As estrelas sabem escrita por Senara Luany


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura.



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Não acho que exista alguém que nunca tenha sonhado em deixar a casa dos pais aos dezoito anos, não só sair de casa, mas da cidade. Aprender a crescer sozinha, cometer os próprios erros e ser a própria liberdade. É algo que durante a adolescência se torna sua principal meta. E quando você consegue é como se o mundo todo pudesse ser só seu.

Eu estava a um dia de ir embora, e não queria o mundo todo. Li todos os livros que conseguira durante as férias. Era isso: a fantasia mantinha minha sanidade. As histórias supriam minhas carências.

Não era como se eu vivesse de ficção e não pudesse amar coisas reais. Só que a realidade era apenas o suficiente para me fazer existir, porque o meu verdadeiro sentido de vida estava na fantasia.

Então eu me despedi de alguém que poderia ser meu príncipe encantado, meu coração perdido dentro de mim, e promessas (que eu sabia que não cumpriria) foram feitas. Eu vou te ligar. Vou te escrever. Manteremos contato. Tudo mentira, ele já não fazia diferença na minha vida e lágrimas não existiam na nossa realidade.

Depois me despedi de outras pessoas, que poderiam ser minhas fadas madrinhas, meus gênios da lâmpada, e ainda me perguntava se algum dia fora capaz de sentir meu próprio coração. Um amontoado de nada. Mais falsas promessas.

Eu não me importava o suficiente para cumpri-las. E eu realmente pensei que talvez fosse capaz de chorar. Mas não era. E isso não fazia a menor diferença na minha vida. Eu estava indo embora, era um sonho se realizando e nem tinha completado 18 anos ainda. Não me importava com as pessoas que estava deixando para trás, nem sentia falta da escola, ou das pessoas que conhecera nos anos anteriores. Eu sempre fui o tipo de pessoa que supera e esquece rápido, sou boa nisso, em esquecer, fingir que nunca existiu, uma história mal feita.

Eu era algo preso entre a realidade e a ficção, às vezes tinha dúvidas quanto à minha existência. Eu era real?

Era minha última noite naquela cidade, no minha casa, no meu quarto.

Faltava me despedir de uma pessoa ainda. Uma amiga. E eu sabia que também não choraria. Só que essa era diferente, também era algo preso entre a realidade e a ficção. Ela era real? Ela chegou por volta das oito da noite.

Eu estava terminando a última mala. Lá fora as estrelas brilhavam para uma lua um tanto pálida e diminuta. O ar leve, de uma brisa suave, meio que sussurrando “eu tenho uma surpresa para você”. E o universo inteiro tentando entender o significado por detrás daquelas palavras. As galáxias desenterrando lembranças e eu as encaixotando e jogando pela janela. Que o vento as leve e deixe-as perdidas.

Então aquela garota baixinha e toda delicada estava parada à porta do meu quarto. Trazia consigo um sorriso tímido, que parecia dizer “você vai mesmo?” E meus olhos gritaram rudemente: “a Terra do Nunca é só parte da fantasia”. Ela conhecia meu desejo de crescer.

Ela me ajudou a terminar a última mala, depois fomos para o jardim, deitamos no gramado e observamos as estrelas, fingindo que cada uma delas significava uma lembrança que eu insistia em deixar para trás.

E chegou a hora. E seria fácil como fora com todos os outros. E eu não ia chorar. E não foi. Foi a coisa mais difícil que eu... não era algo para que tivesse me preparado. E assim eu percebi que não éramos fantasia, e sim realidade, e meu coração batendo muito consciente no meu peito, ameaçando a fugir junto com aquela lágrima que descia involuntariamente por meu rosto.

Naquele momento eu percebi que não queria mais ir, não queria deixá-la, e se ela me pedisse, eu juro que ficaria. Mas ela não pediu. Não era egoísta a esse ponto. Ela sabia que a Terra do Nunca era apenas ficção.

E eu não gostava de garotas daquele jeito. E nem ela. E ela tinha namorado. E nós éramos amigas. E bem lá no fundo, essa era mais uma coisa com a qual eu não me importava.

Então me virei de lado, na grama, olhando em seus olhos, me aproximei de uma vez e, antes que perdesse a coragem, toquei seus lábios com os meus. Assim, suavemente, apenas testando. De repente sua boca se abria lentamente, também apenas testando, sentido, e logo que minha língua a invadiu, a garota me puxou para mais perto, os braços me envolvendo, e quando percebi já estava deitada em cima dela.

O beijo continuou, e não era mais apenas um teste, e meu coração totalmente vivo, real e consciente fazia uma promessa. E as minhas lágrimas eram testemunhas, junto com as estrelas, que pareciam brilhar mais e a brisa suave que sussurrava “essa você vai cumprir”.

FIM!


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Notas finais do capítulo

Então?



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