Lucy abriu os olhos. Não conseguia dormir. Ainda estava agitada devido ao treinamento. Ela calculou que seria mais ou menos umas meia noite. Bryan ainda estava acordado. Parado no escuro e sentado na pedra. Ele se levantou e pegou sua espada. Em seguida saiu da caverna. Lucy ficou confusa. Onde ele iria uma hora dessas? Não podia segui-lo sozinha. Caminhou até onde Charlie dormia.

–Charlie...- Ela se esforçava para o acordar, sem acordar aos demais. Ele abriu os olhos lentamente.

–O que foi?- Perguntou sonolento.

–O Bryan saiu. E levou a espada dele.- Dizia ela ansiosa.

–E eu com isso?- Perguntou ele com cinismo.- Deixa eu dormir em paz!

–Charlie! Vamos logo!- Lucy o puxava nervosamente.

–Ta bom, ta bom!- Resmungou Charlie.

Os dois levantaram. Estava muito frio. Lucy pegou sua jaqueta, sua aljava com as flechas e o arco.

–Para que você esta levando sua arma?- Charlie perguntou confuso. Lucy pegou rapidamente a espada dele e o entregou.

–Lá fora tem monstros.- Falou ela apreensiva- Agora vamos logo, antes que o percamos de vista.- Agarrou o braço do menino e o saiu puxando.

Viram a tempo Bryan subir o barranco.

–Espere! O que ele está fazendo?- Charlie parou de súbito.- Lá em cima tem... Bichos.

–Deixa de ser medroso, Charlie, vamos logo!- Lucy segurou seu pulso o puxando.

–Medo? Eu? Claro que não. Só que eu tenho amor pela vida.- Ele se esforçava para soltar-se do aperto da menina.

–O.K. Charlie.- Lucy suspirou.- Se você não vai, então adeus.- Ela se virou e começou a caminhar em direção ao barranco.

Charlie sabia que não podia deixá-la sozinha. Ela era como uma irmã para ele.

Deu um longo suspiro e começou a correr para alcançá-la

–Sabia que você não ia me abandonar.- Lucy abriu um sorriso.

–Não podia.- Ele suspirou.- Você poderia causar algum desastre sozinha.- Ambos sorriram.

–Vamos logo antes que o percamos de vista.- Repetiu Lucy.

Escalaram o barranco rapidamente e começaram a correr. Encontraram Bryan lutando em vão contra a fúria branca que os atacaram quando chegaram.

–BRYAN!- Gritou Lucy, o que chamou a atenção da fera. Ela veio a toda em sua direção e Lucy sacou uma flecha e colocou-a no arco rapidamente. Mirou na testa da fera mas acertou o pescoço.

A Fúria começou a se debater e a agonizar. Aquela cena não era agradável. Charlie pegou a espada e com um rápido movimento a enfiou no peito da fera que morreu mais rápido.

–O que é isso?- Observou Charlie.

–Uma chave, seu tapado!- Lucy provocou. Charlie a ignorou e apanhou a chave do pescoço da Fúria morta.

–Me dê isso aqui.- Lucy apanhou a chave e amarrou em seu próprio pescoço com a cordinha que antes estava com a fera.

Silêncio. Todos se entreolhavam. Bryan com a espada na mão, Lucy segurando o arco e Charlie segurando a espada ensaguentada que acabara de tirar do peito da Fúria.

–Por que me seguiram?- Perguntou Bryan. Sua voz estava controlada

–Você levantou no meio da noite e ficamos curiosos!- Disse Lucy

–Não Lucy. Você ficou curiosa.- Retrucou Charlie.

–Não deveriam ter vindo! Eu estava me virando muito bem sem vocês!- Falou carrancudo. Lucy ficou boquiaberta

–A estava mesmo. Perfeitamente- Falou Charlie com cinismo. Bryan o mutilou com o olhar.

–Acabamos de matar um monstro pra te salvar! O mínimo que você poderia fazer era agradecer!- Reclamou Lucy.

–Vocês se acham necessários, não é mesmo? Mas não são.- Dizendo isso ele empurrou cada um para um lado, passando entre eles e foi-se embora marchando.

–Sujeitinho abusado.- Observou Charlie.

–Nossa, olha quem fala!- Lucy agarrou o pulso de Charlie e foram juntos de volta a caverna.

Ao entrar na caverna, viram que Bryan estava deitado no canto onde dormia. Lucy sacudiu a cabeça e foi se deitar.

***

–Café da manhã.- Disse Bryan à Kate, que era a única acordada, jogando-lhe uma maçã.

–Hoje tem treinamento?- Falou Kate mordendo a maçã.

–Com certeza. Não há folgas.- Falou ele simplesmente.- Aproveita para acordar seus amiguinhos.- Dizendo isso ele saiu da caverna deixando algumas frutas sobre a pedra.

Kate acordou a todos. Após tomarem o desjejum foram para fora.

Bryan ensinou às arqueiras como caçar. Alivar ensinava alguns golpes de espada para os outros. Os que portavam espada.

Após o treinamento,Todos foram se lavar no lago e Lucy puxou Bryan para trás.

–Por que você foi atrás da fúria?- Perguntou ela séria.

–Isso é problema meu.- Ele disse rapidamente.

–Melhor você me contar ou...- Começou Lucy.

–Ou o que? Vai me acertar uma flechinha?- Ironizou ele.

–Não. Ou eu conto para todos que você foi procurar a fúria ontem à noite.- Lucy o provocou.

–E o que que tem eu ter procurado a Fúria?- Perguntou ele confuso.

–Pode ter haver com a sua súbita mudança de humor na noite anterior, enquanto falávamos de fúrias e de quem as comanda.- Falou pensativa.

–Cala a boca, garota. Você não sabe com quem está mexendo!-Ele falou a fuzilando com os olhos.

–Lucy!- Alguém a chamara e estava se aproximando. Segurou em sua mão.- Vai ficar aí?- Era Emily. Lucy deu uma última olhada em Bryan. Um olhar maroto. E foi juntamente com Emily se juntar aos demais que se banhavam em uma próximo ali.

–Até que em fim!- Disse Kate.

–Pensei que um centauro tinha te almoçado.- Riu-se Charlie.

A menina tirou a jaqueta que vestia e entrou na cachoeira. Mergulhou um pouco para se lavar e depois foi se juntar à John e Emily. Kate estava debaixo de uma árvore próximo ali.

Bryan chegou e sentou-se ao lado de Kate. Ficaram em silêncio por um tempo.

–Como?- Ela perguntou- Como você veio parar aqui?

–É uma longa história. Não gosto muito de falar sobre isso.- Ele abaixou a cabeça

–Mas às vezes desabafar é bom...- Falou ela. Sua voz transmitia tanta confiança que ele resolveu desabafar.

–Minha mãe.- Ele disse olhando para a grama sob seus pés.- Ela tinha medo da profecia.

–Quem é sua mãe, e que profecia é essa?- Perguntou confusa.

–O nome dela é Márcia. Ela comanda as fúrias.- Disse ele entristecido

–Como ela conseguiu te prender aqui?- Perguntou Kate mais confusa ainda.

–O orfanato dos meus avós. Ele tinha um portal. Pelo espelho. Ela me trancou...- Ele parecia à beira das lágrimas.

–Como? Um orfanato?- Ela percebeu que a mãe do rapaz era a terrível zeladora do orfanato.- Nós também viemos desse orfanato! Sabe como sair?

–Se eu soubesse já teria saído há muito tempo.- Ele falou triste.

–... E nem pensar em viver em orfanatos mais!- Empolgou-se Emily.

–Vamos morar naquela caverninha para sempre?!- Admirou-se Lucy.

–Eu que não.- Charlie disse.- Vou dar um mergulho agora.- E lá se foi o Charlie. Retirou a camisa e mergulhou. Lucy e John olhavam para os pés que estavam na água. Estavam distraídos.

Charlie nadava em direção à cortina d'água.

–Charlie... não vai por ai não!- Alertou Emily rindo.- Um tubarão pode te devorar!

E Charlie não deu atenção e entrou na cortina.

–Tudo bem Charlie, pode sair.- Emily ria. Passou-se vários minutos e Charlie não voltava. Emily começou a se preocupar.

–Cadê o Charlie?- Falou Lucy séria.

–CHARLIE!- Desesperou-se Emily.

Em poucos minutos apareceram Kate e Bryan.

–O que tem o Charlie.- Perguntou Kate séria.

–Ele sumiu! Atrás da cortina!- Falou Emily com pânico no olhar.

–Como assim sumiu?!- Kate se desesperou.- Temos que ir atrás dele!

–Melhor sem ele.- Zombou John.

–Isso não tem graça!- Kate o empurrou.

–Deve ser um dos portais.- Observou Bryan.- Quem vai primeiro?

–Deixa que eu vou.- Ofereceu-se Emily.

–Eu vou com você!- Falou John.

–Ótimo. Agora vão logo.- Resmungou Bryan.

Os dois mergulharam na cachoeira e nadaram até a cortina d'água. Logo entraram nela e sumiram no mesmo instante.

–Como pensei. É realmente um dos portais criados por...- Ele olhou para Lucy.- Ninguém.

Lucy pulou na água e atravessou a cortina. Em seguida, Kate e Bryan foram.

Lucy se viu em meio à uma porção de comidas. Andou até a porta. Reconhecia que aquela era a dispensa do orfanato. Isso só podia significar uma coisa: Voltaram para o orfanato