Emily abriu os olhos lentamente. Tremia muito por conta do frio. Era realmente difícil distinguir se já havia havia amanhecido, pois naquela floresta, tudo era muito escuro. Olhou em direção à entrada da árvore: Kate cumpria seu horário de vigia. Emily apanhou sua manta e se enrolou para espantar o frio. Poderia ter ficado ali o dia todo. Mas não devia.

Olhou em volta: Todos dormiam com exceção de John, que fixava os olhos em nenhum lugar específico (e é claro, com exceção de Kate também.) Os olhos do irmão não estavam verdes como de costume. Estavam azuis e vidrados. Ela achou muito estranho a mudança, mas ficou ali, deitada, fixando seus olhos verdes no teto- Não exatamente um teto.

Lá fora começou a chover. Teriam que caminhar na chuva.

Passado algum tempo, todos acordaram. Charlie já acordou reclamando:

–O que?! Vamos ter que andar na chuva?!- Sua voz ainda estava rouca como em todas as manhãs.

–Charlie, o que você quer afinal?- Lucy girou os olhos. Os demais observavam em silêncio- Você reclama quando tem que caminhar sob o sol, você reclama quando tem que caminhar sob a chuva...

–Resumo: Você reclama por tudo.- Kate interveio sorrindo.

–Eu nem queria estar aqui!- Ele protestou.

–Então volte.- John começou a falar. Estava sério. Seus olhos ainda vidrados no nada- Basta você achar de novo a ponte, atravessar aquela floresta, chegar à aldeia dos centauros e depois ir até a cachoeira e entrar nela.

–Você só pode estar brincando!- Charlie riu com cinismo.

–Não estou. Já chega de suas reclamações!- John berrou. Continuava olhando para o nada.

–John...- Emily começou.- Você nunca ligou para as queixas de Charlie... Você sabe que esse é o normal dele.

–Eu sei Emily! Mas eu não aguento mais!- John se levantou estressado. Bryan observava sombrio

–John.- Bryan chamou. John se aproximou. Charlie se sentou no chão assustado com a reação do amigo. Nem ao menos notou a mudança em seus olhos.- Escute: Lembra do que eu disse a vocês quando entraram na floresta?

–Suponho que sim.- John o fitou. Seus olhos voltaram ao verde.

–Essa floresta tem uma energia terrível. Ela é enfeitiçada, nos jogará uns contra os outros. Se isso acontecer, acabaremos nos matando. Devemos manter a calma.- Bryan explicou com cautela- Me parece que você está começando a ser afetado.- Bryan fitou os outros.- Ouçam: Evitem discutirem.- Finalizou ele.

Todos saíram da árvore. A chuva não era forte, mas muito fria. Todos com exceção de Bryan vestiram o capuz dos casacos. E caminharam no mais absoluto silêncio.

John começou a sentir estúpido. Ele nunca tratara o amigo daquela maneira- Umas ou outras vezes o mandava calar a boca, mas nada sério.- Ele realmente estivera fora de si. No fundo ele sabia que mais alguns segundos e ele avançaria para cima do amigo e lhe bateria. Mas por que estivera tão nervoso? Raras vezes ele perdia a razão. Mas foi realmente por um motivo idiota. John percebeu o quanto aquela floresta era perigosa. Mas ainda restava-lhe uma dúvida: Por que ele fora o primeiro a ser afetado? Talvez não houvesse resposta. Agora, John se sentia culpado. Chegou perto de Charlie e murmurou um “Desculpa” quase inaudível. Mas Charlie escutou e abriu um pequeno sorriso feliz pelo amigo ter voltado ao normal.

***

Emily e Lucy caminhavam lado a lado. Emily estava assustada com o que acontecera com seu irmão. Sabia que em breve podia lhe acontecer.

–Você... Viu?- Murmurou ela para Lucy.

–O que?- A menina não havia entendido.

–A mudança nos olhos do John...- Ela falou baixinho para que ninguém além de Lucy escutasse.

–Mudança?- Ela estava confusa.

–Caramba Lucy! Você não viu?- Emily disse eufórica.

–Não.- Ela fitou Emily.- O que tinha nos olhos dele?- Lucy quis saber.

–Estavam azuis, Lucy. Azuis.- Ela respondeu incomodada.

–Qual é o problema? Os olhos de vocês mudam de verde para azul o tempo todo!- Lucy observou.

–Aquilo foi diferente. Os olhos dele estavam...- Emily olhou em volta para certificar-se que ninguém ouvia, então virou-se para Lucy e sussurrou:- Vidrados.

Lucy a olhou séria.

–Por que você acha que estavam assim?- Perguntou Lucy.

–Você não ouviu o que Bryan disse?- Ela a olhou incrédula.

–Na verdade... Não.- Respondeu Lucy e Emily revirou os olhos.

–Ai, Lucy...- Emily a olhou impaciente.- A floresta é enfeitiçada!- Emily sussurrou. Lucy resmungou algo em concordância.

***

Todos continuaram a andar em silêncio. Os pés afundando na lama. A chuva ia aumentando cada vez mais. O frio e a pouca claridade do lugar não ajudavam em nada. Charlie já estava ficando paranoico. Olhava para trás e para os lados o tempo todo. Parecia estar ficando louco, dava risadas nervosas e esfregava as mãos o tempo todo.

Kate caminhava mais a frente. Estava nervosa. Seus pés estavam muito enlameados e ela tentava focar-se apenas no caminho a sua frente.

Seus pés agarraram na lama.

“Droga!” Pensou enquanto tentava inutilmente retirar seus pés dali. Estava afundando. Se desesperando.

–Kate, tudo bem?!- Gritou alguém lá de trás.

–Não. NÃO!- A Areia Movediça já lhe alcançava os joelhos. Os meninos apressaram-se em correr desesperados ao verem Kate afundar.

–KATE!- Lucy espantou-se e colocou as duas mãos no rosto.

–Me ajudem!- E a areia a engolia cada vez mais fundo. Agora já estava chegando em suas coxas.

–RÁPIDO! ME DEEM ALGUMA COISA!- Berrou Bryan.

–O que?- Perguntou Lucy em pânico.

–QUALQUER COISA!- Bryan tentava em vão puxar Kate pela mão. A areia já estava alcançando-lhe a cintura.

–Minha corda ficou no barranco!- Emily lembrou.

–Isso! Corda!- John vasculhou sua mochila e apanhou as pressas sua corda verde e a entregou a Bryan, que imediatamente lançou-a a Kate. A garota segurou-a com força.

–SEGUREM A CORDA E PUXEM!- Ordenou Bryan, e todos obedeceram. Puxaram com força. Estavam conseguindo. Kate chorava. Suas mãos ardiam. Eles a puxaram para fora. Todos cairam no chão com o impacto. Ela sentou-se no chão embolada e abraçou Bryan, chorando em seu ombro.

–Hey... Tudo bem- Ele a tranquilizou alisando seus cabelos. Em seguida Bryan levantou-se e estendeu a mão para Kate, que a segurou e se ergueu. Lucy se aproximou e a abraçou apertado.

–Obrigado.- Ela sussurrou para ninguém.