Assim que as coisas acalmaram na Capital, eu peguei o resto das minhas coisas e fui para o Distrito 2. Voltar para o Distrito 13 não era uma opção. Mesmo com alguns locais do Distrito 12 sendo restauradas, não conseguira voltar para lá. Não dava.

Assim que cheguei no Distrito 2, fui muito bem recebido por todos. Era quase um herói de guerra. Por semanas, todas as vezes que eu saia de casa diversas pessoas vinham me agradecer, fazer perguntas e falar sobre toda revolução. Eu só queria poder esquecer das coisas que vi e passei. Bom, isso era impossível. Quando a noite estava chegando, eu só queria poder fugir. Sabia que eles viram me visitar assim que a escuridão tomasse toda Panem.

***

Logo depois de tudo que aconteceu na Capital, eles começaram a chegar todas as noites. Cada vez com mais frequência, até que passou a ser diário. Não sabia o que era mais o que era dormir. Todas as vezes que fechava os olhos, os pesadelos me lembravam de tudo que eu mais tento esquecer. Mortes, violência, tristeza, desespero, medo, angústia... isso tudo me atormentava a cada noite.

A Katniss quando voltou dos jogos me falou sobre seus pesadelos. Eu tentei ajudar com conselhos, mas na realidade eu não sabia pelo que ela realmente passada. Por mais que minha vida fosse difícil no 12 eu ainda tinha esperanças de um lugar melhor e isso impedia os pesadelos. Eu, na verdade, sonhava quase todas as noites com um país justo, sem jogos, sem fome, miséria e nada disso. Por muitas vezes, com lágrimas nos olhos, a Katniss me pedia ajuda, mas eu não podia, não conseguia ajudar. Vê-la chorando me implorando por ajuda e eu sem poder fazer nada, me destruía por dentro.

Logo depois que ela voltou da turnê, tivemos muito pouco tempo sozinhos para conversar, mas na primeira oportunidade que tivemos ela eu perguntei sobre seus pesadelos, se tinham melhorado e ela disse:

– Gale, é melhor não falar sobre isso...mas estou bem, acredite.

– Catnip, não precisamos esconder coisas um do outro. Pode me dizer, como fez pra melhor ?

– Gale... não... é melhor não. - Ela disse se afastando um pouco.

Eu cheguei perto dela e peguei seu braço e falei: Não precisamos esconder coisas um do outro... pode me diz..

– Peeta - Disse ela de repente.

– Peeta ? - Perguntei sem entender.

– Sim, Peeta - Ela continuou - ele tem pesadelos também. Compartilhamos dos mesmos horrores a noite, então passamos a dormir juntos para tentar aliviar a dor um do outro.

– Ah - Eu disse.

– Gale, não é o que você está pensando, eu juro. Só fazemos isso pra tentar aliviar nossa dor. É difícil sabe ? - Ela já estava começando a gritar sem perceber, e foi quando a abracei.

– Você não precisa se explicar. Você sabe do que sinto e sei que é mutuo. Você está passando por muita coisa e não posso te ajudar com isso. Se isso ajuda te ajuda a se sentir melhor, então eu fico feliz por você.

Percebi que ela já estava chorando.

– Gale, eu... me desculpe - Ela falou entre lágrimas.

– Não tem motivos pra se desculpar.

Bom, alguns dias depois ela ficou sabendo que voltaria pros jogos. Consegui conversar com ela algumas vezes antes dela voltar para a arena.

***

Mais uma noite chegará, e com ela os pesadelos vieram juntos. Mais uma noite de torturas, e eu diferente da Katniss, não tinha ninguém pra me ajudar. Era somente eu e minhas lágrimas em meio daquela tortura. Mas naquela noite algo mudou, eu ouvi o um choro, isso me fez acordar. Sequei minhas lágrimas e tentei identificar de onde o choro estava vindo, percebi que não era na minha casa mas em algum lugar próximo. Coloquei um casaco e fui tentar achar de onde vinha o som. Entrei em uma pequena viela logo ao lado da minha casa e ao fundo estava vendo uma luz bem fraca, o lugar parecia uma casa pequena e antiga. O choro vinha daquela casa, bati na porta e uma senhora com uma aparência mórbida abriu a porta e disse:

– Por favor, me ajude. A criança não vai aguentar muito mais tempo.