Ninguém sabia exatamente como tinha acontecido. Dizia Lavi que tudo começou na hora do almoço. Alguma coisa sobre um roubando do prato do outro. Roubando o prato inteiro, no caso.

Crowley falou uma coisa ou outra sobre ter visto uma espada ser desembanhada apenas para cortar o fio de macarrão que estava sendo sugado na cara dura direto da tigela.

Teve até um Finder, sabe-se lá o nome dele, que jurava de pé junto que viu aquela espada branca e dourada, gigante, se materializar bem enquanto comia seus bolinhos. Um outro concordou, acrescentando ainda que assistiu um pedaço da luta baixa que se iniciou, com direito à ofensas, puxão de cabelo, molho bolonhesa no olho e sopa quente na cara.

Mais tarde, quando perguntaram, a Miranda disse que, realmente, quando passou pelo refeitório, os dois estavam arrumando tudo direitinho. Até tinha sido ela a levar panos e baldes para que eles tirassem os restos de curry que pingavam do teto. Agora se perguntava se a culpa da nova briga não teria sido sua, por ter dado poucos panos – ou panos demais.

O problema mesmo é que ninguém viu o que aconteceu depois. Só foram notar os gritos quando Komui passou correndo, com Reever em seu encalço, tentando evitar que ele usasse a arma enorme e desnecessária que tinha em mãos. Quando mesmo alguém da divisão de ciência tem medo de algum equipamento, CORRA.

Bom, só quem conseguiu adivinhar alguma coisa depois foi Marie, meio que por acaso. Não que a Enfermeira Chefe estivesse tentando fazer menos barulho, batendo seus sapatos de salto baixo com força enquanto arrastava os dois Ordem a fora, mas só Marie podia ouvir os membros se esfolando -mais ainda- contra o chão.

Ninguém viu Jhonny correndo um pouco atras da enfermeira, tremendamente assustado, com ordens expressar do supervisor, carregando duas seringas com um suspeito rótulo onde se lia algo como ''Komucalm - S''.

Quando Bak chegou, a confusão mesmo já tinha acabado. O que ele estava fazendo lá? Nada de importante, mas não há como negar que foi ele quem ficou mais confuso no meio daquilo tudo. Coitado, isso porque foi inocentemente até a enfermaria, só para procurar algum unguento que desse jeito na sua urticária.

No fim das contas, quando Lenalle perguntou ao chefe da Divisão Asiática o que ele estava fazendo ali, com o rosto daquele jeito, acabou sendo afastada o mais rápido possível da enfermaria, sem fazer ideia do que estava acontecendo.

É que Bak achou que, para sua própria segurança, seria melhor se ninguém mais visse aquilo.

Porque, depois que um deles sentiu a picada no braço já era tarde demais. Seus olhos não apenas quiseram fechar, mas ele também queria se sentir confortável. Queria se encolher em algum lugar quentinho e simplesmente dormir.

Claro que o medicamento não teve o mesmo efeito sobre o outro, mas ele não conseguiu muita reação quando sentiu o peso sobre o colchão de sua cama. O pouco que teve de protesto se resumiu em membros moles; braços que só faziam cair de um lado pro outro e pernas que nem um empurrão não conseguiam dar.

E assim ficaram, sem ninguém saber exatamente como tinham ido parar ali, agarrados, com direito à corpos entrelaçados e cobertor partilhado, dormindo tranquilamente na mesma cama.

Só se sabia uma coisa.

Que o Allen realmente devia parar de roubar o macarrão do Kanda.