O outro mundo escrita por Debby e Tehh
Notas iniciais do capítulo
Esperamos que gostem
Charlie fitava as árvores. Era possível ver a névoa de sua respiração. Suas mãos abraçavam as pernas por baixo do cobertor. Ele fazia a primeira vigia.
Olhou para trás. Seus amigos dormiam pesadamente. Por um momento, ele agradeceu a Darsh. Graças a ele, todos sobreviveram e isso amenizava o sentimento de culpa que há dias vinha inundando-o.
Novamente fitou as árvores obscuras. Olhou além. Era um negrume total. A floresta estava silenciosa. Imaginou algum Bourg o vigiando silenciosamente. Sentiu medo por um instante, mas logo afastou o pensamento.
Escutou o confortador barulho do rio. "Em direção ao som da água" lembrou as palavras de Darsh. Permitiu-se dar um sorriso. Já era meio caminho andado.
Então ele viu. Seus olhos negros pararam em uma luzinha que acendia, apagava e em seguida acendia novamente.
"Vaga-lumes..." Murmurou. Fazia bastante tempo que não via um. Quando tinha cinco anos, costumava ir ao jardim do orfanato à noite juntamente com John, Emily, Lucy e Kate, apanhar diversos vaga-lumes e aprisioná-los em uma garrafa. Logo Márcia aparecia ordenando que fossem se deitar imediatamente.
Márcia... Eles sempre viram Márcia como a zeladora megera do orfanato. Nunca puderam imaginar que ela seria uma feiticeira maligna. Mas quem imaginaria isso? Conhecem Márcia desde conseguem se lembrar.
Mas os vaga-lumes... Era o único vestígio de luz naquela floresta obscura. Luz...
Charlie parou de súbito. "Sigam a luz" Darsh dissera. "É isso!" Murmurou. Virou-se afobado e sacudiu Lucy até ela acordar. Depois repetiu o processo com John.
–Ahn?- Lucy resmungou.
–Que foi?- Perguntou John sonolento.- Já é minha vez?
–O que?- Charlie piscou.- Não!
–Então por que nos acordou?- Quis saber Lucy.
–Lembram o que Darsh disse?- Começou.- Mandou que seguíssemos a luz...
–Não acha melhor discutirmos sobre isso amanhã?- Disse Lucy.
–Escuta:- Tentou Charlie.- Não há luz na floresta das sombras a não ser...
–Vaga-lumes.- Concluiu John, olhando as pequenas luzinhas que acendiam e apagavam.
–Exatamente.- Disse Charlie- Vaga-lumes.
–E como tem certeza que é disso que ele falava?- Disse Lucy.
–Ele disse luz.- Charlie deu de ombros.- Não especificou que luz era.
–O.K.- Lucy bocejou.- Amanhã nós falamos disso.
E ela deitou-se, dormindo rapidamente.
–Não estou mais com sono.- Informou John.- Posso ficar de vigia?
–Fique a vontade.- E Charlie deitou-se no local antes ocupado por John.
John ficou de vigia. Seu pensamento estava preso em Emily, sua irmã.
***
Márcia parou atrás de Alexander, que mais uma vez estava debruçado na janela. Ela pigarreou alto o suficiente para ele se virar.
–Ah. É você.- Disse Alexander com desdém.
–Sim, querido.- Ela sorriu.- Sou eu.
–O que veio me dizer?
–O grupo se dividiu à vários dias.- Disse Márcia.- Agora estão mais vulneráveis que nunca.
–Sugere que eu os mate agora?- Perguntou ele. Seus olhos estavam vermelhos.
–Talvez o grupo mais fácil.- Ela deu de ombros.- Um dos dois grupos está sob a proteção de Darsh.
–Maldito Darsh!- Ele praguejou cerrando os punhos.- Sempre atrapalhando meus planos!
–Ao menos os outros ainda não descobriram seus guardiões.- Disse Márcia.- Isso nos atrasaria.
Dizendo isso, ela saiu da sala, deixando um Alexander furioso.
***
Nas masmorras, Alivar permanecia deitado. A menina sentada em um canto presa a parede, respirava com dificuldade. O irmão dela tremia de fraqueza. O mais gordinho agora fazia silêncio.
Um guarda adentrou a sala. Seria um humano, se não fosse seus olhos amarelos, semelhante aos olhos de um gato e sua pele muito cinza. Ele se aproximou de Alivar. Tinha uma faca na mão direita. A menina arregalou os olhos, tentando se livrar das cordas que a prendia e ajudar seu amigo de cela.
O guarda se abaixou-se próximo ao centauro caído.
–Ora ora ora...- Riu-se. Sua voz parecia duplicada, como se duas pessoas falassem ao mesmo tempo.- Será que você prefere morrer aos poucos a dizer onde está a Espada Mestre?
–Sim.- Disse Alivar com um ruído quase inaudível.
–Corajoso você.- Disse o guarda. Ele fez um movimento ágil e rápido com a faca contra o rosto do centauro.
Um profundo corte apareceu em sua face, seguido por um guincho dolorido de Alivar.
–Tá doendo, é?- Debochou o guarda.
O sangue escorria para a boca do centauro.
–Para por favor!- Implorou a menina desesperada. O guarda virou-se para ela carrancudo.
–Você bem que merecia também- Disse.- Ninguém rouba minha rainha e sai impune.
–Mas eu não roubei nada.- Sua voz estava fraca.
–E por que eu deveria acreditar?- Disse o guarda.- Minha rainha disse que roubou.
–Ela não...- Tentou dizer o irmão.- Roubou.
–Então foi você.- Acusou o guarda. O menino assentiu.
–Não! Fui eu.- Mentiu a menina.- Ele não roubou.
O gurda se aproximou bem do rosto da menina.
–Sua porca imunda!- Ele girou a faca e com um movimento, fez um corte profundo em seu braço. A menina abafou o grito. Lágrimas inundaram seus olhos. E o irmão não teve nem forças para protestar.
O guarda saiu dali satisfeito.
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Bjoss.