As Chamas Negras Da Luz escrita por Sky Blue


Capítulo 10
Feridas profundas




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O sol já estava quase em seu ponto alto, provavelmente era nove ou dez horas da manhã, o céu coberto por suas nuvens avermelhadas, passando a impressão que iria chover em breve. Na margem do rio, Tanya aos poucos retomava consciência, quando deu conta estava deitada no colo de Draco, quase de imediato seu coração dispara e recua rapidamente, tomando uma pequena distância dele, parecia envergonhada de ter ficado próxima dele. Ela o olha, em seguida mostra uma expressão de susto, pondo suas mãos na boca, ao perceber um buraco no abdômen que permitia ver através dele, saia muito sangue, ela pegou o pano que Draco havia colocado sobre ela e amarrou no abdômen dele para estancar o sangue dele, e saiu tentando achar algo.

Alguns minutos depois Tanya chega com um pequeno barco de madeira, era um simples bote bem pequeno, o carregou e colocou dentro do barco, e ao tocá-lo sentiu que ele estava muito gelado, ela pegou outro pano que estava na praia o sacodiu para tentar tirar a areia que estava nele e colocou sobre Draco, e se apressou para empurrar o barco para o rio, subiu e começou a remar. Ela o olhou e falou:

– Aguente Draco, vai ser difícil, mas tente aguentar, irei te salvar também, só... aguente mais um pouco, não irei te deixar morrer.

Tanya remou até chegar do outro lado da margem, ela desceu no que parecia tempos anteriores uma floresta, que agora era só um deserto de areia com algumas arvores mortas, ela olhou e não sabia ao certo para onde ir, só pensava “Para onde vou? Quem confiaria para cuidar de alguém que nem é de nossa raça? Não tenho tempo ele vai morrer se eu continuar aqui por muito tempo.”. Tanya pegou uma corda e a amarrou num anel que havia na ponta do barco e começou a puxar o barco com muito esforço, sempre repetindo a frase em seus pensamentos “Aguente Draco. Você não vai morrer aqui, isso eu não permitirei.”.

Provavelmente era meio dia quando ela encontra uma pequena cabana no meio deste deserto, que parecia não ter fim. Ela se apressa sem se importar se eles se incomodariam com o fato de Draco não ser demônio, só queria o salvar, pois ele tinha perdido muito sangue e provavelmente não tinha muito tempo para se dar ao luxo de pensar em quem confiar. Ela correu com o resto de suas forças arrastando o barco, ao se aproximar bastante ela solta a corda e bate na porta, e uma mulher, passava a impressão de ter na faixa de trinta anos, tinha uma altura mediana e longos cabelos castanhos, vestia um vestido azul e um avental branco, ela sorriu e falou:

– Que surpresa, não esperava visitas hoje. Boa tarde, sou Marta.

– Perdoe-me, não tenho tempo para apresentações – Falou com dificuldade, muito ofegante, seus pulmões pareciam não ter ar, estava muito exausta, e se esforçava para manter-se consciente, ou ao menos com os olhos aberto – Ele perdeu muito sangue, ele está à beira da morte. Ele não pode morrer, por favor... me ajude... – Então ela chegou em seu limite, e caiu inconsciente no chão.

Horas mais tarde o sol estava dando seus últimos suspiros antes de ir levar o dia para o outro lado do mundo. Dentro de um pequeno quarto, Tanya desperta assustada, e de imediato se levanta da cama onde repousava tentando encontrar Draco, mas não o achava e pensou “Será que aquela mulher descobriu que ele não era demônio e o matou.”. De repente um longo rangido das dobradiças velhas da porta soam, à medida que a porta do quarto se abria, era Marta, carregava uma bandeja com alguns alimentos e uma bebida que pela fumaça parecia quente, provavelmente café. Marta ao ver Tanya acordada logo sorri e fala:

– Bom dia... Boa noite, perdão, às vezes me confundo com os horários. Vejo que você retomou sua consciência e parece melhor, mas acharia melhor que você repousasse.

– Onde está Draco? O que você fez com ele?

– Calma, ele está no outro quarto repousando. Sente-se, você ainda não está nas suas melhores condições, e eu trouxe um lanche para você comer.

– Por favor, deixe-me ver o Draco, não ficarei quieta até vê-lo.

– Está bem, vamos.

Assim elas saíram do quarto, pareciam ter entrado em um longo corredor obscuro, o chão feito de tábuas de madeira, cada passo que davam era um ranger que escutavam, parecia bem velha aquela casa, então entraram no quarto de Draco, onde Tanya sorriu com um alívio em seu coração em confirmar que ele estava realmente bem, ela se vira para Marta e fala:

– Desculpa por duvidar de suas palavras, e obrigada por ajudar a nós.

– Ah, isso foi nada, agora sente-se naquela cama – Falou indicando a cama que se localizava do lado oposto a Draco, logo Tanya se sentou e olhou Draco, Marta colocou a bandeja ao lado de Tanya e a medida que enchia os copos com a bebida falou – O que teria levado a um belo casal a ficar num estado como esse?

– Não... Não, somos um casal – Tanya falou tentando disfarçar sua personalidade acanhada – Só nos conhecemos a pouco tempo, não há nada demais.

– Menina, não precisa mentir, então por que você se preocupa tanto com ele se você diz que “não há nada demais”. Eu já vi muitas coisas neste mundo, e sei dizer que esse nada demais já não existe entre você, e é fácil de dizer pelos ferimentos, que provavelmente vocês estavam em uma briga, e ele se feriu, provavelmente tentando te salvar.

– Você está certa – Falou pondo sua mão em suas pernas e olhando para baixo, logo que algumas lágrimas escorreram – Se eu não fosse tão fraca ele não estaria assim, eu sou insignificante, acho que ele só me salvou por pena...

– Não seja tão cruel contigo, aposto que não foi por pena – Então ela pegou um pano e secou as lágrimas que escorriam no rosto de Tanya – Lágrimas não deveriam escorrer do rosto de uma bela mulher, a única que está te fazendo sofrer, é você, e aposto que aquele homem ali não gostaria de te ver sofrer.

– Obrigado, por suas palavras, elas realmente me ajudam – Ela ergueu o rosto e sorriu.

– Vamos logo comer antes que meu café esfrie.

Então elas levaram um tempo comendo, mas era fácil perceber que Tanya não parava de olhar Draco, mas Marta preferiu não falar com ela, pois tinha medo de acabar magoando-a de algum jeito, então logo que acabou disse que ia arrumar umas coisas, pegou a bandeja e se retirou do quarto. Depois de muito tempo Tanya se levantou e sentou em uma cadeira que estava encostada ao lado da cama, e tocou com sua mão, gentilmente a testa dele, estava quente. Ela então pegou um pano que estava na borda de uma pia, e o molhou com água corrente que estava na pia, o torceu e colocou sobre a testa de Draco e se sentou, então olhou seu abdômen que estava envolvido por diversas bandagens que já estavam todas manchadas de vermelho, logo ela segurou a mão dele com suas duas mãos e levou à sua testa e falou:

– Por favor, me perdoe – Lágrimas começaram a escorrer dos olhos dela – Por favor, me desculpe, fui um peso para você, se eu não estivesse lá, você não estaria assim. Sou insignificante, só tenho motivos para me envergonhar de quem sou, sou fraca. Me perdoe.

– Se você não tivesse me conhecido eu provavelmente estaria morto agora – Falou Draco com uma voz baixa, já com sua consciência retomada – Não se culpe por isso, afinal eu que cometi erros. Só... Por favor, não chore. Me perdoe por ter te preocupado tanto. Você ... – Então um braço de Tanya o surpreendeu.

– Ainda bem, consegui impedir sua morte. Eu lhe prometo não serei mais um peso para você carregar.

– Não vejo nem um peso, só uma amiga que viajou quilômetros ao meu lado – Então um sorriso de Tanya surgiu, ela sentou-se na cama.

– Só... Não me preocupe mais daquele jeito.

– Não irei – Por um tempo ele olhou envolta e falou – Afinal de contas, onde estamos?

– Numa cabana no meio do deserto, sabe lá como cheguei aqui, só sei que andei muito, por sorte achei alguém que nos acolhesse e nos ajudasse.

– Desculpa por ter feito você me carregar por aí, irei lhe retribuir um dia por tudo o que você fez.

– Ah... Foi nada – Seu coração havia disparado – Só fiz o que devia ser feito.

– Mas obrigado de qualquer forma.

Então por algum tempo eles conversaram, até que Tanya adormecesse, pois ainda aparentava um pouco cansada. Draco olhava o teto, imaginando pelo o que ele fez ela passar. Logo o silêncio foi quebrado pelo ranger da porta, era Marta, com mais uma bandeja de comida, que colocou na cama de Draco. Então ela encheu os copos e falou:

– Então você é o tal Draco, Tanya estava preocupada com você. Ah... trouxe comida para você, achei que já estava a muito tempo dormindo e perdeu muito sangue, então deveria estar com muita fome. Espero que goste de café e maçãs.

– Ah, obrigado pela comida, e obrigado por cuidar da Tanya enquanto eu estava ruim.

– Ah, isso foi nada demais, e ainda agradeço, por uma companhia tão agradável como vocês dois, minha casa é tão solitária, uma visita como a de vocês de vez em quando é bom.

– Espero não incomodar, mas acho que não poderei me levantar tão cedo, ainda dói demais meu ferimento, e sinto em dizer que gostaria de passar mais um tempo aqui.

– Quanto a isso não se preocupe, fique o quanto quiser, e não se preocupe com os ferimentos, já cuidei deles, não aparento, mas já pertenci a uma dos esquadrões dos demônios, eu era a medica de combate, então digo que sei como dar um atendimento rápido em situações de emergência.

– Nossa, você é boa em tratar ferimentos admito, senão eu estaria morto agora, mas como você veio parar em meio a esse deserto?

– Sou uma desertora, simplesmente não gosto de seguir a mesma linha de raciocínio dos outros demônios, eles sempre querem destruir os anjos, pois os consideram hereges por natureza, e é assim desde o surgimento dos primeiros anjos e demônios, já a humanidade sofre, pois é o campo de batalha. Eu discordo com eles, isso é um pensamento dos antigos, eles tinham seu motivos, e acho que o tempo passa, e deviam mudar o raciocínio, batalhas só trazem problemas, o passado já foi, o futuro está a chegar, e não devemos viver no passado, senão o futuro será igual ao nosso passado. Já vi todos meus amigos morrerem em combate, e só depois disso tudo que vim a perceber a verdade. Sem meus amigos, nada mais me prendia ao esquadrão, então desertei ele e vim morar no meio do deserto.

– Hum... pra ser sincero... eu não sou um demônio.

– Ah, eu sei.

– Como?

– Você é parecido com o seu pai, Darius só confiou a mim seu segredo, afinal alguém tinha que ajudar no parto – ela sorriu – De início não consegui acreditar que até a máquina mais fria e mortífera tinha um coração, e o mais impressionante é que só veio a amolecer por um anjo, a raça que sempre desprezou e odiou.

– Sério? Como era meu pai? E minha mãe?

– Calma, de sua mãe não conheço muito, mas seu pai era o líder de meu esquadrão o único que sempre respeitei, de início a primeira impressão é que ele era claramente sádico ao extremo com anjos, sempre frio e calculista, não se importava com as ordem de matar ou não matar, no final ele matava a todos, isso realmente me dava medo. Seus métodos de punir traidores, até mesmo suspeitos, não importava se havia provas ou não, eram bizarros, ele os tratava igual aos anjos, talvez até pior. Depois que conheceu sua mãe estava óbvio a diferença de personalidade, eu na época não sabia sobre ela, mas sabia que algo tinha acontecido com ele, já que estava diferente, recebi a notícia que enquanto estava em missão meu grupo sofreu muitas baixas e que deixou só o Darius vivo, voltei de imediato para vê-lo, foi um alivio o encontrar bem. Depois de um tempo ele contou sobre a tal anjo que ele cuidou quando ferida, e que foi cativado por seu amor, posteriormente veio a pedir meu auxílio, que ele ia ser pai. O ajudei, e depois disso ele falou que iam o caçar se descobrisse algo, e que eu também ia ser caçada se continuasse a se envolver com ele, então disse que ia fugir para o mundo dos humanos em segredo, e que eu deveria ficar aqui, depois disso nunca mais soube dele, até o dia em que soube que ele foi capturado e executado.

– Ah, obrigado por falar sobre ele, a verdade é que não o conheci direito. Ele morreu quando eu ainda era bem pequeno e não tenho muitas memórias dele, mas de qualquer forma, obrigado.

– De nada, e vou sair, esta tarde, e você precisa descansar, ainda está muito ferido. Boa noite.

– Boa noite.

Então Marta pegou a bandeja e saiu do quarto, Draco olhou Tanya que parecia dormir tranquilamente na cadeira, então ele olhou o teto e em silêncio jurou que faria de tudo para isso não acontecer novamente, fechou os olhos e dormiu.


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