Eu não vou dizer.

Eu não direi que gosto de sua presença. Não direi que sua companhia é a única que eu faço questão de ter. Não direi que fico esperando um falhar de asas próximo à mim. Mas no final, eu sempre deixo um meio sorriso aparecer quando você chega.

Não contarei que gosto daquele sobretudo sujo. Não contarei que quando você era humano, tive vontade de te pedir pra voltar com a capa de chuva. Não contarei que ainda lembro o cheiro da peça, quando demos nosso ultimo abraço. Mas eu me sinto bem em olhar e ver aquela coisa por cima de você.

Não admitirei que os seus olhos azuis deixam tudo ao meu redor preto e branco. Não admitirei que aquele brilho em especial nos olhos do Jimmy só tem por causa de você. Não admitirei que eu odeio perder um segundo do seu ofuscante azul. Mas ver toda essa calmaria azulada me deixa livre de tudo o que levo em mim.

Não falarei que quando você está confuso eu tenho vontade de rir; não de você, mas desse teu jeito expressivo demais para um anjo. Não falarei que quando você franze a testa meus olhos acompanham todos os movimentos. Eu não falarei que no momento em que você esquiva a cabeça pro lado, eu esqueço instantaneamente de como se pisca. Mas esse teu jeito tão costumeiro me deixa aquecido por saber que meu protetor não mudou com o passar dos tempos.

Eu não preciso dizer.

Eu não preciso dizer sobre sua companhia, pois você sabe. Você sabe, porquê sempre invade meu espaço pessoal. Eu reclamo, mas você continua invadindo, porquê você sabe que eu na verdade gosto do teu contato, de estar perto de você, de sentir que te tenho comigo. Se não soubesse, pararia de invadir meu espaço, deixaria de estar ao meu lado e não estaria sempre assim, me deixando vermelho por culpa da proximidade. Mas você sabe que eu quero estar assim, tão perto.

Eu não preciso contar sobre aquele sobretudo que você usa como se fosse armadura. Você sabe dele também, você sabe o quanto eu gosto daquela coisa. Sim, você sabe, porquê sempre usa aquilo. Você sabe das necessidades humanas de trocar de roupa, e mesmo assim você não tira a capa. O motivo? Você sabe que eu gosto desse sobretudo bege. Se não soubesse, talvez eu não teria visto você com ele tão cedo. Não importa quantas vezes eu diga que devemos trocar de roupa e lavá-las, você ainda usará. Mas usará porquê sabe que no fundo, eu adoro aquela coisa bege.

Eu não preciso admitir que sou hipnotizado pelas burcas azuis do seu receptáculo. Não preciso, pois você já sabe. Se não soubesse, não me encararia com tamanha intensidade. Você sabe que eu gosto desses belos oceanos, sabe porquê faz questão de parar à minha frente para que eu possa os ver melhor. Você sabe que embora eu reclame que apenas mulheres me olham assim, eu gosto de ser observado por você. Mas não adianta eu desviar minha atenção, eu continuo apaixonado pelo que eu acabo de observar.

Eu não preciso falar que eu aprecio essa sua careta única. Não preciso dizer que você fica adorável assim. Não preciso dizer, porquê você já sabe. Sabe o quanto eu fico olhando para sua feição. Posso explicar as coisas quantas vezes for, mas sempre tenho vontade de te deixar na dúvida só pra ficar mais tempo olhando sua cabeça levemente curvada. Você sabe, pois faz isso todas as vezes, até quando a dúvida não for tão grande. Você inclina a cabeça para o lado onde eu possa melhor apreciar. Se não soubesse, tenho certeza que já teria abandonado esse costume a tempos atrás. Mas embora eu apenas explique e não fale nada, você sabe o quão doce essa sua cara de cachorro -ou anjo- sem dono fica.

Eu nunca vou dizer.

E você sabe de tudo isso, não porquê pode ler minha mente. Não. Eu também nunca lhe contei e nunca vou contar. Porque eu, Dean Winchester não vou falar essas coisas clichês. Não. Mas você sabe disso porquê me observa, você conhece minhas reações, sabe o que eu penso sem precisar usar poderes angelicais. Você conhece a mim mais do que seu próprio receptáculo. E sabe o quão eu fundo eu fui pra não chegar aqui. Sabe que eu lutei pra não usar essas frases fúteis que Sam usaria, mas foi inevitável. Você tem esse efeito em mim. E o pior: você também sabe disso.

Sabe que eu nunca faria algo como isso. Sabe que eu jamais iria fazer algo assim, com minha mente em alguém e em todas as coisas idiotas que se diz quando quer deixar alguém feliz. Mas você também sabe que eu faria isso por você. Sabe que eu preferia lutar contra o purgatório inteiro novamente, do que pensar nessas drogas melancólicas. Mas aqui estou eu, pensando no quanto eu deveria te dizer. Você sabe disso também. Você sabe de muitas coisas.

E eu espero que entre essas coisas, você não saiba o real motivo de eu passar o dia jogado na cama do bunker praticamente falando sozinho. E se souber, acharia impossível. Pois é meu amigo, eu também achava impossível.

E aqui estou eu, amando alguém impossível de ser amado. Ou não. E esse amor idiota logo vai entrar na lista de coisas que você sabe.

Talvez já tenha entrado.

Se não tivesse entrado, você não falaria do nosso 'vínculo profundo', nem ficaria quieto quando o Sam faz alguma insinuação que não deveria, e também não escolheria a mim ao invés de qualquer outro. Pode ser mais um dos meus enganos. Mas quem sabe uma vez eu tenha acertado?

Esse amor vai pra mesma lista da sua presença; sobretudo; olhos e cara de anjo sem dono. Uma coisa que eu nunca vou dizer. Nunca vou contar.

Nunca vou...

...Contar.

Porque Dean Winchester não sai por ai declarando um amor gay por um anjo.

A menos que esse anjo seja você. Droga. Não tem como esconder isso por muito tempo. Mas se você faz questão de me torturar com esses pensamentos, farei o mesmo com você. E eu definitivamente espero que esta guerra acabe logo. Me faça perder, Castiel. Mas eu sou forte, eu sempre resisto...

...Não quando se trata de você. Mais uma coisa que você também sabe. É, acho que vou ter que perder e esfregar na sua cara tudo isso. Winchesters não desistem fácil, eu não desisti. Só que esta guerra não tem como ser ganha. Como você pode confundir minha cabeça mais que o maldito céu inteiro junto? Isto também não importa mais. Eu odeio quando você me deixa sem armas pro combate. Um fato que você também sabe e usou contra mim.

Isso foi um.. falhar de asas? Oh não. Ele está atrás de mim. Vire-se e encare seu oponente, Dean Winchester. Você consegue.

Não, eu não consigo. Não quando ele está assim, com esse cabelos rebeldes eriçados, olhando vidrado em mim e com a velha cara de paisagem. Assim eu me rendo. Rendo-me rapidamente, já que eu não tinha como lutar desprevenido. Eu possuía apenas uma arma e foi exatamente o que eu usei.

O beijei. Ele não pareceu surpreso e logo me retribuiu. Nossas línguas atravessaram as barreiras e logo se entrelaçavam, assim como meus dedos nos fios pretos e rebeldes. Não dava pra acreditar que eu estava beijando um homem, quer dizer, um anjo. O meu melhor amigo. Mas eu estava sendo retribuído. Eu estava sendo amado de volta.

Sem dúvidas o meu amor já estava na lista de coisas que ele sabia.