Daughter Of War escrita por Isa


Capítulo 7
Descobertas


Notas iniciais do capítulo

OE

Mil perdões pela minha demora colossal ;-; eu andava numa escassez de criatividade enorme, por isso não sabia que rumo essa fic tomar. mas não se preocupem, talvez eu demore pra atualizar, mas eu não vou desistir dessa fic pois eu gosto muito dela :)

Devo pedir desculpas também porque eu estava dando muita prioridade à minha outra fic ao invés de vir atualizar essa. Aliáaas, se você gosta de k-pop, vou deixar o link da minha outra fic nas notas finais o/

Eu sei que demorei muito, vocês devem ter se esquecido de algumas coisas, por isso vou fazer uma rápida recapitulação sobre o último capítulo: O Acampamento foi quase "invadido" por espíritos; Jessica foi desafiada por Clarisse para um duelo de espadas; Jessica venceu o duelo contra um filho de Marte chamado Jack; ela foi reclamada filha de Ares. Se mesmo assim você não se lembra, me desculpe por ter que te fazer ler os outros capítulos de novo :/

Boa Leitura.



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Hades estava tenso.

O deus dos mortos caminhava impacientemente de um lado para o outro na sala do trono, seu manto negro tremeluzindo com o vento. Um pouco atrás dele, Perséfone encontrava-se sentada em seu trono de rainha. Seus belos cabelos escuros caíam por seus ombros. Ela usava um longo vestido negro que parecia ser feito de sombras. A deusa da primavera parecia mais pálida que o normal; o inverno estava próximo, portanto seus poderes eram enfraquecidos, o que era perceptível. Ela brincava com uma rosa, mudando-a de cor várias vezes.

Nico estava de pé na frente dos tronos. Ele mantinha uma postura ereta diante do pai, sua mão descansava no cabo da espada. Acabava de trazer as notícias sobre a quase-invasão no acampamento – o que foi desnecessário, já que o deus obviamente já sabia.

Aquilo não o deixou nada feliz.

Ninguém tinha coragem de dizer nada, o único som na sala era o dos passos de Hades. Era um momento tenso. Perséfone tentava fingir indiferença, mas ela olhava para o marido, temerosa. Nico não se atrevia a abrir a boca. Se dissesse algo errado, não sabia o que podia acontecer – irritar um deus que já está irritado nunca é boa ideia.

– Em todas as eras que comando o Mundo Inferior, isso nunca havia acontecido. – Hades enfim falou. - Nem quando eu passei por uma crise; nem mesmo durante as guerras, quando o Mundo Inferior estava tão lotado que não havia espaço suficiente e alguns espíritos quase fugiram. Isso nunca havia acontecido. – Ele enfim parou de andar. – Mas agora, aconteceu.

– Bom, há uma primeira vez pra tudo. – Perséfone murmurou.

O deus dos mortos encarou-a, lançando um olhar ameaçador.

– Isso não deveria ter tido uma primeira vez! – Ele voltou a andar, passando as mãos nos cabelos impacientemente. – O que os outros vão pensar de mim?! Um deus que sequer consegue controlar seus domínios! Eu não preciso de Zeus e Poseidon contando vantagem sobre mim outra vez!

Nico umedeceu os lábios. Ele não estava exatamente preocupado com a reputação do pai; isso estava em segundo plano. O que o preocupava era que os espíritos estavam agindo de forma preocupante. Ele podia sentir que algo estranho estava para acontecer, algo que até mesmo Hazel havia sentido.

E, por experiência própria, Nico havia aprendido que devia confiar em seus instintos. Algo grande estava acontecendo, e ele queria saber o quê.

– Tem certeza que os fantasmas queriam entrar no Acampamento? – Hades perguntou, o tom de voz mais controlado.

– Não tenho certeza. – Nico respondeu. – É o que tudo indica. Eu não consegui ler as intenções deles... Havia algo bloqueando suas mentes. Mas eu consegui expulsá-los sem dificuldade.

– Eles não estavam agindo de modo estranho?

Nico abriu a boca para falar, mas se deteve.

Jessica.

Os fantasmas foram lá por causa dela, Nico tinha quase certeza. Eles chamavam o nome dela. Sem contar aquele espírito que não foi expulso facilmente, e ela podia enxerga-lo. Nico sentia que Jessica tinha uma grande importância em tudo que estava acontecendo.

Mas ele também sentia que devia esconder isso do pai. Seus instintos diziam isso; e ele não iria ignorá-los.

– Não. – Nico enfim respondeu, agindo normalmente. Enganar um deus não era fácil, mas Nico havia aprendido a fazer isso ao longo do tempo. – Tenho quase certeza que os fantasmas queriam algo que estava no Acampamento, mas não sei o quê. Talvez eles quisessem algo do Acampamento Júpiter, como Hazel deduziu.

Hades apertou os olhos como se estivesse com dor de cabeça.

– Por favor, não mencione meus filhos romanos. – ele grunhiu.

Apesar dos deuses terem conseguido unir as personalidades romana e grega, ainda era como se fossem dois deuses diferentes. Se alguém mencionava a outra personalidade do deus, ele ficava confuso, como se a outra parte quisesse emergir. Eles deviam se concentrar em qual personalidade estava assumindo o controle.

– Talvez você tenha razão. Deve haver algo muito valioso dentro daquele Acampamento para que os fantasmas tenham se dirigido até lá para conseguir. – Hades falou.

– Talvez não seja “algo”. Talvez seja uma pessoa. – Perséfone murmurou.

Nico xingou-a mentalmente. Hades parou de andar e encarou o nada quando escutou a frase da esposa. Por um momento sua expressão era de confusão, depois ele arregalou os olhos como se houvesse se lembrado de algo importante.

Algo que não o agradou.

– Uma pessoa... Um semideus. – O deus murmurou para si mesmo. – Tem razão, querida. – Hades virou-se bruscamente, fazendo seu manto voar. – Preciso consultar as Parcas.

– As Parcas? Pra quê? – Perséfone perguntou, confusa. A rosa em sua mão ficou tingida de preto.

– Preciso... Ter certeza de uma coisa. – Hades disse. Ele voltou-se para Nico. – Filho, preciso que você faça algo por mim.

– Sim? – Nico perguntou, hesitante. Ele não estava gostando nada daquele comportamento.

– Preciso que seja meu espião no Acampamento. Me informe sobre qualquer coisa suspeita; mas não deixe ninguém saber, muito menos Quíron.

O deus viu a hesitação passar no olhar de Nico por um momento, mas o rapaz assentiu.

– Farei o que puder.

Hades continuou encarando o filho por alguns momentos. Ele percebia que agora, Nico parecia um verdadeiro herói – alto, com o físico definido. Ele não tinha mais as feições de um menino, mas sim de um homem. Hades sabia que Nico havia desenvolvido muito seus poderes, tanto que ele não sabia sua verdadeira extensão; mas podia sentir a aura forte que o rapaz emanava.

Hades percebeu que deveria começar a tomar cuidado com Nico. Ele estava forte demais. Talvez não conseguisse controla-lo.

– Certo. – Ele enfim disse. – Volte ao Acampamento e me mantenha informado.

– Sim, senhor. – Nico curvou-se respeitosamente antes de partir. – Senhora – ele murmurou, não se esquecendo de Perséfone.

– Volte em paz, garoto. E vê se corta esse cabelo. Já passou da hora de aparar as pontas! – Perséfone disse. Ela costumava odiá-lo por ser filho da amante de Hades, mas agora cultivava um certo afeto pelo garoto.

Enquanto Nico deixava o palácio de Hades, ele tinha certeza de uma coisa: seu pai sabia o que estava acontecendo, ou pelo menos tinha uma ideia. Ele estava certo, era algo grande.

E envolvia Jessica. Nico tinha certeza disso.

Ele sabia exatamente o que fazer. Tinha que descobrir o que seu pai escondia; tinha que descobrir quem aquela garota era; tinha que descobrir o que estava acontecendo.

E tinha que fazer isso rápido.

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Jessica Zanelatto

ARES!

A multidão na arena voltou a gritar enlouquecidamente. Jack saiu debaixo de mim bruscamente e sumiu de vista. Os filhos de Ares e Marte vieram correndo até mim; de repente eu estava rodeada de pessoas. Eles sorriam e gritavam animadamente, dando tapinhas em minhas costas (Mas esses “tapinhas” eram tão violentos que eles pareciam querer quebrar meus ossos) e me parabenizando.

Eu estava completamente sem reação. Olhava para aquelas pessoas sem conseguir raciocinar o que estava acontecendo.

Eles eram... meus irmãos?!

Mas eles não estavam debochando de mim e querendo que eu perdesse há alguns minutos atrás?

– Eu sabia! Tinha certeza! – Uma voz mais alta que as outras ecoou.

Clarisse apareceu no meio da multidão, caminhando até mim. Ela sorria, quase como se estivesse orgulhosa. Seus olhos eram... amigáveis. Mas não era ela que tinha a intenção de me humilhar com esse duelo?

Essa garota tem um problema sério de bipolaridade.

– Eu tinha certeza que você seria uma de nós! Ninguém conseguiria lutar daquele jeito! – Ela falou animadamente.

Franzi o cenho, atônita.

– Hã? – Murmurei. Eu devia estar parecendo uma idiota.

– Eu vi você treinando com os autômatos, algumas noites atrás. Ninguém a não ser um filho de Ares conseguiria lutar daquele jeito! Eu tive certeza absoluta que você era nossa irmã!

De repente, um garoto latino de cabelos encaracolados levantou-se na arquibancada, parecendo indignado.

– Então, foi você a vândala que destruiu meus autômatos?! – Ele gritou.

Aquele devia ser o tal de Leo que Nico mencionara anteriormente. Ignorei o garoto e me voltei para Clarisse. Eu me sentia mais surpresa à cada segundo.

– Então, pra quê serviu esse duelo? – Perguntei.

– Para que Ares te reclamasse, obviamente! Ele não poderia te esconder depois do que vimos aqui. – A garota respondeu, parecendo orgulhosa de si mesma.

Nem mesmo os outros filhos de Ares pareceram ter acreditado naquilo. Eles olhavam para Clarisse com um misto de surpresa e admiração.

– Muito bem, o duelo está terminado. – Quíron disse de repente, sua voz imponente sobressaindo-se acima de todas as outras. Ele parecia estranhamente desconfortável. – Já passou da hora de dormir. Todos voltem para seus chalés.

– Romanos também. Vamos voltar ao Acampamento Júpiter! – Reyna ordenou, e logo os romanos começaram a segui-la organizadamente. Eles pareciam ser bem mais comportados que os gregos.

– Ares, para o chalé! – Clarisse gritou, e logo todos os filhos de Ares começaram a deslocar-se pra lá.

Mas, antes que eu pudesse segui-los, a espada que eu ainda segurava começou a ficar quente – muito quente. Olhei-a com estranhamento.

– O que está acontecendo? – Um garoto murmurou ao meu lado, olhando para a espada em minha mão.

Foi então que eu percebi que ela estava brilhando.

Uma estranha aura vermelha envolvia a arma, até o ponto em que meus olhos doíam se eu a encarasse. As pessoas à minha volta pararam para olhar em surpresa.

A espada ficou tão quente que eu não tive escolha a não ser soltá-la – mas ao invés da arma cair no chão, ela começou a flutuar. Começou a pairar a alguns metros de nós. Houve um momento em que a aura vermelha ficou tão forte que tivemos que desviar o olhar.

Então, de repente, a luz cessou.

A espada começou a descer. Eu abri a mão instintivamente e a segurei – ela não estava mais quente. Mas o que me surpreendeu era que a espada agora era uma arma completamente diferente.

A lâmina era maior e mais afiada. O punho era mais confortável, de modo que eu conseguia segurá-lo com firmeza, quase como se fosse feito especialmente para minha mão. O peso era perfeito: nem muito leve, nem muito pesada. E, no momento que vi a espada, percebi que não havia nenhuma arma como essa nem aqui, nem no Acampamento Júpiter.

A espada era forjada com bronze celestial e ouro imperial; cada lado da lâmina era de um metal diferente. No punho da espada havia um símbolo gravado: a última letra do alfabeto grego, Ω.

– Que espada louca! – Um cara falou, admirado.

– P-Por que ela apareceu? – Perguntei, completamente confusa.

– Foi Ares. – Clarisse murmurou. Ela olhava de mim para a arma; havia um lampejo de espanto em seu olhar, mas não sei dizer porquê. – Os deuses normalmente presenteiam seus filhos talentosos... Essa espada é um presente dele para você.

Arregalei os olhos.

Aquele era um presente do meu... pai. Isso era tão surreal que eu não sabia como reagir.

Clarisse ordenou para que continuássemos nos dirigindo ao chalé. Olhei para trás e vi Quíron e Annabeth fitando-me com cara de quem acabou de ter uma conversa séria a alguns segundos atrás.

Além deles dois, no canto mais afastado, vi Nico. Ele estava sentado na arquibancada, completamente só. Senti um calafrio subir minha espinha; ele encarava-me fixamente, sua expressão facial não era nada boa.

De repente, as sombras ao redor dele começaram a se espessar, como se ficassem ainda mais escuras. Começaram a envolver o corpo do rapaz; foi como se ele se tornasse parte das sombras.

Então, diante dos meus olhos, o filho de Hades simplesmente desapareceu.

O exterior do chalé de Ares já dava uma impressão amedrontadora: pintado de vermelho de um jeito desleixado, com arame farpado no teto e uma enorme cabeça de javali que parecia querer comer você vivo (e que eu carinhosamente apelidei de Zé). O lugar parecia um chalé de acampamento para crianças psicopatas.

Mas por dentro a coisa ficava ainda pior.

Aquele lugar era o pior pesadelo de toda dona de casa. Os beliches eram completamente desorganizados – não havia um sequer que estava com os lençóis arrumados, quase todos tinham roupa suja socada nos cantos ou debaixo das camas. Sacos de salgadinhos e latinhas de refrigerante rolavam pelo chão. Haviam posters de bandas de heavy metal colados nas paredes, um desenho gigante de pentagrama estava gravado com spray vermelho no chão (O que eu achei completamente desnecessário; o que eles tentariam evocar com aquela coisa? O Cérbero?). Cada beliche tinha sua própria bancada, quase todas estavam socadas de armas dos mais diversos tipos: espadas, punhais, lanças, escudos, facas, partes de armaduras. Haviam também mapas de batalha que estavam riscados com marca-texto, provavelmente para indicar algum ponto de ataque. Meias fedendo a chulé ficavam penduradas nas janelas. Se Antônia visse aquele lugar, sofreria um ataque epiléptico.

Ou seja, era o lugar perfeito.

Eu nunca fui uma pessoa organizada – pra dizer a verdade, sou o exato contrário. Meu quarto no orfanato era tão bagunçado que quase não dava pra ver onde a cama ficava. Por isso, se o chalé fosse organizado e limpo – o que eu já duvidava muito -, eu me sentiria desconfortável.

Os outros logo começaram a se dirigir para seus respectivos beliches, pareciam estar bem cansados. Clarisse me guiou pelo chalé e me mostrou um único beliche desocupado que ficava no canto mais afastado ao lado da janela.

– Esse vai ser seu beliche. Tem algumas camisetas do acampamento no baú, mas de resto você vai ter que se virar pra comprar... Pode falar com algum filho de Hermes, eles podem dar um jeito nisso... Se é que me entende. – Clarisse explicou-me.

Franzi o cenho.

– Isso não traria problemas pra eles?

Clarisse deu de ombros.

– E daí? Eles são filhos de Hermes, sabem o que fazem. Você pode guardar suas tralhas nessa bancada. A única regra desse chalé é: nunca, em hipótese alguma, pegue a arma de outra pessoa. Isso é uma falta de respeito sem tamanho... Sem contar que você pode acabar sem alguns dentes se fizer isso.

Assenti. De alguma forma, eu entendi essa regra. Só de pensar em alguém tocando em minha nova espada, eu ficava irritada.

– Esteja de pé amanhã de manhã. Vamos começar nossas atividades logo cedo, então é bom estar disposta.

Clarisse se afastou, indo até seu próprio beliche. A maioria deles já tinha capotado, mas alguns conversavam baixo. Logo as luzes foram apagadas.

Sentei-me na cadeira da bancada, fitando o nada.

Eles eram meus irmãos. Eu tinha uma família. Eu tinha um pai, e esse cara era um deus.

Isso tudo era tão estranho e desconhecido que eu não sabia o que fazer.

De repente, comecei a me sentir pesada e suja. Eu estava muito suada por causa do combate, então resolvi tomar um banho (Apesar de eu ser um pouco porca, não significa que não tenho senso de higiene.). Abri o baú sem fazer barulho: lá haviam algumas camisetas laranja do acampamento em tamanho GG, uma toalha branca, e a única roupa íntima era uma cueca. Como eles tinham certeza que o próximo filho de Ares a chegar era um cara? Como eu não tinha escolha, peguei uma camiseta, a toalha e a cueca mesmo. Levei também uma caixinha que um filho de Apolo havia me dado – eu andava com aquela coisa pra todo lugar. Me dirigi ao banheiro, levando a espada comigo só por precaução.

Fazia um frio desgraçado lá fora. Para eles devia ser normal, mas para mim que nasci e cresci em um país tropical, fazia frio de bater os dentes. O banheiro feminino estava completamente deserto. Eu nunca fui de ter medo de ficar sozinha em lugares vazios e escuros, mas dessa vez senti um calafrio subir minha espinha.

Encarei-me no espelho da pia por alguns momentos. Meu cabelo estava preso em um coque mal feito, várias mechas estavam soltas caindo sobre meu rosto. Só enfim percebi o quanto eu estava magra. Tirei a blusa e passei a mão de leve no curativo em meu ombro. O ferimento causado pelo veneno do drakon havia se curado em uma velocidade impressionante por causa do néctar, ambrosia e as outras poções doidas dos filhos de Apolo. Comecei a retirar as bandagens com cuidado, mostrando meu ferimento. Ele estava bem melhor: a nojenta mancha verde ao redor já havia desaparecido, e a vermelhidão também. O ferimento já estava começado a cicatrizar, havia diminuído de tamanho consideravelmente.

Tomei meu banho rapidamente, a água quente fez eu me sentir muito melhor. Me enrolei na toalha e caminhei de volta para frente do espelho, onde minhas coisas estavam em cima da pia.

Peguei a caixinha que os curandeiros haviam me dado de dentro do bolso do moletom e a abri – era um kit de primeiros socorros. Os filhos de Apolo me disseram que, se eu não molhasse o ferimento com néctar todos os dias e trocasse o curativo, ele poderia voltar a piorar. Ainda havia uma certa quantidade de veneno de drakon em meu sangue, portanto se eu não continuasse aplicando néctar, poderia voltar a ficar mal.

Lavei minhas mãos antes de começar o processo. Retirei o pequeno frasco de néctar de dentro da caixinha e derramei um pouco na ponta dos dedos. Respirei fundo antes de aplicar o néctar no ferimento. Grunhi de dor; aquilo queimava. Nas primeiras aplicações doía tanto que eu não conseguia fazer aquilo sozinha, mas agora já havia melhorado bastante. Depois de ter espalhado bem, coloquei novas bandagens limpas com cuidado sobre o ferimento, prendendo bem com a fita.

Era impressionante como o néctar funcionava rapidamente: eu já sentia o ferimento melhorar. Me vesti rapidamente, pois fazia frio. A camisa do Acampamento era tão grande que ficou parecendo um vestido.

Corri de volta ao chalé, todos já estavam dormindo. Aproximei-me de meu beliche e me surpreendi quando encontrei uma muda nova de roupas cuidadosamente dobradas em cima da cama – calças novas, meias e roupas íntimas, um moletom preto e outra camiseta laranja do acampamento do meu tamanho. Parece que o serviço de quarto resolveu me seguir até aqui.

Me enfiei debaixo dos cobertores. A sensação de estar ali era tão estranha, e eu não sabia porquê.

Quando criança, eu sonhava com o momento em que encontraria minha família. Com os anos, fui perdendo essa esperança. Mas agora... Tudo parecia tão confuso, tão complicado que eu não sabia o que devia sentir ao certo.

O sono rapidamente fez minhas pálpebras pesarem. Antes que eu pudesse ter mais reflexões sobre tudo isso, fui levada ao mundo dos sonhos.

Eu estava no labirinto outra vez.

Minha respiração era pesada; meus pés estavam descalços sob o chão gelado de pedras escuras. Apertei minhas mãos em punhos nervosamente.

Dessa vez, eu não sentia que havia algo me perseguindo.

Franzi o cenho e olhei ao redor. Eu sabia que estava sonhando; tinha controle sob meu próprio corpo. Aquela era a primeira vez que isso acontecia comigo – pelo menos, neste pesadelo.

O corredor de pedras era escuro. Olhei para o fundo e vi um foco de luz, vinda de uma tocha. Comecei a caminhar cautelosamente até lá. Queria poder ter uma espada, pensei; mas então, me lembrei de que era só um sonho. Não havia como algo acontecer comigo enquanto eu dormia.

...Ou podia?

Balancei a cabeça e continuei a caminhar, silenciosa e cautelosamente. Parei na esquina do corredor e espiei o que tinha ali.

Arregalei os olhos em surpresa. Uma mulher estava lá, acorrentada pelos pulsos.

Ela tinha vários ferimentos e hematomas por todo o corpo; sua roupa estava rasgada, como se tivesse sido estraçalhada por um pitbull raivoso. Seu cabelo estava tão sujo que eu não consegui reconhecer a cor.

Ela parecia estar à beira da morte. Corri até a mulher. Eu tinha que libertá-la.

– Fique calma, eu vou tirar você daqui. – murmurei; mas a mulher continuou fitando o vazio. Ela não parecia me ver.

Segurei as correntes, mas no momento que minhas mãos encostaram no ferro, levei um choque forte que me fez recuar pra trás. Agora, as correntes brilhavam com uma estranha eletricidade verde. É encantada!

Pisquei. Se aquilo era um sonho, por que minha dor parecia tão real? E por que diabos eu estava tentando salvar aquela mulher? Ela era apenas fruto da minha imaginação, certo?

De repente, senti um calafrio correr minha espinha. Foi como se a temperatura houvesse caído uns dez graus. A mulher acorrentada levantou a cabeça abruptamente.

– Ele está vindo... – Ela murmurou, a voz cheia de pânico. Começou puxar as correntes, mas elas voltaram a brilhar com eletricidade verde; estava queimando a pele da mulher, mas ela parecia estar em desespero demais pra perceber.

A coisa se aproximava; eu podia sentir. O desespero também se apoderou de mim. Aquilo era um sonho, mas eu sentia que o que quer que fosse aquilo, podia me machucar.

Eu tinha que sair dali.

Comecei a correr em direção à saída, mas parei quando escutei o soluço da mulher. Eu também não podia deixa-la ali; não duvidava que aquela coisa havia a machucado daquele jeito.

Mordi o lábio. Eu não era cruel o suficiente pra sair dali e deixa-la.

Voltei correndo até a mulher.

– Vamos ter que puxar as correntes na mesma hora, escutou? – Falei, mas novamente, a mulher não parecia me escutar.

Me abaixei na frente dela e a sacudi pelos ombros. Por que ela não podia me ver?

– Ei, acorde! Estou tentando te ajudar!

A mulher olhou em minha direção e senti um embrulho no estômago. Os olhos. Tenho certeza que já os vi em algum lugar... Mas aonde?

Ela me encarava, mas eu podia perceber que não estava me vendo; ela olhava para algo além de mim.

Senti uma sensação gelada se apoderar de mim. A tocha se apagou sozinha. Os olhos da mulher estavam vidrados de pânico; meus membros não se moviam.

Eu não precisava olhar pra perceber que a coisa estava atrás de mim.

Olhe só... tenho uma visita. – Uma voz profunda, gutural e grotesca fez meus pêlos se arrepiarem.

Isso é um sonho. Ele pode me ver. Ele vai me matar.

A mulher deu um berro esganiçado que fez meus ouvidos doerem. Senti quando a sombra escura e fria da criatura caiu sobre mim.

Acordei soltando o grito que estava entalado em minha garganta.

Sentei-me abruptamente, sentindo o ar faltar em meus pulmões. Eu ainda podia sentir a presença da criatura atrás de mim.

– Acalme-se! Você está de volta! – Escutei alguém dizer ao meu lado.

Havia um rapaz ao meu lado. Ele tinha cabelos loiros e olhos castanhos; percebi que havia uma estranha marca tatuada na palma de sua mão. Olhei ao redor e vi Clarisse ao pé da cama e mais dois filhos de Ares; eles tinham as expressões atônitas.

– O que está acontecendo aqui? – Perguntei, confusa.

– Eu também gostaria de saber. – Clarisse falou. – Phill simplesmente invadiu nosso chalé, dizendo que precisava te acordar.

Fitei o garoto loiro, confusa.

– Hã?

– Eu sou filho de Hipnos. – Phill falou. – Sabe, o deus do sono. Consigo sentir quando algo estranho está acontecendo nos sonhos das pessoas. Semideuses normalmente têm sonhos diferentes dos humanos... Às vezes, são capazes de ver coisas.

– Tipo premonições. – Um dos filhos de Ares falou.

– Exato. Mas... algo um pouco mais estranho aconteceu com você. – Phill falou, seu tom de voz ficando tenso.

– O quê? – perguntei, já ficando irritada com tanto mistério.

Phill engoliu em seco.

– Seu espírito foi... transportado para outro lugar. Tirado do seu corpo. Alguém queria que você visse algo. – Phill falou.

– Não foi só um sonho?

Phill negou com a cabeça.

Senti uma sensação ruim se apoderar de mim. Se aquilo não foi um sonho, então quer dizer que aquela mulher está realmente aprisionada em algum lugar? E que... a presença fria também existe?

Olhei para minhas mãos e arregalei os olhos.

Elas estavam feridas... com marcas de queimadura. Do momento em que tentei puxar as correntes.

Abri e fechei a boca, tentando computar aquilo tudo.

– Hm, isso foi estranho. – Clarisse murmurou. – Jessica, se apresse. Todos já se levantaram e saíram. Ande logo ou você vai perder o café da manhã. E você, Phill, faça o favor de sair logo do nosso chalé.

Phill engoliu em seco e se levantou rapidamente.

Clarisse e os outros deixaram o chalé enquanto eu me vesti rapidamente. Saí correndo até o banheiro feminino, querendo escovar os dentes, mas alguém me puxou pelo braço até um canto.

Olhei Phill, confusa.

– O que foi?!

– Eu não falei na frente de Clarisse porque ela não precisa saber disso. – Phill falou, tenso – É normal que o espírito de um semideus seja levado pra outro lugar; isso acontece com todo mundo. Mas o que aconteceu com você foi que... Bem...

Revirei os olhos.

– Fala logo!

– Estavam tentando te matar, Jessica. Você estaria morta se eu não houvesse te acordado. Eu não sei quem fez isso, mas não há dúvidas de que é alguém poderoso. É bom você tomar cuidado de agora em diante.

Aquela foi a primeira vez que eu participei das atividades do Acampamento.

Não era tão difícil assim. Descobri que eu tinha uma grande facilidade em realizar atividades extremas e perigosas.

O que me incomodou foram as... pessoas.

Fiquei rodeada por filhos de Ares o dia todo. Meus irmãos. Foi mais do que estranho. Vivi a minha vida inteira sozinha, e de repente descubro que tenho tantos irmãos.

Eu era um pouco diferente dos outros filhos de Ares: a maioria das garotas é alta, mas sou bem mais baixa que elas. A maioria tem um físico de grande porte, diferentemente de mim, que sou magra e não tão musculosa. Os cabelos deles são quase sempre castanho-escuros ou pretos, e os meus são ruivos. A única semelhança gritante é a cor dos olhos: castanho-escuros, uma cor que vai do chocolate à um tom estranho de vermelho.

Mas, se formos olhar pelo lado da personalidade, é inegável que sou uma filha de Ares. Violenta, pouco sociável, pavio-curto, boa com armas e artes-marciais – assim como todos aqui. Pelo menos nisso sou parecida.

Mas na verdade, eu não pensei muito sobre isso àquele dia. O que ficava voltando à minha mente foi o sonho.

Estavam tentando te matar, Jessica.

Aquilo havia me assustado. Por que alguém iria querer me matar? Não me lembrava de ter feito algo tão terrível pra que desejassem minha morte.

Já passava das cinco da tarde, portanto estávamos dispensados das atividades. Eu já havia tomado meu banho, então agora estava livre pra fazer o que quisesse.

Mas aí estava o problema. Eu não tinha o que fazer.

Meus irmãos me convidaram para passear por Nova Roma com eles, mas recusei o convite. Minha mente estava turbulenta demais; eu precisava ficar sozinha.

Fui rapidamente até o armazém de armas e escolhi uma bainha para mim – eu não podia sair andando por aí carregando minha espada pela mão. Coloquei a bainha como um cinto em minha calça, depois saí de lá; tinha muita gente. Eu queria ficar só.

Eu caminhava próxima ao lago de canoagem, onde podia ver o Sol se pôr. Eu tinha uma sensação estranha no estômago, mas não sabia dizer o quê – e duvidava que fosse indigestão. Ao longe, podia ver a massa de semideuses caminhando em grupos, entrando e saindo do Acampamento Júpiter, se divertindo. Haviam me dito que romanos e gregos quase se mataram, mas era difícil imaginar isso agora que eu observava essa relação de paz que eles tinham.

Parei de andar e fitei o lago, que parecia quase preto agora. O céu estava coberto por espessas nuvens escuras. A temperatura dizia que logo começaria a nevar. Não vou dizer que estava muito ansiosa pra isso.

Uma brisa gelada jogou meus cabelos para trás. Foi como se as sombras ao meu redor houvessem ficado mais espessas. Franzi o cenho. Essa sensação... Eu já havia sentido antes.

Me virei a tempo de ver Nico saindo de dentro de um turbilhão de sombras.

Eu ia dizer alguma coisa, mas não consegui quando o filho de Hades me puxou pelo braço com pressa e começou a me arrastar até o bosque do Acampamento. Encarei-o, sem entender.

– Ei! Me larga! - Reclamei, puxando meu braço, mas ele não me largou. – O que você quer?!

– Quero que você me diga o que está escondendo. – Nico falou, sem me encarar.

– “Escondendo”? Você enlouqueceu? – Falei, indignada.

Nico me encarou pela primeira vez e senti um calafrio subir minha espinha. Ele não parecia realmente irritado, mas seu olhar não deixava de ser assustador. Suas íris eram literalmente pretas; não era como se fossem castanho-escuras. Ele tinha o poder estranho de jogar uma eletricidade amedrontadora nas pessoas.

Eu tinha ouvido falar que os filhos de Hades tinham esse tipo de poder: fazer as pessoas sentirem medo, se sentirem acuadas.

– Não se faça de idiota. Você está escondendo algo.

Nico finalmente parou; estávamos dentro do bosque, atrás de uma grande árvore. O lugar pareceu ter ficado ainda mais escuro por causa de Nico.

– Se você queria um lugar com privacidade, escolher esse aqui e burrice. – Eu falei, lembrando-me de todos os espíritos da natureza que ficavam ali.

Nico revirou os olhos.

– Eu não preciso me preocupar com isso. As ninfas fogem de mim. – Ah. Fazia sentido. Parece que todo mundo tem medo dos filhos de Hades. – E pare de tentar fugir do assunto. Você está escondendo algo.

– E se eu estiver? Por que deveria contar pra você? – Perguntei inquisitivamente, cruzando os braços.

– Por que isso me inclui. Eu sei que você conseguia enxergar aquele espírito de ontem e não, isso não é normal. Se você fosse uma filha de Hades, eu até poderia entender, mas Ares te reclamou ontem, o que já acho suspeito.

– “Suspeito”? – Franzi o cenho.

– Você não acha estranho que Ares tenha te reclamado no mesmo dia em que uma legião de espíritos simplesmente fugiu do Mundo Inferior e veio atrás de você?

Engoli em seco.

– Eles estavam mesmo atrás de mim?

– Não vejo outro motivo pra terem vindo até aqui.

Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha. Será que eu deveria contar a ele?

– Se eu tenho que contar algo à alguém, esse alguém deve ser Quíron. – Falei.

Nico levantou os braços, um sinal de irritação.

– Se você confia tanto nele, por que não contou o que está escondendo aquele dia? Por que resolveu guardar pra você? – Nico se aproximou um passo e abaixou o tom de voz. – Se você quer saber porquê estou tão interessado, eu tenho a sensação de que algo muito grande está para acontecer. Quíron sabe o que está acontecendo, ou pelo menos tem uma ideia. Ele vai esconder isso de todos. Pude perceber por causa da conversa que tivemos ontem.

Arregalei os olhos, me lembrando da conversa que escutei Quíron ter com Annabeth, alguns dias atrás. Algo sobre uma “Profecia Proibida”...

Você é uma maldição.”

Minhas mãos ficaram moles. Sentei-me no chão, encostada na árvore, sentindo meu estômago se embrulhar.

E se aquela tal profecia não fosse realmente uma profecia? E se o que Quíron escondia se referia à uma... maldição?

– Eu não falei sobre ele pra Quíron porque não tinha certeza se deveria. – Comecei, o tom de voz baixo.

Nico sentou-se ao meu lado, hesitante.

– “Ele”?

Assenti com a cabeça.

– O espírito que vimos ontem. – Umedeci os lábios. – Eu o vejo desde que me lembro por gente. Eu costumava ter medo quando criança... Ele aparecia à noite ou em lugares escuros, sempre quando eu estava sozinha. Nunca tentava nada. Só ficava parado me olhando. Mas todos diziam que ele não existia... Então, percebi que só eu podia vê-lo. Aos poucos, fui perdendo o medo. Quanto mais velha eu ficava, menos ele aparecia. Até que, no dia do incêndio, ele surgiu pra mim depois de meses. Foi ele que abriu aquele... portal de sombras pra que eu pudesse fugir. Ele me seguiu até Long Island, mas depois desapareceu.

Nico ficou em um silêncio tenso.

– Você quer dizer que aquele espírito te persegue desde quando você era criança? – Ele perguntou depois de um tempo.

Fiz que sim.

– Isso não é normal?

– Não, não é. – Ele falou sombriamente. – Definitivamente não é normal. – Ele passou a mão nos cabelos nervosamente. – E aquilo que ele disse? “Você é uma maldição”. Sabe o que significa?

Senti um calafrio. Não sabia que Nico também pôde ouvir o que o espirito disse.

– Apenas uma vez. Em um sonho.

Descrevi o sonho do labirinto para Nico. Sua expressão ficava mais confusa a cada palavra que saía da minha boca.

– Um labirinto? Tem certeza? – Ele perguntou quando terminei.

– Sim, tenho certeza. Eu sempre tenho esse sonho, e é sempre o mesmo lugar.

Nico colocou a mão no queixo, pensativo.

– Não pode ser o que estou pensando...

– O que você acha que é? – Perguntei, esperançosa.

– Você diz que sonha em estar correndo em um labirinto... A única coisa que vêm à minha mente é o Labirinto de Dédalo. Mas isso é impossível, porque o Labirinto de Dédalo foi destruído... Quer dizer, ele se reergueu durante a batalha contra Gaia, mas não sei dizer se ele sumiu de novo depois que a guerra acabou.

– E o que tem esse tal Labirinto? Ele é ruim?

Nico fez uma careta.

– É mais do que ruim. Eu já estive lá, e acredite, você não vai querer saber como é.

Realmente, eu não queria saber como era.

– Tá, mas esse tal Labirinto de Dédalo não deve ser o único no mundo, certo? Devem existir outros por aí.

Nico deu de ombros.

– Não que eu conheça.

Comecei a bater meus pés no chão nervosamente.

– Eu não sei nada sobre esse labirinto, mas sei que há alguma coisa ruim lá. Muito ruim. E, pelo que eu entendi, a coisa tem uma prisioneira.

Nico franziu o cenho.

– Como?

Mordi o lábio. Eu devia contar sobre aquilo para Nico?

Mas, bem, eu já tinha começado, então era melhor continuar. Contei sobre o sonho de hoje à noite; falei sobre o aviso de Phill. E, de quebra, ainda contei sobre a estranha conversa entre Annabeth e Quíron, sobre a “Profecia Proibida”.

Agora, Nico parecia mais do que confuso.

– Tentaram te matar pelo sono? Eu já tinha ouvido falar sobre isso... Mas não é nada comum. – Nico suspirou pesadamente. - E essa tal profecia... Isso me preocupa. Meu pai disse que iria consultar as Parcas. Pode ser que ele tenha ido falar com elas sobre essa profecia. Mas eu nunca tinha ouvido falar sobre isso.

Mordi a parte interna da minha bochecha.

– Você acha que é ruim?

– Pelo jeito que você contou, Quíron ficou bem tenso quanto a isso. E profecias nunca são boas.

De repente, escutei um barulho logo atrás de mim. Antes que eu sequer me desse conta do que estava acontecendo, meu corpo já havia se movido bruscamente para atrás da árvore. Caí em cima de uma pessoa, imobilizando-a; desembainhei minha espada e a apontei para a garganta da pessoa.

Pisquei várias vezes antes de perceber quem era.

– Marina? – murmurei.

A filha de Apolo estava com os olhos arregalados, em pânico. Ela olhava para a ponta de minha espada.

– Por favor, não me mate! Eu juro que escutei a conversa de vocês sem querer!

Cerrei os olhos.

– Você estava nos escutando?

– S-Sim! Q-Quer dizer... Eu estava voltando do treino e passei por aqui, então escutei uns barulhos...

Apertei o punho da espada.

– Então, quer dizer que você casualmente escutou a conversa de outra pessoa? – Levantei a sobrancelha.

– Eu fiquei porque escutei vocês falando sobre a Profecia Proibida! Eu sei algo sobre isso!

Arregalei os olhos em surpresa. Saí de cima de Marina, que se afastou de mim cautelosamente. Ela observou, ainda assustada, enquanto em embainhava minha espada novamente.

Revirei os olhos.

– Relaxa, garota. Eu não vou te matar.

– Pois eu pensei que você fosse.

Bem, realmente, minha intenção era partir pra cima do perigo, independente do que fosse.

Parece que me dar uma espada de presente não foi uma boa ideia.

– O que você sabe sobre a Profecia? – Nico perguntou.

Marina olhou-o e pareceu se assustar de novo. Minha teoria de que filhos de Hades causam medo naturalmente nas pessoas estava certo. Ela se ajeitou, sentando-se na nossa frente.

– Eu não sei muita coisa sobre isso. Mas meu pai é Apolo, o deus da profecia... – Ela mordeu o lábio. – Faz algum tempo que escutei falar sobre isso. Foi uma conversa entre Quíron e o Sr. D.

Franzi o cenho.

– Quem é o Sr. D?

Marina me olhou com estranhamento.

– Você ainda não o conhece?

– Dioniso está ausente do Acampamento desde antes da Jessica chegar. – Nico falou. – Sr. D é o diretor do Acampamento. Como eu já disse, ele é Dioniso.

Assenti e Marina prosseguiu:

– Quíron estava preocupado. Ele disse que Rachel recebeu uma profecia que ele vinha temendo à muito tempo... uma tal “Profecia Proibida”. Eu fiquei curiosa, então fui até alguns pergaminhos de Apolo pra ver se tinha algo falando sobre isso. E realmente tinha: falava algo sobre uma “profecia milenar” que os deuses tentaram esconder.

Passei as mãos pelos meus braços, tentando espantar o frio.

– Só dizia isso?

– Ai é que está o problema. O pergaminho estava rasgado depois dessa frase, então eu nunca soube o que queria dizer. Depois daquele dia, o mesmo pergaminho desapareceu e eu não ouvi mais falar sobre isso.

– Estão tentando apagar tudo sobre ela. – Nico falou, pensativo. – Precisamos descobrir sobre o que essa profecia se trata.

– Como? Você mesmo acabou de dizer que não há provas sobre ela.

– Mas há pessoas que sabem coisas sobre ela.

Nico levantou-se e limpou a sujeira das calças.

– O que você vai fazer? – perguntei.

Eu não vou fazer nada; nós vamos fazer. Isso também te inclui. – Ele falou, se referindo à Marina.

Ela arregalou os olhos.

– Por que eu?

– Agora que você já se intrometeu, pelo menos ajude. – Nico falou.

Levantei-me também.

– O que pretende?

Nico fitou-me, pude ver a mente turbulenta dele funcionando.

De repente, pensei que me meter com o filho de Hades não era uma ideia tão boa.

– Vamos falar com Rachel. Depois, vamos atrás de Annabeth e arrancar tudo o que ela sabe. Essa história está muito mal contada, e eu não vou descansar até descobrir toda a verdade.


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Notas finais do capítulo

Link da minha outra fic::: socialspirit[.]com.br/fanfics/historia/fanfiction-bap-dangerous-1975019
[É um crossover entre EXO, SuJu, SNSD, F(x), BTS, B.A.P e Block B. Ação, Romance, Drama, Violência /adooro/ Se você já conhece meu jeito de escrever, é bem nessa pegada, porém essa fic é a mais dramática que já escrevi. Gira em torno do mundo do crime da Ásia, políticos corruptos e assassinos frios.]

Vou tentar não tentar demorar pra postar o próximo c: By the way, quem aqui já leu Sangue do Olimpo? Eu ainda não li, mas sei que vou chorar ;-;

Até a próxima!

PS.: É muita cara de pau a minha pedir que vocês comentem?



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