Ao sair da dispensa, Lucy olhou surpresa. Estavam novamente em casa. Charlie sorria satisfeito, John e Emily estavam desapontados. Kate porém, estava séria. Bryan olhava com expressão de raiva o lugar.

–Onde colocaremos o Bryan?- Perguntou Kate.

–Não sei. Poderíamos deixá-lo no sótão.- Sugeriu Lucy.

–Ótimo. Mas primeiro vamos para o quarto.- Falou Kate. Quando começaram a andar avistaram Janine.

–Psiu!- Chamou Emily. Janine escutou e se virou. Arregalou os olhos e correu em direção a eles. Usava o uniforme do orfanato.

–Por que ficaram tanto tempo naquele porão imundo?- Ela sussurrou.

–Na verdade, não estávamos no porão.- Explicou John.

–E onde estavam?- Murmurou ela confusa.

–Longa história.- Sorriu Lucy.

–Eu quase não estava conseguindo mais encobrir vocês!- Ela falou nervosa.

–Mas só foi por dois dias!- Retrucou Kate

–Ficou louca?- Janine a olhou confusa.- Você sumiram por sete dias!

–Como assim sete?- Kate arregalou os olhos.

–O tempo lá é diferente do daqui.- Bryan pronunciou-se e Janine pareceu percebe-lo enfim.

–Quem é ele?- Perguntou ela baixinho.

–Bryan. Mas é outra longa história. Precisamos ir agora, Jane.- Disse Lucy e continuaram o caminho para o quarto.

***

–Pegue essa toalha. O banheiro é logo ali.- Apontou Lucy. Bryan assentiu e foi tomar banho.

–Precisamos que você corte o cabelo dele.- Falou Kate à Emily.

–Não! Eu não vou cortar o cabelo desse mal-educado.- Ela falou orgulhosa.

–Não seja infantil, Emily.- Retrucou Kate.

–Então ele me trata mal e eu ainda tenho arrumá-lo?- Emily sorrio irônica.- Claro que não.

–Faz isso por mim.- Pediu Kate. A menina a olhou por um instante e então sorriu.

–Tudo bem. Mas é por você, viu?- Rendeu-se Emily.

–Lucy, vá até o quarto do Charlie e do John e pegue uma muda de roupas.- Pediu Kate. Lucy assentiu e saiu do quarto.

Foi andando tranquilamente até o quarto dos meninos e bateu na porta. Ethan atendeu.

–Nossa... Até que enfim você apareceu. Foi sequestrada?- Disse ele com cinismo.

– Isso não é da sua conta. Agora se me der licença eu preciso falar com meus amigos.- Falou Lucy. Ele saiu da porta relutante. Charlie viu a menina parada na porta e se aproximou.

–O que você quer aqui?- Perguntou ele.

–Roupas.- Respondeu simplesmente.

–Minhas roupas?- Ele disse surpreso.

–São para o Bryan, seu tapado.- Lucy sussurrou entre os dentes.

–O.K.- Ele pegou a roupa que menos usava e levou até a menina. Ela apanhou a blusa cinza e calça preta.

–Se não se importa, gostaria de um calçado também.- Ela falou sorrindo. Charlie caminhou e pegou par de chinelos azuis.

–Agradeço.- Dizendo isso a menina se virou e pôs-se a correr. Ethan observara toda a cena atenciosamente.

***

Ethan caminhou até a sala de Márcia. Estava fervilhando de novidades. Bateu a porta com ansiedade.

–Entre.- Convidou Márcia estressada. Ethan adentrou a sala e se sentou na cadeira.- Ethan, Ethan. Espero que tenha um bom motivo para vir me atormentar.

–E tenho, senhora.- Ele disse.

–Então desembucha!- Gritou ela.

–Eles voltaram.- Falou ele.- E a Lucy foi no meu quarto pegar roupas de menino.

–De menino?- Repetiu ela.- Não pode ser...- Ela falou pensativa.

–O que não pode ser, senhora?- Perguntou curioso.

–Não te interessa! Suma daqui!- Ordenou ela e ficou horas olhando para o nada.

***

–Você limpinho fica bem mais bonito.- Elogiou Lucy rindo.

–Agora só falta cortar essa cabeleira.- Kate olhou para Emily.

–Ta, ta! Já concordei!- Ela falou e pegou a tesoura sobre a mesa de cabeceira.

Passou-se um tempo e lá estava Bryan: De cabelos cortados. Ficara realmente bonito assim. Com as roupas de Charlie e a barba que já fizera.

–Quanta elegância!- Falou Emily.- Nem parece aquele sujeito abusado que conhecemos na caverna.

–Ótimo, agora vamos para o sótão. Lucy pegue a caixinha.- Falou Kate. Lucy pegou a caixa e foram para o Sótão.

***

–Como vamos abrir essa maldita caixa?!- Questionou Kate.

Lucy segurou a pequena chave que recolhera da fúria na noite anterior. Ninguém percebera que ela usava e tampouco sabiam que ela e Charlie haviam matado uma Fúria. Ela arrebentou a cordinha com um puxão.

–O que é isso?- Perguntou Emily confusa. Charlie ficou em silêncio olhando para os próprios pés. Ele também não contara a ninguém.

–Provavelmente abre a caixa.- Disse Lucy simplesmente.

–Como a conseguiu?- Surpreendeu-se Kate retirando a chave da mão da menina.

–Charlie matou uma fúria.- Interveio Bryan. Charlie corou completamente.

–Verdade Charlie?- Emily o olhou surpreendida.

–Não foi nada demais...- Ele disse timidamente.

–Lógico que foi! Ele foi incrível! Apunhalou a Fúria bem no coração.- Empolgou-se Lucy.

–Mas eu só consegui matar ela depois que você deixou ela agonizando.- Ele disse baixinho.

–Não importa. Você foi demais.- Finalizou Lucy.

–O.K.! Agora vamos voltar para a caixinha.- Intrometeu-se John.

Kate girou a chave na caixa e a abriu lentamente. Olhou o que estava dentro e mostrou a todos.

–Eu matei uma fúria só para ler o diário da nariguda?!- Falou Charlie incrédulo.

–Pode ter algum segredo escrito aqui.- Disse Kate.

–Geralmente é o que os diários têm.- Debochou Bryan.

–Não é isso.- Ela girou os olhos.- Algum segredo sobre o reino da su... da líder das fúria.- Ele baixou o olhar. e colocou as mãos nos bolsos da calça.

–Então vamos ler logo!- Falou Emily ansiosa.

–Depois. Primeiro vamos jantar.- Sugeriu John.- Estou faminto.

***

Entraram na sala de jantar. Estavam realmente famintos. Viram que Márcia conversava com alguém. Alguém que não conheciam. Após sentarem ela pigarreou, fazendo com que todos à mesa a olhassem.

–Esse aqui é David.- Ela apresentou. O homem era alto magro e negro. parecia ter mais de cinquenta anos, seus cabelos estavam grisalhos como seu bigode.- Ele será o cozinheiro do orfanato.- Todos ficaram em silêncio.- Cumprimentem o David!- Ordenou.

–Bem-vindo, David!- As vozes ecoaram.

David não parecia confiável. Transmitia medo.