Durante muito tempo, você foi meu companheiro. Desde pequenos, estivemos sempre juntos. Mesmo antes do Jiraya-sensei nos ensinar a sermos ninjas, eu já o admirava.

A sua energia positiva que nos faz seguir adiante; O seu sorriso, capaz de iluminar qualquer dia de chuva, mesmo nesta vila onde o céu insiste em chorar todos os dias. Ninguém poderia ser melhor para um líder do que você, Yahiko. Uma organização criada em nome da paz crescia, e estávamos ganhando cada vez mais colegas em nossa luta.

Naquele dia, recebemos a visita de um homem misterioso. Identificando-se como Uchiha Madara, relatava um conceito de paz divergente ao nosso, ou, ao menos, ao de Yahiko. Tanto eu, como Konan, concordamos que o homem estava enganado. Suas palavras não trazeriam paz. Não como nós idealizávamos. Foi depois desse dia, que nós resolvemos criar a Akatsuki. Aos poucos, algumas pessoas passaram a compreender nosso ideal e veio unindo-se ao grupo.

– Parece que a Akatsuki está crescendo, Nagato…! - O sorriso de Yahiko era sincero. E era essa sinceridade amena que jazia paz ao meu coração.

– Sim… - Sorri timidamente ao seu lado. Vê-lo feliz fazia a minha própria felicidade. Nada me era mais importante do que sua presença.

– Ah…! Cadê a Konan?? - Meu coração pesou. Konan. Claro. A tristeza me batia ao ouvi-lo dizer seu nome, à sua procura.

– Não sei… Ela saiu, a pouco tempo. - Não fazia sentido em mentir. Mas era verdade que não me interessava aonde ela tinha ido, tampouco. Não que Konan não fosse importante para mim. Eu a considerava como uma grande amiga e não pensaria duas vezes antes de salvá-la, claro. Mas…

– Olha… O que é isso? - E pegou uma borboleta de papel que descia levemente ao chão. - É da Konan?

Um papel…? Ele foi lendo em voz alta a carta aberta em sua mão. Aquilo seria…?

– Uma declaração de amor…? - Chutei, mesmo sabendo que isso lhe traria incerteza ao seu coração, arriscando o estado do meu próprio.

– Kysuke… Aquele desgraçado! Não perde tempo mesmo! - Vê-lo irritado assim, me deixava ainda mais triste. Estava mesmo com ciúmes dela? Yahiko...

Uma sensação ruim me passava pelo corpo toda vez que pensava na possibilidade de ser deixado para trás. Não. Era de toda vez que pensava na possibilidade de ser trocado por ela. Eu era o melhor amigo dele, não ela. Eu o entendia melhor do que ninguém.

– Ele vai ver só! A nossa Konan não merece esse tipo de assédio! - Nossa…? Claro, Yahiko não pensaria na Konan como apenas dele... Me envergonho de ter pensado que ele poderia ser egoísta. Ele não era esse tipo de pessoa. - Não me diga… Que ela foi até lá?! - Desviei o olhar. Não creio que tais pensamentos tenham me rodeado a mente. - Vamos Nagato. Vamos impedir esse desaforo!

E me puxou pela mão, em direção ao terraço dos fundos. Até mesmo em momentos como esse sua determinação era intacta. Ou ao menos, parecia.

Ao chegarmos ao local, nos escondemos atrás da parede, ao lado da escada que dava para o terraço. E lá estava ela, esperando pelo admirador, para lhe dar a resposta. Ao avistar o outro rapaz, Yahiko lançou um olhar irritado para cima; Sua mão, ainda atada à minha, vibrava, em contentamento. Estava pronto para impedir qualquer coisa que acontecesse à ela. Meu coração acelerou. Ele estava mesmo fazendo isso apenas por amizade? E se, por acaso, sentisse mesmo algo a mais por ela? Você iria me deixar, Yahiko? Iria me tirar os seus sorrisos, para dar tudo para ela? Todos os nossos momentos, seriam apenas seu e dela? Yahiko?

– Yahiko. - A voz saiu sozinha.

– Peraí Nagato, eles vão nos ouvir.

– Yahiko. - Olhe pra mim.– Yahiko. - Fique comigo.

– Mas o que foi--- - Puxei sua mão para baixo e lhe toquei os lábios no momento em que se voltou para mim.

– Eu te amo, Yahiko. - Minhas palavras eram sinceras. E não tinha nada de mais verdadeiro do que aquele sentimento em mim.

–... Mas o que… - Folgou sua mão da minha, afastando-se de leve. Me olhava surpreso, confuso.

– Eu te amo, Yahiko. Fique comigo. - A coragem havia me tomado o momento. Eu não conseguia parar de lhe transmitir os meus sentimentos.

– Eu… não… Não estou entendendo. - A covardia, entretanto, parecia ter lhe tomado. Recuou alguns passos para trás. - Me desculpe, eu…

– Yahiko!!! - E correu em meio à chuva. As gotas começaram a cair com mais força e eu não o segui. Apenas deixei seu semblante desaparecer em meio à neblina.

Konan, que havia presenciado parte da cena, me olhou surpresa.

– O que aconteceu para ele sair correndo? - Ah sim, o beijo havia ocorrido atrás da parede, me parece óbvio ela não ter compreendido o motivo de sua fuga.

– E então, como foi com o Kysuke? - Ignorei sua pergunta, desviando o assunto.

– Estavam bisbilhotando?! Não acredito! - Respondeu, irritada. - Não tenho tempo para me distrair com relacionamentos do tipo. Nós temos que nos concentrar na Akatsuki agora.

E passou por mim em direção ao esconderijo da organização. Realmente, Konan era o tipo de garota aplicada, dedicada. Sempre colocando a Akatsuki em primeiro lugar. Talvez se Yahiko um dia se declarasse à ela, sua resposta seria a mesma? Yahiko, como faço, para tê-lo só pra mim?

***

– Yahiko ainda não voltou… Onde ele poderia estar? - Konan se questionava, observando os membros andarem de um lado para o outro, ocupado com seus afazeres.

Aflito, comecei a presumir que seu deseparecimento se dava ao que eu tinha feito. A sensação de culpa foi apoderando meu interior. Enquanto meus amigos só agiam pensando no melhor para a vila, eu afundava em pensamentos cada vez mais egoístas. Tinha vergonha, de ser visto como um dos representantes da organização, de ser comparado as essas duas pessoas que estavam sempre ao meu lado. Eu não merecia esse título. Ainda mais agora, que havia implantando um equívoco na cabeça do líder da Akatsuki. Talvez ainda desse tempo de concertar o meu erro.

– Eu acho que sei onde ele pode estar. - As vezes, quando estava pensativo ou preocupado, havia um único lugar para qual ele sempre ia. - Eu vou lá buscá-lo.

Konan olhou curiosa para mim. Sorri, em resposta a sua pequena inquietação.

– Não se preocupe, Konan. Logo estarei de volta com ele.

–... Sim. - Seu sorriso terno apenas me envergonhou ainda mais de minhas transgressões sutis. - Obrigada, Nagato.

Assenti partindo em direção ao suposto esconderijo do outro, impedindo-a de perceber minha expressão em receio. Me sentia o pior lixo do universo; Alguém indigno de receber apoio, confiança. Traí nossa amizade; Menti para Konan; E… Deixei Yahiko completamente confuso. Sou o pior. Eu sou…

Meu corpo não se atreveu a mexer nem mais um músculo ao chegar ao local. Os cabelos ruivos balançavam suaves ao vento que ali passava. Yahiko mirava a paisagem de uma vila chuvosa, sentado em frente à uma abertura quase panorâmica da cidade.

Estava quieto demais. Teria sido uma boa ideia vir buscá-lo? Retirar minhas palavras? Pensei em prender a respiração para passar por despercebido. Mas já era tarde.

– Nagato.

Sua voz não entonava a tranquilidade de sempre. Mas também não chegava a ser fria. Era apenas... Neutra.

– Yahiko… Eu… - Pensei em lhe dizer que me arrependo. Que deveria esquecer tudo que disse ou simplesmente encarar como um engano. - Eu---

– Eu também. - Rompeu minha fala repentino. - Eu também… Gosto de você.

Encarei suas costas enquanto o vento forte lhe batia contra o rosto, levando seus cabelos às várias direções. Meu coração acelerou com sua pequena fala. Estaria ele, se declarando de volta?

Se levantou devagar, ficando de pé, ainda encarando a água que caia sobre a cidade, em silêncio. Talvez ele tivesse falado isso para não me magoar.

Não. Yahiko não é assim.

Talvez ele esteja debochando de mim.

Yahiko não seria capaz.

E se, na verdade, ele me odeia agora?

Ele não me odiaria.

Talvez tenha sido melhor nunca ter falado nada para ele, ter mantido tudo isso em segredo.

Eu não me arrependo. Não posso. Eu o amo.

– Yahiko. - Mais do que qualquer um. – Yahiko… Do que está… falando?

–... - O silêncio perfurava cada um de meus poros, e eu já não sabia se estava pronto para receber sua resposta. - Talvez.

Talvez.

– Ya---

– Se você não tivesse falado nada. Nem feito nada, talvez eu nunca tivesse percebido. - Minha respiração estava quase falha. - Eu também. Eu também o amo, Nagato.

Mais do que qualquer um.

– O que… Você disse…? - Meus ouvidos estavam enganados? Ele estava mesmo… Falando sério?

Me aproximei devagar de seu corpo imóvel.

– Não escutou o que eu falei?! - E se virou repentinamente, me fitando com o olhar estreito e as bochechas levemente coradas. - Eu falei que te amo, idiota! - Gritou em minha direção, com toda a coragem que tinha.

Meu rosto se iluminou naquele instante. Selei seus lábios com o beijo mais doce que poderia proporcionar à alguém, tal qual foi retribuído em intensidade ainda maior. Enquanto trocávamos carícias, o único ruído que se podia escutar naquele lugar era o barulho da chuva caindo ao lado de fora.

Sentir o corpo nú de Yahiko sob o meu, entrelaçado aos seus braços me fazia desejar permanecer ali para sempre. Um mundo só meu e dele, onde não existe mais ninguém. Ninguém. Ninguém…?!

– Konan! - Lembrei-me de repente.

– Ahm…? - Resmungou sonolento.

– Eu havia me esquecido completamente! A quanto tempo estamos aqui? - Yahiko parecia ainda estar no mundo de nós dois.

– Konan…? Konan! E o pessoal? Caramba…! - Levantou-se de supetão, com a cara em desespero. Me pus a rir ao ver uma expressão que só ele conseguia fazer. - Ahm?! Que foi?...

Eu apenas o apreciei ficando vermelho e acanhado.

– Não é nada. Vamos logo, agente arranja uma desculpa. - Sorri serenamente para aquela carinha fofa.

– Sim. - Afirmou, sorrindo tranquilo.

***

Quando nós voltamos, todos estavam preocupados com a nossa demora. Demos uma desculpa qualquer e até mesmo Yahiko fez uma pequena piada. Todos riram e Konam ficou muito brava, mas logo em seguida riu também e nos abraçou, preocupada. Sorri tranquilo. Nossa amizade estava intacta. E o meu amor por Yahiko, também.