Passaram a noite na caverna. Sabiam que era segunda-feira, mas logo não teriam mais noção do tempo. A energia do lugar era tão forte que todos os aparelhos eletrônicos que levaram, pifaram.

–Acordem!- Gritou Bryan e todos, com exceção de Lucy, que tinha o sono pesado, acordaram.

–Que horas são?- Perguntou Charlie.

–Não seja estúpido. Aqui não temos noção das horas.- Falou Bryan tranquilamente.- Acordem a garota. O treinamento já vai começar.

–Lucy!- Kate a sacudiu e ela acordou um pouco desnorteada.

–Ah e passem isso na boca.- Bryan jogou umas folhas de hortelã.- Não quero ninguém com mal-hálito. Não vai ser muito agradável.

Fizeram o que ele disse. Mastigaram as folhinhas. O gosto não era ruim, mas na opinião de Charlie, era péssimo.

Recolheram suas armas e saíram da caverna.

–Esse é Alivar.- Bryan apresentou à eles uma criatura que era metade homem e metade cavalo.- Ele é um centauro.

–Eu sei o que é um centauro!- Interveio Emily.

–Ninguém pediu sua opinião.- Disse Bryan calmamente.- Continuando: Alivar irá me ajudar a treinar vocês.

– Esse... Bicho vai nos ajudar?- Começou Charlie. O Centauro mostrou um desconforto e arrastou o casco na grama.

–Bicho são as fúrias. Eu tenho nome.-Retrucou Alivar.

–Desculpe, as o que?- Interveio Lucy.

–As fúrias. Vocês ainda não as viram?- Perguntou Alivar.

–Na verdade, eu não sei nem o que é isso.- Confessou Lucy.

–Aqui há duas fúrias: Uma completamente branca, com olhos de vidro e aparência medonha. Mas não chega aos pés da segunda. A outra é completamente negra e tem o dobro de poder e de tamanho da primeira.

–É aquele passarinho com asa de morcego e olho de gato que nós vimos ao chegar?- Disse Charlie e Kate deu-lhe um tapa na cabeça.

–Passarinho? As fúrias não são como os passarinhos. Elas te matariam na primeira oportunidade.- Explicou o centauro.

–Teriam nos matado ontem.- Falou John.

–Chega de papo. Vamos começar isso logo.- Intrometeu-se Bryan.- Os arqueiros serão treinado por Alivar, e os que estão com as espadas sigam-me.

Emily e Lucy ficaram para treinar com Alivar, enquanto o restante havia ido com Bryan.

–Mira naquela árvore.- Explicou Alivar à Lucy. Ela pegou a flecha da aljava e tentou posicioná-la no arco. Caiu umas três vezes, até ela por fim conseguir. Mirou no tronco. A primeira flecha passou direto. Ela sacou outra. Já havia pegado o jeito e agora era mais fácil posicionar a flecha no arco. Dessa vez acertou o tronco. Alivar a parabenizou.

–Vou dividir vocês assim:- Explicava Bryan- O ruivo e o louro vão duelar. Eu e a morena também. Vejamos como vocês se saem.

Kate se defendia bem dos golpes de Bryan. Perdeu bastante. Por inúmeras vezes ele à encurralou com sua espada. Mas ela já estava pegando o jeito. Investiu contra ele e conseguiu desarma-lo por um descuido dele. Ela venceu aquela partida.

Os meninos mais riam do que duelavam. Quando um estava para vencer o outro, eles caiam na gargalhada e se sentavam no chão.

Emily tinha dificuldades para pôr a flecha no arco, mas uma vez que posta, ela acertava rapidamente o alvo. Era boa de mira.

–PAREM DE RIR!- Bryan se irritou com os meninos.- Saia daí.- Ele empurrou John e começou a duelar com Charlie. Imediatamente o garoto parou de rir e começou a tentar se defender das rápidas investidas de Bryan. Erguia seu escudo sempre que conseguia, por fim foi vencido pela exaustidão.

***

Estava de noite e eles já estavam na caverna.

–Emily, você foi incrível!- Repetia Lucy. As duas conversavam animadas sobre o treinamento.

–Você também foi.- Ela corou

–Ruivo, você luta bem. Mas tem que levar mais a sério. Isso não é um acampamento de verão. É caso de vida ou morte.- Disse Bryan tranquilamente. Seus olhos negros profundos causavam intimidação

–E você acha que pode me dizer o que fazer certo?- Provocou Charlie. Bryan sorriu.

–Um Charlie dava para suportar, agora Dois?– Emily disse sorrindo.

–Não me compare com esse aí, O.K.?- Charlie a olhou ameaçadoramente.

–Ciúmes, Charlie?- Provocou Lucy.

–Claro que não. É que eu sou bem melhor do que esse homem das cavernas.- Ele girou os olhos.

–Ora, não diga isso. Em breve você também vai virar um homem das cavernas.- Provocou Bryan.

Kate estava em silêncio. olhava para o nada e estava pensativa.

–Vou lá fora.- Dizendo isso ela saiu da caverna e se sentou do lado de fora. Poucos segundos depois, John apareceu e sentou-se ao lado da menina.

–Como vamos fazer?- Perguntou Kate sem o olhar.- Pra voltar para casa?

–Não sei. Ainda está difícil de acreditar que atravessamos um espelho.- Ele deu uma risadinha.

–...E se os monstros nos matar antes que consigamos voltar?

–Isso tudo é muito estranho. Mas veja pelo lado positivo: Se os monstros nos matar, não vamos ter que ver a cara feia da Márcia de novo.- Ele brincou.

–Melhor entrarmos. Faz muito frio aqui.- Disse Kate se levantando e entrando na caverna com John logo atrás.

–... Charlie, não seja estúpido, eu já falei que não adianta quebrar a pedra! O portal não vai aparecer!- Emily explicava a Charlie.

–Mas como um portal apareceu lá do nada?!- Charlie não entendia.

–Portais aparecem do nada.- Continuava Emily a pelejar com ele.

–... Uso flechas também. Sei usar tanto um como o outro.- Bryan explicava à Lucy.

–Interessante. Você sabe o motivo da ilustração de um diamante na minha aljava?- Perguntou.

–Os centauros o desenhou aí, disseram que era uma lenda antiga que tinha haver com o Alexander.- Contou Bryan.

–Que lenda? E quem é Alexander?- Lucy ficou curiosa.

–Não sei a lenda direito.Alexander é a fúria mais terrível. Ele trabalha para...- Bryan parou subitamente.

–Para quem?- John se pronunciou. Kate e ele prestavam atenção à essa conversa e faziam o máximo para ignorar a discussão sobre portais de Emily e Charlie.

–Isso não interessa.- Ele continuava sério. Parecia triste. Abatido.

–Tudo bem então. Vamos dormir.- Lucy foi para seu canto no chão e se deitou sobre o braço. John e Kate fizeram o mesmo. Bryan ficou acordado fitando o chão e a discussão de Charlie e Emily terminou e eles ficaram sem se falar.

Kate abriu os olhos de modo imperceptível. Viu a hora em que uma lágrima rolou dos olhos de Bryan. Alguma coisa o magoara.