Ao entrar no espelho, Kate sentiu-se rodeada por mato e olhou ao seu redor. Não estava mais no orfanato, e sim em uma espécie de... Floresta? Como viera parar ali? Emily estava certa. O espelho era realmente um portal.

–Onde estamos?- Perguntou Kate boquiaberta. Sem resposta.

Lucy estava sentada no chão. Não se mexia, tampouco piscava. Os gêmeos olhavam tudo ao seu redor e Charlie mantinha as mão sobre os olhos.

–Charlie...- Sussurrou Emily, retirando a mão dele dos olhos.- É maravilhoso!

–Não, não é! Como voltaremos para casa?! É tudo culpa sua!- Ele apontou o dedo indicador no rosto de Kate e em seguida se virou e começou a esmurrar a grande pedra que antes era o portal por onde haviam entrado.- QUERO IR EMBORA!

Todos o ignorou e foram explorar o território. Lucy não se moveu. Estava atônita demais para isso. Emily a pegou pelo braço.

–Vamos...- Ela assentiu e foram juntos, abandonando um Charlie completamente em pânico.

Charlie olhou para trás e se viu sozinho.

–Hey! Vocês não podem me deixar aqui!- Gritou ele enquanto corria ao encontro dos outros.

Os encontrou à beira de um córrego de águas límpidas que ficava próximo à uma árvore frutífera. Kate maquiava-se sob a árvore. Lucy e Emily lavam os rostos. John recolhia uns frutos da árvore.

–Água!- Exclamou Charlie abaixando-se para matar a sede.

–Eu poderia viver aqui para sempre.- Observou John enquanto descia da árvore com os frutos enrolados na camisa.

–Também.- Concordou Kate se admirando em um espelhinho que trouxera para "emergências".

Enquanto riam e comiam as frutinhas recolhidas por John, ouviram um barulho terrível vindo do topo da árvore. Kate ergueu os olhos lentamente. Seu coração gelou com o que via: Era um monstro horrível, branco e esquelético, com asas semelhantes às de morcego e olhos vidrados e sem vida. Mas ele parecia capaz de enxergar à tudo e à todos.

–CORRE!- Berrou Kate agarrando o braço de Lucy e de John.

–CHARLIE!- Chamou Emily. Charlie não se movera. Estava tão atônito que ficou sem ação. Emily voltou correndo e o agarrou pelo braço. A fera fez a menção de ia voar.

–A mochila!- Ele voltou e pegou rapidamente a mochila e os dois começaram a correr desesperados e olhando para trás para verificar se o bicho os seguiam.

Kate, John e Lucy chegaram ao fim da linha. Era um barranco grande. John quase caiu lá embaixo mas foi impedido pelas mãos de Kate e Lucy, que o puxaram para cima com dificuldades e quase desabando. Quando pensaram que tinham recuperado o equilíbrio, Emily e Charlie que corriam desesperados chocou-se contra John, o que ocasionou a queda de todos.

E desceram rolando barranco abaixo. Ao chegar lá embaixo, todos ralados e machucados retomaram a corrida frenética em busca de um lugar seguro. John saíra mais ferido, com vários arranhões no braço e no rosto.

E lá estava o monstro. No topo do barranco. Já não os seguia mais, apenas os observava

Chegaram até um ótimo esconderijo. Era uma espécie de caverna. Pararam à porta. Ficaram observando o céu.

–Por que será que aquele bicho não nos seguiu até aqui?- Perguntou Charlie intrigado.

–Seria por causa dos centauros?- Disse uma voz que vinha de dentro da caverna. Os cinco olharam para trás.

Era um homem jovem, moreno, com longos e emaranhados cabelos e uma barba que estava sem fazer por muito tempo, provavelmente.

–Quem é você?- Perguntou Emily por impulso.

–Sou eu quem faço as perguntas aqui, mocinha.- Falou ele sério.- Quem são vocês?

–S-sou Lucy- Apresentou-se a menina de cabeça baixa.

–Eu sou Kate. Esse são Emily,- Ela apontou para a menina.- Charlie,- Indicou o rapaz.- E John.- Finalizou apontando para ele.

–E agora eu posso perguntar?- Falou Emily irônica.

–Não. Vocês invadiram a minha caverna.- Ele se sentou em uma pedra.- O que vocês estão fazendo aqui?

–Primeiro me diga seu nome.- Provocou Kate.

–Bryan, ta bom assim?- Ele girou os olhos.- Agora, ou vocês dizem como vieram parar aqui, ou vou jogar vocês lá fora para virarem almoço de centauro. O que acham?

–Vamos embora daqui.- Falou Emily irritada.

–Tem certeza?- Bryan provocou.- Eu não faria isso se fosse você.

–O que há lá fora?- Perguntou Emily.

–Eu já disse! Eu faço as perguntas! E por acaso, vocês ainda não me responderam.- Ele disse tranquilamente.

–Atravessamos um espelho, está bom assim?- Disse Lucy nervosa.

–Hm.

–Agora, diga: O que há lá fora?- Tornou a perguntar Emily.

–Coisas terríveis.- Respondeu por fim.

–Que coisas?- Perguntou Kate.

–Não vai querer saber.- Falou o homem.

–Sim, nós vamos!- Irritou-se John.

–Só escolham sua arma. Vão precisar. Os centauros às fazem.- Ele disse e em seguida levantou-se da pedra e abriu uma portinha de madeira. Lá dentro se encontravam espadas, facas, punhais, machados, escudos, arco, flechas e aljavas.

Lucy se aproximou e pegou o arco, algumas flechas e uma aljava com um desenho de um diamante.

–Não seu usar.- Admitiu.

–Eu e uns centauros vamos os treinar. Para se defenderem. Espero não me arrepender disso.- Falou Bryan a fulminando com os olhos.

–Não vai.- Interveio Kate, escolhendo uma espada.

Charlie escolheu uma espada e um lindo escudo de madeira com a ilustração de uma serpente. John escolheu também uma espada e um escudo. Seu escudo tinha o desenho de um cavalo com asas.

Emily, porém, optou pelo arco e flecha. Ela tinha mais habilidade para mirar do que manusear uma espada. Sua aljava continha o desenho de um unicórnio.

–Amanhã começará o treinamento.- Informou Bryan