A Vida Prega Peças escrita por Crow


Capítulo 5
Furancãozinho chamado Rob


Notas iniciais do capítulo

Passei de ano direto e ja estou de ferias então vou postar mais frequentimente.
Espero que gostem desse capitulo!



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- Papai? – Nikki chamou, assim que Alice  se levantou, cheia de pastas e papéis, para voltar à sua sala. – você se lembra que prometeu me dar o que eu quisesse no almoço, se eu ficasse boazinha essa manha?

 

- Sim... – ele disse, desconfiado.

 

- Podemos ir a uma loja de animais em vez de almoçar, e comprar uma coleira para o Rob?

 

- Nikki, não quero que se apegue a esse cachorro!

 

- Não vou me apegar, papai. Mas por favor... Você prometeu!

 

- Eu estava pensando em comer uma pizza que você tanto gosta. – Jasper olhou de modo acusador para Alice, insinuando que era tudo culpa dela. – Talvez devamos deixar Alice cuidar do cachorro. Ela o pegou, é responsável por ele.

 

- Alice não vai ter tempo de sair para almoçar – Nicole continuou antes que Alice tivesse chance de falar.

 

Não teria mesmo tempo, Alice pensou, olhando para a pilha de papéis que a esperava.

 

- Não se preocupe Nikki. Tenho certeza de que encontraremos uma corda, ou alguma coisa que se pareça com uma coleira, aqui mesmo. – ela disse, optando por uma voz de mártir que sabia que seria a que menos perturbaria Jasper. – Você pode sair com seu pai e aproveitar o almoço. Não se preocupe com o Rob.

 

Jasper voltou-se para ela carrancudo.

 

- Ah, isso vai ser ótimo! Tudo em prol de sua imagem profissional, não é mesmo? Minha secretária pessoal saindo do escritório com um vira-lata amarrado em uma cordinha!

 

- Posso esperar ate que todos tenham saído. – Alice falou em tom inocente.

 

- Ah, papai. Por favor! Diga que podemos ir a uma loja... – Nikki interrompeu-os. – Eu fui boazinha, não fui, Alice? E você disse outro dia que todos têm que cumprir suas promessas.

 

Alice engoliu um sorriso ao ver o olhar de frustração de Jasper. Nikki com certeza não precisava de conselhos de como lidar com o pai.

 

- Não sei onde vamos encontrar uma loja de animais por aqui... - ele resmungou.

 

- A maioria das grandes lojas tem uma seção de animais de estimação.

 

Jasper não se mostrou grato com a observação. Alice percebeu quando ele se voltou para ela com um olhar maligno.

 

Quando Nikki estava saindo com o pai, o cachorro se aproximou mais de Alice, torcendo-se todo para tentar agradá-la. Ele não era mesmo bonito, mas seus grandes olhos castanhos eram tão confiáveis que ela sentiu o coração acelerar por ele.

 

Alice sabia que também não devia se apegar ao cão. Ela não poderia ficar com ele teria que achar quem pudesse, mas mesmo assim o pegou-o, incapaz de resistir àquele abanar de cauda. Ele era pequeno o bastante para deitar-se em seu colo e ajeitou-se com prazer.

 

O pobre animal não a atrapalhava em nada. Ela podia digitar, passar e-mails, falar no telefone e tudo o mais. Do mesmo jeito.

 

Eram quase duas e meia da tarde quando Jasper  e Nikki voltaram. A pequena trazia várias sacolas nas mãos e ao chegar perto de Alice, começou a despejar tudo que comprara no chão. Uma cesta, brinquedos, uma pequena pá para casos de necessidades, comida de cachorro, e também uma linda coleira que tinha sido o objetivo daquela excursão.

 

Jasper tinha uma expressão resignada, observando o entusiasmo da filha ao mostrar a Alice tudo que havia persuadido a comprar.

 

- Aqui esta a coleira! – ela exclamou, exibindo-a com orgulho. Alice  não deixou de rir quando a viu. Era feita de veludo vermelho e tinha pedrinhas que imitavam diamantes. De excelente qualidade, devia ter custado uma fortuna.

 

- Não me diga! Foi seu pai quem escolheu!

 

A ironia atingiu Jasper em cheio. Apenas o canto da boca dele tremeu, mas Alice sentiu como se tivesse conquistado o Everest. Não era bem um sorriso, mas pelo menos era uma resposta.

 

Alice forçou-se para não desviar a atenção de Nikki, que estava lhe dizendo que a coleira era seu presente para Rob.

 

- Eu usei o meu dinheiro. – disse com orgulho.

 

- Foi muito legal de sua parte – Alice reconheceu, olhando receosa para a pilha de presentes e para

 

Rob.

 

- Papai pagou o resto. – Nikki admitiu como se lesse os pensamentos de Alice.

 

Alice voltou-se para Jasper. O rápido toque de humor havia se desvincado, deixando-o com a aparência austera de sempre.

 

- Eu vou lhe pagar o que gastou. Ela prometeu.

 

- Por favor, não. – ele disse. – Espero esquecer que tudo isso aconteceu o mais rápido possível.

 

- Bem, obrigada de toda forma – disse Alice, decidida a agradecer mais propriamente em outro momento. E abaixou-se para pôr a coleira em Rob, que se agitou todo com o objeto pouco familiar.

 

- Olhem só como se parece mais esperto gora! – ela exclamou, sorrindo para Nikki. – Você foi muito gentil desistindo de seu almoço por ele...

 

- Eu não deixei de comer pizza... – Nikki teve que admitir.

 

Alice abriu um largo sorriso, sentindo o estômago roncar de fome.

 

- Não achei mesmo que seu pai ia deixá-la com fome.

 

- Veja, trouxemos um sanduíche para você. – Nikki disse, para surpresa dela, pegando uma sacolinha com o pai. – Papai falou que você precisava comer alguma coisa.

 

Alice ficou um tanto sem ação, segurando a sacolinha. Por fim, resolveu abri-la, encontrando um banquete de frango, bacon e mussarela. Era o seu recheio favorito. Como ele podia saber?

 

Levantando timidamente o olhar para Jasper, Alice sentiu que um clima se formou entre eles por alguns instantes.

 

- Obrigada... – ela agradeceu, mal podendo respirar e sentindo-se ridícula.

 

- Não poderia deixá-la passar fome – Jasper disse secamente – temos muito o que fazer essa tarde.

 

Bem ele havia se lembrado dela. Um arrepio correu seu corpo, e ela relembrou o conselho de Rosalie. “Não faça isso, Alice.”

 

Umedecendo seus lábios, estendeu-lhe várias cartas para que assinasse.

 

- Já marquei as reuniões que me pediu, e a versão final do projeto esta sendo xerocopiada neste momento.

 

- E os acertos da próxima quinta-feira?

 

- Estão feitos.

 

- Parece que esteve realmente ocupada. – ele grunhiu.

 

Mas, a despeito dos modos dele, Alice se sentiu confortável pelo reconhecimento.

 

Tenha cuidado, Alice avisou a si mesma. Sabe que não consegue controlar seus sentimentos.

 

Ela se manteve ocupada por toda tarde. Nikki passara horas brincando com Rob, jogando bola pelo corredor, correndo. Mas perto de cinco horas, ambos aparentavam um enorme cansaço.

 

Alice bateu na porta da sala de Jasper.

 

- Acho que Nikki precisa ir para casa. – ela disse, já esperando que ele dissesse para ela cuidar da própria vida. – Posso terminar sozinha o que falta, se quiser ir...

 

Jasper olhou para o relógio e franziu o cenho.

 

- Não percebi que já era tão tarde. É melhor que eu a leve, mesmo... Tem certeza de que pode ficar?

 

- Claro. Cheguei mesmo atrasada essa manha, assim ficamos quites. – ela sugeriu brincando, mas depois acrescentou: - Não me importo em ficar, honestamente. Não quero levar o cachorro para casa nesse horário em que o metrô esta lotado, e não há muito mais o que fazer.

 

- Bem... Obrigado – disse Jasper com uma voz rouca, enquanto se erguia e pegava seu paletó. Parecia muito desconfortável, e Alice pensou na dificuldade que tinha para agradecer por qualquer coisa.

 

- Sinto pelo transtorno que causei.

 

Jasper estava remexendo em seus bolsos a procura de suas chaves.

 

- O que vai fazer com o cachorro? -  ele perguntou abruptamente, quando Alice abriu a porta para sair.

 

 - Meus pais moram no interior. Eles adoram animais, e têm muito espaço por lá. Acho que vou levá-lo para eles. O problema é que estão de férias e voltam só daqui a três semanas. Vou ficar com ele  durante esse tempo. Vou ter de deixá-lo o dia todo, mas  posso passear com ele assim que chegar em casa... a não ser que eu possa trazê-lo para o escritório? – ela olhou para Jasper com uma expressão marota. – Ele não dá trabalho, você viu como é quietinho.

 

Do final do corredor veio um som de latido e a risada estridente de Nikki. Jasper olhou seriamente para Alice.

 

- Quase sempre... – ela acrescentou.

 

- Acho que Nikki vai ser um problema maior que o cachorro. Ela não vai querer se separar dele agora.

 

Ele estava certo. Nikki estava convencida de que Rob deveria ir para casa com eles.

 

 

 

****

 

 

 

- Ele é um bebê e se acostumou comigo – ela protestou – vai ficar confuso se eu o deixar agora. – Jasper deu um pequeno rosnado.

 

- Mas você confia em mim para cuidar dele, não é? – Alice perguntou, tentando dissuadir a pequena de seu intento.

 

- Não é isso – Nikki disse, fazendo um muxoxo. – Se eu não levá-lo para casa, não vou vê-lo de novo – ela choramingou. – Por favor, papai. Você sabe que eu sempre quis ter um cachorro.

 

Jasper passou a mão pelos cabelos.

 

- Nikki você não pode cuidar dele, fica o dia todo na escola.

 

- Meredith não vai se importar de cuidar dele durante o dia.

 

- Eu não estou certo disso, e, de todo jeito, Meredith não esta em casa, não podemos perguntar a ela.

 

A pequena olhou para ele com os lábios trêmulos.

 

- Mas o que vai acontecer então? – perguntou tristonha. – Como Alice vai poder cuidar dele? Ela também fica o dia todo fora.

 

Jasper mordeu o lábio ao sentir-se encurralado. Precisava concordar com o argumento da filha, já que ele próprio o usara. – Alice vai trazê-lo para cá com ela – ele disse, sucumbindo ao inevitável.

 

- Então porque você não pode trazê-lo, papai? Você vem de carro, não vai fazer muita diferença para você. Eu passeio com ele de manha, e de noite você o leva para casa.

 

Jasper lançou um olhar significativo para Alice. Estava claro que, ele considerava que o cachorro era responsabilidade dela e pedia ajuda. Ela sorriu. Estava embevecida de observá-lo argumentando pacientemente com a garotinha de nove anos.

 

- Acho que é uma boa idéia, Nikki. – ela disse, ignorando o olhar maligno que Jasper lançou ao ouvi-la – Posso passear com ele na hora do almoço, ele não incomodará seu pai.

 

O rosto de Nikki se iluminou no mesmo instante.

 

- Oh! Sim papai. Por favor!

 

- E o que acontecerá quando Maria voltar? – Jasper perguntou,incomodado pela manobra das duas. – Ela com certeza não vai querer passear com um cachorro na sua hora de almoço.

 

A expressão de Nikki se entristeceu por um instante.

 

- Quando ela voltar, a irmã de Meredith também já terá melhorado, e com certeza ela não irá se incomodar de ficar com ele.

 

Alice tentou esconder um sorriso ante a expressão de Jasper.

 

- Você fez um excelente trabalho com Nikki – disse a ele seriamente, embora divertida. – São poucas as garotas da idade dela que sabem argumentar tão bem. Deve ter muito orgulho dela.

 

- Não descreveria como orgulho o que estou sentindo agora... – ele disse exasperado, pois já ficara óbvio que havia perdido a batalha.

 

- Muito bem... Mas...

 

Ele foi interrompido por Nikki que se jogou em seus braços, com os olhos brilhantes, agradecida.

 

- Oh! Obrigada, papai, obrigada! – ela gritou sempre seguida por Rob com seus latidos estridentes.

 

Ele sempre parecia carrancudo, mas era óbvio que se adoravam.

 

- Mas... – Jasper levantou sua voz acima da gritaria. – com uma condição. Você não deve se apegar a ele, Nikki. Pode levá-lo para casa hoje, mas só enquanto Alice estiver trabalhando aqui, ou ate que possa levá-lo para a casa dos pais dela. Você  esta na escola, eu estou no escritório, e não faz parte das funções de Meredith cuidar de um cachorro. Esse é o acordo. Concorda?

 

Nikki olhou como se estivesse refletindo. Alice quase a ouviu pensar que era a melhor oferta que conseguira naquele momento, e que poderia fingir aceitá-la ate que aparecesse coisa melhor.

 

- Esta bem – ela disse, olhando-o com a cabeça erguida.

 

Era tão parecida com o pai, que Alice sorriu ao ter a certeza que Jasper é um feliz proprietário de um ex-cachorro abandonado. Querendo ou não.

 

 E aquela era mesmo a melhor solução. Seus pais poderiam ficar com o cachorro, mas se envergonharia de  pedir que ficassem com mais um animal, depois de todos os outros que já levara. Gostaria também de ficar com Rob, mas percebeu a paixão que a menina sentira pelo cãozinho. Ele seria bem mais feliz com Nikki.

 

- Espero que Maria não volte nunca mais... – Nikki murmurou enquanto Jasper pegava seu paletó.

 

 Alice ficou desconcertada porque esse também era seu desejo.

 

Na manha seguinte foi a vez de Jasper chegar atrasado. Entrou no escritório com Rob pulando e latindo ao seu lado. Alice estava em sua mesa e olhou inocentemente para seu relógio.

 

- Não diga nada... – ele avisou, irritado.

 

Alice deu um pequeno sorriso.

 

- Eu não ia fazer isso.

 

- Suponho que tenha consciência de como você e esse cachorro desorganizam minha vida? – Jasper rosnou, enquanto Rob correu para Alice, reconhecendo-a.

 

Estava usando um vestido claro aquela manha, já que o terninho tivera que ir para a lavanderia por causa do episódio anterior. Apesar de ser um modelo comprido, com gola alta e mangas, era muito mais provocante do que aquele que usara no jantar de Edward e Bella, pois realçavam com perfeição suas curvas bem feitas.

 

Ela também desistiu de manter seus cabelos presos, e deixara-os caírem soltos por suas costas.

 

Apesar de julgá-la muito mal arrumada, pela primeira vez, Jasper percebeu que ela lhe parecia afetuosa e cheia de vida, ali, tentando manter o cachorro afastado do computador de seu escritório, antes tão asseado e arrumado...

 

 - Esse cachorro esta descontrolado – ele disse, a voz seca, como se sua garganta estivesse tensa.

 

- Oh! Mas ele é tão carinhoso, como posso brigar com ele?

 

- Diz isso porque não tentou levá-lo para passear. Ele não faz idéia do que é andar com uma coleira, e se você o solta dá tantas voltas que não consegue mais segurá-lo. Já é difícil o suficiente levar Nikki para a escola no horário, sem ter esse furacão em miniatura por perto. Ele comeu o meu melhor sapato.

 

- Mas ele é um bebê! – Alice exclamou. – E é isso que os bebês fazem. Você é quem precisa ser cuidadoso e manter as coisas fora do alcance dele.

 

- Não é um bebê, é um cachorro crescido e descontrolado!

 

Rob saltou em Alice, animado quando ela  segurou sua cabeça.

 

- Só precisa de um pouco de treinamento, não é? Logo, logo estará sentando e ficará quieto com uma única palavra.

 

- Então eu desafio a treiná-lo senhorita. E ensine-o também a fazer algo útil, como café da manha, ou limpar a cozinha para pagar os gastos que tenho com ele. – Jasper suspirou e tirou o casaco. – Que manha! Já é ruim ficar sem Maria, que dirá sem Maria e Meredith ao mesmo tempo.

 

- Quando ela voltará? – Alice perguntou, colocando o cachorro no chão e tentando não se sentir muito magoada, com o fato dele sentir falta de Maria.

 

- Não rápido o suficiente! – ele respondeu, pegando as cartas que Alice abrira para ele e começando a lê-las. – Não sou um homem prendado e há um limite para comida congelada. Mas a irmã de Meredith ainda esta no hospital, e ela não sabe quando poderá voltar.

 

- Não consegue contratar alguém temporariamente?

 

- Fica difícil sem saber por quanto tempo vou precisar contratar. Alem disso, Nikki odeia mudanças. Ela não gosta nem de ter empregada, queria que fossemos só nós dois. Consegue suportar Meredith, mas é o máximo que consigo dela.

 

- É mesmo difícil. - Alice concordou, percebendo que Jasper a olhava desconfiado, parecendo arrependido por haver confidenciado algo de sua vida particular.

 

- Bem, mas vamos começar... -  ele disse abruptamente. – Alguma mensagem?

 

- A secretária do Lorenzo telefonou. Você pode ligar para ele? - Alice consultou sua agenda. – Que você se encontre com ele esta tarde. Há alguns pontos que quer esclarecer antes de tomar uma decisão quanto aquele contrato. Qual é o problema? – ela perguntou ao ouvi-lo resmungar.

 

- Preciso ir encontrá-lo, não posso perder esse projeto. Mas prometi a Nikki que a pegaria na escola. Ela quer mostrar o cachorro aos colegas... - Jasper colocou as mãos nos bolsos, e fitou o chão com uma expressão preocupada. -  Ela sempre foi uma criança muito solitária. Acho que é inevitável, e esperava que ela fizesse mais amigos nessa nova escola. E que as outras crianças iriam pensar... – ele continuou relutante. – tenho receio de que ela tenha falado a todos sobre o cachorro e fique muito frustrada por eu não aparecer com ele.

 

- Quer que eu vá buscá-la com Rob? – Alice ofereceu-se, e ele ergueu a cabeça para olhá-la.

 

- Poderia fazer isso?

 

Alice evitou olhar nos olhos dele. Não tinha certeza do que tinha a motivado àquela oferta.

 

- Iria com prazer... – ela conseguiu dizer. – em parte isso tudo é culpa minha também.

 

Jasper hesitou.

 

- Posso não estar de volta antes das sete, Lorenzo não é uma pessoa fácil...

 

- Não há problema. – ela começou a arrumar alguns papéis em pilha sobre a mesa. Posso ficar com Nikki ate que volte.

 

- Tem certeza? Hoje é sexta-feira, não tem compromisso?

 

- Nada de especial – ela respondeu. – e eu posso sempre chegar atrasada.

 

- Não tem nenhum encontro com o analista financeiro?

 

- O que? Oh... – o sangue subiu-lhe o rosto, lembrando-se da estória que havia inventado para impressioná-lo. – Não. Essa é a vantagem de um homem de contos de fadas. –  ela disse erguendo o rosto pouco corado. – faz tudo que eu mando, é realmente um homem perfeito.

 

- Entendo. – um ar desconcertado tomou conta dos olhos de Jasper. – Bem, se não se importar gostaria muito que você fosse buscar Nikki na escola. Vou telefonar para a escola e avisa que você irá.

 

Porque estava fazendo aquilo? Alice se perguntou ao adentrar o carro que Jasper havia alugado para levá-la. Estava tão determinada a parecer fria e profissional, e aprontava aquilo.

 

Rose avisara para não se envolver, e ela não faria. Estava apenas ajudando-o em um momento de necessidade. Faria o mesmo por qualquer outra pessoa.

 

Não tinha nada haver com o calor que a aqueceu quando ela se lembrou do “quase sorriso” nos olhos de Jasper e em sua voz.

 

Ficar esperando no portão da escola com várias mães e babás foi uma experiência muito estranha.

 

Alice nunca se permitira a pensar em ter filhos. Mesmo no auge de sua paixão por Alec, ela sabia que a idéia de ter filhos não o atraía nem um pouco. Alec sempre queria que o mundo girasse em torno dele, e nunca se contentaria em dividir as atenções com alguém, muito menos com um bebê que não saberia bajulá-lo. E também não era confiável o suficiente para ser pai. Ao contrario de Jasper.

 

Quando as crianças começaram a aparecer no pátio, Alice desviou seus pensamentos de Jasper e procurou por Nikki... Por fim, avistou-a no meio da multidão, procurando por seu pai. Alice observou o momento em que ela percebeu que ele não estava ali e pode sentir seu desapontamento. Com alguma dificuldade para passar com Rob entre todas aquelas mães, Alice gritou para chamar a atenção da menina.

 

- Nicole!

 

O ar sombrio sumiu da expressão dela ao avistar Alice e o cãozinho. Em um instante já havia os alcançado.

 

- Seu pai ficou muito chateado por não poder estar aqui. – disse Alice rapidamente. – Mas ele mandou Rob de todo jeito, você não se importa, não é?

 

- Não... Se Rob veio... -  Disse abaixando para que o cachorrinho pusesse as patinhas em seus joelhos, para cumprimentá-la.

 

Logo, havia um circulo de  crianças curiosas em volta de Rob.

 

- É o meu cachorro... – Nikki disse com ar casual, como se não se importasse com a atenção dos outros.

 

Rob desempenhou seu papel com brilhantismo, fazendo festa e se comportando com tanta doçura, que todos perguntaram a Nikki se poderiam acariciá-lo. Foram momentos de gloria para a pequena. Suas faces estavam rosadas de satisfação quando saiu da escola, segurando triunfantemente Rob no colo e acenando para os colegas.

 

O escritório de Jasper era tão moderno e pratico, que Alice de algum jeito esperava que ele morasse em um lugar similar. Sua surpresa foi grande ao deparar-se com uma casa muito grande. À frente dela um amplo jardim, com um chafariz e algumas carpas dentro deste, extremamente bem cuidado, ideal para um cachorro.

 

Mas, por dentro, a casa parecia ter sido decorada por um profissional, era impessoal. O ar parecia estagnado, triste mesmo, como se nada ali pudesse ser tocado. Uma residência, e não um lar. Alice imaginou se estaria assim desde que Sara falecera.

 

Nikki correu para uma grande cozinha com portas francesas que davam para o jardim.

 

- Eu queria que Rob dormisse no meu quarto, mas papai disse que ele precisava ficar aqui. – ela disse a Alice, apontando o cesto com brinquedos postos em um canto.

 

- Acho que ele se sente melhor mesmo na cozinha. – Alice disse com tato.

 

Aquilo deveria ter causado uma batalha no dia anterior. Era fácil entender o porque Jasper estava tão estressado pela manha.

 

Enquanto a pequena bebia água, Alice observou a cozinha, lembrando-se do comentário de Jasper sobre comida congelada.

 

- você sabe cozinhar? – Nikki olhou para ela realmente curiosa.

 

- Bem... Sei fazer algumas coisas...   o que você gosta de comer?

 

- Lasanha! – ela pediu de imediato. -  Meredith não sabe fazer... acho que não comem isso do lugar de onde ela veio. – Nikki explicou compreensiva. -  você sabe fazer pudim?

 

- De alguns sabores. Por quê? Você também gosta de pudins?

 

- Papai adora, mas Meredith também não sabe fazer.

 

Alice gostou muito de saber que Jasper tinha uma fraqueza, mesmo que essa fosse por pudins.

 

- Você acha que ele gostaria de pudim de chocolate? – ela perguntou a Nikki.

 

- Ele adora chocolate.

 

- Bem, vamos ver se tem aqui ingredientes para fazer uma lasanha e um pudim...

 

Quando Jasper voltou para casa, encontrou sua filha e a secretária substituta e o cachorro na cozinha. Sem que ninguém percebesse sua presença, ele parou à porta, observando a cena. Normalmente Nikki corria para seu quarto ao chegar em casa, mas naquele dia, estava feliz ao lado da mesa, o cachorro aos seus pés, ajudando Alice a cozinhar. Havia farinha por todo lado, e a pia estava cheia de louça suja e utensílios de cozinha. O rosto de Nikki estava cheio de chocolate, e Alice não estava muito melhor.

 

Jasper foi obrigado a admitir que sua cozinha nunca fora mais aconchegante.

 

- Não se pode contar com esse cachorro nem para guarda, heim?

 

A ironia de Jasper ajudou a abafar o aperto em sua garganta.

 

Ao som de sua voz, Alice virou-se e Rob correu para seus pés, pulando, correndo em círculos ao seu redor, latindo e abanando a cauda com tanta rapidez, que só mesmo Jasper, com sua arrogância, para não sentir-se agradecido com o calor do cumprimento.

 

- Veja como ele esta feliz em vê-lo! – exclamou Nikki abraçando o pai.

 

Alice voltou toda a sua atenção para a tigela que mexia. Apenas o susto pela chegada inesperada, Alice disse a si mesma. Não havia motivo algum para ficar ansiosa. Era apenas Jasper e seu olhar frio, seu rosto tenso, sua presença sombria e austera. Nada que pudesse explicar o fato de todos os seus sentidos estarem alertas, ou o ar parecer ter evaporado de seus pulmões.

 

E não havia absolutamente razão alguma para que se sentisse subitamente tão  ridícula e embaraçada.

 

- Olá... – ela disse em resposta ao cumprimento dele, e um tanto afetada pelo seu desespero.

 

Pelo canto dos olhos, ela viu que Jasper tirava o paletó e afrouxava o nó da gravata.

 

- Tem alguma coisa cheirando bem aqui...

 

- Você não vai acreditar papai! Alice fez lasanha. – Nikki continuou com expressão séria. – E eu estou fazendo a salada, e... Também teremos pudim de chocolate! Fizemos o pudim especialmente para você.

 

Jasper olhou Alice, que enrubesceu e bateu com força a peneira dentro da bacia.

 

- Nikki disse que você adorava chocolate.

 

- É verdade.

 

- Espero que não se importe por eu ter invadido sua cozinha desse jeito – Alice disse um pouco ansiosa. – pensei em preparar o jantar, já que estava aqui.

 

- Me importar? – Jasper repetiu as palavras. – Estou grato.

 

Ele parecia menos teimoso e terrível do que o habitual, como se boa parte da rigidez estivesse tivesse deixado seu corpo. Bem estava em sua casa, seria de se esperar que ficasse mais relaxado que no escritório.

 

Mas aquele novo comportamento dele era ainda mais perturbador. Ela não sabia como lidar com este Jasper mais amigável, e aquilo a deixava mais nervosas que suas grosserias.

 

- Não vou me demorar. – ela disse incerta sobre o que devia fazer. – E prometo limpar tudo antes de ir embora.

 

- Mas vai jantar conosco, não vai? – perguntou Jasper, e Nikki o seguiu, como se não contasse com a possibilidade de que Alice não os acompanhasse.

 

- Oh... Você tem que ficar...

 

Ele podia estar apenas sendo gentil, Alice pensava, sem parar de bater a massa. Ela queria ficar, estava muito apreensiva. Sentia-se muito estranha e isso tinha a ver com o modo em que Jasper a olhava parada ali de pés.

 

- Bem eu...

 

- Você disse que não tinha nada em especial para fazer esta noite. – Jasper relembrou-a.

 

- Sim, mas...

 

 - Eu chamarei um taxi para levá-la em casa mais tarde. – ele prometeu, e então, como se as palavras saíssem sem controle da boca dele, continuou: - Por favor, fique.

 

O que ela poderia dizer?

 

- Esta bem, eu aceito o convite.

 

Foi então que Jasper sorriu. Um sorriso real, só para ela.

 

As mãos de Alice tremiam quando ela foi trocar de roupa. Havia fantasiado varias vezes como seria o rosto dele ao sorrir, mas não estava preparada para o modo como o sorriso o transformou, iluminando seus olhos e suavizando seus lábios austeros.

 

Fora um sorriso breve, apenas para que ela percebesse seus dentes claríssimos e o modo com que seus olhos acompanhavam o movimento, também sorrindo. Nada que justificasse como seus joelhos fraquejaram de repente.

 

Sentindo-se culpada, Alice encarou a realidade.  Estava agindo completamente ao contrario do que Rosalie aconselhara. Já desculpara Jasper por todo o seu mau gênio por causa de sua estória trágica, e agora se sentia atraída por ele.

 

Quanta tolice. Sabia o que era sofrer por um homem inatingível. E Jasper com certeza era um deles. Não porque vivia apegado à imagem de sua esposa falecida, mas porque também era seu chefe. Envolver-se com ele não era uma boa idéia.

 

Aliás, seria uma péssima idéia. Considerando que Maria estaria de volta em breve, e ela estaria novamente desempregada.

 

Ao invés de sair e se divertir e conhecer alguém realmente interessante, Alice estava ali, coberta de farinha da cabeça aos pés, emocionada porque Jasper sorrira para ela.

 

Jantaria com eles, já que não podia mais voltar atrás, e depois colocaria um ponto final naquela estória sem futuro. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse capitulo!
Mereço reviews? E reviews estrelados?

Beijos congelados e cerejinhas da Little Veve!