Ao me sentar aqui, sozinho,

na areia dessa praia vazia,

escura nessa noite cinzenta,

admirando a angélica beleza

desse luar que me encanta e

me enche dos mais divinos

e doces sentimentos, reviro

e revivo esta memória que por

acaso, apenas essa grande amiga,

me volta ao coração depois de

tanto e tanto tempo enterrado e

injustamente esquecido nas maiores

profundezas de minha agora corrompida

e semi-cicatrizada alma, desejo tanto

transformar essa doce e latejante lembrança

de novo em um momento vivo, um grande

e eterno, puramente belo, momento em que,

somado às alegrias que hoje tenho, posso

final e gloriosamente combater e suportar

melhor essas dores e tristezas que, mesmo

enfraquecidas pela passagem incessável do

tempo, insistem em ferir, machucar tão

forte que por vezes sinto em meu coração

o insano desejo de gritar aos ventos, mas

que agora não passa de mero sentimento vazio,

fantasma que, com a lembrança em minhas mãos,

sei que finalmente posso rir com toda a alegria,

sorrir tão confortavelmente que sinto poder

entranhar em mim toda a beleza que se instala

aqui em meu ferido coração, me curando de tudo,

me fazendo até mesmo aguentar firme todas as

dores que em meu coração porventura possam

aparecer, queimando sonolentamente enquanto

dou as mãos fraternalmente ao prazer de viver

com toda a alegria ao lado daqueles que eu,

com tudo o que o prazer permite, realmente amo.