É verão. Finalmente as tão desejadas férias chegaram. Milena não via a hora de chegar ao Acampamento Raio de Luz. Um lugar extremamente grande, com as mais diversas atividades. Apesar de o lugar ser de sua família aquela seria a primeira vez que ela estaria ali.

- Chegamos. – Seu pai falou ao parar o carro. A menina então olhou pela janela do automóvel. Na entrada havia uma placa com o nome do lugar e diversas pessoas espalhadas por ali.

Miguel como se chamava seu pai, desceu do carro seguido de sua mãe Gabriela, abriu o parta malas e tirou de lá uma mala preta. Milena desceu do carro e carregou consigo sua mochila repousando-a sobre um ombro como sempre fez.

- Já sabe qual é o quarto né? – sua mãe perguntou.

- Sei sim. – respondeu. Gabriela então abraçou a menina. – Calma mãe é só algumas semanas.

- É tempo suficiente pra da saudade. – disse ao se afastar.

- Se você precisar de alguma coisa peça a sua tia Carmen. – disse Miguel ao se aproximar da filha e da mulher. – Vou chamar alguém para te ajudar com a mala.

Minutos depois seu pai voltou com um homem, de camisa azul e bermuda bege, bonitos olhos azuis e cabelo castanho.

- Eu sou Tobias. – se apresentou. – você deve ser a Milena Almeida Campos né? – perguntou a menina de compridos cabelos castanhos. Ela apenas assentiu com um sorriso. – Vou levar sua bagagem até sua cabana, se quiser pode se direcionar até o salão de festas, mas cá entre nós, raramente é usado para festas. – disse, e todos ali riram.

- Realmente minha tia não é das melhores em festas. – disse Gabriela. – Bom, está na hora de irmos minha querida. – Despediu-se da filha e seu marido fez o mesmo.

Tobias indicou a Milena onde se localizava o salão. Um lugar grande, assim como todo o resto, estava entre a enfermaria e outra casa. Estava tudo fechado e não havia placa indicando o nome. Quando a menina de olhos cor de mel se virou para agradecer, Tobias já não estava mais ali. Ela então, com sua mochila no ombro,shorts jeans rasgado, blusa do Patricke tênisandou em direção ao salão.

Ao chegar mais perto ela pode reparar melhor nas casas a sua frente. Ao lado esquerdo do salão o lugar sem identificação, paredes pretas, uma porta branca e janelas fechadas. Do lado direito a enfermaria, paredes pintadas de branco, detalhes em vermelho nas janelas, e na porta branca “enfermaria” estava escrito também em vermelho. Milena olhou para os lados e as pessoas conversavam e riam enquanto de dirigiam para dentro do salão. Ela então suspirou e ameaçou a andar quando alguém a derrubou no chão.

- Eu sinto muito – desculpou-se a voz. Ouviram-se algumas risadas ao fundo, mas nada constrangedor.

- Tudo bem. – Milena respondeu, estava por se levantar quando a pessoa esticou lhe a mão para ajuda-la. Um menino de pele morena, cabelos negros e cacheados, olhos castanhos como café. Camisa preta com, xadrez vermelha por cima e bermuda jeans.

- Eu sinto muito mesmo. Eu estava correndo, olhei pra traz um segundo e acabei te atropelando. – disse envergonhado.

- Tudo bem. Acidentes acontecem. – Milena falou enquanto abaixava para pegar sua mochila do chão.

- E como você se chama? – perguntou ao passar a mão no cabelo.

- Milena, mas prefiro que me chamem de Mili. – respondeu simpaticamente. Afinal, ele poderia ser um amigo em potencial.

- Legal, eu sou o Mosca. – disse sorrindo, o que fez Mili sorrir também. Eles sorriam um para o outro quando alguém chamou o menino, Milena se virou para olhar, era um menino um pouco gordinho. – Eu tenho que ir. Mas foi legal te conhecer. – despediu-se da menina com um beijo do rosto e correu até o gordinho.

A menina então foi para dentro do salão. Um palco improvisado tinha sido montado no meio do lugar com um microfone sopre ele. O que pareciam ser os funcionários, do acampamento estava espalhado pelo lugar, com o mesmo uniforme que ela vira Tobias mais cedo, com a diferença que as mulheres estavam de shorts. Algumas crianças estavam mais perto do palco, já os adolescentes estavam mais afastados. Milena optou por ficar mais afastada de todos. Andou na direção de uma das muitas janelas que havia ali e esperou que discurso longo e chato que sua tia provavelmente faria começasse.

Não demorou muito e Carmem subiu ao palco, muito elegante como sempre. Passaram-se 15 minutos e ela ainda estava falando. A garota já estava entediada como todos ali presentes, e poderia jurar ter visto um ou dois funcionários dormindo. Passou o olhar pelo salão a procura do garoto que a derrubou mais cedo, no entanto, não achou. Voltou a olhar para o palco, sua tia falava agora sobre as importantes regras. “Nada de meninos nos quartos das meninas...” dizia ela. Milena, todavia não prestava atenção - assim como todos – pois já sabia das regras do lugar, sua tia a fez decorar todo o manual do acampamento antes de ir para lá.

Depois de 30 minutos falando Carmem havia terminado o discurso. Apenas uma pessoa aplaudiu - descontroladamente -. Uma mulher de cabelo escuro e cacheado, vestido preto e apito no pescoço. Milena aproveitou o fim do interminável discurso de boas vindas para falar com sua tia.

- Tia. – disse. – Quero dizer diretora Carmem. – a mulher de nariz arrebitado olhou para traz.

- Milena, minha queria. Pensei que havia mudado de ideia.

-Imagina tia Carmem, há tempos tenho vontade de visitar o acampamento. – disse e sorriu.

- Já visitou seu quarto? O que achou? Como você decidiu vir para cá de ultima hora foi o que deu pra arranjar.

- Ainda não tive a oportunidade, mas deve ser ótimo. Mas não sei como chegar. Esse lugar é enorme.

- Ernestina. Acompanhe a minha sobrinha até sua cabana. – ordenou Carmem.

- Sim senhora dona Carmem. – disse de um jeito bem engraçado.

Elas passaram rapidamente pela multidão que se formava para sair do salão, graças ao apito de Ernestina. Enquanto andavam na direção das cabanas femininas Ernestina parou bruscamente, virou para Milena e disse:

- Você sabe qual o numero da cabana?

- A3. – respondeu.

Elas passaram não muito longe de um campo de futebol, e uma casa de lazer à esquerda, porem viraram a direita parando em frente a algumas cabanas. Ernestina a deixou ali, e voltou para frente do acampamento. Milena olhava de um lado para outro a procura de seu quarto.

- Ah... – gritou. Outra vez estava caída no chão.

- Dessa vez eu não tive culpa. – A voz falou. Milena logo reconheceu como a de Mosca. Ela havia tropeçado nele. – Eu estava abaixado amarrando o tênis. Você que resolveu me chutar. – disse ajudando-a a levantar. – Esta tudo bem? – perguntou segurando em sua mão.

- Sim. Desculpa. Eu não te vi. – disse envergonhada.

- Acho que estamos quites. – Mosca disse e sorriu.

- Na verdade não. Você me derrubou às duas vezes. Eu que cai de cara no chão lembra? – disse Milena, levantou uma sobrancelha e cruzou os braços.

- É verdade. Foi mal. – disse envergonhado. Sorriu, passando a mão no cabelo.

- Mas o que você esta fazendo aqui? Pensei que fosse o setor feminino.

- E é, na verdade eu vim ver minha irmã.

- Meninos não podem entrar nas cabanas femininas.

- To sabendo. Por isso fiquei na porta. - disse e sorriu.

- Esperto. – sorriu de volta. – Sabe onde fica A3?

- É perto da A2. – ele respondeu e ela levantou-lhe uma sobrancelha. – Não foi o que quis dizer. – ele riu. – Vem, eu te levo até lá.

Eles andaram em silencio, passaram pelo A6, A5, A4 e finalmente chegaram ao A3. Milena achou estranho, as cabanas serem numeradas na ordem decrescente, mas preferiu não comentar.

- Esta entregue. – disse Mosca, levantando a mão em direção a casa. Milena agradeceu e se dirigiu a porta da cabana. Colocou a mão na maçaneta e antes de entrar se virou para olhar o menino, que por sua vez estava a olhando. Ambos sorriram envergonhados.