Don't Cry escrita por Luna


Capítulo 1
One- Shot


Notas iniciais do capítulo

Olá ela acontece durante a guerra pra ser mais exata no final da guerra. A musica é Don't Cry - Guns ' n Roses Espero que gostem ;)



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Draco Malfoy

O coração batia acelerado em meu peito, as vestes negras que cobriam-me os ombros agora eram rasgadas e sujas de lama. Os olhos de pavor e medo se espalhavam em minha cabeça com intensidade jamais antes vista. O tremor, a chuva que caia lá fora me lembrava a submissão cometida. Eu tinha desviado dos erros, mas caminhava a beira de minha própria sepultura. Corria em meio às salas do castelo, que naquele instante encontravam-se devastadas, vazias, como se somente os fantasmas pudesse habitá-la, ou talvez monstros, enclausurados em ódio. Por que não? Definhar, esperar a morte me encontrar de bom grado seria uma alternativa menos dolorosa. Correr do próprio destino não ia ajudar muita coisa. As janelas, grandes o suficiente para verem o andar de baixo, proporcionaram aos meus ouvidos momentos de angústia e desespero. Eu conseguia ver, mesmo que embaçado, o menino que sobreviveu, arrastando-se em meio aos escombros, dirigindo sua atenção ao giz que se transformava em pele. Em qualquer outras circunstâncias, eu gritaria para que continuasse, para que morresse, mas ali, àquela hora, eu pude perceber que o mal nunca esteve em mim mesmo, ele foi plantado e cultivado ao meu redor, eu simplesmente segui ao seu encontro, eu colhi o que nem mesmo plantei. Minha honra, minha glória, meu sangue ,era mais imundo do que aqueles quais humilhei. A cabeça girava, meus sentimentos encontravam-se embaralhados. Suplicava que alguém os separasse, desse rumo as coisas, mas elas simplesmente pareceram não entender. Tudo se tornava confuso de mais.

(Talk to me softly

There's something in your eyes

Don't hang your head in sorrow

And please don't cry.)

Fale comigo suavemente.

Há algo nos seus olhos.

Não abaixe sua cabeça de tristeza.

E, por favor, não chore.

Nada girava ao meu favor, nunca tinham girado de fato ao redor de mim. Meu mundo? Nunca foi meu. Eu vivia para as pessoas, eu suplicava delas o seu amor, eu as matava de desejo e logo mais jogava fora, porque achava que nenhum serviria perfeitamente a mim. Eu desmaiava de êxtase, porque mesmo não querendo admitir, eu sentia falta, do carinho, do calor de suas mãos, dos beijos propícios e o ódio recíproco que sempre nos abalara durante anos. Tudo nascendo de uma chama que nunca incandesceu, tudo desmoronando na chuva que parecia nunca passar. Meus cabelos caíam a face, mas, ainda podia ver: o modo frágil, débil que caminhava em busca da própria morte, Harry não tinha, nem se quisesse, condições de vencer aquilo. Voldemort mostrava-se bem, forte, sadio. Os cortes em sua pele eram poucos e ainda sim quase inexistentes. Um raio de luz verde saia de sua varinha e o mundo bruxo dava adeus ao menino que sobreviveu. Eu o invejava, de fato, durante sete anos de minha vida. Relutei por acreditar no que as pessoas diziam, que eu tinha inveja de alguém que tinha tudo. Mas, era exatamente isso, ele tinha fama, poder, dinheiro, e o mais importante, o que eu sempre subestimei a minha vida toda, mesmo sabendo que era verdade, amor. Harry tinha amizade e os amores mais lindos que alguém poderia vir a desejar, tudo lhe foi atirado de mão beijada, enquanto eu tinha que lutar pela própria liberdade. Talvez fosse por isso e outros motivos, que tenha vivido amargurado e enclausurado em ódio. Não sabia o que vinha pela frente, eu sempre era muito previsível, nunca consegui surpreender os outros, nunca demonstrei nada além de ódio, quando muitos não sabiam que eu ainda nutria sentimentos, que eu também amava, ou simplesmente, que chorava a noite a procura de um refúgio. Calor esse que só minha mãe tinha capacidade suficiente de me ceder, mas que mesmo assim não se encontrava lá, dirigindo palavras que me faziam acreditar: tudo acabaria como devia, tudo tomaria um rumo melhor.

(I know how you feel inside

I've been there before

Something is changing inside you

And don't you know)

Sei como você se sente por dentro

Já passei por isso antes

Algo está mudando dentro de você

E você não sabe

Sorri em ironia. Custava-me crer que as coisas poderiam ser mais fáceis. Custava-me acreditar que aquilo algum dia tomaria rumos diferentes. Eu escolhi caminhar ao lado das sombras, eu desafiei a luz e agora ela não estava mais lá eu tinha me afundado em ódio e ruínas, eu tinha traçado minha própria encruzilhada e caminhado entre ela sem ligar para o perigo. Eu temia ter feito a escolha errada, mas aquela altura, eu não tinha mais o direito de amedrontar nada. Tentava retirar a névoa que cobria o vidro tão recém-polido. Passava a manga comprida do sobretudo em tentativa quase fracassada de enxergar algo. Foi então que eu vi. Ela, ajoelhada perante a ele, tão submissa quando a mim. Ainda com as bochechas molhadas de suas lágrimas, ainda com a mesma jaqueta azul turquesa, ainda com os mesmo lábios quentes que eu senti uma única vez, e que ainda de forma sem quere, causava-me constantes arrepios. Ela ainda suplicava silenciosamente por deixá-la, ela ainda sufocava um grito de socorro. Meus olhos precisavam retirar aquela cena da cabeça. Meu coração fechava-se em agonia e tremia a beira de mágoas. O sentimento, antes sufocado por mim mesmo, tornava-se cada vez mais abertamente público. Eu temia em salvá-la, porque sabia que nem mesmo eu seria um bravo cavalheiro em fazer ato tão infame. Acabaria por morrermos juntos, melhor juntos do que reprimidos.

Encostei o rosto no vidro gélido e reprimi o gesto por alguns segundos, tentando acostumar-me a frieza do objeto. O som, apesar de longe, ainda conseguia ser audível. Eu percebi o que saia quase sibilando de sua boca. Poucos eram os alunos que formavam-se ao redor, esperando aquilo acabar e todos morrerem, cada um respirava com dificuldade, sentia que a esperança esvaia-se dos olhos porque ninguém acreditava ser o fim, ninguém conseguia ver que as pessoas as quais mais confiavam estavam morrendo, uma por uma. Dumbledore, Harry e logo então, Hermione.

– Eu gostaria muito de matá-la e sentir o sangue trouxa escorrer por essas pedras, lembrando todo o mundo bruxo do quanto nós os repugnamos. Mas, creio eu, que existem pessoas mais odiosas quando o quesito passa a ser Hermione Granger não é mesmo Lúcius?

Via-me fitando, talvez, meus próprios olhos. Ele não tinha mais ódio e rancor, o que exalava de seus orbes eram medo e pena, culpa e ressentimento. Ele queria pedir perdão e mentalmente o fazia, sabia, porém que não era suficiente, que ele precisava ajoelhar-se perante a ela e pedir, com mais calma do que devia, seu próprio perdão, receber um sim de sua boca, saborear o doce da desculpa e só então morrer em discórdia.

– Como queira Mi Lorde.

Pensava em ver ali, diante daquele rosto bonito meu pai, mentalizando um longo e sereno pedido de desculpas, que em seu caso nunca seriam longos o suficiente e apontando quase perto demais de sua garganta a varinha que explodia em entorpecentes raios verdes. Tudo seria menos doloroso não? Mas, vê-la tão vulnerável e entregue só conseguiu causar a mim mais dor do que realmente pude sentir. Causou-me espasmos constantes. Uma mão gélida segurou com firmeza meu ombro e um sobretudo arroxeado destacava-se sobre minha pele alva e o preto de minhas vestes.

– Não vou. Sabe que não consigo.

(Don't you cry tonight.

I still love you baby

Don't you cry tonight.

Don't you cry all tonight.

There's a heaven above you baby

And don't you cry all tonight)

Não chore esta noite

Eu ainda amo você, querida.

Não chore esta noite.

Não chore esta noite.

Existe um paraíso acima de você, querida.

E não chore esta noite

A máscula mão apertava-me os ombros em um gesto paterno e ao mesmo tempo terno. Sentia-me tão tolo. Incumbido em sentimentalismo, entregue ao amor. A ficha não tinha caído, Voldemort queria ver-me sofrer, para ele eu era apenas mais um servo, não tão leal, nem mesmo confiável, queria me sentir sufocar, ouvir-me murmurar perante todos, aquilo que sempre achei insuportável. Queria me fazer desmoronar, desabar, enterrar-me sob as ruínas, e eu? Não podia fazer nada, eram hipóteses jamais cogitáveis, mas eu tinha meus motivos, eu tinha meus ideais, e eles seriam rompidos como uma fina e tênue linha, desmanchados como se nunca tivessem existido.

– Você não quer.

A voz reverberava em meus ouvidos de forma rouca, penosa, mas ainda sim pesada autoritária, autônoma e voraz. Virei-me para encarar-lhe a face. Poderia me ver em seus olhos de modo que a tempestade intensificasse cada vez mais. As paredes descascavam, tijolos e escombros espalhavam-se ao chão. A chuva, menos violenta, mas ainda sim tenebrosa caía sobre as pessoas lá fora. As vestes encharcadas de Hermione só deixavam-me com um pesar ainda maior. O gosto de asco formava-me a boca. Nunca seria capaz de fazer o que ele queria, não encontrava coragem suficiente nem seria capaz de detê-lo.

– Eu não posso.

Gritei. Dessa vez, os fios já secos de meus cabelos e as vestes ainda úmidas balançavam na mesma intensidade de minha voz. Soquei uma parede ao lado que estava e senti o vidro estremecer. Meu pai apenas observava-me. Eu não o culpava, às vezes sentia ódio de sua submissão. Tudo podia ser diferente, mas ele nunca quis, e aonde viemos parar? No lado sem saída, onde tudo resumia-se a morte, onde tudo era escuridão, onde nem mesmo as lágrimas aliviavam-me a dor.

– Você a odiava. Por que reluta. Pensei que quisesse vê-la morta.

– As coisas mudam, as pessoas mudam, os sentimentos mudam.

(Give me a whisper

And give me a sign

Give me a kiss before

You tell me goodbye)

Dê-me um sussurro

E dê-me um sinal

Dê-me um beijo antes de

Dizer-me adeus.

– Você não muda, nunca mudou Draco. Desça, faça o que lhe é mandado e ignore sentimentos, porque eu sei que eles não existem. Vindo de você a única coisa que aceito é ódio, rancor e repulsa.

– E o que esperava de mim, além de todos os sentimentos que você mesmo fez questão em implantar? Alguém bom, dócil o suficiente, feliz? Não, felicidade era a última coisa que eu sentiria com alguém perto de mim pressionando-me a fazer coisas que eu julgava erradas demais. É porque no fundo você nunca se importou com nada. Parece sentir pena daquela ali, ajoelhada no chão suplicante, mas sabe, nunca será desculpado. Todas as palavras que a proferiu, todo o ódio que me fez ter simplesmente se converteram a outro sentimento que você Lúcius será incapaz de sentir algum dia. Sabe, fico pensando como não te remoem lembranças. Quer dizer, você já teve alguma suficientemente feliz da qual sinta prazer em lembrar? Duvido muito. Eu vou descer sim, e farei o que me foi mandando, só não se arrependa depois. Eu sei que é frio a ponto de se importar com o que vou ou não fazer, mas peço que repense nas atitudes até aqui feitas. Essas serão minhas últimas palavras, não é um filme, eu bem sei, mas não sinto-me a vontade em dizer amo-te pai, porque estaria mentindo.

As palavras foram cuspidas de uma forma tão grotesca que na mesma hora forcei-me a parar, mas era impossível, eu precisava despejar as coisas antes que não tivesse tempo, a impaciência era um forte grande o suficiente para lhe sufocar. Palavras frias, brutas, foram jogadas de encontro a um muro suficientemente grande que voltaram a mim com impacto maior ainda. Meu braço foi tomado com brutalidade por suas mãos e vi a hora que descia as escadarias andava a passos lentos em direção aquela que disse uma única vez amar. Eu mentira? Não, claro que não. Eu ignorei a repulsa, eu desviei minha intenção do ódio, a realidade era dura de ser encarada, eu tinha dito as doces palavras a alguém que sempre desferi um tapa cuspido.

– Já disse o que tinha a dizer? Pois bem, termine seu serviço.

Via-me jogado, quase que de joelhos a frente de Voldemort, onde as mãos cinzentas capturaram-me depressa, impedindo minha queda ao chão. As vestes pretas e viscosas eram longas de mais a ponto de me fazerem tropeçar. A marca em meu braço esquerdo não podia ser dissolvida, eu carregaria aquele pesar para sempre, junto com a cena que estava preste a presenciar. Eu seria o protagonista de uma peça não ensaiada.

– Meu caro Draco. Veja quem está a sua espera. Sim, a menina de olhos de mel, a cabelos chocolate e pele de cravo. Leão hipnótico se apaixonou pela serpente escamosa e sem vida. O pelo exuberante de um rei se tocou ao cinza de sua presa. Posso ver a dor em seus olhos meu caro amigo. Mas, posso adiantar que tudo isso está prestes a acabar.

Estava, eu sabia, eu tinha minhas reais intenções, e matá-la não estava em meus planos. Hermione fitava meus olhos atônitos, a procura de alguma fonte e chama de esperança, enquanto via-me a protelar, precisava de um plano e em busca de encontra-lo, me perdi, porque eu não tinha, de fato eu não conseguia articular algo experiente, a ponto de superar suas expectativas. Voldemort era muito mais audacioso e esperto do que a mim mesmo. Fracassaria. Eu só tinha uma saída, crucial, dolorosa, e surpreendentemente arriscada.

O pesar em seus olhos era nítido, faiscaram em desespero e agonizavam a espera de algo que a salvaria da escuridão. Eu era a escuridão e salvá-la tinha se tornado algo impossível, imprevisível e incogitável. O sibilar de sua voz ecoava em meus ouvidos aproximando-me cada vez de seu perfume que por mais forte e tóxico que me parecesse ainda sim repugnava.

(Don't you take it so hard now

And please don't take it so bad

I'll still be thinking of you

And the times we had baby)

Não leve isso tão a sério agora

E, por favor, não leve isso tão a mal.

Continuarei pensando em você

E nos momentos que tivemos, baby

– Deixarei que faça por mim as honras, eu sei o quanto espera por isso.

Ele sabia. Perguntava-me como ele poderia saber de uma noite que aconteceu há meses atrás. O nome de meu pai ecoava em minha cabeça com ainda mais força do que a antes. O aviso de ficar imóvel tinha sido dado a Hermione e a mesma abaixara a cabeça centenas de vezes, levantando um pouco os olhos e fitando-me. A face inundada em lágrimas, as bochechas rosadas, e o pesar estampado em suas maçãs que explodiriam a qualquer momento por conta do frio. A varinha girava em meus dedos, por mais que tenha dado uma cartada final, dito a mim mesmo que não era possível um plano, eu tentava com todas as forças pensar em algo, tinha que haver uma maneira, eu precisava pensar. Eu precisava fugir e levaria ela comigo.

– Desculpe.

Sussurre para que somente ela pudesse me ouvir. Seus olhos se fecharam, e a última coisa que pude presenciar, antes da dor quebrar meu peito por completo, foi o grito de pavor e um raio verde sendo lançado em sua direção. Minha mãe tampava com as mãos a boca, não em momento algum impedindo as lágrimas que desciam por suas bochechas. O céu não era um lugar próprio para mim, mas no momento parecia ser o único. Eu queria poder fitar a avelã novamente de seus olhos, mas ao perceber que não tinha mais volta, as coisas começaram a escurecer, levando-me a resistir por impulso, a respirar. Lágrimas transbordavam por minha face, eu já não pensava em contê-las. O sibilar de cobra ressoou pela última vez em meus ouvidos e antes de me entregar em completo pela escuridão, eu soube, tinha feito a coisa certa.

– Tolo.

As pálpebras demoraram a trincarem, mas quando finalmente aconteceu, eu pude sentir algo se encaixando perfeitamente a minha mão, ela, conseguiu guiar-se até mim, ainda ferida, o raio não a tinha atingido por completo, mesmo com as forças esvaindo-se eu pude ouvir o que queria há tempos.

– Não chore, eu ainda amo você.

(And please remember

That I never lied

And please remember

How I felt inside now honey)

E, por favor, lembre-se.

Que eu nunca menti

E, por favor, lembre-se.

De como me senti por dentro, doçura.

E com o gélido toque limpando minhas lágrimas eu tive certeza, eu tinha morrido e levado ela junto a mim como prometi: pelo resto de nossas vidas. O gesto morreu no meio percurso de minha pele, quando eu também já era incapaz de sentir algo. Nós tínhamos morrido para vida e vivido para a eternidade.


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Notas finais do capítulo

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