Blue escrita por Juliana Natelli


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas lindas! Como estão?Tive essa ideia maluca e um tanto dramática, e espero que gostem :)Sei que para muitos é um tema batido, mas eu discordo. Sempre me interessei por essa época da história e sonhei em ambientar uma história nela!Já peço desculpa por quaisquer erros de incoerência histórica, afinal pode acontecer hehe!!



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Novembro de 1938

Já era noite. A chuva caía incessantemente, encharcando-me da cabeça aos pés. As solas dos meus sapatos, já muito gastas de tanto caminhar, escorregavam no chão pavimentado de pedras. Eram meados de novembro e ventava bastante forte, mas apesar disso, eu não sentia frio. Na realidade, não sentia sequer os dedos das mãos. Andava rente às casas, sempre encurvada nas sombras, na esperança de passar despercebida. Passei perto de um restaurante e meu estômago urrou em revolta graças ao cheiro de comida. Não comia nada fazia três dias e sabia que não duraria muito mais tempo se não encontrasse alimento logo. Era arriscado demais fuçar o lixo alheio, as luzes de quase todas as casas estavam acesas e havia alguns transeuntes nas ruas.

Eu devia estar chegando. Precisava estar. Não tinha como chegar tão longe e falhar no fim. Minhas articulações doíam tanto que ficava cada vez mais difícil pôr um pé à frente do outro, porém de alguma maneira eu ainda conseguia fazer isso. Um passo. Outro passo. Mais um passo. Não podia parar. O vento soprou mais forte e eu me vi arremessada contra um muro de uma casa, meu corpo tão magro e fraco que nem opôs resistência. Aquilo fora demais. Meus joelhos cederam e eu fui ao chão.

Não havia esperança. Eu estaria morta antes do amanhecer, estava certa disso. Agora, imóvel no chão, até mesmo a tarefa de manter os olhos abertos parecia um sacrifício. Minha visão estava embaçada, eu não sabia mais se de lágrimas ou gotas de chuva. Não importava. Só queria que aquele tormento acabasse. Pedia em murmúrios perdão à mamãe por decepcioná-la. Não ficaria viva por ela como prometera. Pela manhã, os habitantes locais encontrariam meu corpo e o enterrariam em uma cova sem nome. Conhecera tão pouco sobre a vida e já estava deixando-a para trás.

– Desculpe-me, mamãe – agora, apenas sussurros saíam. – Desculpe-me, por favor.

Tudo estava ficando escuro.

O som da chuva parecia distante. Os cascos de um cavalo batendo contra o chão eram a principal fonte de ruído agora. Meu corpo balançava sem que eu me mexesse, meus pés não tocavam superfície alguma, entretanto, eu não caía. Algo me embalava firmemente, impedindo a queda. Abri os olhos outra vez.

Havia um rosto. Era um garoto. Seus cabelos estavam ensopados e pingavam em cima de mim. Ele olhava fixamente para frente, determinado. Estava escuro demais para saber a cor de seus olhos, mas por alguma razão eu me mantinha presa àquela dúvida.

– São... Castanhos? – eu indaguei baixinho.

Ele finalmente me olhou, parecendo assustado por ouvir minha voz.

Então, a escuridão engoliu o mundo mais uma vez.

–x-

“Estou morta.” Pensei. A superfície em que estava deitada era tão macia e meu corpo estava tão aquecido e aconchegado que não poderia ser real.

Quando tentei me mover, percebi que talvez fosse verdade. Cada músculo do meu corpo protestou, me lembrando da jornada de vários dias que eu havia travado. Ergui as pálpebras para espiar ao redor.

Eu me encontrava num quarto grande e de paredes pintadas de amarelo claro. Nele, havia um armário largo feito de alguma madeira nobre, uma penteadeira branca, um criado-mudo, cortinas de linho nas janelas e decorações nas paredes. A cama ficava num dos extremos do quarto, o ponto mais distante da porta. Meus olhos pregaram nela quando vi a maçaneta girando.

O visitante se revelou uma mulher baixinha e sisuda, carregando uma bandeja com sopa.

– Você finalmente acordou hein? – ela meio que resmungou. – Eu trouxe sopa. Mas não vá tomar tudo de uma vez ou acabará vomitando.

Ela deixou a bandeja sobre o criado-mudo e pôs-se a me encarar. Quando nada fiz, ela disse:

– O que está esperando? Quer que te dê na boca?

Assustada demais para dizer qualquer coisa ou fazer perguntas, coloquei-me sentada na cama e tentei pegar a bandeja. Não devia ser tão pesada assim, entretanto, meus braços finos e trêmulos não conseguiram erguê-la nem um centímetro.

A mulher bufou em exasperação.

– Mas que menina sem jeito! Está tão mirrada e fraca que não consegue levantar nem um prato!

Ela saiu do quarto e voltou com uma cadeira, que pôs ao meu lado. Depois de se sentar, esticou a mão para encher a colher com sopa e estendeu para mim.

– Ande, abra a boca.

Não ousei desobedecer. A sopa estava fervendo e queimou minha língua, porém não seria eu a reclamar.

– Está boa? – ela quis saber, parecendo interessada no detalhe.

Fiz que sim com a cabeça, é claro.

Enquanto me dava colherada por colherada, a mulher começou a falar:

– Não pense que ficará aqui por muito tempo. Assim que recuperar as forças, vamos te deixar nas mãos da polícia e, então, eles verão o que fazer com você. Procurar seus pais, ir para um orfanato... Seja lá o que for.

As lembranças de pouco menos de duas semanas atrás me assolaram e eu quase comecei a chorar. A polícia alemã destruindo as lojas e as casas. A sinagoga em chamas. Meu pai sendo levado junto com vários outros. Prim se perdendo na multidão. Minha mãe e eu escapamos naquele dia por tão pouco que nem toda sorte do mundo seria capaz de justificar.

– Que cara é essa? Não venha choramingar para mim, está ouvindo? – falou a mulher.

Ficamos em silêncio até que o prato estivesse vazio e ela se retirasse. Eu podia finalmente chorar em paz.

Onde eu estava? Seria ali seguro? E mesmo que fosse, quanto tempo levaria até eu ficar boa e ser entregue nas mãos daqueles que fariam mal a mim? Papai fora preso. Prim sumira. Mamãe ficara para trás. E agora, eu estava prestes a ter um terrível destino também. O gosto da sopa ficava amargo na minha boca, só de imaginar o que me esperava.

A porta se abriu de novo e quando meus olhos úmidos e inchados se encontraram com os dele, congelei. Era aquele garoto. O que me levou no cavalo. E seus olhos, que eu não pudera ver bem antes, eram do mais límpido azul.

– Oi – disse timidamente. – Minha mãe disse que estava acordada.

Ele se aproximou devagar, como se eu pudesse fugir ao menor movimento dele – não que eu realmente tivesse tal capacidade no momento.

– Você deve estar confusa. Meu nome é Peeta Mellark, e você está na minha casa. Dormiu quase um dia inteiro – ele deu um leve riso, apontando para a janela que exibia as cores do fim de tarde. – Como se chama?

Não respondi. Ele deu um sorriso de compreensão.

– Bom, eu achei isto com você – Peeta tirou do bolso da calça um envelope amassado, mas ainda lacrado. Tomei-o de suas mãos com a ferocidade de um leão. – Nossa, então é importante!

– É uma carta para a minha tia – eu disse antes que pudesse me conter.

– Sua tia?

Pensei um pouco antes de falar, mas acabei cedendo.

– Sim. Eu tenho que ir até Schaffhausen. Lá é seguro.

– E onde fica Schaffhausen?

Pisquei, encarando-o. Eu devia estar próxima a essa altura, como ele não conhecia aquela cidade?

– Schaffhausen, na Suíça.

– Ah – Peeta coçou a nuca. – De onde você veio mesmo?

– De Ulm.

– Ulm, Alemanha? – ele estreitou os olhos para mim.

– Sim, isso. Espere, será que pode dizer onde estou exatamente?

– Está na Áustria. Acho que você se desviou um pouco do caminho. Como atravessou a fronteira?

Aquilo era terrível. Eu estava muito mais perdida do que poderia imaginar.

– Oh não! Eu pensei que aquele trem de carga estava indo para a Suíça! Me escondi o melhor que pude, mas acabei indo para o lugar errado!

– Se escondeu? – Peeta me analisava agora com desconfiança. – Então... Você é um deles?

Olhei-o em pânico. Ele agora sabia. Sabia que eu era judia. Há algum tempo que eu percebera que ser judia me trazia mais desvantagens que vantagens, e que muitas pessoas não gostavam de mim por isso. Já o que provocava a ira dos outros era algo muito mais complexo e aterrador para o meu eu de dez anos compreender plenamente.

– Por favor, não me entreguem à polícia! Mamãe disse que eles querem nos machucar. Minha irmãzinha sumiu na confusão e levaram meu pai. Nem sei o que aconteceu à minha mãe, por favor, tenham piedade!

– Qual é o seu nome?

– Eles destruíram tudo, até a clínica do papai e...!

– Qual é o seu nome? – Peeta tornou a perguntar, bem mais sério.

Já em meio às lágrimas, segurei um soluço.

– É Katniss.

Peeta se inclinou em minha direção e segurou minha mão.

– Katniss, eu não vou deixar que ninguém a leve daqui.

Ele não passava de um garoto talvez poucos anos mais velho que eu, devia ter quase nula autoridade naquela casa para tomar tal decisão. Contudo, mesmo assim acreditei nele. Aqueles olhos azuis não podiam estar mentindo.


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Notas finais do capítulo

Comentários? Opiniões? Fiquem à vontade para dizer o que acham! Se tiver um retorno legal, o próximo capítulo pode sair mais rápido haha!!Beijinhos!



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