sentiu compaixão por ele. Que destino aquele homem poderia ter tido? Com lágrimas nos olhos, devolveu-lhe a máscara.

Por um instante, ele pareceu ser o anjo que ela conhecia. No instante seguinte, a expressão dele tornou-se fria.

–Precisamos retornar. Aqueles tolos sentirão a sua falta.

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Elise entrou em seu quarto correndo. Sentou-se na cama, precisando de um momento para recuperar sua respiração. Segurou a carta de sua tia nas mãos. Finalmente uma notícia. Já estava morando na ópera há dois meses.

Assim que Madame Giry entregou-lhe a carta, saiu correndo. O que aquilo significava, será que viajaria para Londres agora?

Abriu e leu.

Querida Elise,

Sinto muito por não ter escrito antes. O final da gestação foi realmente desgastante para mim. Mas fico mais do que feliz em informar que seu primo Ethan nasceu. Thomas e eu estamos explodindo de felicidade. Somos pais agora!

No entanto, sinto informar que o parto foi complicado. Não se preocupe, seu primo e eu estamos bem. Mas os médicos me recomendaram mais tempo de repouso. Sinto muito Elise. Em meu estado e com Ethan tão pequeno, talvez leve mais alguns meses até eu viajar.

Já mandei a Antoinette uma quantia de dinheiro necessária as suas despesas. Mal posso esperar para finalmente vê-la. Por que será que o destino insiste tanto em nos separar?

Com todo amor que posso oferecer,

Isabelle Cavanaugh.

Elise estava decepcionada, esperava ver sua tia logo. Mas ficou feliz em saber que ela e o primo estavam bem. Não se importava em passar mais algum tempo morando na ópera. Na verdade, estava aliviada por poder passar mais algum tempo ali.

Levantou a mão para segurar seu colar, uma mania que tinha desenvolvido. Levou um susto ao perceber que ele não estava em seu pescoço. Vasculhou o quarto. Não podia tê-lo perdido. Era uma das poucas lembranças que tinha de seus pais.

Saiu do quarto com a intenção de examinar cada corredor do prédio.

Retornou horas mais tarde, derrotada. Tinha procurado e procurado, mas não havia encontrado nada. Já estava suspirando melancólica antes de notar a rosa vermelha em sua cama.

Como sempre, a flor era perfeita. As pétalas em um vermelho vivo e o caule preso com uma fita preta. Ao seu lado havia um bilhete e um colar prateado com pingente em forma de meia lua. Seu colar!

Pegou o bilhete.

Devia ter mais cuidado ao sair correndo por aí.

Sorriu, agradecida. Colocou o colar de volta em seu pescoço, local do qual nunca deveria ter saído. Apertou o pingente e pensou em Erik.

A amizade deles tinha começado de uma maneira estranha, é verdade. Mas ambos tinham conquistado a confiança um do outro. Elise gostava de acreditar que o que sentia por Erik era gratidão. Mas depois de se sentir aliviada por ficar mais tempo na ópera e agora que Erik devolvera seu colar, ela soube. O que sentia não era somente gratidão. E isso a assustava.

Pensou em ir até o covil e agradecê-lo.

Empurrou o espelho, abrindo a passagem secreta. Ao mesmo tempo em que tentava ignorar a voz em sua cabeça. Uma voz que insistia em dizer. Você está se apaixonando por ele.

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–Erik? – Elise chamou.

Ele estava de costas para ela. Sentado em frente ao órgão, as mãos paralisadas sobre o teclado que não emitia som algum.

–Eu só vim agradecer por você ter encontrado meu colar. – continuou.

Ele não respondeu. Ainda estava atordoado com os últimos acontecimentos entre ele e Christine. Não se importava com mais nada. Por que ela tinha que arrancar sua máscara?

Elise tinha tido sorte por ele ver o momento em que ela perdera o colar.

–Vá embora. Deixe-me sozinho. – ele pediu, ainda sem olhar para ela.

Elise não se mexeu.

–O que aconteceu? – sabia que algo estava errado com ele. Erik continuou quieto. – Você pode me contar. Afinal, para que servem os amigos?

Finalmente ele se mexeu. Levantou-se de onde estava sentado e a encarou. Podia mesmo considerá-la sua amiga? Alguém como ele poderia se dar ao luxo de ter algo tão valioso quanto um amigo?

Ele gostava do tempo que passavam juntos. Quando conversavam ou tocavam juntos. Elise trazia a Erik uma calmaria que lhe era desconhecida. Antes, ela parecia aplacar sua solidão. Agora, estava aplacando sua dor.

Então, tudo aconteceu rápido demais.

Ela tropeçou e acabou buscando apoio nele. Surpreso pelo toque das mãos em seus ombros, ele deu um passo incerto para trás. Os dois acabaram caindo no chão. Tentaram se manter em equilíbrio e no processo, a mão dela alcançou o rosto dele involuntariamente, arrancando a máscara.

Com Erik embaixo dela, Elise observou o seu rosto. A pele ao redor da boca é repuxada em um ângulo estranho. Como um lábio se desenhando sobre outro. Seu rosto é coberto por cicatrizes. Manchas de pele, ou a falta dela, se afundando na carne. O cabelo era ralo e ela percebeu que não estavam pretos como antes. Eram muito mais claros, em um tom de castanho quase sem cor.

Algo dentro dela gritou. Ele é um monstro! Algum instinto lhe disse para fugir. Mas ela não conseguiu.

Elise conhecia agora o homem por trás da máscara. Mas há muito tempo ela já conhecia o homem por trás das cicatrizes.

Os olhos dele brilharam no escuro. Ele a empurrou bruscamente, fazendo Elise dar um baque de encontro ao chão. Erik se levantou rápido, virando as costas para ela.

Quanta desgraça poderia lhe acontecer em tão pouco tempo.

Elise não entendeu. Por que Erik estava fazendo toda aquela lamentação? Apanhou a máscara e se levantou.

–Erik, por que você está chorando?

Ele se virou para ela, o rosto coberto pelas lágrimas.

–Você não está com medo? – um passo em sua direção. – Você não está fugindo?

Elise abriu-lhe um sorriso.

–É claro que não. – ela deu uma pausa. – Erik, você é meu amigo.

–A máscara. Me dê à máscara. Você não tem que suportar olhar para este monstro. – ele parecia incerto sobre suas ações. Como se não soubesse o que fazer.

Elise aumentou o aperto sobre a máscara.

–Erik, eu não tenho medo de você. Você não é um monstro. Eu conheço você. Verdadeiramente. Você é um gênio da música. Um homem com um coração tão sombrio como o seu passado. Mas que ainda assim teve bondade o suficiente para resgatar uma estranha.

Os olhos dele tornaram-se ferozes antes de amolecer novamente.

–Não preciso da sua pena. – a voz dele ecoou pelo covil.

–Não é pena. – ela tremeu. – Eu... – o que iria fazer? Dizer que o amava? Não tinha esse direito.


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Notas finais do capítulo

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