Nico suspirou, como que para ver se ainda conseguia respirar. Seus olhos, fixados no azul escuro do mar a sua frente, se encontravam inexpressivamente frios e inatingíveis. Com o tempo, Nico aprendera a manter sempre o mesmo olhar em seu rosto, não importava a situação. Alguns o consideravam assustador, outros o consideravam dramático. Mas somente Nico sabia que tudo que ele sentira era uma profunda tristeza que dominara a tempos seu coração.

Desde que descobrira que era filho de Hades, ele soube que sua vida não seria fácil. Ele só não esperava que sua vida fosse tão difícil. Sua irmã e única família que lhe restava morreu, fez escolhas que decepcionaram a única pessoa que ainda importava pra ele, e como se não bastasse... Nico era gay.

Nunca fora um exemplo de convívio social, e nunca se importou muito com isso. Mas ser gay, e ainda sim, filho de Hades... Nico sabia que aquilo traria problemas. Já não era exatamente amado pelo pai, que nunca, em hipótese alguma, não importa o que ele fizesse, conseguira se orgulhar do filho. Ele nunca ligou muito para isso era verdade, mas no fundo, bem lá no fundo mesmo, Nico desejava que alguém o amasse se importasse com ele. Mas ninguém nunca o conhecera fundo o suficiente para se preocupar com seu bem estar.

É exceto, é claro, Bianca.

Quando a sua irmã entrara para a caçada, Nico sentiu como se seu coração você despedaçado ao meio. Mas não a culpou. Ela tivera a infância roubada, passara sua vida toda tendo que cuidar dele, e quando viu a oportunidade, livrou-se dele. É claro que ela o amava, mas não era fácil cuidar de alguém a ponto de ter de esquecer a si próprio.

Mas mesmo assim... Nico guardava um tanto culpa pela morte dela. Será que se ele não a tivesse preocupado tanto, sido tão infantil ou simplesmente não a tivesse irritado milhares de vezes, a irmã não poderia estar ali, com ele?

Nico sabia que nunca teria a resposta para essa pergunta. E isso o machucava de uma forma, que nem em um milhão de anos ele poderia explicar. Mas isso mal se comparava com o que sentia quando via o olhar de Percy para Annabeth. Mesmo que tivesse dito ao culpido que tivera uma queda à tempos atrás, ele sabia que ainda era apaixonado pelo filho de Poseidon, apenas aprendera a controlar e guardar aquele sentimento para si mesmo, pois sabia que ninguém conseguiria entende-lo. Jason ate mesmo tentara ajuda-lo, compreende-lo, mas com o tempo, acabou desistindo. Alias, ele desistira de tudo desde que Piper morrera. O acontecido deixara uma grande ferida no coração dele. O garoto vinha morrendo aos poucos, e sabia disso. Nico ate tentara alerta-lo, mas o olhar em seu rosto o fez lembrar-se si mesmo. E ele soube que nada que dissesse, nada que tentasse poderia trazer o garoto de volta.

Abraçando uma das pernas, Nico deixou os cabelos serem bagunçados enquanto o mesmo continuava a olhar para água. Naquele momento, o brilho das estrelas refletia na água e o garoto se limitava a simplesmente olhar. Uma queda e ele estaria livre de tudo aquilo. Em um momento estaria morto. O pensamento lhe apavorou.

Mas não pela morte iminente, e sim, pela água em si. Desde que tentaram afoga-lo aos 5 anos de idade, Nico desenvolvera um profundo e irremediável medo de água. E estava apaixonado pelo filho do deus dos mares. Que doce ironia.

Afrodite sabia como foder com a vida dele e de outros semideuses. Sempre lhe disseram que amar era algo bom, que fazia as pessoas se sentirem bem. Mas nunca lhe disseram que o amor só era algo tão incrível quando se era correspondido.

E infelizmente, Nico não era e nunca seria.

Não aguentando mais, Nico se pôs de pé num pulo, e antes que pudesse pensar no que estava fazendo, o garoto se jogou. Aos pouco, sentiu o vento lhe agraciar a pele e os cabelos e em pouco tempo, sentiu a água acolhendo-o, abraçando em meio à escuridão. No começo, eu me senti calmo, tranquilo, mas logo, a pavor tomou lugar. A hidrofobia se fez presente, e o garoto pequeno e magro começou a se debater, lutando contra a força das águas. Ele não queria continuar vivo quando aquilo acabasse, mas o pânico que sentiu quando a água invadiu seus pulmões foi mais forte.

E quando a escuridão lhe acolheu mais uma vez naquela noite, Nico sabia que seria para sempre.

"Esta tudo bem, não vou machucar vocês."