Enquanto isso, o grupo de Bryan estava deveras mais saudável que o de Charlie. Eles estavam em um ponto onde tinha caça de sobra e tendo Bryan e Emily como caçadores, a comida não era um problema. Nem a água, afinal seguiam um riacho. Até mesmo estavam mais confiantes. Emily ainda estava bem abalada pela falta de seu irmão, mas fora isso tudo estava bem. Foram atacados algumas vezes, mas nada que não pudessem resolver.

A noite, sentavam-se frente a fogueira e contavam algumas histórias.

–Uma vez, quando eu tinha onze anos, Estava passando pelo corredor do orfanato- Começou Bryan- Eu escutei a voz da minha m... da Márcia.- Corrigiu-se.- Ela conversava com alguém. Um homem.

"A voz dele era grave e cortante. Ele parecia nervoso...

–Não viu quem era?- Emily perguntou. As chamas da fogueira tremeluziam em seus olhos verdes.

–Nunca soube.- Bryan deu de ombros.- Mas tenho uma suspeita...

–Alexander.- Concluiu Kate.

–Sim. Alexander.- Bryan afirmou.

–Continua!- Disse Emily ansiosa.

–O.K.- Bryan respirou fundo.- Acho que ele estava dando-lhe uma bronca. Como na época eu era criança, não entendi bem o motivo.

"Ele dizia que ela devia mantê-lo em segurança. Que ela não poderia deixar ninguém descobrir seu esconderijo.

–Nessa hora, fiquei realmente confuso. Mas agora sei do que se trata: o Diamante.

"Márcia sumiu por anos, e isso só fez crescer minha curiosidade. Principalmente por que quem ficara no orfanato era ele: Alexander.

"Eu tive vontade de descobrir. Precisava. Então invadi a sala dela. O que achei foi um chaveiro. Com duas chaves.

"Andei o orfanato inteiro procurando a fechaduras que correspondesse as chaves. E foi uma porta com o número 17 que consegui abrir.

–E a outra chave?- Perguntou Kate.

–A outra chave não abria necessariamente uma porta.- Explicou Bryan.- Ao entrar no quarto, vasculhei tudo. Mas apenas uma coisa chamou minha atenção.

"Ao abrir a porta de um guarda-roupas velho, encontrei uma caixinha de madeira com uma fechadura dourada.

–A caixinha...- Sussurraram Emily e Kate ao mesmo tempo.

–Conhecem a caixinha?

–Sim. Nós a abrimos.- Explicou Emily.

–Então a chave que o Charlie apanhou do pescoço da Fúria naquela noite era...

–Sim, Bryan. Era.- Kate afirmou.- Continue, por favor.

–O.K.- Bryan suspirou.

"Então me ocorreu que a chave poderia abri-la. E eu a abri. Achei um diário dentro dela. Peguei-o com cuidado.

"O conteúdo dele não me agradava. Dizia sobre a relação entre Márcia e Alexander. Mas quando cheguei ao meio, vi meu nome, então resolvi ler.

"Dizia que ela teria que se livrar de mim devido a profecia. Que eu não deveria saber minha idade, pois quando completasse vinte, a destruiria. Guardei o diário assustado, tranquei a caixa, guardei onde encontrara. Tranquei o quarto 17 e guardei as chaves onde achara.

–Então por que ela não te matou?- Emily perguntou. Kate deu-lhe uma cotovelada.

–Não sei.- Bryan deu de ombros.- Acho que não tinha coragem. Preferiu me trancar aqui para que eu fosse morto por outros bichos.

"Ela ficou fora exatos cinco anos.- Que aqui pode significar apenas dois- E quando voltou, eu já havia completado dezesseis. Obviamente, ela se desesperou. A cada dia eu estava mais próximo de destruí-la. Ela me arrastou até o quarto 17 a trancos e barrancos. Levantou a porta que levava ao porão e ligou a lanterna. Ela tinha força. Eu não entendia bem o que ela estava fazendo, mas pelo havia lido, desconfiava que ela queria me matar. Mas não matou. Me jogou no espelho."

–Que horror.- Concluiu Emily.

–Então por que ela amarrou a chave da caixinha no pescoço da fúria?- Quis saber Kate.

–Não sei.- Disse Bryan- das duas uma: Ou ela descobriu de algum modo que eu mexera, ou foi uma sugestão de seu querido Alexander.

–Você leu algo sobre como destruir o Diamante?- Perguntou Kate.

–Tinha um enigma. Algo sobre as duas faces do espelho da alma...- Bryan disse.

–Assim complica!- Exclamou Kate.- Duas faces. Espelho. Pode ser um machado, um punhal, uma espada, uma faca... Entre outros.

–E quando nós lemos o caderno, a folha estava arrancada.- Disse Emily tristemente.

–Quer saber?- Disse Kate.- Se não se importam, eu vou dormir.

–Eu posso ficar de vigia essa noite.- Afirmou Emily.

–Boa noite.- Disse Bryan.

E os dois deitaram-se. Emily ficou sentada envolta em pensamentos. Só o que queria era saber se seus amigos e seu irmão estavam bem.