O ano parecia estar passando mais rápido do que eu imaginei. Quando menos esperei já estava realizando os exames finais e os professores estavam trabalhando na formação das novas turmas. Os melhores alunos iriam receber treinamento especial no último ano e logo seriamos selecionados para a Academia. Eu não sabia como me sentir em relação a isso. Por um lado, estou adorando. Em breve meu sonho de começar a me preparar vai logo começar e em menos de 7 anos poderei dar uma vida mais confortável pra minha mãe. Por outro, cara isso só vai dificultar a minha vida com a Clove.

Não que a nossa amizade dependa de estudarmos ou não na mesma classe, mas eu sei que ela não gosta nem um pouco quando eu ando com a Nicole e os amigos dela mas o fato é que isso vai acabar acontecendo se ficarmos na mesma classe. É claro que se a Clô mostrasse as habilidades que tem ficariamos juntos mais uma vez, mas eu não quero que ela faça isso, pois se fizer, é certo que será escolhida. Ela consegue ser melhor do que a favorita a ir pros jogos, que nesse caso é a Nicole. Então ultimamente eu tenho ajudado ela parecer mais retardada do que já parecia antes. Ela só mostra que é realmente boa quando me ajuda a treinar, no nosso mais novo esconderijo além das cercas. Desde nosso último encontro no parque há alguns meses sempre dávamos um jeito de aparecer por lá. Admito que ela tem me ajudado muito a aprimorar minhas técnicas em combate, e ao mesmo tempo pareciamos cada vez mais próximos. Isso só me fazia ter cada vez mais a certeza de que eu a amava. Não apenas como minha melhor amiga, isso já tinha evoluído há séculos. Mas eu não podia esperar o mesmo dela, uma garotinha inocente de dez anos, eu jamais poderia esperar que ela me agarrasse no meio do pátio ou algo assim. Prefiro esperar e pensar que quando ela estiver pronta para amadurecer não vai pensar duas vezes em me escolher para ser seu namorado. Ou pelo menos assim eu espero.

Pisco os olhos algumas vezes para me concentrar e voltar a escrever. Mencionei que estou pensando tudo isso enquanto respondo minha última avaliação de História de Panem ? Bom, só agradeço que as notas dessa matéria não influenciam em nada para o meu perfeito currículo de aspirante
a carreirista. Quando faltavam apenas cinco minutos para o encerramento do teste entreguei minhas respostas para a professora e sai da sala. Esperando-me do lado de fora encostada na parede e parecendo muito emburrada estava Clove, revisando alguns livros para a prova de Defesa Pessoal.
– Como eles esperam que eu responda isso certo ? São tantas táticas para lembrar !
Eu sorri, dei um beijo no alto de sua cabeça e sentei ao seu lado.
– Eles não esperam que você responda certo. Pra todos os efeitos você é uma mula em Defesa Pessoal.
– Ha ha, muito engraçado. Eu posso responder esse teste perfeitamente.
– Aham, mas eu sugiro que não faça isso. Mesmo as provas escritas contam para que te incluam na lista dos escolhidos.

Ela suspirou e me olhou com o rosto sapeca de sempre. Estava pensando em alguma travessura.
– Bom, então parece que eu vou ter que errar todas as questões de novo.
– Mas você sabe que se for realmente muito mal vai ser reprovada né ?
Ela se levantou e eu acompanhei o movimento. Ambos limpamos nossas calças que estavam sujas com a poeira do chão que raramente era limpo. Começamos a andar em direção a nossa nova sala de testes quando ela finalmente respondeu.
Eu sei que não posso me ferrar completamente. Mas qualquer nota abaixo de 8,0 já é desconsiderada para frequentar a sala dos superdotados. Eu só preciso ficar na média. Que é quanto mesmo ?
– Se você não sabe, como é que eu vou saber ? Me desculpe, mas você está falando com um aluno nota 10.
– Aluno nota 10, exceto em História não é verdade ? Você é super tapado nessa matéria.

Eu dei uma cotovelada de leve no braço dela, mas o menor impacto fez com que ela tombasse um pouco pro lado. Clove me olhou feio e passou a mão onde eu a tinha acertado.
– Eu vou te denunciar pro primeiro pacificador que aparecer está ouvindo ?
– Eu sei que não vai, isso faria eu ser expulso e você não vive sem mim.
– Isso não é verdade, eu tenho muitos amigos.
Paramos em frente da porta da sala, onde esperamos até que a turma que estava lá anteriormente terminar seus exames. Eu cruzei os braços e fiz a melhor cara de esperto que consegui.
– Ok então cite um.
– Ham ... Tem a ... Willow. Você sabe, somos melhores amigas.
– Ah eu vejo a cara de animação que você faz sempre que a encontra nos corredores. Aliás acho que nos escondemos dela na semana passada não foi ?
– Tá certo, você venceu, agora cale essa grande boca enquanto eu tento lembrar do mínimo que sei pra responder a prova.
Entramos juntos na sala e ela se sentou a algumas cadeiras de distância. Depois de aproximadamente duas horas, todos os alunos foram obrigados a devolver os testes para a professora e sairam todos juntos. Clove ficou meio perdida na multidão,pois era uma das menores mas eu fiquei esperando por ela no lado de fora. Caminhamos juntos em direção ao portão de saída e ficamos esperando por nossos responsáveis. Eu mal podia esperar pelo dia em que poderíamos sair sozinhos, isso já estava começando a ficar um pouco rídiculo.
– Pois é Cato, enfim férias.
– Isso aí, como você se sente indo pro último ano ?
– Por favor, eu tenho mais dois meses para me acostumar com isso.

Nós dois rimos e ela parou subitamente, como se estivesse se lembrando de alguma coisa.
– Ah, eu esqueci completamente.
– Esqueceu do que ?
– Bom, como você deveria saber ou não, daqui a dois dias é meu aniversário. Como não vamos nos ver amanhã, eu prefiro falar logo.
– Eu sabia, mas e o que tem ?
Bom o Brutus vai receber algumas pessoas importantes da Capital e minha mãe queria aproveitar a ocasião pra finalmente fazer uma festa. Ela disse que eu poderia convidar quantas pessoas quisesse mas na realidade eu só quero que você vá. E sua mãe, claro. Eu ficaria feliz.
– Você quer dizer, eu e minha mãe, sua familia e a gente rica da Capital ? Eu já não sou pobre o suficente perto de você ?
Eu dei uma risadinha pra que ela percebesse que era brincadeira mas Clove não ficou nada feliz. Ela detestava que eu ficasse me diminuindo daquela forma. Mas, bem no fundo da brincadeira tinha um pouquinho de verdade.
– Então, você vai ou não ?
– Claro que vou mas, como eu devo me vestir ?
– Só seja você ok. Te espero na minha casa às seis.

Ela se levantou e eu não entendi até que olhei seu irmão parado na porta. Ele nunca tinha ido com a minha cara e não gostava nem um pouco de nos ver juntos. Ela deu um beijo na minha bocheca e saiu caminhando em direção à Brutus. Eu fiquei parado atordoado por alguns minutos até que uma séria questão finalmente me ocorreu. O que eu poderia dar de presente pra garota que já tem tudo ?

FIM DO CAPÍTULO 10